quarta-feira, 27 de julho de 2016

No Cavalgar do Tempo



            Quando me formei na faculdade, ganhei um cheque presente que me dava direito a um livro de tantos reais. Fui à livraria e decidi levar um excelente livro chamado “Palácio Piratini – História, Arquitetura e Arte na Sede do Governo do Rio Grande do Sul”, com material sobre a sede neoclássica em estilo francês do governo gaúcho, em Porto Alegre, em um local nobre – ao lado da Catedral e em frente à Praça da Matriz, com o Theatro São Pedro e a Assembleia Legislativa como vizinhos, sendo que perto dali há o belo Solar Palmeiro, que faz parte do conjunto de prédios históricos portoalegrenses aristocráticos no Centro da capital. O livro, rico em textos trilíngues – em português, espanhol e inglês – e fotos, foi feito com a Lei Federal de Incentivo à Cultura. A nota de orelha é da então governadora Yeda Crusius, no ano de 2007, num projeto também respaldado pelo ex-governador Germano Rigotto. Pessoas de minha família são amigas do ex-governador Olívio Dutra, e foram jantar no Piratini em uma recepção privada quando o petista era governador, no endereço mais fino de Porto Alegre.

O termo “piratini” é em tupi guarani e significa “peixe barulhento”, fazendo referência ao povoado de Piratini, que foi sede do governo gaúcho durante a Revolução Farroupilha – o palácio assim passa a se chamar após decreto do governador Ildo Meneghetti em 1955. Há visitas guiadas em certas partes do palácio para quem quiser conhecer. Uma parte formidável do palácio é o Galpão Crioulo, decorado com o tosco (porém acolhedor) estilo gauchesco, onde o governador recebe pessoas para um bom churrasco com chimarrão. No galpão, que contrasta profundamente com o neoclássico francês predominante do Piratini, há um enorme mapa estadual com todos os municípios gaúchos demarcados. O “mini CTG” palaciano certamente é o setor preferido do governador José Ivo Sartori, um homem de origem simples e uma pessoa que não dá bola para luxos, pois diz o Taoismo: “O bom líder até pode viver em grandes palácios, mas não se importa com o requinte destes”, e diz também: “A maior parte das pessoas deslumbra-se com os palácios mas ignora os campos”, e existe algo mais gaúcho do que amar a vida ao ar livre? Tenho uma linhagem em comum com a família Triches de Caxias do Sul, clã ao qual pertence o governador Euclides Triches, que governou nos anos 1970. E o RS é conhecido pelo fato de que nenhum governador gaúcho até hoje reelegeu-se, mesmo os lendários líderes como Leonel Brizola – em frente ao prédio onde veraneio, em Capão da Canoa, há uma placa em homenagem a Brizola, chamado de “veranista emérito”. Já tive a oportunidade de trabalhar com um descendente do governador Flores da Cunha. E uma pessoa de minha família foi colega no Ensino Médio do governador Pedro Simon, em Caxias do Sul.
           
            Uma pequena cronologia do Palácio Piratini:
1789 – Inaugurado o Palácio de Barro, primeira sede do Governo, em claro estilo português colonial.
1896 – O palácio é demolido para dar lugar ao novo palácio, sob as ordens do governador Júlio de Castilhos. Em 1901, a obra é embargada.
1909 – O projeto atual é demolido para dar lugar ao prédio atual, de autoria do arquiteto francês Maurice Gras. Em 1910, a obra está em pleno vapor.
1911 – O cimento teve que vir da Inglaterra e, depois, da França. A areia foi extraída do Lago Guaíba, em Porto Alegre mesmo.
1912 – Mais material importado da França: calcário e estuque.
1913 – O governador Borges de Medeiros passa a liderar a obra.
1914 – Com a I Guerra Mundial, as importações intercontinentais ficam difíceis, e a obra é paralisada. Borges decide consolidar a obra em regime de empreitada.
1918 – A fachada do prédio ganha suas feições finais.
1919 – Material elétrico, lustres e demais iluminações são comprados.
1920 – É feita a decoração das cinco salas principais.
1921 – Borges inaugura o palácio, sem festa, apesar de algumas partes do local ainda não terem sido finalizadas.
1923 – Borges assina, no palácio, a paz da Revolução de 1923, revolução esta que foi um episódio que dividiu os gaúchos.
1928 – Finalmente finalizado em sua totalidade, o palácio abriga o governador Getúlio Vargas.
1930 – A revolução daquele ano une os gaúchos e leva Getúlio à Presidência da República.
1951 – Aldo Locatelli é contratado para pintar murais no palácio, trabalho finalizado em 1955.
1961 – No movimento da Legalidade, em quinze dias de tensão, o governador Brizola apoia a posse de Jango como Presidente da República.
1971 – Inaugurado o Galpão Crioulo do palácio.
1972 – O palácio passa a receber visitas guiadas.
1986 – O palácio é tombado Patrimônio Histórico e Artístico do Rio Grande do Sul.
1988 – Restauração das pinturas de Aldo Locatelli.
2000 – Desta vez, o palácio é tombado Patrimônio Histórico e Artístico do Brasil.
2006 – Finalização do trabalho de restauração das fachadas, iniciado em 2001.
           
