quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Salvando a Arte



Estrela suprema do Surrealismo, Salvador Dalí alcançou um nível de reconhecimento gigantesco, tendo se tornado um verdadeiro popstar. Seu bigode pontiagudo ficou famoso, numa fina agressividade. Dalí virou sinônimo de Modernidade e Sofisticação. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, A Face da Guerra. Temos um Dalí pacifista, que odeia guerras e violência. Este quadro é um manifesto político universal, colocando a Arte como o oposto da Guerra, pois tudo o que o artista quer é Paz para se expressar, sem censuras. É um quadro de dor, pavor, assombro. A grande face humana está contorcida de dor, no momento de um espasmo insuportável, num desconforto existencial enorme, depressivo, num Dalí catarseando o sentimento de depressão e solidão, uma catarse que podemos ver nos elementos desérticos e ermos de muitos quadros do artista, no poder da Arte de curar almas. Aqui temos a Guerra como uma reação em cadeia, num estopim frente a uma frágil fila de peças de dominó em pé, e um só empurrãozinho é o suficiente para derrubar todas as outras peças, na fragilidade de nações belicistas, sempre tensas, sempre procurando um inimigo, no talento milenar humano em brigar e odiar – o Ódio é um capricho humano, e não uma invenção de Tao, pois este é Paz. A reação em cadeia traz então os olhos e boca deste grande rosto infeliz, e dentro deles há mais rostos contorcidos, e dentro deste temos ainda mais rostos contorcidos, numa infinidade de dor e privação, no modo como as guerras arrasam países e causam fome e destruição. São como bonecas russas, uma dentro da outra. São os estados regidos por forças incompetentes, as quais nada mais fazem do que guiar um país sem se importar com o que mais importa – o Cidadão. É como um motorista bêbado, que coloca pessoas em risco, podendo causar um grave acidente a qualquer momento. É como uma criança irresponsável brincando de governar, em homens gananciosos que querem o Poder apenas pelo Poder, e não para servir o Mundo, como diz Jesus, um sábio que permanece extremamente atual até os dias de hoje: os pregadores gananciosos não querem servir o Povo, mas explorar o Povo. Os pregadores querem ludibriar e arrancar dinheiro dos fiéis, quando que o verdadeiro líder quer servir, quer ser útil ao Povo, quer entender as necessidades do Povo. Há algum tempo recebi na Rua um panfleto doutrinário de uma instituição de pregadores – claro que joguei o panfleto fora assim que passei por uma lixeira, ao contrário de pessoas ignorantes, que dão dinheiro aos pregadores, um dinheiro que o ignorante ganhou com um trabalho tão suado, na (amarga) ironia de que esses pregadores sugadores dizem agir em nome de Jesus e de Deus! Por favor. Aqui neste quadro temos Morte, numa caveira que um dia abrigou uma alma vivente, numa carcaça de um boi morto, numa terra erma e arrasada pela Guerra, num mundo tão desolador, tão árido e infértil, na pobreza causada pela Guerra, uma miséria, como uma cidade deserta, fantasma, solitária, com um indivíduo vagando incessantemente em solidão por ruas desabitadas e desoladas. No canto direito superior, uma formação rochosa cortante, em um lugar de um calor insuportável, numa temperatura longe de ser amena e agradável. No canto direito inferior, uma marca de esqueleto de mão ou pé, uma pegada de alguém desolado que vagou por tanto tempo por terras tão desinteressantes, tão cruéis. É um vestígio de Vida; não é Vida de fato. Ao redor do grande rosto dolorido, várias serpentes cruéis e agressivas, causando dor, mordendo a vítima e envenenando almas, espalhando malícia e má fé. Seus dentes afiados fincam fundo, numa cruel injeção dolorosa, como no inferno que é uma crise de abstinência de alguma droga. As cobras são como ralos cabelos, num empobrecimento de uma pessoa que passa por um momento difícil na Vida, enfrentando toda a dureza de tão ter um Norte, um sentido. Qual o sentido na Guerra?


