AVISO: Antes de ler esta
postagem, saiba que o blog entrará em férias e retornará na segunda quinzena de
fevereiro de 2019. Nesse meio tempo, pode acontecer, porém, de eu postar alguma(s)
vez(es). Se isso acontecer, pode deixar que eu divulgo no Face. Mas o retorno
definitivo é em fevereiro, ok?
Longeva, a japonesa de
nascença Yayoi Kusama conheceu um Japão patriarcalista e opressor, no pós II
Guerra Mundial. Por isso, ficou por uns tempos nos EUA, onde trabalhou e ficou
amiga de estrelas como Andy Warhol. Kusama é conhecida por suas obras
frequentemente ilustradas com bolas e círculos. Voluntariamente, ela mora em
uma clínica psiquiátrica no Japão. Kusama é um dos raros exemplos de artistas
que enriqueceram com seu trabalho. Os textos e análises semióticas a seguir são
inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Flor. 1952. Este quadro tem um quê de xilogravura, com impressões
binárias entre claro e escuro, no glamour binário das fotos em preto e branco,
fotografando grandes estrelas do Cinema, fazendo metáfora com a beleza perfeita
dos espíritos depurados, verdadeiras estrelas que convidam a Humanidade ao
apuro moral, ao aprimoramento, à mortificação que rechaça tolos sinais
auspiciosos. É a lição da Dignidade, numa Kusama em busca de si mesma, lutando
contra um transtorno psiquiátrico, tentando se expressar ao Mundo, como uma
pessoa esquizofrênica, que busca contornar esse distúrbio e se expressar com
clareza ao Mundo. A clínica psiquiátrica deve dar a Kusama uma sensação de lar
e acolhimento. Aqui, temos umas borrifadas, como de spray, em amarelo e
vermelho, como o Sol ardente da bandeira nacional do Japão, numa Kusama que,
depois de morar nos EUA, retorna triunfante ao lar, num globo sempre ávido por
novidades artísticas. O círculo amarelo é o infame Anel maligno de Tolkien,
seduzindo eternamente o Ser Humano, fazendo este se comportar da forma mais
imoral possível, numa visão sombria do Ser Humano – Tolkien não idealiza o
Mundo, e não tece personagens perfeitos como indefectíveis heróis de filmes de
Disney, sendo estes filmes para crianças, infantes que ainda não entendem a
Malícia do Mundo. A grande moldura negra traz um silêncio de luto, numa
dimensão negra, como numa pessoa em pleno momento de depressão. Será que Kusama
tem ideia do quanto ela própria é importante, reconhecida e valorizada? Como
perguntou o apresentador Ratinho ao mestre cômico Chespirito: “O senhor tem
ideia de como o senhor é importante no Brasil?”. Tudo o que um artista faz, é
de forma inocente e pura, colocando a cara a tapa. Temos aqui listras que
remetem a uma prisão, no enclausuramento em uma clínica psiquiátrica, num
ambiente controlado, em que pacientes agitados são contidos e amarrados, numa
amarga metáfora com a Encarnação, a qual não passa de uma sentença de cárcere,
mas uma prisão que, além de não durar para sempre, causa crescimento no
indivíduo. Temos aqui várias bolinhas negras, como frutos em uma árvore, numa
mente fértil e criativa, numa mesa farta, como numa ceia de Natal, o momento de
cornucópia que procura fazer com que o Ser Humano entenda a vida vibrante após
o Desencarne. São como gotas negras de uma tempestade sombria, na sensação
amarga de uma pessoa que é internada psiquiatricamente, num momento de ruptura,
em que o indivíduo é forçado a encarar a prisão que é a Vida e encarar a
incompreensão do Mundo. Estas listras são sensuais venezianas em uma cálida
tarde de Verão à beira de uma piscina, no momento de prazer em estar entre
amigos, no modo como, imagino, Kusama deve ser amiga de todos os pacientes, médicos
e enfermeiros da clínica. As bolinhas negras são os comprimidos de medicação
psiquiátrica, na disciplina hospitalar: tal hora é hora de tomar o remedinho, e
ai de quem não quiser tomar! São frutas podres caindo de uma árvore num
desperdício, com frutas que não serviram de alimento, e pereceram, no modo como
perece existencialmente a pessoa que não coloca a sua própria inteligência a
serviço do Mundo. Gotas de uma chuva negra, como no sombrio momento de surto,
numa crise que faz parecer horrível o mais belo dia de Sol. Essas manchas de
“spray” são como atos de vandalismo, numa vontade artística de deixar uma
marca, tendo num vândalo uma pessoa que, no fundo, quer fazer Arte, mas definitivamente
não o faz na prática. É um capim selvagem nascendo, na beleza das flores
silvestres, que não tiveram de ser plantadas pelo Homem para florescer.