            O prédio é um museu por si só: lustres, mármores, estatuetas, tapetes, painéis, cortinas, antiguidades e móveis, com muitos desses itens sendo presentes de reis e chefes de estado. O livro, que foi seguido de uma exposição itinerante, é dividido em quatro partes, com um autor para cada, pessoas de reconhecido destaque em suas respectivas áreas de atuação:
           
Capítulo 1
Autor: Luiz Antonio de Assis Brasil, escritor e ex-secretário de Cultura do RS
Título: “Um Palácio Feito de Dramas, Angústia, Esperas e Requinte”
Na ilustração desta postagem, o painel de Aldo Locatelli chamado “Formação Etnográfica do RS”. Um gaúcho cavalga majestosamente em um cavalo vigoroso. Um índio com uma lança com as Missões atrás. Uma mãe amamenta o filho. Um fogo de chão aquece uma chaleira para o mate, bebido por um gaúcho pilchado. Homens fazem a colheita do trigo. Bois puxam uma carroça. No canto direito superior, colonos vindo ocupar sua terras. Uma grande antena moderna de eletricidade, mostrando o progresso em meio à tradição – Locatelli gosta de dar pitadas inusitadas em seus trabalhos. As cores são predominantemente neutras – não há cores berrantes. Todos os elementos fazem parte da mesma “dança” no painel. Já, no painel vertical “A Agricultura e a Pecuária amparando a unidade familiar”, Aldo mostra uma mãe acolhendo os filhos, com a bandeira do Rio Grande do Sul tremulando ao centro e, acima, uma cavalaria furiosa. Dois homens ladeiam a bandeira – um é gaúcho pilchado; o outro, um trabalhador, com um martelo na mão. Embaixo, uma menininha segura um pássaro nas mãos e, ao seu lado, um pássaro voa livre, como no desejo do gaúcho de liberdade na Guerra dos Farrapos.
No pátio interno, o grupo de esculturas “A Primavera”, de Paul Landowski. Uma mulher nua ao centro representa a estação do ano, e é cercada de flores, lembrando um pouco a Vênus de Sandro Botticelli. À direita carneiros em meio ao pasto e, à esquerda, criancinhas pequenas e gordinhas como símbolo de fertilidade feminina.
Assis Brasil narra momentos de Vargas no palácio, e também o episódio da Legalidade, no qual o Piratini foi o epicentro – interessante observar que os militares ambicionaram o poder desde a renúncia de Jânio, e o golpe de 1964 não foi uma total surpresa.
Na mesa dos governadores, uma relíquia de antiquário – um aparelho de telefone antigo, todo restaurado. No chão da sala, um tapete multicolorido feito pela fábrica Rheingantz, da cidade de Rio Grande. O pátio interno e a calçada na rua em pedras portuguesas. O Sol esgueira-se pelas janelas do palácio. Lustres de cristal assinalam a sofisticação dos espaços. Colunas neoclássicas impecavelmente preservadas. Portas em ricos entalhes na madeira.
Com forte veia de romancista, Assis Brasil narra História e festas.
           
Capítulo 2
Autor: Paulo Raymundo Gasparotto, jornalista
Título do Capítulo: “Apogeu de Cultura e Requinte”
            Gasparotto frequenta o palácio desde os anos 1960, o que lhe dá intimidade para falar sobre o lugar e lhe faz afirmar que o prédio emana luxo e poder. Gasparotto fala das intervenções de algumas primeiras damas no palácio, como uma fonte no jardim instalada por Neda Triches. Em festas em comemoração à Revolução Farroupilha, a primeira dama Neusa Canabarro exigiu como traje a pilcha, com o fato de Collares ter sido o primeiro (e único) governador negro do RS.
Um piano para saraus no Salão dos Espelhos, iluminado por um lustre de muitos cristais. Escadarias desdobram-se em uma “dança”. Um tapete vermelho cobrindo os degraus dá o tom de “ala vip”, como a cor vermelha na bandeira do RS, como o sangue derramado na Revolução Farroupilha, episódio que Assis Brasil chama de “tragédia fundadora do RS”. Uma mini estátua do Laçador feita por Antônio Caringi. Ornamentações em gesso nas paredes e tetos, dignas de paços parisienses. Finos vasos de porcelana. O portão de ferro de entrada para carros, com o brasão do estado. No Salão de Banquetes, prataria da indústria Eberle, de Caxias do Sul.
           
