Lygia Clark se
autointitulava uma “não artista”. Porém, apesar da humildade da artista,
podemos observar o talento de LC na obra desta brasileira, e somos levados a
discordar do termo “não artista”. Discordamos de alguém com que concordamos! Os
textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Bichos. Animais caminhando e voando por uma floresta virgem,
selvagem. É uma variedade de Fauna, num Brasil tão rico em recursos naturais,
no modo como a exuberante Natureza Brasileira inspirou, por exemplo, todo o
Modernismo Brasileiro, na busca por uma identidade nacional, assim como é um
desafio a construção de identidade do Cinema Brasileiro. São brinquedos
espalhados em um playground, ou em uma sala de uma casa que abriga uma ou mais
crianças. São como pessoas desencarnadas e mortificadas, no modo como o
espírito é algo “morto”, sem as trepidantes ambições que tanto flagelam o Ser
Humano. É um ambiente, um organismo no qual cada espírito (ou bicho) tem seu
papel, e cada um está satisfeito e contente em estar como está, como numa
cidade de bonecas, onde a beleza reina por todos os cantos, num lugar de muita
Paz e silêncio, onde uma pessoa brutalizada pela Vida pode desencarnar e voltar
a ser criança de algum modo, voltando ao grande Lar Uterino, abraçando a Grande
Rainha, a Mãe de todas as dimensões do Cosmos. É como no final do filme Elizabeth, em que a rainha entra
triunfante, toda de branco, como uma noiva, em uma sala cheia de súditos, e
cada súdito tem um papel numa cena tão plácida, iluminada e perfumada. A rainha
emerge de uma porta emoldurada por luz, como na magia da cidade de Gramado, e
cruza o salão acarpetado em direção ao trono, pálida como a neve, pura como a
vontade de se fazer o Bem, com cabelos ruivos ardentes como fogo, na chama que
vibra dentro de corações bondosos e pertinentes, moralmente evoluídos, no
sentido de qualquer vida – o Crescimento. Aqui, temos origamis elegantes, numa
artista atenta a linhas elegantes e simples, de alguém que sabe que menos é
mais, como diz Tao. A foto em preto e branco traz elegância ao cenário, numa
cena que não precisa mais do que duas cores para se expressar. São como papéis
amassados, jogados no chão por anticidadãos, que não amam a cidade onde vivem
e, por consequência, não são amados pelo Mundo, pois a receita da Felicidade é
amar o Mundo. É como uma pista de dança depois de um baile vibrante, sobrando
confetes e serpentinas para serem varridos, renovando o salão e fazendo este
apto para um novo baile. Então, a rainha se senta em seu trono e podemos ouvir
o som vibrante de samba, com vida e sangue ardendo dentro do corpo da regente,
unindo o povo e conduzindo este pelos caminhos da União, num eterno baile que a
Vida brota implacavelmente, na universalidade da fluidez, um conceito que
ultrapassa Tempo e Espaço, numa cena atemporal, que arrebata pessoas de todas
as nacionalidades, nas semelhanças entre japoneses e brasileiros, por exemplo,
na universalidade da Dimensão Metafísica. Nas paredes ao fundo, vemos dois
quadros de LC. O da direita está disposto como losango, com uma pirâmide alva
que se contrapõe ao fundo negro, como numa noite em um momento do Egito Antigo,
na sedução das pirâmides sendo sensualmente iluminadas por uma Lua Cheia, a Mãe
da Noite, o satélite feminino que rege o Mundo em seus ciclos menstruais. No
quadro da esquerda, vemos uma ruptura, como um zíper sendo aberto, numa
abertura, numa exposição de pensamentos de LC, abrindo o zíper da mente da
artista e do espectador, como uma calça sendo deflorada antes do Sexo, como
dois namorados sexualmente felizes. No quadro da esquerda, temos dois pólos, dois
opostos que se beijam, como Ocidente e Oriente, na fusão entre os dois opostos,
o casal cósmico que gerou tudo, no orgasmo do Cosmos, na força que rege a reprodução
e a perpetuação da Vida, pois Tao não pode se envergonhar de algo que o próprio
Tao criou, como num livro de Educação Sexual para adolescentes, banindo a
Malícia e trazendo o Esclarecimento. Nesta instalação de LC, há uma certa
fragilidade, como se qualquer vento poderia levar os “origamis” embora, numa
fragilidade, uma vulnerabilidade, num artista que se dá ao Mundo, querendo ser
respeitado por este, sendo assim, uma sacanagem o espectador soprar estes
origamis. Respeite!
