O brasileiro Rubens Gerchman
era descendente de suecos e flertou claramente com a Pop Art, abordando
Política, Esporte e Arte. Antes, quero dizer que a sigla CDA não faz parte das
obras nesta postagem. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente
meus. Boa leitura!
Acima, A Luta, O Trabalho. Óleo sobre cartão. 50 x 60 cm. Rubens traz uma
abordagem sociopolítica, tentando compreender o papel do Brasil num cenário
global. No centro do quadro, temos uma expressa placa, dando ordens, impondo
autoridade, no modo como um artista deve se impor ao Mundo. A placa significa
um marco, e é cheia de imperativo, num regime totalitário que sequer permite
que o cidadão saia do país. É uma placa redonda como o Sol o astro-rei que rege
o Sistema Solar, numa força gravitacional que se estende aos confins gelados
das fronteiras sistêmicas. É a transgressão do faraó Aquenáton, impondo o culto
monoteísta ao Disco Solar, Áton, numa imposição estatal, numa regência
embriagada pelo próprio poder, no apego humano ao poder, num Getúlio Vargas
suicida que não podia imaginar a própria vida sem poder, embarcando para o Vale
dos Suicidas, talvez até hoje se arrastando como um mendigo esfarrapado, na
discrepância entre riqueza mundana e riqueza mental. No topo do quadro, a
palavrachave TRABALHO, pois qualquer ser humano, por mais rico que seja,
precisa trabalhar, havendo no labor uma questão de saúde mental, numa pessoa
que, ao laborar, fica com os pés no chão, rechaçando o canto sedutor e
desnorteador do Ócio, a mãe de todos os vícios. Vemos um mapinha do Brasil em
vermelho, talvez numa alusão comunista. Dentro do mapa, flechas imperiosas
procuram impor a ordem e o progresso expressos na bandeira nacional, num país
de medidas continentais, sendo difícil a um governo federal impor unidade a um
Brasil tão heterogêneo. Ao fundo do mapa, um negror imprevisível, cheio de
dúvidas, no modo como muitos brasileiros resolveram se exilar. As iniciais BR
buscam dar simplicidade, no poder de união da simplicidade, havendo no Universo
apenas um caminho, que é Tao, sendo ilusões os demais caminhos, pois Tao é o
grande vale que encaminha tudo e todos. Ao fundo da palavra “trabalho”, linhas
oblíquas, como no trânsito, tentando falar da forma mais clara e expressa,
simples, estabelecendo limites, como deve haver limite respeitoso em relação a
outrem e a mim, nas saudáveis fronteiras entre pessoas, entre estados,
precisando existir toda a polidez diplomática, sempre primando pelo diálogo e
pelos meios pacíficos, no modo como os arcanjos são os espíritos que gozam da
Plena Felicidade, espíritos que primam pela pacificação de todas as dimensões
do Universo, no modo como é indescritível a Paz da Dimensão Metafísica, um
plano onde não há ouro ou riquezas aptas a seduzir a pessoa. Vemos, aqui, um
grupo de cavalheiros indistintos, como anônimos tijolos em uma parede, e nenhum
desses homens tem identidade, distinção, personalidade, no modo como o sistema
opressor morre de medo do delineamento de personalidade, pois um cidadão que
pensa é um cidadão que contesta, precisando haver respeito à Inteligência. Este
microprotesto traz placas, e uma dela convoca o cidadão a não mais se atirar
nas cordas e lutar por algo, no modo como a Vida é cheia de luta, num Mundo
exigente que desafia o cidadão a contemplar as maravilhas do Yang, da Vida
Social, na racional lança de São Jorge, aniquilando o dragão horroroso da
opressão, assassinando um sistema que não quer que o cidadão pense ou filosofe.
Outra placa traz o ano de um Brasil imerso na Ditadura, num momento em que o
artista brasileiro se viu castrado e reprimido, numa época em que o Bloco
Capitalista Mundial temia que o Brasil se tornasse uma União Soviética
ensolarada, na eterna cisão entre os seres humanos, um ser com inabalável
talento para a Guerra e para o esgotamento dos meios diplomáticos, num momento
bélico em que o Homem se torna macaco, com sua boca atada, censurada,
aniquilando a Vida Cultural de uma nação. Este é um quadro que se impõe, como
Betty Faria em uma cena da novela censurada Roque
Santeiro, em que a estrela, de majestosos óculos escuros, impõe-se
altivamente, assustando os porões da Censura, amedrontando o misógino Estado
Opressor, o qual teme enormemente a Liberdade.