Capítulo 3
Autor: Günther Weimer, arquiteto
Título do Capítulo: “A Arquitetura do Palácio Piratini”
            Por intermédio do cônsul francês, o arquiteto francês Maurice Gras foi apresentado ao governador Carlos Barbosa Gonçalves em 1909, e isso justifica o estilo arquitetônico do Piratini. Gras dividiu o prédio em duas alas – a residencial e a representativa. É claro que, na época, as condições de sanitários eram precárias. O bloco representativo é em imponente frente à Praça da Matriz. O pátio interno tem exuberante vegetação, um oásis em meio ao ritmo agitado do Centro de Porto Alegre. Weimer mostra-nos três painéis de Locatelli no teto, retratando a lenda do Negrinho do Pastoreio, com, por exemplo, cavalos oníricos despontando de uma vela acesa em honra ao personagem lendário.

Capítulo 4
Autor: Luiz Eduardo Robinson Achutti, fotógrafo e antropólogo
Título do Capítulo: “Palácio Piratini - Imagens”
Ao longo de meses, Achutti recebeu carta branca e percorreu as dependências do palácio, produzindo um capítulo essencialmente de imagens e, é claro, o restante das fotos no livro, num trabalho que cheira a competência. Em um clique, o equilíbrio entre a luz externa e a luz interna da ala de visitas guiadas, com o vaivém de pessoas em meio ao salão suntuoso. Uma janela emoldura o ilustre vizinho – a Catedral. Uma claraboia ilumina uma escada em caracol. Júlio de Castilhos imortalizado em um busto de bronze, parecendo zelar pelo palácio. Achutti flagra detalhes do palácio que passam despercebidos a outrem, e essa atenção aos detalhes, ao olhar inusitado, revela um tesouro, um lugar que é legado ao povo gaúcho. Um orgulho.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Os Sabores de Sebastião Salgado

Recentemente recebi de uma pessoa de minha família um presente – um monumental livro chamado Gênesis, sobre o trabalho do fotógrafo Sebastião Salgado, num exemplar de mais de 500 páginas da famosa editora Taschen, conhecida por seus livros de luxo, os quais frequentemente tornam-se sofisticados objetos de decoração, como em uma mesa de centro em uma sala de estar de revista. Sebastião, que nasceu em uma fazenda no Brasil, fez com que o ambiente rural fizesse com que este homem desenvolvesse uma relação de amor com a natureza, sendo o fotógrafo muito social e ecologicamente engajado, numa carreira profissional iniciada em 1973 em Paris, tendo posteriormente trabalhado em três diferentes agências de fotografia: Sygma, Gamma e Magnum Photos. Em 1994, Salgado e a esposa Lélia Wanick Salgado criam a Amazonas Imagens, a qual trata exclusivamente do trabalho do fotógrafo, numa firma por Lélia dirigida, pessoa que se formou arquiteta e urbanista em Paris e começou a trabalhar com Fotografia nos anos 1970, tendo, na década seguinte, envolvido-se na organização de livros de Fotografia e mostras, a maior parte de Sebastião. Lélia é editora de Gênesis, numa sólida parceria profissional, do mesmo modo como a esposa do cantor Caetano Velloso agencia a carreira deste; como o já falecido marido da cantora Celine Dion produzia os trabalhos da diva. Já ouvi dizer que casamento é uma sociedade – tem que ter amor (yin), mas, é claro, tem que ter cabeça também (yang), e, numa união, cada um faz sua parte do trabalho. O modelo clássico de divisão de trabalho é: um cuida da casa e o outro sai para ganhar dinheiro. Uma observação: nos parágrafos a seguir, o nome “Salgado” refere-se apenas ao fotógrafo.

Gênesis, que é o resultado de oito anos de viagens pelo mundo, traz todo o poder e a simplicidade elegante da foto em preto e branco, projeto precedido por uma série de trabalhos de SS em forma de livros: em 1986, dois trabalhos – Outras Américas e Sahel: L’Homme em Détresse; em 1993, Trabalhadores, que mostra o modo de trabalho ao redor do mundo; em 1997, Terra; e, em 2000, dois trabalhos – Êxodos, num retrato das ondas imigratórias impulsionadas pela fome, pela degradação ambiental e pelo crescimento demográfico, e Retratos de Crianças do Êxodo, que deu continuidade ao anterior. Gênesis chama-se assim porque são cliques de regiões intocadas do planeta, as quais estão como eram no homônimo capítulo bíblico, e as paisagens naturais e a vida humana nestas são a estrela deste trabalho. Um dos cliques mais famosos de Salgado é o da mão de uma iguana marinha, na contracapa de Gênesis, clique este feito em Galápagos, Equador, no ano de 2004. A mão tem uma perturbadora semelhança com uma mão humana, e faz o expectador refletir sobre as raízes ancestrais da vida na Terra. O brilho das escamas dá destaque ao conjunto, numa estrutura que lembra a pele humana vista de perto. A foto é emoldurada por margens em bordô, pois uma pitada de cor ajuda a “vender” a foto em tons de cinza. Nos dedos da iguana, refletimos sobre o fato de que os seres vivos são dedos de uma única mão ancestral. É como se fosse a mão de Deus, numa mensagem misteriosa. Já, na capa do livro, há um clique feito no Alasca, EUA, num sinuoso vale que recebe um rio, numa estrutura aquática que lembra a forma de uma artéria do corpo humano, com uma poderosa tempestade acontecendo ao fundo, em meio a montanhas rochosas. É a vida que pulsa. Salgado tem o bom gosto e dom de captar imagens que impactam, seja no contraste entre claro e escuro, seja na quebra deste mesmo contraste.