Acima, Contrarrelevo. LC entende ao poder da Simplicidade. Há arestas, que
precisam ser aparadas, no modo como uma mesa de vidro se torna nociva se suas
extremidades não forem polidas, no modo como a polidez psíquica respeita o
próximo, o cocidadão. O termo “canto moeda” denomina essa polidez vítrea, no
valor inestimável da gentileza e da civilidade. Aqui, o velho e bom contraste
entre preto e branco, como nas fotos monumentais de um Sebastião Salgado, na
magia da imagem bicromática, como nas fotografias de um passado mágico e plácido,
no eterno retorno a esta dimensão de concórdia e Paz, como num filme, como em
monumentais escadarias e lugares elegantes e, ainda assim, simples, pois o
excesso é deselegante. Aqui, temos um OVNI, uma nave que aterrisa em uma terra
estranha, como seres humanos em Marte, fazendo da Humanidade uma civilização
alienígena. É como um diamante impecavelmente polido, brilhando e seduzindo, no
modo como brilha uma pessoa humilde e pés no chão, como uma Fernanda
Montenegro, que, ao ser indicada a um Oscar, autointitulou-se uma “fodida”, com
o perdão do palavrão, Fernanda! Numa humildade que observamos em LC, na
simplicidade gráfica, como em boas lições de Geometria no Colégio. É como o
brinquedo Genius, uma mania dos anos 80, em que o jogador tem que ter memória
fotográfica para vencer, numa complexidade em que cores e sons se misturam para
confundir e desnortear o jogador, como um bom filósofo em duelo, confundindo o
oponente com as inevitáveis e engraçadas contradições, sendo que sempre há dois
lados para a mesma moeda, no entrelaçamento entre Razão e Loucura. Esta forma
se equilibra fragilmente, buscando equilíbrio e estabilidade, no modo como um
artista quer se estabelecer e ser reconhecido. Neste OVNI, o preto predomina,
mas é necessária a presença do branco, é claro, pois seria muito monótono um
quadro todo negro. É como se fosse o sinal da reciclagem, e o branco gira pelo
OVNI, como um bom gari, varrendo as ruas de uma cidade, no modo como o Mundo
seria um caos sem os garis, destruindo completamente a arrogância de uma pessoa
que se acha tão superior aos garis. É um jogo de lençóis dobrado, na
organização de um lar zelado por uma mulher zelosa e cuidadosa, como nas mães
perfeitas dos comerciais de TV de sabão em pó, numa perfeição inexistente, como
na amorosa mãe de Kevin em Esqueceram de
Mim, a qual, apesar de ter Amor pelo filho, cometeu um deslize em relação
ao menino. Podemos ouvir o som de janelas e portas sendo abertas e fechadas,
nos barulhos corriqueiros de um lar. Cortando a obra em dois hemisférios, vemos
uma linha branca extremamente tênue e discreta, inevitável, numa LC que sabe
que a Perfeição é uma ilusão, e os erros aparecem mais do que como imposição
divina; os erros surgem para gerar Aprendizado, como num artista no palco,
levando um tombo traiçoeiro (e engraçado), como no show que vi de Laura Pausini
em Porto Alegre
em 1997, quando a cantora escorregou por uma escada no palco, mas levantou-se e
tocou o show para frente, ou seja, leve tombos e renasça, lutando sempre! Vamos
aqui da esquerda para a direita em dois opostos cortantes, e precisamos usar
luvas protetoras, como se estivéssemos pegando uma panela quente no fogão, na
lição da Precaução. O quadro todo tem um centro perfeito, bem no meio de tudo,
num equilíbrio, num centro gravitacional. O título da obra fala de um branco
que resolveu se opor ao total, adquirindo diferenciação, pois não é intragável
um artista que quer ser outro artista? É a luta pela identidade, como na
campanha publicitária de uma edição recente da Festa da Uva de Caxias: cada
uvinha do cacho era, na verdade, uma impressão digital, na identidade de um
povo, de uma gente. E temos em LC uma grande impressão.
