O respeitado artista
autodidata Rubem Valentim nasceu em 1922 em Salvador e faleceu em 1991 em São Paulo. Rubem,
antes de abraçar a carreira artística, chegou a se formar em Odontologia, e a
frieza científica acabou influenciando em sua obra, com formas nítidas, simples
e exatas. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa
leitura!
Acima, Composição 12. Óleo sobre tela. 1962. 100 x 70 cm. RV tem algo de
africano, de indígena, com composições xamanísticas, mágicas, como utensílios
de um feiticeiro de uma tribo, como brasões imponentes, mágicos, que carregam
toda uma conotação de contato com o Divino. São como as tapeçarias que decoram
o claustrofóbico hotel mal assombrado de O
Iluminado, num contexto de claustro em que a face doentia do Ser Humano se
revela, num quadro psicótico, de loucura, num pai furioso, num lar onde há uma
hierarquia clara. Este quadro não é completamente simétrico, pois há detalhes
que mostram a assimetria, mas é um quadro com muito equilíbrio, apesar de não
ser um equilíbrio tão explícito. É como a planta baixa de um templo, de um
lugar de magia, numa espécie de labirinto, num lugar fechado, de onde não há
como se escapar. O maior elemento do quadro é uma grande bacia, um receptáculo,
virado para cima, recebendo as graças, no posicionamento correto num centro
espírita para se receber o passe: mãos viradas para cima, numa atitude de
resignação, num Ser Humano eternamente se perguntando porque a Vida é assim,
tão truncada, num mundo onde a pessoa, definitivamente, não pode fazer absolutamente
tudo o que quer fazer, numa dimensão de limitação, de realidade dura, com
sonhos nascendo e morrendo todos os dias ao redor da Terra, nas inevitáveis
construções de expectativas; nas inevitáveis frustrações. As Artes Africana e
Indígena são classificadas como primitivas frente à sofisticada Arte Europeia, só
que as Africana e Indígena carregam toda uma simplicidade futurista, na frieza
apolínea de cálculos matemáticos. Temos neste quadro um fundo de dourado
profundo, queimado, numa majestosa aurora, a deusa que traz a luz em meio a uma
noite tão escura e desoladora, num sinal de esperança, nas intenções nobres de
diplomatas em estabelecer pontes e buscar o entendimento entre os povos,
buscando avidamente o fato de que o Ser Humano é universal, logo, a Paz também
deveria sê-lo – vivemos num mundo primitivo, em que a Guerra é regra e não
exceção. Vemos aqui uma esfera vermelha quebrada ao meio, como na divisão de um
campo de futebol, no cenário de competitividade da Vida em Sociedade, um lugar
em que o glamour desaparece e a extrema humildade tem que ser assumida: sou
apenas um número impessoal em meio a muitos outros números impessoais, como indistintos
espermatozoides. É uma dura lição de Humildade, no modo como a Arrogância e a
Soberba fabricam vilões de Disney, personagens narcisistas, que se acham Deus.
Temos aqui várias formas como setas, numa regulamentação de trânsito, numa
tentativa de impor ordem e estabelecer a harmonia em meio às patetices do Ser
Humano ao volante. Estas setas são falos, como poderosos monarcas viris que
assustam o povo com leis duras, leis que visam a preservação do comportamento
moral, no fato de que, na Dimensão Metafísica, não há grades nem portas
chaveadas, pois não há algo para ser roubado, pois é uma dimensão em que os
objetos nada significam, como num seguro condomínio fechado, em que reina a
harmonia e a confiança mútua entre vizinhos, como numa família onde todos são
iguais em dignidade.
Aqui são como hieróglifos ou outra linguagem enigmática, no
fato evolutivo de que o Saber tem que ser acessível ao todos, e não a uma elite
privilegiada, como nos discursos antielite. As elites existem, mas de uma forma
imaterial, pois os mais moralmente depurados reinam, numa hierarquia gostosa,
irresistível. A cor vermelha é o sangue que se junta à seiva e à terra, numa
pessoa contente em estar onde está, no privilégio que se deita sobre o humilde
contentado – não há lugar perfeito sobre a face da Terra.