O Instituto Terra, fundado pelo casal, esforça-se em mostrar a beleza da natureza global, visando a preservação ambiental. Gênesis é o feliz fruto de 32 viagens de um Salgado que locomoveu-se das mais diversas formas: a pé, por navios, canoas e aviões, enfrentando muito calor e muito frio, por vezes arriscando-se em situações perigosas, com o intuito de gerar uma gama de registros. É um trabalho de formiguinha, feito aos poucos, até a obtenção de um grande formigueiro. Diversos animais, indígenas, incursões pelo seio de fechadas florestas virgens, povos remotos, vulcões, desertos, rios, geleiras. Sebastião revela-se um aventureiro, um Indiana Jones da Fotografia, numa dedicação exemplar ao ofício, esforçando-se para entregar um trabalho apurado e digno de edições de luxo com as da Taschen.

Gênesis tem cinco capítulos:

1) Sul do planeta
Antártica, o mais gelado continente da Terra. Majestosas geleiras. Elefantes marinhos. Grandes mamíferos aquáticos. Águas geladas onde a vida insiste em persistir. Sebastião suporta o frio insuportável. Montanhas rochosas emergem do gelo. Fotos tiradas no verão, quando o polo é banhado pela luz solar. Se o verão é gélido, imagine o escuro inverno. O fotógrafo arrisca-se a chegar perto de animais que podem ferir e até matar. Embarcado em navio, Salgado desbrava o mar salgado em busca de aparições da fauna na superfície. Fartas colônias de albatrozes lutando pela vida. Como pode um ambiente tão inóspito abrigar tanta vida? Geleiras que ameaçam desabar a qualquer momento. Orlas onde nem o mais corajoso surfista poderia surfar. Salgado clica uma fileira de pinguins que caminham sobre o gelo, numa ilusória ordem em uma natureza tão selvagem. Céus profundos trazem nuvens que combinam com o gelo – uma pena as fotos serem em preto e branco, pois não podemos ver a cor do céu. Salgado obtém ângulos incríveis, prova de seu talento, em um profissional calejado por décadas de serviço. Um raro registro de algas marinhas polares. Cada albatroz fêmea em seu ninho, numa vizinhança de “comadres”. Com alma de biólogo, Salgado flagra uma precipitação de neve. Um deslumbrante registro de muitos, muitos pinguins, uma população deles. A cor branca do gelo cai como uma luva no estilo preto e branco de Sebastião.

2) Santuários
Cinco ilhas isoladas. GALÁPAGOS: A famosa pata da iguana já citada nesta crônica. Um pé de lava-cactos cresce em meio a correntes de lava recentes. Rochas esculpidas pela ação de séculos de vento, abrigando leões marinhos. Um formoso clique de uma séria tartaruga gigante da ilha, num bicho que parece olhar para a câmera, como se soubesse que seria clicado. TRIBOS DE IRIAN JAYA, INDONÉSIA: Homens de tribos tradicionais cortam uma árvore, provavelmente para construir algo, lembrando muito os índios da Amazônia, praticamente nus. Um nativo carrega um javali que servirá de jantar, numa tribo que se alimenta de quase tudo. Uma nativa caminha pela mata com o seios nus. Salgado faz um profundo estudo do modo de vida nativo, retratando a luta pela vida. Uma curiosa construção – a tribo korowai vive em casas em cima de árvores. Um nativo espicha-se pelo tronco de uma árvore. Uma mulher nativa é clicada com vários enfeites em volta do pescoço, provavelmente feitos de dentes de animais. MADAGASCAR: Mata extremamente densa. Cavernas e fissuras em calcário esculpem formas geológicas ricas. Árvores “brigam” com rochas pelo espaço. Uma pequena ilha brota de águas rasas e plácidas. Fauna de pequenos mamíferos. Morcegos, com suas asas translúcidas, voam pela lente do fotógrafo. PLANALTOS DE PAPUA-NOVA GUINÉ: Nativos tocam flautas feitas de bambu. Salgado clica exóticos enfeites de nativos, provavelmente em cerimônias ritualísticas. Os nativos enfeitam-se como se soubessem que fariam parte de um livro de fotografias. Um nativo com uma máscara ritualística e com os dedos enfeitados com garras de bambu. OS MENTAWAI, INDONÉSIA: Salgado mostra o cotidiano da tribo mentawai, como culinária, confecção de objetos, pesca e brincadeiras de crianças. É incrível a intimidade do fotógrafo com a mata fechada.