Acima, Espaço Modulado. Carteiras de cigarro, no “vício” por Arte, sendo
ambos artista e espectador amantes do artístico, do que é obra da Mente Humana,
sendo a Arte uma verdadeira unificadora da Humanidade. São teclas de um piano,
enchendo a mente de percepção, e podemos ouvir uma delicada melodia enchendo a
sala, como no elegante foyer do Theatro São Pedro, de Porto Alegre. São três
caixinhas de remédio, com a tarja preta avisando que a droga pode causa
dependência, no modo como nunca há Arte suficiente para satisfazer uma mente
ávida por ser atiçada por um artista. É como uma lembrança indelével que tenho
quando, em um shopping, vi um carrinho de bebê com trigêmeos! É um símbolo de
fertilidade e abundância, no modo como LC paria, no modo humano de tentar
compreender a Maternidade Biológica. É um conjunto de arranhacéus, competindo
inutilmente entre si, pois têm exatamente a mesma altura e largura, sendo uma
simétrica equação, num equilíbrio clássico e claro de ser observado. O conjunto
é respaldado por discretas linhas finas, separando os blocos uns dos outros, estabelecendo
que, apesar de ser uma família, uma mesma ninhada, trigêmeos, são indivíduos, e
cada um tem sua própria vida, em seu próprio espírito individual, único. Apesar
da semelhança física ser tão evidente, tratam-se de ovos num mesmo ninho, mas
um ovo de cada cor, de cada modo, no modo como um pai consegue observar a
virtude de cada filho, o ponto forte de cada filho, como nos Ursinhos
Carinhosos, os quais, apesar de ser irmãos e iguais, cada um tem no peito um
elemento gráfico diferente, delineando-se assim a individualidade
inconfundível, como uma família de vinhos, na qual, apesar dos rótulos de cada
variedade ser único, podemos observar, colocando as garrafas lado a lado, de
que se trata de uma família. São como frios números de identificação, como se
cada um tivesse seu número próprio de telefone, na frieza numérica que
diferencia e, ao mesmo tempo, iguala, em inevitável (e irônica) contradição. É
um sorriso de dentes simétricos, impecáveis, como degraus de uma escada, de uma
gradação, numa caminhada evolutiva, na evolução das espécies, pois tudo é processo,
e Tao nunca faz algo imutável; bem pelo contrário, faz fluidez. É um portamalas
organizado, numa mente organizada, que coloca a em ordem a vida de uma pessoa,
rechaçando a desordem de uma vida empobrecida, vida esta mergulhada em um
submundo degradante, numa verdadeira prisão. A Mente precisa de Liberdade para
operar propriamente, e o problema das ditaduras é que, nestas, a Arte inexiste;
nestas, a Arte é um simulacro, um arremedo de Arte. Temos um trio de prédios de
uma cidade impessoal, num mundo duro que tanto pode subjugar e assustar o
indivíduo, desafiando um artista a levar em frente um velho sonho; o sonho de
vencer. São três impositivas placas de trânsito, dando o mesmo aviso três
vezes, nas inevitáveis regras civilizatórias da Vida em Sociedade, como, por
exemplo, a áurea regra anticriminal. A Vida em Sociedade é um acordo entre
partes, um consenso, e o artista precisa encontrar um meio de compreender isso
tudo, sem, é claro, deixar de fazer Arte. São três janelas com a persiana quase
baixada por completo, num quarto na penumbra, convidando a um dos maiores
prazeres que existem – dormir. São como três copos cheios menos do que metade,
como um branco leite, sempre nutrindo os filhos, sempre zelando pelo ninho, no
modo como um artista é Pai de sua própria obra. São três cigarros todos quase consumidos
pelo fogo, no modo como, ao tabagista, nunca um cigarro é o suficiente, e um
novo cigarro tem que ser sempre aceso. É um painel de vibração sonora, e, neste
momento, há muita tranquilidade e estabilidade, num momento em que a pessoa
pode encontrar prazer em coisas simples, como observar uma porção de mata
virgem. Aqui, o branco está mais discreto do que o preto, numa dança de
contrastes, como na bicromia dos trajes de gala dos cavalheiros, todos iguais,
todos irmãos, ao contrário das damas, cujos vestidos são sempre diferentes uns
dos outros – ao Yang resta a igualdade; ao Yin, a diferenciação. É a força
ritualística da Vida em
Sociedade. São três apartamentos de dimensões iguais, mas
cada um com um tipo de Decoração.