Acima, Emblema 15. Acrílica sobre tela. 1973. 70 x 50 cm. Um castelo, altamente
simétrico, com torres fálicas que trazem toda a autoridade de um rei, na eterna
sede humana por Poder. O que um homem poderoso quer? Mais poder. Como num
Getúlio Vargas, apegado ao Poder ao ponto de não poder vislumbrar a Vida sem
Poder, suicidando-se, indo a um setor do Umbral chamado Vale dos Suicidas, onde almas se arrastam como mendigos imundos por
terras inóspitas, sem noção de Tempo ou Espaço. É a patetice dos orgulhos
humanos. Como pode alguém, que acumulou tanto Poder na Terra, acabar assim,
como uma ameba insignificante? Como diz o Espiritismo: você não faz ideia a que
estado ficam espiritualmente reduzidos aqueles que são considerados felizes na
Terra. Estas setas se impõem sem recato ou vergonha, como um Código de Hamurabi,
como obeliscos fálicos apontando para o Céu, numa alusão à dimensão onde todos
os reinados só trazem Paz e Prosperidade, sem as interrupções brutais da
Guerra. O rei convida o povo à elevação, mas aumenta impostos, num rei
ganancioso que, no fundo, não é muito respeitado pelos próprios súditos. A seta
tem forma peniana, na piada que é o Sexo, num senso de humor; num senso de
diversão. As torres reguladoras têm a intenção de assustar o cidadão comum,
ameaçando este de Morte: comporte-se e nada de ruim acontecerá com você. É como
na Ditadura Militar Brasileira, numa época em que, aquele que não “cutucava o
tigre com a vara curta”, não se incomodava com as autoridades, só adquirindo
problemas aqueles que faziam questão de lutar contra a forte e suprema máquina
governamental. O fundo verde é a cor dos gramados de estádios e arenas,
cenários de competitividade, num plano em que a Sociedade exige do homem o
desenvolvimento da agressividade, nunca exigindo o mesmo da mulher, nos
parâmetros universais de patriarcalismo: se a mulher se nega a desenvolver
agressividade, tudo bem. O Esporte é a inevitável competitividade, fazendo do
Esporte um sinônimo de Masculinidade, no instinto animalesco do macho alfa,
conquistando troféus para cortejar as fêmeas e perpetuar a genética deste mesmo
macho alfa – é a submissão do Ser Humanos às leis selvagem naturais, num Ser
Humano inconsciente, que não analisa nem critica, aceitando submissamente as
leis de um sistema opressor ditatorial, num cidadão sem mente, sem cabeça, sem
pensamento, sem alma. A cor rubra deste castelo é a cor de sangue de Marte, o
deus da Guerra, na estupidez de um irmão derramando o sangue de outro irmão, na
predominância da Raiva, da ausência de sofisticação diplomática, num Ser humano
animalesco que só sabe agredir e não sabe pensar. Temos alguns elementos em
azul, no modo como os domínios de um monarca estendem-se além da terra firme,
abrangendo mares, como na euforia da Era das Navegações, em nações concorrendo
pela soberania (e pelas pedras e metais preciosos) das terras selvagens
americanas, num rei que nunca está satisfeito; num rei que não está contente
com os próprios domínios; num Ser Humano insaciável, pois ambicionar é não ter
Paz. Vemos aqui várias formas circulares e arredondadas, como uma pedra polida,
numa tábua lixada e polida, no modo como é imprescindível ao regente ter
delicadeza para os assuntos internos e externos, num rei que nunca deve se opor
às intenções de vilarejo do cidadão comum, nunca interferindo no dia a dia dos
homens pacatos e comuns. São bolhas de sabão subindo aos Céus, como se
estivessem cumprindo as ordens de elevação, pois o dever do líder é elevar o
Povo em torno de um ideal comum, que é a Harmonia, fazendo do rei um verdadeiro
mensageiro da dimensão acima, que é a Metafísica, um lugar feito de pensamento;
um lugar onde as ambições perecem e a mortificação espiritual traz a tão desejada
Paz. Há aqui uma certa candura infantil, no joguinho de montar prédios e
castelos com pecinhas de madeira. Na porção inferior, vemos uma borboleta
dourada, que é a graciosidade de um regente que governa com delicadeza, como se
soubesse que qualquer coisinha pode abalar a Paz.