Acima, Sala da Infinitude Espelhada – Hino da Vida. 2015. Bolas de
futebol, na comoção que toma o Brasil em época de Copa do Mundo, com nações
concorrendo em uma espécie de guerra benéfica, num espetáculo de Diplomacia. Os
espelhos dão a noção de infinitude, numa mágica sala de espelhos, na tentativa
humana de compreender aquilo que não tem término, no sentido de que o poder de
Tao reside nesse vazio, nessa falta de término, no modo como passaremos a
eternidade querendo compreender o que é Tao – a Eternidade é o maior presente
que pode ser dado, pois, sem Eternidade, a existência não tem sentido algum.
Vemos uma Kusama sedenta de cor, de alegria, com bolas que parecem um jardim
mágico, como se fosse uma luxuosa sala de estar ao ar livre, no perfume
saudável da vida ao aberto, ao campo, no sentido de que a riqueza de um reino
não está nos palácios, mas nos campos, que são os palácios naturais que vestem
roupas majestosas, havendo no monarca um papel representativo, no modo como um
artista quer, por si só, representar a Arte, tornando-se uma espécie de
embaixador, num artista representando todos os outros artistas, formando uma
categoria, uma classe. Essas bolas estão livres, leves e soltas, gozando da
deliciosa sensação de Liberdade, como um anfitrião cortês, que faz com que o
convidado se sinta confortável e servido como um rei, no talento de anfitrião
que algumas pessoas têm. Aqui, teto e chão são negros, como se fosse uma sala
banhada por uma luz suave, que não fere as vistas, na infinidade negra do
Universo, num Ser Humano que não sabe, não faz ideia do que existe além da escuridão
das profundezas do Cosmos, como galáxias que estão tão longe que sua luz sequer
chegou até hoje à Terra – o Universo é eterno? Como pode ser algo infinito? O
Cosmos sobre o qual pode-se falar não é o verdadeiro Cosmos. Aqui, são como
balões que ascendem ao Céu, como uma alma desencarnada que retorna ao lar
espiritual, ao ventre de Tao, o grande Lar que a todos acolhe, sem exceção. São
como lâmpadas de decoração oriental, como um prisma, fabricando várias cores,
enchendo de alegria uma paisagem com um arco-íris, na sedução de uma rica
paleta de cores. Nestas bolas, há várias manchinhas negras, como em cães
dálmatas, na noção de fertilidade de uma numerosa ninhada, cheia de filhotinhos
dálmatas, no enigma uterino – o que pode fabricar a Vida? É como um mar de
anjinhos barrocos aos pés de Nossa Senhora, o Grande Lar que rejeita o
Mundanismo e abraça a Virtude, na riqueza do comportamento moral, na elevação
do não-querer taoista, o conceito que faz com que o espírito perca o interesse
por luxos e riquezas e abrace o simples e o limpo, o essencial. Essas pintinhas
negras são uma interferência em uma estação de rádio, nas inevitáveis
imperfeições negras da Vida, com manchinhas que nos lembram de que estamos
encarnados, ou seja, estamos numa situação de prisioneiros, uma sensação que
pode (e deve) ser abrandada por meio do desprendimento, pelo não-ambicionar,
pelo não-ter expectativas, pois a expectativa é a mãe da frustração. E como se
frustra o Ser Humano! Essas bolas parecem tocar umas nas outras, num momento de
interação social, numa luxuosa e simples sala de estar, um lugar onde uma boa
conversa traz muito prazer, nas enormes, limpas e suntuosas salas de estar
metafísicas, salas cheias de pessoas bonitas e finas, na dimensão onde a patetice
das ambições perece completamente. Podemos ouvir o som de sinos, no som das
bolas tocando umas às outras, fazendo metáfora com a interação social, com
pessoas se tocando, conhecendo-se e construindo amizades, pontes. Temos uma Kusama
que gosta de interação, como imagino que ela interaja com os pacientes da
clínica onde mora. Aqui, espectador é trazido para interagir num momento
mágico, olhando-se nos espelhos e conhecendo a si mesmo, sob vários ângulos.