Acima, Estrutura de Caixas de Fósforos. Uma confortável poltrona, na qual
podemos sentar e esquecer dos problemas da Vida, no conforto do Lar, um lugar
onde podemos ficar à vontade, sem as obrigações do Mundo lá fora. O vermelho
sanguíneo corre pelas veias da artista, numa vida que pulsa, como na Natureza
exuberante do Rio de Janeiro, uma terra onde o Sol abençoa a orla. O vermelho é
o interior uterino, num perfume feminino delicado e irresistível, no fascínio
de pessoas perfumadas, na sensação benéfica e agradável de se sentir uma
fragrância fina. Esta obra é um robô, uma criação sintética, na eterna
tentativa do Ser Humano em querer imitar Deus, mas, já ouvi dizer de uma mulher
que teve um dos seios extirpados por causa do Câncer, falando sobre a prótese
peitoral: o que Deus faz, o Homem não faz igual. É um conjunto complexo de
gavetas, cheias de coisas, de memórias, de pensamentos de dias que se passaram,
talvez em memórias (muito) vagas de dias abençoados na Dimensão Metafísica, no
plano espiritual onde a Paz reina, mostrando-nos que as Guerras não são
História, mas uma interrupção de História, no sentido de que é só na Paz que há
prosperidade e progresso – a Raiva é desprezível, pois esta é muito, muito
menor do que a Paz, e isto não sou eu quem está falando, mas Tao. É a forma
humana de se organizar, vivendo dias compartimentados, num desejo de
organização, de disciplina, com a sensação de que a Vida está nos trilhos,
arrumada, bela e perfumada. É uma obra um tanto truncada, e não vemos aqui
linhas orgânicas e curvilíneas, mas linhas retas, como num Mondrian, como
quarteirões de uma cidade, organizados de forma a haver ruas e avenidas retas,
racionais e simples. Acessibilidade. É como um teclado de computador, ou uma
tabela periódica, na eterna intenção humana de se compreender o Universo ao
nosso redor, tentando encontrar lógica e coerência em uma dimensão tão
complicada como a Material, um mundo que é puro enigma, pura charada,
estimulando cientistas e filósofos a observar lógica retilínea em formas tão
liquidiscentes, e aí surge uma contradição: tanto o redondo quanto o truncado
são positivos; são iguais em
fascínio. Tem a aparência de um armário que foi jogado fora,
desprezado, talvez por estar muito feio e velho, detonado, perecendo em um
lixão, talvez na esperança de ser carinhosamente adotado e restaurado, vencendo
o Tempo e retornando à Fonte, ao plano primordial das Ideias, à Mãe Psíquica. É
a Carne que perece, e a Consciência sobrevive à Morte Orgânica, na vitória da
Mente sobre o Corpo; do Virtuoso sobre o Mundano. Estas gavetas estão em
movimento, sendo abertas e fechadas o tempo todo, e podemos ouvir os barulhos
de um lar, com o barulho das gavetas sendo abertas e fechadas, na demanda do
dia a dia de uma casa com várias crianças, na exaustiva demanda de uma casa
cheia de Vida, de riso e de choro. É como o universo dos Transformers, em que
veículos se transformam em gigantescos robôs, como nos tradicionais seriados
infantis japoneses, em que grandes robôs enfrentam horríveis monstros gigantes ameaçadores
e destrutivos, e temos aqui novamente a questão: a Razão impondo ordem ao Caos,
como uma ferida sendo esterilizada e medicada, coberta por um bandaid. Este
“robô” tem duas pernas muito fortes, como pilares de pura pedra, como na metáfora
de São Pedro, que fundou a Santa Sé, como na Catedral de Caxias do Sul, templo
erguido sobre sólida rocha, resistindo a tudo e todos. Na parte superior da
obra, uma lacuna, um buraco sem gaveta, talvez para guardar coisas que precisem
de arejamento, no modo como o ar tem que circular, evitando as bactérias de uma
água parada, uma água pestilenta que atinge aqueles que desistem de lutar pela
Vida. As caixas de fósforo foram escolhidas por LC porque representam o fogo, a
luz, o esclarecimento que combate rançosos preconceitos, no modo como um
artista jamais pode ser preconceituoso ou malicioso, pois a Arte rechaça a
Serpente da Malícia. A Arte é pureza.