3) África
Enfrentando o calor extremo e outras vicissitudes, Salgado leva-nos para conhecer tribos e etnias do continente negro. Um lago em uma cratera vulcânica abrigando vida na Ruanda. Planícies vastas na Zâmbia. Uma nativa em Botsuana protege-se da chuva cobrindo-se com folhas e capim do mato, olhando para a lente do fotógrafo com olhos de negror profundo. No mesmo país, uma tribo reúne-se em círculo em uma dança rítmica na qual os xamãs evocam espíritos. Nativos controlam a técnica do fogo e o fazem em meio a gravetos. Lagos de água salgada na Líbia em meio ao deserto. Uma cena de tirar o fôlego: dunas na Argélia fazem um desenho pós-moderno em linhas simples e elegantes. Um homem solitário observa a vastidão desértica. Há uma certa sensualidade na nudez do ermo, com suas dunas curvilíneas. No Sul do Sudão, um grande rebanho de gado é administrado. Uma bela nativa revela seus seios nus, espreguiçando-se. Fartas manadas de búfalos. Elefantes. Um leopardo, ora matando sua presa, ora bebendo solitariamente em um rio à noite. Várias espécies de símios. Leões repousando à sombra de uma árvore. Nas páginas finais, enormes adornos em disco que desfiguram os lábios de mulheres nativas na Etiópia, enfeite considerado fino e belo pela própria tribo.

4) Terras do Norte
Como o nome do capítulo diz, trata-se de lugares setentrionais do planeta. A foto inicial é usada como a capa de Gênesis. Um vulcão inativo na Rússia, onde montanhas nevadas tocam as nuvens no céu. Vales cheios de veio de água no Alasca, EUA. A vida animal revela-se em meio a morsas, ursos e bisões. Vastas formações rochosas canadenses, como “plantações de pedras”. No estado americano do Arizona, o Grand Canyon mostra-se na grandiosidade rochosa que inspirou o desenho animado do Papa Léguas e Coiote. Um “exército” de renas russas, no mesmo lugar onde o povo indígena nenets, que se veste com peles, montam suas casas, também forradas de peles, em meio ao gelo siberiano – imagina-se como deve ser o auge do inverno por lá. Caravanas de trenós de nenets cruzam o alvo gelo, um contraste muito bem captado por Salgado, também fotografando manadas numerosas de renas que, ao longe, por avião, parecem pequenas formigas indo em direção ao formigueiro. Na ilustração desta postagem, um clique siberiano mostrando um homem carregando a refeição do dia.

5) Amazônia e Pantanal
A sensualidade curvilínea dos veios amazônicos, formando ilhas florestais, com ilhas sumindo e surgindo ao longo dos anos, num percurso de água que se perde com a vastidão florestal. A densidade extrema da Amazônia. Rochedos na fronteira da floresta tropical com a Venezuela, com um rochedo de quase 3 mil metro de altura, sendo a maior montanha do Brasil. Já, na Venezuela, formações rochosas esculpidas pela erosão milenar. Índias enfeitadas com cocares tomando banho de cachoeira.  Índios pescando para fazer o dia. Jacarés do Pantanal colocando as próprias cabeças acima do nível da água, e uma onça pintada que não se arrisca a entrar n’água. Um índio da tribo amazonense Zo’é, com o lábio inferior perfurado por um adorno, tem a companhia de um pequeno símio, além de ter aves e tartarugas como pets. O dia a dia de uma tribo, como a preparação de comida. Os índios posam para as fotos. Um caçador, caçando macacos com arco e flecha, trepa em uma árvore para abater o animal. Uma foto assombrosa: um rio com inúmeros olhos de jacarés no Pantanal brilhando frios na noite, com um corajoso fotógrafo para obter o registro. Exóticas plantas carnívoras. Uma perigosa ariranha. A “sala de estar” indígena forrada de folhas de palmeiras, com alguns indígenas repousando em redes. Um dia especial em uma tribo: os nativos enfeitam-se para rituais, uma prova de que o Homem é um ser ritualístico muito antes do surgimento da escrita. Num grupo de índios homens, somente os xamãs podem fumar. Um bebê mama no peito da mãe índia. Salgado obtém um efeito com as escamas “blindadas” de um jacaré. A água do Rio Amazonas reflete o céu como um espelho. Outro ritual mostra índios venezuelanos paramentados com trajes de apuro que celebram a colheita anual. Um pássaro no Pantanal abocanha um peixe.