Acima, Sala de Espelhos da Infinitude. 1965. Um jardim de doces, de
caramelos, de pirulitos, na sedutora casa da bruxa que aprisionou João e Maria.
Como o Espiritismo diz que, na Dimensão Metafísica, há deliciosos doces para
serem comidos, mas doces que não engordam e que não dão algum outro malefício,
doces leves, que nunca pesam no estômago. É o saudável pecado da Gula, numa
Kusama deliciosa. Nesta foto, a artista está no meio da obra, e a obra, cheia
de espelhos, dá a sensação de uma sala enorme, até onde os olhos podem
enxergar, numa sala extremamente confortável, informal, que nos convida a
deitar, dormir e conversar. Aqui, vemos uma Kusama de vermelho, no sangue japonês
que lhe pulsa nas veias, na cor da sensualidade, da feminilidade, da Vida. É
como algo que me fascinava quando criança, nos sorteios do programa infantil
matutino Balão Mágico, em que uma
gigantesca montanha de cartas mostrava telespectadores do Brasil inteiro,
crianças sonhando em ser sorteadas e presenteadas pelos carismáticos
apresentadores mirins. Lembra-me da sala de leitura de um colégio que
frequentei, um cômodo com fartas almofadas e livros para que os alunos lessem,
num momento informal, simples, de entrega, no mergulho em um lugar tão
acolhedor, que me deixa tão confortável. É um lugar para dormir tranquilamente,
no saudável pecado da Preguiça, como na canção de Bruno Mars: “Hoje nada farei.
Só quero deitar em minha cama. Hoje nada farei. Nada mesmo”. Como na canção Lazy Afternoon, ou seja, Tarde Preguiçosa, cantada por Barbra Streisand,
na própria cantora dizendo que, na maior parte do tempo, só deseja se deitar
embaixo de uma árvore e nada mais fazer. Resta saber porque Kusama prefere
morar numa clínica. Provavelmente, na clínica a artista se sinta segura,
cuidada e acolhida. É uma espécie de floresta de almofadas, numa floresta em
forma de sala, numa sala que, porém, não é uma floresta em si, mas uma espécie
de floresta “fabricada”, artificial, uma floresta metafísica. É o encanto de
uma casa limpa, sem qualquer resquício de poeira ou sujeira. As pintinhas
vermelhas são como manchas de catapora ou alguma outra doença, numa Kusama que
consegue transformar Doença em
Arte. São como os belos e tóxicos cogumelos vermelhos com
pintinhas brancas, numa floresta perigosa, que exige que nunca baixemos a
guarda completamente, na constante vigília dos encarnados – se você está na
“prisão”, não é bom agir como se não estivesse nesta. É como um mar de serpentes,
num ambiente familiar, onde a pessoa se sente acolhida e pertencente a um
organismo, a um grupo, identificando-se. Aqui, Kusama está com os braços para
cima, como se estivesse se espreguiçando depois de um trabalho tão árduo de
confecção desta obra de Arte. São como bolinhas de plástico bolha, no prazer
agressivo de violação que é estourar as bolinhas de ar do plástico, no prazer
do “estupro”. Kusama está séria, como se soubesse de sua própria importância –
será que ela sabe? É como um campo de guerra tomado de sangue de combatentes
mortos, num dia novo e rubro que nasce após o guerreiro tombar, no descanso de
uma pessoa que batalhou muito na Vida, numa espécie de recreio, de refúgio, no
mundo onde a juventude dourada vive em Paz e Produtividade, algo que o Ser
Humano tem dificuldade em entender, pois as Guerras não são História; são
interrupção de História. A História reside precisamente na Paz e na
Prosperidade, valores que só estão inabalavelmente garantidos na Dimensão
Metafísica – a Terra é para ser imperfeita, pois a Vida não tem sentido sem
vicissitudes. É como um salão de baile após o Carnaval, com um mar de confetes
e serpentinas, num oceano espumoso, repleto de Vida. É um covil de cobras,
confortáveis umas com as outras, como num clã. Podemos ouvir o sutil farfalhar
dessas almofadas, num momento de silêncio, num lar. Kusama nos convida a pular
dentro dessa sedutora piscina, numa vastidão incrível.
