Aos 16 anos de idade, Barbra
Streisand era uma judia do Brooklin, região metropolitana de Nova York. A jovem
decidiu que queria trabalhar na Broadway, não importando como ou em que função.
Então ela atravessou a ponte do Brooklin em direção a Manhattan, e foi batalhar
por um emprego, com uma Barbra sempre guerreira. Conseguiu um trabalho de
lanterninha, e gostava, pois podia ver as peças teatral-musicais de graça. Você
percebe a trajetória desta judia? Ela começou como lanterninha e acabou como um
verdadeiro monstro artístico. Apenas cinco anos depois de ingressar na Broadway
como lanterninha – cinco anos passam rápidos –, Barbra protagonizava o célebre
musical Funny Girl, interpretando o
mesmo papel no cinema anos depois e levando um Oscar por tal. Talento
indiscutível, Barbra atua e canta obtendo reconhecimento incondicional. Para
uma pessoa conseguir emprego de ator na Broadway, esta pessoa tem que ser
excepcional, pois medíocres não têm vez na Broadway. As auditions, ou seja, os
testes de elenco são inúmeros e a competição é acirrada. Só o talento abre
portas, e Barbra escancara-as. De brilho da lanterna a brilho dos holofotes. Sometimes, you have to start small, ou
seja, às vezes, você tem que começar por
baixo, canta Barbra no clássico da Broadway Everybody Says Don’t. E, como diz Tao, temos que nos curvar antes de conquistar.
No arrebatador desenho animado
cômico Southpark, Barbra
transforma-se num terrível monstro que destrói Nova York, cantando o clássico Memories. Em outro momento, Barbra está
disfarçada, e tem que aturar comentários do tipo Barbra gostaria de ter para sempre 45 anos de idade, e a dublagem de
Barbra no desenho trata de reproduzir o som nasalado de sua voz, como a da
divertida personagem Fran Fine no extinto seriado The Nanny. A judia Fran é absolutamente louca por Barbra, e esta
recebe várias homenagens em episódios diferentes do seriado, como por exemplo:
Fran descobre em uma caixa de coisas velhas suas uma peruca que imita o cabelo
de Barbra; Fran fala com Barbra ao telefone depois de um espetáculo desta, e a
cantora a saúda com o jargão Hello,
Gorgest, ou seja, Alô Lindona.
Fran diz que Barbra libertou o povo judeu do sentimento de culpa! Mas, no
seriado, Fran nunca chega a de fato encontrar-se com Barbra, como em um show na
vida real, em que uma expectadora na primeira fila grita Touch me, Barbra!, ou seja, Toque-me,
Barbra!, mas Barbra, apesar de estender a mão com sua famosas unhas
longuíssimas, não chega a tocar na fã. Inclusive, na capa do álbum Lazy Afternoon, na moda dos
esteticamente infames anos 70, Barbra está com unhas com “quilômetros” de
comprimento.
Reservada, Barbra é discreta no
dia-a-dia. Faz aparições públicas não muito frequentes, como no programa
televisivo americano Saturday Night Live, em que personagens mulheres judias
adoram Barbra como uma verdadeira deusa.