Acima, Denílson. Serigrafia sobre papel. 50 x 50 cm. Esta cena é um momento
crucial, em que o atleta se prepara para atirar ao gol, num Rubens amante do
Esporte. O fundo é quente, acolhedor, na cor dourada da vitória, no ouro que
premia os que se sobressaem na multidão, ouro que premia os distintos, os
memoráveis. A moldura é verde, formando, com o amarelo, as cores que unem o
Brasil em época de Copa do Mundo, num momento federal em que os brasileiros
esquecem quaisquer diferenças e abraçam um bem comum, que é a Seleção – oxalá o
Brasil fosse assim sempre, unido. A cor dourada é a promessa mágica da
cornucópia da Dimensão Metafísica, um lugar onde todos nos sentimos campeões,
havendo no Esporte metáfora com a vitória do Desencarne, da libertação.
Desencarnar é como uma vitória de Copa, com uma chuva dourada de êxito caindo dos
Céus, de Tao. O uniforme do jogador traz a famosa marca Nike, a deusa da
vitória, num símbolo incisivo, que finca, como no inocente gesto de vitória,
que imita um homem penetrando num ânus ou numa vagina, havendo na penetração
carnal uma cópia grotesca da vitória espiritual. O número 20 traz a juventude,
de jogadores que, apesar de serem homenzarrões no campo, são garotos, são muito
jovens, em um Mundo
exigente, que exige desde cedo a maturidade por parte da pessoa, num lugar onde
crescer e evoluir é a regra. A figura do jogador, em preto e branco, contrasta
capciosamente com o fundo colorido, num contraste entre sisudez e alegria. O
fascínio do preto e branco faz metáfora com o registro binário, na construção
técnica do espírito, nas charmosas fotos de estrelas de Hollywood, fazendo dos
astros metáforas dos espíritos evoluídos, polidos, sábios e poderosos, nossos “irmãos
mais velhos”. Aqui, o jogador abre os braços como se estivesse pronto para
decolar e voar, havendo nos aviões metáforas com a emancipação, a libertação do
pensamento racional, havendo no formato do avião uma forma fálica, como um
pênis alado, cortando os céus, desvirginando os céus, no modo como, até certa
época, voar era um programa glamoroso, com os passageiros e aeromoças
aprumando-se para o voo, num momento mágico de elevação, como numa raça de
alienígenas evoluídos, trazendo à Humanidade noções civilizatórias e avançadas,
numa espécie de colonização, no modo como o Europeu colonizou as Américas, ou
como os ingleses trouxeram desenvolvimento à Argentina. Não podemos ver a bola
no quadro, e este é um momento em que o atleta está absolutamente concentrado,
alheio a quaisquer distrações, talvez até sem perceber o barulho da torcida ao
redor. Aqui, o juiz é invisível, como Tao, sempre fiscalizando e encarregando-se
de que as regras sejam cumpridas e respeitadas. O cabelo do jogador é bem
curto, disciplinado, como cabelo de militar, sem espaço para frescuras, na
objetividade do chute, sempre atraído pelo poder gravitacional da goleira, da
porta passiva, do princípio feminino de donzela indefesa, tendo que ser
resgatada pelo príncipe encantado, um príncipe que, na verdade, não existe.
Este jogador é como uma andorinha, vivendo livre e feliz. Na camisa de Denílson,
o brasão da CBF com quatro estrelas que contam uma história, uma trajetória,
como um rastro, uma carreira, num país ambicionando sempre mais títulos,
expressando uma supremacia, uma excelência. Ao redor do jogador existe uma
aura, como se uma luz emanasse dele, emitindo um brilho, um talento, no modo
como há pessoas com o dom de observar a aura invisível das outras pessoas. O
brilho, o raio de Sol, é como uma lança que aponta, e nós podemos apreciar a
iluminação, mas não podemos olhar diretamente para o Sol, para o astro. Temos
que usar óculos escuros. Este Denílson está em plena forma, no modo o artista
vai adquirindo “porte atlético” ao produzir, adquirindo um “calejamento”, uma
manha. O astro em preto e branco sai nas fotos dos jornais, numa mídia sempre
sedenta por ídolos, por estrelas, como Gisele na capa da Veja.