Acima, Emblema 32. Acrílica sobre tela. 1973. 50 x 35 cm. Nesta obra há um quê
de Egito Antigo, no modo como o monoteísmo atonista de Aquenáton inspirou o
monoteísmo contemporâneo, na imagem de Deus como um disco solar que abençoa a
Terra com luz e calor, numa intenção de simplicidade centralizadora. Aqui, é
como um utensílio de rituais de magia, com a autoridade de um mago dentro de
uma tribo ou sociedade. A esfera rubra é como a da Bandeira Nacional Japonesa,
no grande astro se erguendo e trazendo esclarecimento a uma noite tão escura e
desesperançosa, na vitória do Bem contra a Mal, no modo como o Ser Humano
concilia dentro de si os pensamentos morais e imorais, numa eterna batalha
sendo travada entre Mente e Corpo. O fundo do quadro é da cor dos vencedores
olímpicos, na magia em torno da vitória, num Ser Humano ávido por se libertar e
acordar na Terra da Estrela da Manhã. Na parte superior do quadro, uma forma
branca que é uma flor, no modo como as belezas naturais de um reino inspiram os
elementos de representação da Realeza, como o flor de lótus no Antigo Egito e a
flor de lis na Fraca Monárquica. Aqui, a flor é um coroamento de um organismo
social, na sensação de Ordem e Paz em torno do regente, como nas leis que regem
o Trânsito, na sensação de estabilidade em torno de uma coroa, fazendo metáfora
com o fato do cérebro ser uma espécie de coroa dentro da própria pessoa,
exigindo o uso da Razão para gerar ações sábias e ponderadas, no papel monárquico
de ser o cérebro de um reino, tendo em cada cidadão uma posição útil e digna
dentro desse mesmo organismo, numa sensação de pertencimento, deixando o súdito
feliz por este ter um papel importante junto ao fluxo regencial. Temos aqui um
totem, um objeto religioso, e o sol ardente é respaldado por um chifre de vaca,
num animal sagrado para certas religiões, na tentativa humana em estabelecer
relações entre a Natureza e o Divino, tendo no rei um papel sacro, de
representante de Tao na Terra, mas só representa Tao. O regente tem que
governar com clemência, sempre se colocando nos sapatos do cidadão comum. Infelizmente,
o Ser Humano é o suprassumo do egoísmo e da crueldade, na base do raciocínio
“se eu estou bem, o resto que se ferre”. Na porção mais abaixo do quadro, um
arco, um semicírculo, num receptáculo semelhante ao Congresso em Brasília, a
“Ilha da Fantasia” onde privilégios reinam e a desonestidade é regra, nos
eternos caminhos sombrios humanos em busca de Poder, de mais e mais Poder. É a
vulgaridade da Dimensão Material, sempre medíocre, sempre previsível, sempre
rechaçando Tao, numa grande injustiça, pois, no início, era Tao, sendo que,
para os bagaceiros, no início, era a Dimensão Material, a Natureza. Este
círculo rubro parece ter se destacado do receptáculo, num artista escapando da
mediocridade e empenhando-se em criar com ineditismo. O círculo rubro é a
centralização, numa mente centrada em busca de equilíbrio, de uma vida centrada
e produtiva, no ponto, no objetivo, no claro objetivo futebolístico de marcar
gols, muitos gols, na humilhação do infame sete a um que o Brasil sofreu. É um
furo de um túnel infindável, no poderoso enigma da Eternidade: não é muito
poder o fato de que estaremos sempre vivendo? É o presente que Tao dá aos
filhos, fazendo da Finitude uma ilusão; fazendo da Eternidade o caminho lógico,
matemático, racional. Podemos ouvir aqui alguns sons ritualísticos, como sinos,
num momento de silêncio sagrado dentro de um templo, no momento em que o fiel
busca um pouco de introspecção. Do modo como o Tao sobre o qual podemos falar
não é o verdadeiro Tao, e são infindáveis as tentativas humanas de definir e
ilustrar Deus. Passaremos eternamente a imaginar como é Tao. A Vida não teria
sentido sem a Eternidade, pois seria como colocar no lixo coisas valiosas, na
metáfora de desprendimento no final de Titanic,
em que a idosa Rose joga ao Mar uma joia preciosíssima, rechaçando as vaidades
humanas e abraçando o tranquilo desencarne, encontrando-se com seus amigos em
uma navio que jamais afundará.