Tudo isso é uma das (várias) provas de que Salgado Filho, digo, Sebastião Salgado é um profissional de extrema paciência, um homem que ama o planeta e que é engajado na preservação deste. Gênesis é a coroação de uma carreira respeitável, em uma pessoa que, provavelmente, não aposentar-se-á, pois, quando alguém ama o que faz, as reinvenções são inevitáveis. Dono de uma marca registrada em seu estilo, Sebastião é um dos brasileiros mais bem sucedidos no mundo, um verdadeiro cidadão deste. Não há lugar na Terra que não possa ser clicado por Sebastião e, por este ter morado na França, deve saber como o francês e o europeu em geral são fascinados por lugares exóticos, como o são pelo Brasil tropical. Gênesis é o filho de pais atenciosos. O peso físico desse livro faz metáfora com o peso do talento de Sebastião, numa irônica metalinguagem – peso falando de peso.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

O Rugido do Leão da Vinci


Certa vez, em um Natal com minha família em Porto Alegre, houve amigo secreto. Quem me tirou foi o sogro da minha prima, já falecido, um homem extremamente digno e culto, daquelas pessoas que dá gosto sentar e conversar. Este senhor disse-me que não é exagero dizer que Leonardo da Vinci foi um dos maiores gênios da História da Humanidade, ao lado de Einstein, por exemplo. O sogro de minha prima presenteou-me com um livro sobre o mestre renascentista, da Editora Paisagem – Distribuidora de Livros SA. O autor é Frank Zöllner. Guardo cuidadosamente o livro e resolvi fazer do volume uma fonte de insumos para a presente crônica – faço meu “dever de casa”. Falando em dever, cursei o Ensino Médio no Colégio Leonardo da Vinci, em Caxias do Sul, e este originou a abertura do colégio homônimo de Porto Alegre – o de Caxias fechou há vários anos, e não sei se o portoalegrense permanece funcionando. O colégio levou este nome porque a proposta era estimular no aluno todas as potencialidades deste, visto que o gênio renascentista atuou em várias áreas, e não só nas Artes Plásticas. Leonardo teve uma vida de muito trabalho, um homem que se colocou, de várias formas, a serviço do mundo.

Sucesso mundial arrasador foi o livro de Dan Brown, o vertiginoso romance policial O Código da Vinci, o qual originou um filme não tão bom com Tom Hanks. A incrível criatividade de Brown traz um Leonardo cheio de mistérios e significados implícitos, secretos, herméticos. Uma pessoa que respeito, uma doutora em Comunicação, falou sobre o O Código... e os outros dois livros de Brown que sucederam o bestseller, e disse que o primeiro é primoroso, o segundo é mediano e o terceiro é uma piada, provavelmente porque os dois últimos foram encomendados a toque de caixa, e não frutos da imaginação genuína do autor. Não me canso de dizer que o sucesso é um amante infiel. Resumindo a “ópera”, o sucesso de vendas de Brown fala sobre o relacionamento amoroso entre Jesus e Maria Madalena, e de como o casal produziu prole. Isso implicou em uma discretíssima família descendente do sangue de Cristo, e este segredo sempre foi abafado por uma milenar ordem obscura da Igreja. Leonardo DiCaprio, digo, da Vinci entra na trama com suas obras fornecendo pistas para o mistério, em um ritmo frenético que prende o leitor. Tudo é desvendado no final, com uma mulher que descobre pertencer à linhagem de Jesus. A delicadeza de Brown não deixou a Igreja Católica Apostólica Romana ofendida ou chocada, pois o livro foi aceito como mera (e capciosa) ficção, e assim permanecerá. Um banquete literário, com um Brown esbanjando inteligência emocional.

Leonardo da Vinci viveu à frente de seu próprio tempo, e foi pioneiro em registros anatômicos de cadáveres que dissecava. Também concebeu projetos de maquinários, no ancestral sonho do Homem de voar. O Renascimento foi sui generis, pois fundiu cultura sacra com pagã. O resultado foi um episódio único na Humanidade Ocidental, e Leonardo mantém-se neste palco de grandes mestres. Tenho uma lembrança muito marcante: quando eu tinha cerca de doze anos de idade, descobri, na biblioteca de minha própria casa, uma série de volumes intitulada “Gênios da Pintura”. Aquilo foi um banho na minha mente, e Leonardo, é claro, constava nos registros. Pude apreciar pinturas e mais pinturas, e o Renascimento permanece como minha época preferida do passado, com suas cores e formas claras de se observar. A Renascença foi uma vogue, uma onda avassaladora, uma poderosa moda da época, um tsumani no qual da Vinci surfou como ninguém.