Acima, A Persistência da Memória. Dalí mostra como tudo é relativo, inclusive o Tempo, seguindo a lógica de Einstein. A modesta Ciência Humana não tem como compreender a totalidade de um Universo tão vasto, infinito. As referências terrestres de medição de Tempo e Espaço perdem toda a validade perante o Cosmos que cerca esta pequenina esfera, e o Ser Humano se depara com a própria e inevitável incompetência. Aqui, o Tempo perde referências e derrete, incapaz de impor ordem ao Caos, à infinidade de galáxias existentes ao nosso redor. Os relógios derretem e perdem sua função medidora, e o Ser Humano passa a perceber que não há Norte nem Sul; não há Ontem nem Hoje. O Caos é inevitável, e a Humanidade sofre este desfio diariamente. Os relógios derretem como se estivessem na superfície de Vênus, um dos planetas mais quentes do Sistema Solar. É uma temperatura insuportável, numa esfera impossível de ser visitada pelo Homem. Aqui, temos um quadro de solidão, e os relógios derretendo pouco consolo fornecem. É como um chão se abrindo sob os pés de uma pessoa que enfrenta uma grande crise, e a perda de referências é assoberbadora, fortíssima, numa pessoa que percebe de forma clara que velhos moldes e velhas referências vão indo ralo abaixo, desaparecendo, e tudo derrete para trazer um grande desafio – o desafio da volta à plenitude psíquica, num esforço enorme, descomunal. Podemos ouvir o assobio de um vento desolador, e os relógios sem função pouca esperança dão – são inúteis. A demanda da Vida é abrir mão de vaidades e admitir que ninguém sabe tudo, e os relógios aqui assinalam um momento de decadência e danação, num cenário duro e  infértil, num artista que tem que ter a humildade para admitir a própria pequenez, pois pobre do arrogante que se sente afiado como um bisturi. Vemos a parte traseira de um relógio sendo assediado por formigas ensandecidas, no trabalho de formiguinha. As formigas são a Vida querendo sobreviver em um terreno tão inóspito, tão desafiador, no sentido de que não há livro ou faculdade que ensine alguém a brilhar – o brilho tem que ser instintivo; tem que vir de dentro. Temos aqui um terreno inóspito, onde nada prospera, nem uma florzinha, nada, num artista que tem que tirar força do fundo d’alma para ser criativo e para ter uma vida produtiva, laboriosa, disciplinada, sedimentada e centrada. As formiguinhas são a luta pela Vida, em seres que insistem em sobreviver a um cenário de hecatombe nuclear, como da força das baratas, que sobrevivem a tudo, sendo muito importante para um artista saber sobreviver, saber virar as páginas e “tocar o barco”. E como é desafiador sobreviver! Nem todo mundo sobrevive, infelizmente. Vemos ao fundo um lago plácido, muito calmo, um espelho. É a Serenidade, a Ponderação, num artista que tem a paciência para explorar criativamente a si mesmo, no desafio que é uma pessoa não se repetir em décadas de carreira, pois, do contrário, acontece o seguinte: “O Fulano? O Fulano é um saco; sempre faz a mesma coisa!”. É um espelho de Narciso, na tentação que é um artista ficar bêbado com o próprio sucesso, nos meandros do Narcisismo. Rochas inóspitas beijam o lago plácido, e este é a promessa de estabilidade, de calmaria, de paz consigo mesmo. E o Mundo não pertence àqueles que têm autorrespeito? Um ramo de árvore seco, sem Vida, sustenta um dos relógios, num ser que antes viveu, mas que agora está mortificado, no modo como o Espiritismo prega a mortificação espiritual, numa pessoa que tem que deixar para trás a sedução dos sinais auspiciosos e ater-se ao que é realmente importante, que é evoluir como pessoa. Aqui, este céu azulado traz esperança, e o lago espelhado é a reflexão psíquica, num artista feliz, que se encontrou em sua própria produção, na glória da qual gozam os espíritos produtivos. Este chão marrom traz a esperança de uma plantação farta, numa promessa de cornucópia, sonhando com um Mundo em que apenas o psíquico é o que importa. Aqui, perde-se a Memória, o Norte. Sustentando um dos relógios, uma forma que é um olho fechado, repousando em delírios oníricos, sendo estes mensagens existenciais. Vão-se a experiências e fica o Aprendizado.