Uma das mais belas canções de Barbra
é I Finally Found Someone, ou seja, Eu Finalmente Encontrei Alguém, um dueto
romântico com Bryan Adams, tema do ótimo filme O Espelho tem Duas Faces (The Mirror Has Two Faces), em que Barbra interpreta uma brilhante professora
universitária de Literatura que descobre o amor conjugal e conquista a própria
autoestima como mulher, na sequência final em que usa a metáfora da aurora para
ilustrar a clareza com que a personagem acaba vendo a vida e o mundo. Há uma
aurora na vida de Rose, a personagem, do modo como Barbra, que já fez décadas
de psicoterapia, permite a si mesma ver o mundo de um modo novo, encontrando o
prazer de viver e a certeza de encontrar contentamento e felicidade. A canção
foi indicada ao Oscar de Melhor Canção. Só que Barbra decepcionou os fãs e
disse que não cantaria a música na cerimônia, mesmo porque Barbra, na noite do
Oscar, estava com uma ousada saia justa, sendo complicado subir no palco em
tais vestes – Barbra gosta de se gabar por ter pernas bonitas, como no vestido
famoso na turnê The Concert, onde
sexy não é vulgar, numa tênue linha. Então, na dada cerimônia, o pepino ficou
para Celine Dion, que teve que ensaiar às pressas a canção dentro do toalete
feminino, por causa da acústica do WC. Como se trata de um dueto, na verdade a
canção deveria ter sido interpretada por um cantor e uma cantora, mas foi só
com Celine mesmo, privando a reprodução de todos os versos da bela balada. É
por isso que Barbra ficou muito amiga de Celine, ficando grata a esta e,
posteriormente, gravando juntas um dueto meio brega, mas belo, chamado Tell Him, ou seja, Diga a Ele, em que uma mulher mais experiente, interpretada por
Barbra, dá conselhos amorosos a uma mulher mais jovem e inexperiente, vivida
por Celine. Na canção, a mulher mais velha diz à mais nova que esta deve
expressar ao amado toda sua paixão, partindo para o tudo ou nada, ganhando-o ou
perdendo-o, mas sempre sendo autêntica em relação aos próprios sentimentos. A
foto oficial das duas divas juntas tem ao fundo um grande arranjo de flores,
para ilustrar a identidade feminina da canção. Breguinha, mas duas vozes
(muito) respeitáveis. Na vida, não se tem tudo, e cada um tem seus defeitos. E
o dueto com Bryan é pertinente, sendo este um homem feio, mas charmoso, com uma
voz que fala cantando.
Em relação a repertório, Barbra é
meio engessada, dura. A diva só vai a público interpretando as mesmas velhas
canções. É claro que a diva tem um fãclube sedimentado, com pessoas sempre
dispostas a comprar seus CDs e a pagar ingressos para seus shows. É claro que a
biografia musical da diva é soberba, mas seus shows acabam se tornando, de modo
geral, vintage nostálgica, como no megashow The
Concert, dos anos 90, no qual a diva provou ter poder de fogo de sobra. O
show resgata grandes hits da carreira, com a diva até fazendo um narcisista
dueto com si mesma, e insere pouco material novo. Existe uma pessoa do
showbusiness, cujo nome não mencionarei, que permaneceu o resto de seus dias
cantando músicas suas dos anos 80, quando que, na vida, o importante é
sobreviver e tocar o barco para a frente. Existe outra característica de Barbra
que é a pretensão, como podemos ver nos títulos de dois de seus álbuns, Timeless e Higher Ground, ou seja, Atemporal
e Nível Mais Alto. Não que sua voz
não seja poderosa e inspiradora, mas Barbra crê que a pretensão ajuda a vender
CDs.
Centrada, Barbra nunca se rendeu às
drogas e à bebida, mesmo com as inevitáveis pressões do showbusiness, como nas
pressões em cima de Harry Connick Jr., que nos início da própria carreira
enfrentou um mercado que exigiu que Harry fosse “apenas” o novo Frank Sinatra;
como no caso de Whitney Houston, que perdeu a voz por causa das drogas.
Certamente, um dos highlights da carreira da diva é o inesquecível dueto com
Frank Sinatra no pertinente CD de sucesso Duets.
Um programa humorístico de TV americano mostrou atores interpretando Barbra e
Frank, no qual o astro chama a diva de Nose,
ou seja, Nariz. Heheheheh!!! De
personalidade marcante, Barbra busca gravitar psicologicamente em níveis acima
de mediocridade e mundanismo, sendo seletiva na hora de trabalhar em projetos,
seja na Música, seja no Cinema.
O meu trabalho preferido de Barbra é o CD Back to Broadway, dos anos 90, no qual a
diva, que começou na Broadway, revisita clássicos do teatro novaiorquino.
Barbra brilha indescritivelmente como em canções imortais do musical Sunset Boulevard, musical já encenado
por Glenn Close – não farei aqui uma covarde comparação, visto que Glenn, sendo
toda a estrela que é, não tem a voz de uma Barbra, mas Glenn se defende no
palco e não faz feio na hora de cantar a peça do mito Andrew Lloyd Webber. O CD
ainda tem duetos primorosos, com arranjos musicais de extremo bom gosto, num
álbum que tem o dom de ser reproduzido incansavelmente, mesmo tantos anos após
seu lançamento. Barbra mostra intimidade com o microfone tanto em momentos
sutis quando em grandes “gritos” melódicos, dando a impressão de que cantar é
fácil. Mas é apenas uma impressão.