Acima, Jardim de Narcisos. 1966.
A sensação gloriosa de se deitar em um lugar acolhedor,
confortável, numa plena sensação de liberdade. É como a brincadeira infantil da
piscina de bolinhas, numa Kusama doce e inocente, de candura infantil, uma
candura que o Ser Humano jamais poderia perder, combatendo o embrutecimento de
pessoas empedernidas. Kusama nos convida a boiar com ela, numa sala de estar
tão confortável, tão digna de um grande anfitrião, no talento de bem receber.
As bolinhas prateadas são como gotas de chuva congeladas, mas nunca agredindo
com o frio, e sim numa temperatura amena, digna das noites da Dimensão
Metafísica. É um momento de entrega e rendição, numa pessoa que decide
descansar e simplesmente esquecer do Mundo lá fora, desligando-se, como no
hábito de se desligar o telefone, sem atender a ligações, nem que seja uma
ligação do Papa Francisco. Estas bolinhas são metálicas, fabricadas, e a cor
prateada, de espelhos, é a cor da reflexão, num momento de introspecção no qual
a pessoa olha para si mesma, num saudável momento solitário, momento de
solitude o qual é necessário a quaisquer pessoas. É como uma fábrica de
bolinhas, na magia da produtividade, da fabricação, do fornecimento, numa vida
produtiva, com mercadorias sendo produzidas e vendidas, numa Kusama que soube
se vender extremamente bem, como Warhol, conquistando o status de grande artista.
As bolinhas são como frutos que caíram do pé, num desperdício, como frutos que
simplesmente apodrecem sem ser consumidos. É a magia da fertilidade, da Vida, no
mistério reprodutivo, fazendo metáfora com a mente criativa, numa Imaculada
Conceição, numa Kusama que nasceu e viveu num Japão tão cinzento e sisudo,
talvez um país um tanto insensível a Arte em geral, algo que fez com que Kusama
abraçasse o Mundo Ocidental. Aqui, temos novamente uma Kusama vestida de
vermelho, fazendo um contraste com esta tarde prateada e cinzenta, num dia de
Inverno, que convida à reclusão do Lar. É como a menininha de vermelho de A Lista de Schindler, contrastando com
um filme todo em preto e branco, na dura e descolorida realidade dos campos de
concentração, mostrando a menininha executada, sendo jogada numa vala com
muitos outros cadáveres, como se abatem animais, sem o direito de uma sepultura
digna de respeito. Talvez haja em Kusama uma perplexidade em relação aos
horrores bélicos, tentando curar o Mundo por meio da Arte, do convite à
reflexão, ao questionamento, no papel do artista em fazer com que o Mundo
“acorde” de certo modo – a politização artística é inevitável, desprovendo de
alienação o artista, no modo como devia e deve ser difícil para um artista
viver em meio a governos ditatoriais opressores, sendo estes os autênticos
inimigos da Arte. Aqui, temos um momento de prazer, como fazer um cocô muito
bem feito – por favor, não vamos transformar em tabu o assunto “fluxo
intestinal”. Como me disse uma professora que se tornou minha amiga: fazer xixi
é um prazer; dormir é um prazer etc. Kusama está com a cor do fluxo intestinal,
do interior uterino, submetida às cólicas mensais, buscando na Arte um bálsamo,
no modo como deve ser difícil ser mulher e um Mundo tão hostil a liberdades, em
patriarcas que castram mulheres. São vários olhos que são os olhos de inúmeros
espectadores, nas comoções públicas que acompanham o trabalho de Kusama, com
inúmeros olhos que veem o que a artista traz de dentro de si, no modo como um
artista dá à luz bebês, que são suas obras, no modo metafísico de se imitar a
Maternidade Física, em metáfora. É como um gigantesco colar de pérolas
desmantelado, desconstruído, analisado em partes, no modo humano de dividir o
Corpo Humano em parte e estabelecer especialidade médicas. É uma deliciosa
banheira cheia de espuma, no prazer de um banho sendo tomado sem pressa, no
prazer proporcionado pela limpeza.
Acima, Abóbora. 1981. Esta obra me faz lembrar do trabalho da artista
plástica Beatriz Dagnese, a qual desenha quadros com uma minuciosidade enorme.