Acima, Mulher com Pão. Com esta obra eu me deparei no Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, em fevereiro de 1998. Os milhos e as formiguinhas me chamaram a atenção, numa obra de fertilidade, abundância no Campo, na sensualidade de lavouras produzindo alimentos para alimentar a América de cereais, no café da manhã de cada americano. É uma fertilidade sexual, na força da Natureza em fazer brotar Vida. A moça ruborizada parece estar com vergonha de ter os seios expostos, numa graciosidade de escultura grega clássica. Seus olhos estão despertos como uma Nefertiti sempre atenta, sempre consciente, assegurando a colheita de trigo ao seu povo, tornando-se uma extensão da terra fértil às margens do Rio Nilo. Os milhos são como grandes brincos extravagantes, exagerados, numa colheita de fartura orgiástica, como o pólen fertilizador na Primavera, fazendo das flores órgãos sexuais, na sensualidade da época de acasalamento. As figuras humanas ao redor do pescoço são seus filhos, numa rainha fértil que produziu muitos herdeiros do Sexo Masculino, cumprindo com o seu dever reprodutor, reduzindo uma mulher ao mero papel reprodutor, numa sociedade que castra a inevitável Sexualidade Feminina – são os preconceitos do Mundo. A mulher é branca como neve, numa manhã branca, após uma nevasca, no chão branco intocado, implorando para ser maculado e desvirginado por pegadas, como uma moça virgem que é entregue ao noivo na Igreja, perante o testemunho de toda a Sociedade. As formiguinhas são a força intermitente da Vida, sempre lutando para sobreviver, sempre na luta, no ringue da Vida, nunca se rendendo, pois verás que filho teu não foge à luta. É o prazer desvirginador de danificar um formigueiro, e ver todas as formigas em alvoroço, enlouquecidas, nunca parando para descansar, sempre reconstruindo o que foi destruído, numa paciência eterna, dando um exemplo biológico e instintivo de que o Labor é sempre necessário, pois pobre daquele que não se coloca à disposição do Mundo. As formiguinhas estão tomando conta desta obra de Arte, e prometem monopolizar tudo, transformando o Mundo em um grande formigueiro, numa sociedade perfeita, na qual cada um é um agente essencial, no desafio de um artista em se ver útil ao Mundo. A boca da Mulher com Pão é minimalista, recatada, como de uma gueixa, no arquétipo feminino de passividade, desprovida de qualquer iniciativa agressiva, quando, na verdade, qualquer mulher tem que desenvolver agressividade. A enorme baguete é o falo, sempre regendo a moça aqui, no poder patriarcal de estabelecer acordos matrimoniais, forçando uma menina a se casar. É como se fosse um porrete, batendo na cabeça da mulher, no trabalho de transformar trigo em pão, numa cornucópia aqui, numa mesa farta, onde a comida não tem preços exorbitantes. É o prazer de saciar a Fome, e quase sentimos o cheirinho de pão recém saído do forno da padaria, num Dalí delicioso, um verdadeiro chef da Arte. Mais acima, vemos uma figura feminina e outra masculina, como um casal, selando um acordo de divisão de tarefas: o homem sai para a lavoura e a mulher cuida dos afazeres em casa. E podemos ver duas formas que lembram o formato de privadas, no ato catártico de se fazer “cocô”, fazendo da Arte um instrumento de purificação espiritual, num Dalí extremamente catártico. Esta peça toda traz equilíbrio, numa certa simetria, quebrada apenas pelas formiguinhas ensandecidas, as quais tomam conta da percepção do espectador e ameaçam devorar os milhos e o pão – a Vida não para.