Reza a lenda que Leonardo desenvolveu uma relação de amor com o próprio quadro da Monalisa, e que o artista nunca quis ver-se longe da obra. Monalisa permanece um delicioso mistério até hoje. Inúmeras interpretações já foram feitas, e o quadro, de proporções modestas de tamanho, permanece desafiando o mundo com seu sorriso icônico. É o poder da arte, cuja função é inspirar. Essa indecifravilidade inspirou Brown, numa divertida interpretação semiótica, algo que é lecionado na faculdade de Comunicação Social. O que está implícito? O que pode se desprender de ingenuidade e decifrar o que não é óbvio? O talento de Leo reverbera até hoje, e provavelmente o fará por muito tempo, quiçá para sempre. Vale lembrar que a Monalisa foi furtada do Louvre no ano de 1913 e, obviamente, recuperada, sendo a pintura mais famosa do mundo. A Monalisa foi encomendada a Leonardo por Francesco del Giocondo, pois era um retrato de sua esposa, daí o fato da Monalisa também chamar-se Gioconda. Ao acabar a pintura, Leonardo jamais a entregou, tal o apego.

Quem sabe um dia visito o Museu do Louvre de Paris, não só para ver a Monalisa, como também para apreciar outros trabalhos de da Vinci e, é claro, um universo de outros artistas. Certamente, nem se eu viver o resto de minha vida no Louvre eu poderei apreender tudo que lá está exposto. Os museus são cornucópias de cultura, e a vocação da arte é ser eterna; é ser oxigênio inesgotável.

1452, Vinci, Itália. Leonardo veio do nada e conquistou o mundo; nasceu filho ilegítimo, que nasceu da união entre o pai e uma humilde camponesa. Depois, o mesmo pai casou-se com uma mulher menos pobre. Mesmo assim, Leonardo morou com o pai e em sua infância já dava sinais de talento em desenho. Aos 17 anos de idade, ingressa pertinentemente, em Florença, no atelier de um respeitado mestre, o qual ficou impressionado com desenhos feitos pelo jovem Leonardo. A Era das Navegações estava começando, e a Europa respirava ares de renovação cultural. Aos 20 anos, Leonardo conquista destaque entre os artistas da cidade, tornando-se profissional independente. Um ano depois, data o primeiro desenho registrado de da Vinci, o Desenho da Paisagem do Vale do Arno. Aos 24 anos, trabalhando ainda no atelier inicial, Leonardo sofre acusação anônima de práticas sexuais não aceitas na época, mas nada foi provado. Em 1478, Leonardo recebe sua primeira encomenda, uma pintura de altar em Florença, mas o artista não acabou a obra. Até 1480, muitas obras célebres foram pintadas, como A Anunciação. Inspirado por mestres flamencos, Leonardo recebe, um ano depois, uma nova encomenda – A Adoração dos Magos. Volúvel – será que bipolar? –, Leo também não acaba o trabalho, e assim o fez com vários outros trabalhos. Em 1482, Leonardo enche-se de Florença e muda-se para Milão, onde trabalha como engenheiro, escultor e pintor, prestando serviços ao governador local. Um ano depois, Leo aceita a encomenda de A Virgem dos Rochedos, e conta com auxílio dos irmãos Ambrogio e Evangelista de Predis.

No atelier da Catedral de Milão, entre 1487 e 88, Leonardo brilha como arquiteto consultor. A partir de 1489, o mestre faz a estátua equestre de Francesco Sforza, tornado-se artista da corte, desfrutando de privilégios em sua posição. Entre 1495 e 98, da Vinci dedica-se ao A Última Ceia no refeitório de um mosteiro milanês. Um ano depois, o seu mecenas Ludovico Sforza é militarmente derrotado pelas tropas francesas, e Leonardo passa a trabalhar para o rei da França, indo o artista para Veneza. Em 1500, quando o Brasil era ainda uma terra selvagem, Leonardo volta para Florença e entra em uma fase produtiva, indo morar com os monges Servitas. Em 1502, no interior da Itália, Leo torna-se arquiteto e engenheiro militar do líder mercenário César Bórgia. Um ano depois, em Florença, LdV convive com seu admirador, o pintor Rafael, e faz uma de suas mais monumentais obras, o A Batalha de Anghiari. Em 1504 morre o pai de Leonardo, e Batalha... fica inacabado. Em 1506, Leonardo vai a Milão a serviço do governador francês na cidade, Charles d’Amboise. Um ano depois, em Milão, Leonardo pinta uma nova versão de A Virgem dos Rochedos para uma irmandade franciscana.

