quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Frank Sinatra, digo, Langella



A internet é uma espécie de “terra de ninguém”. Portanto, não dá para acreditar em tudo o que você ler ou ver. Mas eu me deparei com a suposta capa do roteiro para um novo filme de He-Man. Sim, o guerreiro ícone de quem foi criança nos anos 80. Os produtores precisam se espelhar em filmes bem sucedidos, como “Os Vingadores”. E este novo filme precisa não ter as carências do filme “Mestres do Universo” de 1987, cujo ponto alto é o cruel, maravilhoso e inesquecível Esqueleto de Frank Langella, um papel que o próprio diz ter amado fazer. Eu tinha nove anos de idade quando vi o filme, e confesso que me borrava na poltrona do cinema com o Senhor da Montanha da Serpente dele. Frank é, com certeza, um mestre do universo.
Antes de ver o filme em julho em um extinto cinema de rua de Porto Alegre, aonde minha tia me levou para assistir, eu estava viajando com minha família em Buenos Aires, no fim de semana de Páscoa. E vi o cartaz do filme em um cinema portenho, com Langella ao fundo, com sua negra capa de veludo. Que vilão! Fiquei cheio de expectativas para ver o filme, chamado de “Amos del Universo” na Argentina. E me apaixonei, apesar de hoje eu ver que não se trata de um filme impecável.
No início do filme, Esqueleto entra no Castelo de Grayskull batendo estrondosamente um cajado de belzebu no chão, fazendo ecoar todo o seu terror, como um Bin Laden nefasto. E, no espaço de sessenta segundos, Esqueleto dá nos dedos de Maligna e da Feiticeira. Maligna diz:
- Depois de tanto tempo, Grayskull é nosso.
- Não! – diz Esqueleto. – É meu! – E Maligna olha-o contrariada, sabendo no fundo de que Esqueleto era insano, um psicopata de ossos, mergulhado na obsessão da ambição, que acabaria trazendo a ruína ao próprio.
E depois a Feiticeira diz:
            - Você ainda não venceu Esqueleto. He-Man ainda está vivo, eu posso sentir!
            - É mesmo? Como você é sensível – diz o vilão. E Esqueleto suga sua energia e a deixa exausta, perguntando-lhe então – Você pode sentir isso?
A maquiagem do filme era uma máscara colada na face do pobre Langella. E, privado de um recurso importante, que é a expressão facial, restaram a Frank voz, olhos e gestual. E mesmo assim, sob esse percalço, Frank fez um baita Esqueleto, inseguro, cheio de conflitos, como se no fundo soubesse que não estava certo fazer o que fazia. Pura arrogância de um sugador de almas.
Langella é tão fabuloso que, mesmo tendo sido sempre um pouco esnobado por Hollywood, fez uma respeitável carreira no teatro, tendo conquistado três prêmios Tony, o Oscar da Broadway. Bravo! E há algo que eu não sabia: antes de Frank viver Nixon no filme que lhe rendeu uma indicação ao Oscar, o ator fez o mesmo papel no teatro. Algo como Barbra Streisand, que fez a peça Funny Girl e depois venceu o Oscar fazendo o mesmo papel. Pela ironia de que Frank ganhou o Tony mas não o Oscar, enquanto Barbra não ganhou o Tony mas ganhou o Oscar. C’est la vie!
Para conseguir um emprego na Broadway, já é preciso ser excepcional. Então imagine você ser considerado, por três vezes, excepcional dentre os excepcionais. Frank ainda tem dois Obie Awards, que é um troféu off-Broadway. Pelos poderes de Frank!
Na ilustração, o caderno Playbill da Broadway com Langella interpretando Dracula, em 1977, quando eu era um bebezinho. Inclusive, Frank também fez Dracula no cinema.
Só digo algo: o novo Esqueleto tem que ter a verve de um Curinga de Heath Ledger – uma releitura que seja ousada mas que seja também uma declaração de amor à personagem original. Afinal, amor é tudo. Sendo necessário deslumbrar a parcela do público que brincou de He-Man com os amiguinhos há décadas atrás.

Um comentário:

  1. Boa, Gonçalo. Toda a força do mundo para esta tua iniciativa. Será um prazer enorme acompanhar tuas postagens. No meu caso, o que achei interessante foi a forma como tu mesmo te constextualizastes. E me dei conta, então, o quanto tem de filmes, musicas, livros, imagens etc. que marcaram a tua geração e que, para aqueles da minha geração (hoje com 70 anos) soam como algo distante. Possivelmente porque, nessa época, eu estava cuidando da minha carreira profissional (de contador) ou iniciando uma nova (de professor). Por isso, infelizmente, neste caso, não tenho muito o que compartilhar, opinando sobre o filme. Mas vou ver se o vejo. Isso o teu post já tem como "crédito". Felicidades. Continue nos brindando com teus escritos.

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