Acima, O Grande Masturbador. A mulher beija o sexo do homem, e pela mulher correm veias cheias de sangue, de Vida, no poder pulsante da sexualidade, a qual é natural no Ser Humano. Apesar de encoberto, o sexo do homem é claro de se observar, e a mulher fecha os olhos, num momento sensorial em que a Visão não é muito necessária, como num quarto escuro em que dois amantes se encontram. Este quadro tem um grande e complexo corpo em amarelo, num artista catártico que se empenha para tornar visível o seu próprio Inconsciente. Como muito em Dalí, vemos um terreno deserto e um céu limpo, num desejo de limpeza, de Tao. Os cabelos da mulher são como dunas num deserto, e as dunas virgens são defloradas pelas pegadas de exploradores, de estupradores, no prazer da violação, da agressão. Novamente vemos formiguinhas numerosas, na força da Vida que brota do nada. As formiguinhas cobrem um corpo que parece ser um zepelim, nos sonhos aéreos de uma mente sonhadora, com “a cabeça nas nuvens”. O zepelim é a elevação psíquica; é a busca por inspiração, por ter algo a falar e mostrar. Dalí nos traz uma luz que ilumina e mostra essa mente, jogando luz sobre o obscuro Id, talvez namorando com a Psicanálise, a qual alegaria que tudo na obra de Dalí são projeções do self do próprio artista, daquilo que é figura em Dalí, no poder da catarse em explorar o misterioso, trazendo luz, esclarecimento, análise e interpretação. Ordem. A mulher tem formas belas, formosas, numa aula de nu em uma escola de Arte, ou, como vi em um atelier, revistas de mulher nua, no poder da simplicidade do Nu. No canto esquerdo inferior, um homem solitário, quase coberto pela sombra do grande corpo amarelo. O amarelo é a gema do ovo; é a nutrição vital; é a Arte como comida, ou seja, indispensável. E as formiguinhas ameaçam tomar conta de tudo, num grande formigueiro regido por um ditador sanguinário, opressor, ou, como ouvi hoje, um líder absolutamente hipócrita e falso. Vemos novamente, no corpo amarelo, um olho fechado, dormindo, viajando pelos próprios meandros mentais, em sonhos enigmáticos, os quais podem ser interpretados por um bom psicoterapeuta. Acima do olho fechado vemos cílios multicoloridos, carnavalescos, num Dalí que, além de produzir, gosta de se divertir, pois a Vida não é só labor. Abaixo do zepelim vemos um casal apaixonado se beijando, num Dalí romântico, que sabe que “love is beautyful”. O título “masturbador” traz uma grande fantasia sexual, e Dalí se empenha em “fotografar” o que não pode ser fotografado, no enigma de Tao: o Tao sobre o qual se pode falar não é o verdadeiro Tao. Ou seja, é uma frustração encorajadora, como um cometa, que derrete lentamente, deixando um rastro de interpretações as quais nunca atingem o cometa diretamente. À frente do zepelim vemos pernas magras e enguias, como um louva-a-deus, na elegância que existe em muitos animais, como o cavalo, no choque inevitável entre Darwinismo e Criacionismo: a Evolução é uma obra de Deus? Pode ser. Abaixo da mulher vemos uma flor copo-de-leite, a flor das noivas simbolizando a pureza e a ausência de agressão, no poder sedutor das flores, as quais são sinais claros da inspiração divina que cria as coisas, como abundantes azaleias na Primavera, explodindo em cor, numa vontade de viver, uma vontade enorme, fortíssima, pois a Vida é luta. Os ombros nus da mulher são graciosos, suaves, numa mulher no auge. Sua pele é intocada, e o homem ameaça deflorar a flor em questão. A mulher aqui é dotada de desejo sexual, implodindo o preconceito patriarcal que tolhe a sexualidade feminina – as mulheres têm o direito de amar, de transar, de ter orgasmo, de ter prazer, ao contrário dos machistas filmes pornôs, nos quais, quase sempre, só é mostrado o orgasmo masculino. Vemos aqui uma continuidade entre veias e ramos de árvore, como raios poderosos de tempestade, na força irrefreável da libido humana, a qual não deve ser reprimida. No canto direito inferior, vemos um buraco, um furo, uma janela que nos permite espiar para fora, podendo ver o que se passa na mente de um artista, observado que a Catarse é um explosão de supernova, avassaladora, como um popstar explodindo pelos quatro cantos do Mundo. É um respiro, um alívio, é a Vida respirando e se alastrado pelo planeta e pelo Universo. Podemos ouvir os gemidos da mulher, em puro prazer, sentindo-se livre para ser o que é, sempre foi e sempre será: mulher. Acima do corpo amarelo, vemos pedras, que podem ser o cocô sendo feito, na sensação de alívio em colocar para fora algo que nasceu para ser colocado para fora.