A abóbora é o produto da Natureza; o mistério da Vida sendo gerada, nos
mistérios criacionais de Tao, o Grande Arquiteto, no sentido de que Tao tem uma
vida produtiva, pois está sempre criando, inspirando o Ser Humano a ter também
uma vida produtiva, sem o veneno do ócio – todos temos que trabalhar e estudar,
havendo no Umbral todo o sofrimento de almas improdutivas. Esta fruta é cheia
de microbolinhas, como uma estampa, como um camaleão se esgueirando discretamente,
enganando os olhos de vítimas ou predadores, como a Matéria Escura, o
enigmático elemento invisível que permeia o Universo, no modo como este é
translúcido. Assim é Tao – invisível. Essas bolinhas da abóbora são como
pintinhas na pele, como o charme de pessoas sardentas, ou como a estampa de
peixes, ou de outros seres vivos. Cada bolinha é uma estrela no Céu, em uma
infinidade de estrelas, como uma doce branca neve caindo e se depositando.
Aqui, há uma hierarquia, com bolinhas de vários tamanhos, e as maiores regem as
menores, como numa família, em que os filhos mais velhos ajudam a criar e
orientar os mais novos, como na rígida hierarquia militar, a qual é uma cópia
tosca da hierarquia espiritual, pois esta é irresistível, pois está embasada na
questão da depuração moral, havendo nos psicopatas a classe mais inferior, mais
tosca, mais atrasada moralmente. Esta abóbora está prestes a explodir, pois
abriga tanta vida, e traz dentro de si as sementes, que são a garantia de
preservação da espécie, na luta pela Vida, numa cadeia alimentar, cadeia na
qual os seres têm fome de têm vontade de fazer sexo, como na explosão hormonal
da Adolescência, no modo como disse Marta Suplicy em uma palestra para
adolescentes em Caxias do Sul: “A adolescência é uma época em que se masturbar
dez vezes por dia é perfeitamente normal”, numa Marta causando perplexidade no
salão da palestra. As sementes são a magia da reprodução vital, como ovos de
chocolate de Páscoa, na força da cornucópia que traz fartura e prosperidade a
um reino, como diz Tao : “Nas guerras, todos sofrem, e todos acabam com fome”.
É uma abóbora dourada, nobre, como um tesouro no túmulo de um faraó, fazendo da
Arte a preciosidade do Pensamento Humano, civilizatório, depurado, como o apuro
civilizado de uma escultura grega. O fundo desta obra parece uma vidraça toda
rachada, pronta para se quebrar e se acabar, na comoção da Arte, comoção que
tem a função quebrar velhos rótulos rançosos, como o Modernismo Brasileiro
nasceu para transgredir a tradicional Arte Acadêmica. É uma espécie de estupro,
mas um estupro do Bem, inofensivo, no modo como as sociedades evoluem em meio à
transgressão de alguns de seus indivíduos, como Lady Diana, cujas transgressões
faziam com que o Povo e o Mundo a amasse ainda mais. Emoldurando o quadro,
estruturas que parecem bordados de pano de prato, na expressão do Artesanato,
na questão da feminilidade que rege o Lar, condenando a Mulher ao “trabalho
escravo” de dona de casa, havendo em certas mulheres a força transgressora para
perverter esse rótulo machista. E Kusama mostrou ser, à Sociedade Patriarcal,
uma mulher de brilho próprio. Na porção superior da abóbora, um caule cortado,
nas inevitáveis rupturas da Vida, com fases sendo deixadas para traz e novas
fases sendo encaradas, como num jovem que saiu de casa para estudar em outra
cidade, alienando-se do carinho do Lar, carinho com o qual o jovem cresceu
acostumado. É como o passarinho bebê ensaiando os primeiros voos para, enfim,
deixar o ninho e trilhar sua própria vida. O corte deste talo é uma ruptura, no
trabalho árduo de colheita, no rumo inevitável da Vida, que é nascer, viver e
morrer. No Desencarne, este talo cortado volta à Árvore Primordial, numa
reentrância, num retorno, como o filho pródigo, que volta ao Lar em trajes de
mendigo, num filho desejando voltar ao velho e bom Lar.
Referências bibliográficas:
JANSEN, Roberta. Yayoi Kusama e o Transtorno Artístico
Compulsivo. Disponível em <www.oglobo.globo.com/cultura>.
Acesso 12 dez. 2018.
Yayoi Kusama. Disponível em <www.modernamuseet.se>.
Acesso 12 dez. 2018.