Até 1512, Leonardo fica em Milão, já gozando de status de superestrela do Renascimento, fazendo também estudos anatômicos. Um ano depois, os franceses são expulsos de Milão, e Leonardo vai para Roma como protegido do mecenas Júlio de Médici, irmão do Papa Leão X. Na corte papal, Leonardo aprofunda pesquisas científicas. Com a morte do mecenas em 1516, Leonardo aceita o convite do rei francês Francisco I para ser o pintor da corte. Em 1517, o artista recebe a visita do cardeal Luigi d’Aragona. Dois anos depois, morre da Vinci, na França, em funeral regido pelo rei. Entre 1520 e 30, Francesco Melzi, aluno de Leonardo, organiza importantes manuscritos do mestre; outro aluno, Giacomo Salai, herdou grande parte das pinturas do artista e, com a morte deste discípulo, muitas obras foram adquiridas pelo rei francês e estão até hoje em exposição no Louvre. Ouvi dizer que Paris é uma cidade maravilhosa.

Em A Madona do Cravo, de 1475 – Leonardo fez na vida vários quadros da Madona –, a Virgem Maria veste nobres vestes, e uma joia em formato oval adorna-lhe o peito, como um ovo fértil da Imaculada Conceição. Um Jesus pequenino e bem gordinho e saudável, completamente nu, brinca com uma flor dada pela mãe – o cravo vermelho é símbolo da Paixão de Cristo –, a qual ostenta cabelos de fino brilho dourado. Ao fundo, emolduradas por arcos greco-romanos, paisagens rochosas, recorrentes nas obras de Leonardo, pois este fez muitos estudos geológicos. Em O Batismo de Cristo, acabado no mesmo ano, caem dos Céus as mãos de Deus, com o brilho do Espírito Santo, que abençoam o batismo de um Jesus de corpo atlético, com musculatura tensa. Dois anjos assistem à cena, e parecem falar um com o outro. A água é perfeitamente límpida. São João Batista ostenta um crucifixo que é a extensão de um pau fálico e retilíneo, representando o pensamento racional, como as setas agressivas emanadas pelo Espírito Santo. As roupas de Batista são vaporosas e finas. Também finalizado naquele ano, A Anunciação traz novamente Maria como uma nobre senhora de vestes majestosas, a qual lê a Bíblia em um aparador de clara estética pagã clássica. O anjo anunciante curva-se perante a Virgem e, com um gesto, fala de como virá ao mundo o Salvador. A iluminação é no limiar de um início de manhã, e árvores escuras ao fundo contrastam com o céu da aurora, simbolizando Maria como a Vênus matutina, uma Ísis pura em sua beleza luminosa. Apesar disso, este quadro tem autoria controversa, apesar de ter elementos prováveis de da Vinci.

Em Madona Litta, de 1490, a Virgem amamenta o Menino Jesus, e as janelas em forma de arcos e a paisagem rochosa fazem-se presentes novamente. O bebê parece olhar para o expectador, e toma o leite materno como uma gostosa caixinha de leite condensado. Maria joga um olhar zeloso ao filho, e o cabelo da mãe é de um brilho cetinoso. Em Leda e o Cisne, de 1510, bebezinhos saídos de ovos são símbolo da fertilidade feminina, e um grande cisne abraça com suas asas Leda, a qual tem o corpo completamente nu e voluptuoso, sinuoso como em uma dança sensual. É como se Leda fosse a esposa do cisne, cujo pescoço longo corteja a moça, no mito grego de que Zeus disfarçava-se de criaturas selvagens para seduzir mulheres. Logo, os bebês são fruto da união entre Zeus e Leda. Em ambos os quadros São João Batista, que datam de 1516, o elemento fálico faz-se presente como santo apontando o dedo indicador para o alto ou para o lado, em um corpo com musculatura suave, não tensa. Batista é um polido rapaz imberbe, e ostenta um sorriso sutil, nem masculino, nem feminino. A luminosidade é lembra um pouco o estilo barroco, com relativo contraste entre claro e escuro.

Quando o adolescente Leonardo ingressou no mercado de arte florentino, a concorrência era ampla, pois havia muitos bons artistas atuando, como, por exemplo, Sandro Botticelli, outro ícone da Renascença, e Domenico Ghirlandaio, mestre de Michelangelo, sendo este último uma geração mais jovem do que da Vinci. Como hoje, uma boa indicação era pertinente, e, nesse sentido, o pai de Leonardo agiu, com a influência do genitor, em favor do próprio filho. Reza a lenda que uma rivalidade entre Leonardo e Michelangelo firmou-se, e que aquele, em seus últimos anos de vida, sofreu uma paralisia parcial, o que o atrapalhava para desenhar, apesar do artista manter-se lúcido até o fim de seus dias, além de ser conhecido como uma pessoal jovial, sem ranços, sendo Leonardo uma pessoa com majestade a seu próprio modo.

O Renascimento foi uma janela que, aberta, revelou um mundo novo, uma dimensão metafísica onde o ser humano deu-se conta de si mesmo, depois de vários séculos de hegemonia medieval do Vaticano, o qual curvou-se aos ares de renovação. Leonardo foi um dos maiores canais que uniram os europeus nessa era.

Na ilustração desta postagem, um desenho de leão feito pelo mestre.