Acima, A Madona de Port Lligat. Temos em Dalí uma bomba atômica de Arte Moderna, e aqui temos uma releitura ousada, talvez influenciando o pintor portoalegrense Fernando Baril. Temos aqui uma desconstrução, uma análise, em que cada elemento é dissociado, e cada coisa é colocada em sua devida gaveta, num Dalí organizado, ordeiro, que, apesar de ter inovado tanto, mantinha dentro de si uma grande disciplina, uma sisudez conservadora, numa inevitável contradição, pois, já ouvi dizer, uma pessoa agressiva, provocadora e transgressora é, na verdade, uma pessoa extremamente careta. Vemos um lago absolutamente plácido, intocado, num silêncio avassalador, berrante, numa harmonia inabalável, na Paz de um artista que ama o que faz, no silêncio acolhedor de um atelier, de um ambiente de trabalho, na alegria das mentes produtivas e centradas. O Céu de Brigadeiro também é limpo e calmo, talvez sendo cortado pelo rastro de um avião a jato, e podemos ouvir o som da nave rasgando os céus, num Dalí avião, avassalador. Vemos formas arquitetônicas em perspectiva, como na Renascença, em que a perspectiva é (re)descoberta, ilustrando a moda, a vogue do momento. Dalí é uma onda, uma grande onda que engole surfistas amadores e desavisados. O interior desta Madona é oco, para podermos ver o bebê, que dorme placidamente, num sono inabalável, como o sono de um desencarnado, que dorme por muitos dias após morrer, acordando na Dimensão Metafísica. A Madona ora com as mãos em posição de reza, formando um telhado, uma estrutura protetora que vai selar pelo Menino Jesus. A Madona aqui é a grande estrela do quadro, talvez a própria mãe do artista. As vestes da mãe são majestosas, de fino tecido, na riqueza produtiva de um artista que virou sinônimo de divino talento, de talento claríssimo de ser observado. No topo do quadro, uma concha, como a Vênus de Botticelli brotando das profundezas do Mar, trazendo o cheiro de água marinha e o som das ondas estourando à beiramar. São os mistérios da Mãe-Mar, como no final de O Senhor dos Anéis, em que os desencarnados embarcam numa nave que o levará para uma praia de areia branca e paradisíaca, no cheiro de Lar. Vemos um sólido pedestal embasando tudo, forte como os pilares da Terra, elevando a imaginação criativa, no modo como um artista é mãe, produzindo filhos por Imaculada Conceição, no mistério da Criatividade: de onde vêm os bebês? O bebê repousa sobre uma almofada, que é o aconchego do Lar, numa sensação deliciosa de Liberdade. Reconforto. Sobre o pedestal, duas frutas deliciosas, de um pomar abençoado e delicioso, no modo como a Arte é alimento. Na outra extremidade do pedestal, uma folha caída, talvez uma carta escrita de forma psicografada, com pessoas que querem proporcionar Paz aos que permanecem na Terra. Um pouco mais acima, conchas e formas de Vida Marinha, na diversidade biológica, num Universo tão repleto de Vida, numa imensidão de formas exóticas de Vida. São os seres que povoam a Imaginação, como o artista é um pouco como Tao, que é a força criadora universal. É o Homem tentando, sem sucesso, ser Deus, numa perspectiva infindável de aperfeiçoamento, ao nível dos arcanjos. Há certa degradação em parte das estruturas arquitetônicas aqui, e essas falhas são as falhas do Ser Humano, um ser que tem que ter sempre a humildade para admitir que o sentido da Vida é crescimento; é depuração moral. A Madona ora profundamente, de olhos fechados, alheia aos sinaizinhos auspiciosos vulgares mundanos, alheia a bobagens. E abaixo da concha na porção superior do quadro, um singelo ovo, o qual é, claro, a Vida vindo ao Mundo. É o ovo de Páscoa, em uma cesta colorida e cheia de doces, no iluminado mistério da força invisível que faz um coração bater. O coração do artista pulsa, parindo Arte.

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