Acima, Emblema. Acrílica sobre tela. 1978. 100 x 73 cm. Há algo hierárquico em
emblemas, como flechas fálicas em uma placa de trânsito, regendo o fluxo nas
cidades e estradas, impondo regras que, para o Bem geral, têm que ser
obedecidas, no desafio do líder em conquistar o respeito do próprio povo, como
uma Elizabeth I, que recebeu nas mãos o enorme desafio de ser uma regente digna
de ser filha de Henrique VIII, num grande depósito de expectativas por parte do
povo, do mesmo modo como Elizabeth II recebeu a incumbência de fazer outro
reinado de marcar a História. Aqui, mais uma vez, vemos um RV amante da
Simetria, com flechas apontando para vários lados, na oferta de muitas opções
ao cidadão, sendo este livre para escolher para onde ruma, na Liberdade que
permeia os reinados saudáveis, num povo que se sente à vontade para gostar de
um determinado rei, pois o bom líder é um representante de Tao na Terra, e,
como Tao, deve reinar com clemência, cautela e sabedoria, nunca interferindo no
dia a dia do pacato cidadão, pois um pacato líder é visto, amado e respeitado.
Os emblemas de RV têm algo fashion, estiloso, como uma exótica bijuteria, um
adorno misterioso, questionador, que mexe com as percepções, num emblema nobre,
místico como as cores do arco-íris. É o emblema de um reinado, de um marco,
ganhando a confiança do Povo, guiando este por caminhos nobres de tranquilidade.
Podemos ouvir sons ritualísticos de sinos batendo, num momento de respeitoso de
silêncio dentro de um templo, na infinita magia de Tao, o enigma deslumbrante,
pois não há livro ou faculdade que ensine a pessoa a brilhar – o indivíduo tem
que ser autodidata, num enorme desafio existencial, no termo em Inglês “prove
yourself”, ou seja, prove que você pode brilhar. É uma tapeçaria de uma casa
nobre, onde o regente convive com suas crianças, num Antigo Egito uno, onde o
faraó, o máximo topo da pirâmide social, era venerado, dando a ideia de que os
reinos e reinados são sagrados, ou seja, são embebidos em Direito Divino, na
necessidade do Ser Humano em tocar o Metafísico aqui, na Dimensão Material,
numa grande prova de Fé, pois o indivíduo não sabe de fato se há o Desencarne,
mas tem Fé, e os de muita Fé regem o resto, na regência do Sábio, no modo como
toda forma de grupo social humano tem um líder, um cacique, muitas vezes em
sintonia com o inevitavelmente universal Patriarcado, na imagem que temos de
Deus – a imagem de um patriarca. Nascido no Mundo, o Ser Humano, desde sempre,
tem que entender o Mundo onde vive, construindo intermináveis ritualizações em
torno de gênero, “organizando” a Humanidade entre homens e mulheres, punindo
severamente aquele que não se encaixa nesta simples separação, neste
discernimento. Na base deste quadro, uma faixa preta de Luto, no modo como é
cheio de respeito o Luto, na cor da discrição, do pesar, no modo como minha
bisavó, após meu bisavô falecer, só usou preto para o resto da Vida. No topo
deste emblema xamanístico, uma forma que parece ser um livro aberto, como na
logomarca da Feira do Livro de Porto Alegre, no modo como a Letra foi o que
tirou o Ser Humano da Pré-História. Um bom livro é mágico, e transporta o
leitor, no sentido de que tudo o que o escritor tem a fazer é provar ter Inteligência
e Amor, tecendo textos claros, sem pretensões preciosistas. O fundo rubro é o
sangue que une todos em uma só tribo, sociedades isoladas do resto do Mundo,
sociedades com seus próprios valores e conceitos, na ilusão das diferenças
culturais – somos universais. Atitude e senso de Estilo são isso, um emblema
misterioso, e somos tocados pelo emblema sem sabermos ao certo o que este
emblema representa, no poder de criadores de Moda que se tornam o centro de
ambições de Consumo, causando comoções estilísticas e marcando época. É o poder
do Charme, e podemos sentir o perfume limpo de RV. As flechas pontiagudas
exigem que tomemos distância respeitosa, pois não é ineficaz o líder que é
motivo de chacota por parte seu próprio povo?
Acima, Emblema. Acrílica sobre tela. 1989. 40 x 30 cm. Aqui, temos um quê de
Maçonaria, com rígidos rituais, numa espécie de Clube do Bolinha, onde menina
não entra. Felizmente, a Arte é unissex. A pontuda pirâmide rasga os Céus,
agredindo, sempre numa sede pr mais e mais altura, na queda da Torre de Babel, desafiando
velhas leis e levando o Ser Humano ao Espaço, numa prova de Poder e Tecnologia,
nuns EUA ostentando Poder, no modo como Conhecimento e Dinheiro estão aliados.