Acima, House. Acrílica (suporte desconhecido). 35 x 107 cm. Temos aqui cores um
tanto mondriânicas. As letras são simples e claras, como debaixo do Sol da
Califórnia, na sofisticação ensolarada de Los Angeles, numa luz solar que faz
metáfora com o esclarecimento, com a solução de negros mistérios, como
historiadores, que recontam uma história a partir de vestígios enigmáticos.
Estas letras não têm serifas, e procuram ir ao centro do ponto de forma direta.
A obra é banhada pelo Sol, e a luz é a atenção do público, um público sempre
ávido por comoções artísticas, vendo no artista uma verdadeira força da
Nartureza, como um terremoto, abalando percepções, num momento de coragem por
parte do autor. As letras caem como confetes, na magia de um baile de carnaval,
na alegria inabalável de uma dimensão em que os percalços mundanos acabaram, só
havendo espaço para felicidade, para preenchimento, no fato de que o
desencarnado não só é feliz como também sabe que é feliz. O formato vertical é
como um mágico totem, trazendo elevação como um obelisco, rasgando os céus em
busca de superação e aprimoramento. A letra O é como um buraco negro,
arrastando tudo e todos, arrastando inclusive a luz. É como uma forma de bolo,
na magia aconchegante de uma casa onde a Rainha do Lar fez um bolo, cujo perfume
doce se espalha pela casa, no modo como uma casa gira em torno da própria
cozinha, e o atelier é como uma cozinha, onde riquezas são construídas, no
talento de chef que combina ingredientes para produzir algo novo. A letra H é
dourada e ocupa o topo desta hierarquia, regendo e alinhando as demais letras,
no modo mundano no qual tudo gira em torno de riqueza, numa pessoa embrutecida
que chega a um ponto em que só considera dinheiro, no modo como dinheiro compra
tudo, menos Amor – não é desafortunado aquele que acha que se pode vender ou
comprar Amor? A letra U é em formato de receptáculo, de feminilidade e
passividade, no modo como o goleiro é o guardião, sempre defendendo a donzela
indefesa, tornando-se o herói da história. Esta letra U é da cor do céu, de um
céu limpo, no enigma da Dimensão Metafísica: como podemos observar cidades que
são invisíveis? A letra S está bem discreta, fundindo-se com o pano de fundo,
numa exposição sutil, conotando uma timidez e um recato, numa mulher que vive a
vida na sombra de um homem, numa sociedade que jamais aceitará uma mulher
independente, com mulheres que sentem na carne toda a opressão patriarcal, na
qual o Homem pode tudo e a Mulher pode nada, havendo no Homem a noiva e havendo
na Mulher a dama de companhia, no modo Eva é um arremedo da obraprima Adão.
Este S é uma serpente iluminada, desprovida de mistérios, como uma tenebrosa
aranha iluminada, com seus mistérios e horrores desvendados, não mais
amedrontando, não mais sendo considerada incrivelmente feia. É uma serpente de
luz, do Bem, trazendo purificação sob o Sol do esclarecimento, como a solução
de um mistério de Agatha Christie. Então, a noite da Morte acaba, e uma estrela
branca desponta ao Leste, na Terra da Estrela da Manhã. A letra E, de Rubens
sangue, digo, rubro sangue, fornece uma base para tudo, nos vínculos da família
que, apesar de serem carnais, sobrevivem ao desencarne do sangue, no modo como
tais vínculos sobrevivem à Morte Física, na alegria de uma pessoa que, ao desencarnar,
encontra-se com uma saudosa avó. Esta letra E é como um cabo elétrico colocado
em uma tomada, fornecendo a energia e a força que um artista precisa ter para
continuar trabalhando e batalhando pelos sonhos de carreira. É o choque mental
da catarse, num artista querendo colocar na tomada os dedos do Mundo! Pois cada
artista tem um desafio – o de vencer e ser respeitado. Estas letras não
obedecem a um rígido alinhamento, e parecem dançar sobre a base branca, que é Paz,
e esta permite que exista o conforto da Liberdade, no modo como o Bem é sempre
agradável. O branco é o útero imaculado, na concepção divina que nos trouxe à
Vida, pois Tao age assim, de forma imaculada, sempre amando incondicionalmente,
deixando seus filhos ficarem livres.