Acima, Planos em Superfície Modulada. Temos aqui
uma exata simetria, como muitas logomarcas, como a do Banco do Brasil e outros
órgãos públicos. Podemos observar o exato centro da obra, numa precisão
matemática, o centro de tudo, numa vida centrada, numa LC focada, atenta ao
essencial, em uma vida artística tão rica em simplicidade franciscana. É como o
sinal de reciclagem, sempre girando, sempre fazendo a “máquina” girar, como
numa Economia pulsante, num país rico, em que o dinheiro circula facilmente,
rapidamente. É como uma máquina de lavar roupa, no ciclo de lavagem, numa
máquina que é uma grande invenção, fazendo-me lembrar do inesquecível Tatata
Pimentel, o qual dizia que minha geração não sabe o que é torcer roupa, como
torcer um lençol, tendo uma pessoa de cada lado, girando em sentidos opostos, e
é o que podemos ver aqui, com duas pessoas torcendo o mesmo lençol, como num
trabalho de equipe, em que cada ator tem seu papel para o todo. Temos uma LC
flertando com a Arquitetura, como nas formas simples e grandiosas de Brasília,
como se diz que, na Dimensão Metafísica, a Arquitetura é depurada, digna de
grandes mestres. Aqui, temos dois continentes se beijando, numa junção de
opostos, num 69, em que tudo se encaixa, apesar de cada metade parecer ser tão
diferente da outra. Imaginemos que o fundo é branco e que o restante é preto:
as formas negras estão absolutamente próximas mas, mesmo assim, nunca se
beijam. É a forma como o Amor Incondicional, Imaterial e Desapegado age, com
sutileza, num gesto que nada de material tem – só espiritual. É como o Adão de
Michelangelo quase tocando o dedo do Criador, o Grande Patriarca com sua longa
barba branca, num neo Papai Noel, cheio de riqueza e fartura para distribuir.
Em Michelangelo, esse Amor Intocado é o Psicológico, no modo que, depois do
Desencarne, tudo o que permanece é psicológico, espiritual, no modo como, nos
primórdios da Imigração Italiana no RS, as igrejas eram fundamentais, no
sentido de existir, fornecido pelo padre, acompanhamento psicológico. E Arte é
isso – Pensamento. Temos aqui uma lajota, a qual, combinada com muitas outras
iguais, forma uma estampa, um chão, como um papel de parede, como numa
xilogravura, que é uma espécie de carimbo, fazendo com que o artista vislumbre
inúmeras combinações com este carimbo primordial, como no trabalho da
xilogravurista caxiense Mara de Carli, a qual, a partir de um simples retângulo
negro, criou muitas combinações, no poder da Imaginação. Agora, suponhamos que
o fundo é negro e que o elemento é branco: temos novamente este quase beijo,
este quase toque, e o centro sobrenatural é do pensador Jesus, o qual brilhou
antes e depois de morrer, na comprovação da sobrevivência da Mente ante o
perecer da Carne. Aqui, parece que temos peças em concreto, como na sedutora
Fundação Iberê Camargo de POA, prédio que, por si só, já é Arte e, ainda assim,
abriga mais Arte, numa metalinguagem: inspiração falando de inspiração. Parece
as naves diabólicas de Guerras nas Estrelas, em que naves guiadas
pelo tirano Darth Vader buscam destruir resistentes, no fato de que, no
finzinho do sexto filme da franquia, Vader se arrepende e morre bonzinho. Aqui,
temos um ventilador que nunca para, sempre ventilando, sempre fazendo fluxo,
sempre vivendo e respirando, sempre provendo vales com chuvas, sempre
alimentando seus filhos, como na logomarca dos produtos Nestlé – uma ave mãe
alimentando os filhotinhos no ninho. Aqui, temos a beleza das linhas retas e
matemáticas, como me disse um professor do Ensino Médio: a Matemática é bela,
como cores dissociadas por um cristal. Temos uma LC ciente do charme do preto e
branco, no charme das fotografias de antigas estrelas do Cinema, como no céu
negro da Noite, salpicado de estrelas brancas.