Temos aqui um enigmático hieróglifo, no grande desafio que foi traduzir os
hieróglifos para o Mundo Moderno. Vemos um disco, um olho onisciente, um olho
de furacão, na comoção causada pelas grandes catarses. É o desejo de conquistar
o Mundo. Na porção inferior do quadro, vemos uma espécie de pedestal, no modo
como certas obras de Arte tornam-se sagradas, como a Monalisa ou o busto de
Nefertiti, objetos de valor inestimável, atraindo bilhões de visitantes, na
capacidade da grande obra em angariar humanos em torno desta mesma obra. É um
pedestal ritualístico, como um altar, ou uma mesa de sacrifícios, no momento em
que o Ser Humano escolhe para se ligar ao Divino, saindo da mesmice do dia a
dia, num momento especial, como num jantar de noite de Natal. Esta pirâmide
hierárquica tem um topo claro, como uma pontinha do iceberg que derrubou o
Titanic, no fato de que a pessoa só pode fazer uma pontinha daquilo tudo que
deseja fazer, no modo como os lançamentos de filmes, de filmes que valem a pena
ser assistidos, são apenas uma pontinha do iceberg, e, abaixo do nível d’água,
há um universo de filmes medíocres – a Vida é assim mesmo, com inevitáveis
frustrações. Mas é possível sobreviver às frustrações a partir do momento em
que a pessoa não fique tecendo expectativas. Esta obra é como o Idioma Japonês
para ocidentais, com letras absolutamente enigmáticas e exóticas. Este Sol frio
nasce, azul como na superfície de Marte, e é o ávido olho do espectador, um
espectador sempre sedento por novidades, por filmões, por obras de Arte
avassaladoras. Temos figuras enigmáticas em tom de vinho, no modo como o vinho
tem poder religioso, seja no paganismo dionisíaco, seja no altar cristão, na
universalidade do trago: vinho, saquê, rum, tequila, cerveja, vodka etc. Acima
das pirâmides vemos duas grandes faixas azuis quase se encontrando, quase se
tocando, talvez de tocando além do quadro, mas não podemos ver, no modo como a
pessoa jamais pode antever tudo o que lhe acontecerá; ou, se antever, é com uma
espécie de miopia. É um azul nobre, de dois grandes rios, como o Tigre e
Eufrates, como um Nilo irrigando e alimentando um reino, na forma como o grande
espectador é sedento por mais e mais Arte, fazendo metáfora com a pipoca sendo
consumida nas salas de Cinema – é uma fome por elevação, por obras que
transcendam. Vemos em certas partes, aqui, tons de amarelo pastel, nas cores do
deserto, na inevitável solidão existencial, no resguardo de um Ser Humano que
tem que ter um pouco de momentos a sós. E no vazio sensual desértico há uma
força gravitacional, ma magia do vazio, no estilo de uma casa sem mais e mais
adornos, pois, como diz Tao, menos é mais, e a sensualidade reside, enfim, nos
espaços vazios, no vazio de um copo, um copo que é Tao, servindo ao Mundo,
matando a sede por Espiritualidade. O fundo do quadro tem um tom pardo, numa
cor discreta, como um casaco de chuva que tenho. É a magia dos tons mistos,
trazendo em si uma conciliação entre dois tons matriciais, que são o amarelo e
o preto. É a ancestral sede humana por ouro, projetando em um mero metal, em um
mero pedaço de matéria, a plenitude da Dimensão Metafísica, no tesouro psíquico
que nos espera no Desencarne, no retorno ao Lar, bendito Lar. Este forte pilar
sustenta a pirâmide, como na Catedral de Caxias do Sul, erguida sobre uma
sólida rocha, como Tao desaconselha a erguermos algo “sobre a areia”, na
metáfora das casas fracas e da casa forte em Os Três Porquinhos. O Ser Humano precisa de uma
base muito forte para sustentar sua Fé, projetando no sólido e imóvel solo da
Terra a segurança infalível do Jardim do Pensamento.
Referência bibliográfica:
Rubem Valentim. Disponível em <www.bolsadearte.com>. Acesso 5 dez. 2018.
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