Acima, O Brasil ou Brazil. Óleo sobre cartão. 50 x 35 cm. Estaria Rubens
querendo dizer que o Brasil é um prisioneiro do Bloco Capitalista? A bandeira
nacional está aprisionada, talvez por uma ditadura, por anos de chumbo, talvez
um país vítima da Violência, em que o cidadão tem que se cercar de grades para
se proteger, como no nome da ONG “Brasil sem Grades”, uma organização que quer
que o Brasil saiba o que é estar livre da Criminalidade. Aqui, o Brasil está
sufocado pelo contexto global, virando um “Brazil”, uma colônia, um estado
controlado. Em um dos cantos há uma estrela – será que uma estrela comunista? A
estrela está escanteada, reduzida, reprimida, e mal pode respirar em meio a
tanta opressão. Neste quadro, barras horizontais e verticais formam uma cela de
prisão, no sentido de que toda encarnação é uma prisão, havendo na vida do
presidiário algo horrível, pois é a prisão dentro da prisão, no sentido de que
nada pode comprar a Liberdade. A grande placa, em inglês, é altamente
impositiva, como uma regra de trânsito, procurando promover Paz e Harmonia a um
corpo social tão caótico e desorganizado, como no costume humano de separar as
mulheres dos homens, tentando impor algum sentido, alguma ordem ao segregar
seres humanos que, desencarnados, não têm sexo. A placa é redonda como uma
moeda, na hierarquia global entre nações ricas e nações pobres, num Adam Smith
que promove a total ausência de leis econômicas, deixando que a Economia Global
se regule por si mesma, naturalmente, sem intervenções estatais, uma utopia que
é difícil de acontecer, pois os estados globais interferem inevitavelmente. A
placa manda o espectador parar e observar com atenção, no modo como a obra de
Arte quer captar essa atenção e ser compreendida, amada, prestigiada, no modo como
há muitos e muitos artistas que passam suas vidas sem saber o que é ser
reconhecido – uma pena. Esta obra parece um cartaz convocando o povo para algo,
para alguma movimentação, uma manifestação na Rua, uma passeata, desafiando
altas autoridades e tentando impor a hegemonia popular, no modo como um líder
que se afasta do próprio povo, deixa de ser líder, como na ruptura da Revolução
Francesa, em que um golpe destituiu a Monarquia Francesa e se tornou um marco
contemporâneo. O artista quer fazer isso; quer promover uma revolução. Mas se
depara com o duro fato de que o Mundo não mudará, e que revoluções não acontecerão,
no modo como é necessário que o indivíduo se mortifique de ilusões. A grande
placa é uma autoridade, um rei, um presidente altivo, como, certa vez na Casa
Branca, quando Obama era presidente, um repórter interrompeu o líder, e este
disse: “Você está na minha casa”, sendo Obama animadamente aplaudido no recinto
pelos demais jornalistas. Esta placa quer estabelecer o discernimento entre
minha casa e a casa de outrem, no modo como um regime totalitário simplesmente
estupra a casa do cidadão, fazendo deste um escravo destituído de
Individualidade e de Liberdade de Pensamento. A placa é uma Lua cheia,
seduzindo lobos uivantes e, desde sempre, atiçando a imaginação humana, no
marco desbravador que foi a ida à Lua, com as pegadas do astronauta maculando a
então intocada superfície lunar, no ato agressivo que foi fincar a bandeira
americana em solo lunar, numa imposição de autoridade, num recado ao resto do
Mundo: Não se meta com os Estados Unidos da América, no modo como os EUA, com
aliados, têm o poder de impor restrições econômicas a outras nações, como Cuba.
É o dono do campinho e da bola. Neste quadro, podemos ouvir o som do apito de
um guarda de trânsito, ou o apito de um árbitro de Futebol, tentando impor
ordem a um campinho em que cada um quer fazer uma coisa diferente, num árbitro
que luta pela honra das regras, fazendo estas serem cumpridas. Aqui, a cor
preta tem um papel importante, como negros e brancos segregados logo nos EUA, o
país que se diz o paladino baluarte da Liberdade e da Igualdade.