Há décadas atrás, o Príncipe Charles, em visita oficial aos
EUA, pediu para se encontrar com Barbra, sendo provado aí o monstro global que
a diva é. Barbra estava em estúdio gravando, e estava muito concentrada e absorvida
pelo trabalho. A diva recebeu Charles no estúdio e, sob câmeras da imprensa,
conversaram rapidamente e Barbra até lhe ofereceu um gole do chá que ela estava
tomando. Décadas depois, Barbra até brincou, dizendo que, se talvez tivesse
sido mais simpática e calorosa, poderia ter se tornando a primeira princesa
judia da História, já imaginando manchetes sobre si, provavelmente apelidada de
Princesa Babs, nos tablóides
ingleses! Em outra ocasião, reza a lenda que Barbra, lá pelos anos 60,
encontrou-se em um camarim com o rei Elvis Presley, e que o astro beijou as
pontas das unhas de Barbra.
Em termos de política, Barbra é democrata, e gosta de fazer
opinião pública sobre política. Como na maioria da classe artística americana,
o Partido Democrata é unanimidade entre as pessoas sensíveis e intelectualizadas
do showbusiness, o qual premiou Barbra com um Globo de Ouro pelo conjunto da
carreira cinematogtáfica.
Barbra tem muito controle sobre a própria vida, na
independência psíquica das pessoas psicoanalisadas. Por exemplo, é difícil
achar imagens na internet de Barbra sem direito autoral, pois esta busca ter o
direito de reprodução de cada foto sua. Uma insegurança, talvez pela diva não
se achar das mais belas e, mesmo psicoanalisada, tem problemas em relação à
própria aparência. Conheço pessoas que acham Barbra um tribufu; outras,
consideram-na uma “feia bonita”, ou seja, um charme interessante, não nos
clássicos padrões de beleza, mas num encanto único, como seu grande nariz,
responsável pela soberba voz nasalada, equivalendo a uma orquestra inteira. Em Funny
Girl, na hora da personagem de Barbra interpretar a
canção The Most Beautiful Bride in the
World, ou seja, A Noiva Mais Bela do
Mundo, a personagem trata de ousar e mudar um pouco o roteiro, aparecendo
inesperadamente no palco com uma irreverente barriga de grávida, transgredindo
comicamente. Numa metalinguagem, pois é monstro de teatro falando de monstro de
teatro.
A mãe de Barbra, quando esta era jovem, dizia que Barbra
teria dificuldades em obter um marido, pois a jovem judia era nariguda e
estrábica. Como é característica das grandes pessoas, Barbra venceu todas as
vicissitudes da baixa autoestima e se tornou uma pessoa adulta e madura, sendo
sinônimo de excelência, quando ouvimos frases do tipo O Fulano é a Barbra Streisand da Arquitetura, ou O Beltrano é a Barbra Streisand da
Propaganda. E a diva disse em entrevista que Sucesso é ter um melão inteiro à disposição mas só comer um pedaço deste.
Barbra fala de como é ser uma celebridade, envelhecendo publicamente, mas, como
a própria já disse, algumas coisas melhoram com a idade.
Ok, Barbra não tem muito estilo, como em uma recente
aparição pública, em que vestiu uma roupa medonha que fazia referência aos anos
70, época que a diva amou viver. Mas existe uma celebridade, cujo nome não
mencionarei, que esbanja estilo mas tem uma voz quilômetros pior do que a de
Barbra. Encantando gerações diferentes, Barbra é apreciada por mim e pelos meus
pais, e, ao que tudo indica, entrará para a História com uma das principais
vozes de nosso tempo.
Não devemos culpar quem escreve “Barbara” ao invés de “Barbra”,
pois a diva é, ironicamente, bárbara. E há um fato engraçado, pois já foi dito
inúmeras vezes que a top brasileira Mariana Weickert parece-se com a Barbra na
juventude desta. Um narigão para lá de charmoso. Nunca ouvimos falar que beleza
não põe à mesa?