Acima, Só. Serigrafia (suporte desconhecido). 31 x 46 cm. Mais uma vez, um
Rubens amante da Política, inserido num Brasil que, na Ditadura, virou uma
espécie de palco entre Capitalismo e Comunismo, detendo, torturando e
assassinando opositores que apresentassem tendências comunistas, como Dilma
Rousseff. Aqui, temos uma solidão, num Che Guevara de semblante triste, como se
soubesse que terminaria assassinado e, assim, virando um ícone comunista,
alimentando até hoje os que simpatizam com o Marxismo, como petistas em frente
à prisão onde está detido Lula, fazendo “companhia” ao detento. Aqui, Che faz
um gesto autoritário, mandando-nos manter distância respeitosa, e mostra a mão
para provar que não está armado, que nada esconde, no modo como a vida de um
cidadão honesto é um livro aberto, mas também no modo de sabermos que Che não
foi nenhum anjinho, sendo um feroz opositor dos regimes capitalistas. É a guerra
entre Liberalismo e Comunismo, numa guerra de pensamento, de doutrina. A
palavra “só”, então, expressa tal solidão, no modo como deve se sentir
irremediavelmente sozinha a pessoa que se vê num paredão, pronta para ser
fuzilada, como num filme com Sean Penn, em que um presidiário, amarrado na
cadeira da injeção letal, urina nas calças, tal o medo de morrer. O grande
fundo em azul traz uma tristeza, uma frieza, num sangue quente que esfriou, num
Che sepultado, com o cadáver esfriando, o que nos faz imaginar o que aconteceu
com o espírito deste homem: Por onde será que anda? Será que ainda tem ódio no
coração? Tem raiva? É ainda revoltado? A estrela acima é como uma coroação,
como no deboche da revista Veja sobre o filme Lula – O Filho do Brasil, capa onde Lula aparecia com uma aureola
de estrelas na cabeça, no endeusamento político que existe comumente, com
pessoas que acham Lula um anjo; outras, um demônio. Este gesto de Che faz uma
renúncia, um rechaço, uma repulsa, como se quisesse se despir de todas as suas
roupas mundanas para abraçar a Vida Espiritual dos Desencarnados, na dimensão
onde quaisquer vaidades caem por terra, no famoso ditado “Vão-se os anéis,
ficam os dedos”. Aqui, temos um Che se sentindo altamente solitário e abandonado,
desamparado na parede de execução, como um Cristo que diz: “Senhor, por que me
abandonaste?”. Não venho aqui endeusar Che, porém, pois não me envolvo em Política. Esta é a
estrela na fronte altiva de Iemanjá, na beleza da Rainha dos Mares, na
competição entre potências europeias pelo domínio das devolutas terras
americanas, como no jogo de tabuleiro War,
em que oponentes lutam pelo domínio militar da Terra, na eterna tendência
humana para a Guerra e para o desentendimento, para o esgotamento dos polidos e
civilizados canais diplomáticos. Che está aqui sozinho num vasto oceano, como
vagar interminavelmente pelas ruas de uma cidade erma, fantasma, perdendo a
noção de Espaço e Tempo sob um Sol inclemente. Esta estrela de Che é uma bênção
e uma maldição, pois é uma coroação de popularidade e é também uma carga, um
peso insuportável, uma carga que o levou à perseguição e à execução. O Ser
Humano leva o Yang a sério de mais, e esquece-se do Yin. É na metáfora do
Super-Homem: se você for pacato como um Clark Kent, você será um super-herói,
pois a Paz é melhor do que a Raiva. Os opositores de Che julgaram este um
inimigo da Paz, da Ordem, num Che que passou a pisar nos calos de poderosos,
num Che querendo, no fundo, ser muito poderoso. É a patetice das ambições
humanas, numa pessoa nunca satisfeita, sempre querendo mais. Quem não
ambiciona, pode ter Paz. Nesse sentido, Che praticamente se suicidou, atraindo
a Morte para si. Aqui, Che está pedindo um tempo, talvez para se acostumar com
os moldes da vida desencarnada, pois a Guerra é simplesmente inviável numa
dimensão superior. A moldura negra é o abraço da Morte, fazendo com que a
execução de Che fosse um expresso aviso aos seguidores do mesmo Che: Comportem-se!
Referências bibliográficas:
Rubens Gerchman. Disponível em <www.catalogodasartes.com.br>.
Acesso 20 jan. 2019.
Rubens Gerchman. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>.
Acesso 20 jan. 2019.