AVISO: Antes de ler esta
postagem, saiba que este blog, que é um cavalo purossangue cavalgando sempre à
frente, está de férias e retornará efetivamente na segunda quinzena de
fevereiro de 2019. Mesmo assim, posso estar postando antes disso, como agora. Mas
o retorno definitivo é em fevereiro, ok?
Ironicamente, o sobrenome do
artista negro americano Charles White quer dizer “branco” em inglês. Charles se
empenhou em sua obra na causa afroamericana, num homem que tinha orgulho de ser
descendente de escravos. Os textos e análises semióticas a seguir são
inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Black Sorrow. 1946. Como o título diz, há tristeza, talvez por um
luto, uma perda, talvez na tristeza de um escravo açoitado, punido severamente
por um delito leve, na incrível estupidez que é a Escravatura, expondo a
perversidade do Ser Humano, com irmão maltratando irmão, como diz a letra de
uma canção da cantora negra Tina Turner: Realmente
não há diferença quando você olha embaixo da pele. Os EUA evoluíram,
elegendo o negro Obama, mas o Mundo ainda tem muito o que evoluir. Aqui, há uma
consolação, numa pessoa amparando a outra, num sentimento de reciprocidade,
como um bom amigo fiel, que nos acompanha sempre, mesmo estando fisicamente
longe, no poder do pensamento em acompanhar as pessoas de forma metafísica, num
desapego, sem obsessões ou possessões. O quadro é assim mesmo, em preto e
branco, como é descolorida a vida de uma pessoa deprimida, perdida, sem muita
autoestima, numa pessoa que não se aceita, que não se acha “à fudê”, com o perdão
do palavrão. Aqui, os braços se envolvem. A pessoa mais abaixo está de olhos
fechados, talvez morta, talvez dormente, imaginando algo, querendo fechar os
olhos para um Mundo tão cruel e duro, como um pobre coitado mendigo atirado numa
calçada, esperando por uma moedinha para, quem sabe, comer um pãozinho no fim
do dia. A pessoa de olhos fechados parece ser uma mulher; a de cima, um homem.Temos
uma Pietà invertida, com o filho amparando a mãe, o Mar Primordial. Talvez
sejam escravos vendo um terceiro escravo sendo açoitado, como na célebre lenda
gauchesca do Negrinho do Pastoreio, em que um menino negro e pobre é cruelmente
punido por seu senhor, sendo amarrado em um formigueiro, morrendo aos poucos,
de forma excruciante e sofrida. Esta é a face política de Charles White, sempre
querendo chamar a atenção sobre uma parcela desprivilegiada da população. Aqui,
o homem parece estar querendo tapar os próprios olhos com a mão, sendo mais
forte do que a mulher, a qual não quer ver a violência mundana de uma sociedade
que sofre resquícios da Escravatura, moldando uma estrutura social como a da
Bahia: ou você é preto e pobre trabalhando para um branco, ou você é branco e
rico e tem negros pobres trabalhando para você. Este quadro mostra uma miséria
social, numa América que, outrora, sequer imaginaria um negro presidente, pois
as sociedades, que bom, vão evoluindo, no fato de que, na Dimensão Metafísica,
os preconceitos todos caem por terra, numa relação de plena Igualdade, podendo,
assim, haver Paz, inabalável Paz, muito, muito longe deste Mundo aguerrido. O
homem cobre a própria testa, talvez para enxugar o suor de uma labuta muito
dura, remetendo-me à célebre novela Sinhá
Moça, da Rede Globo, numa novela que mostrava as crueldades da senzala, numa
sociedade animalesca, insensível, estúpida. Talvez, no quadro, haja um momento
de luto, talvez por uma criança que tenha nascido morta. É uma cena de
lamentação, num CW embebido em uma veia política, fazendo da Arte um pertinente
palanque de discussão sociopolítica, querendo despertar a América para
discussões, lembrando as mãos absolutamente calejadas de escravos no sul dos
EUA, nas vastas plantações de algodão, numa labuta que fere as impressões
digitais dos dedos, no modo como numa sociedade desigualitária não há como um
pobre ter sua identidade, nem como deixar uma marca no Mundo. Este quadro tem
um certo movimento cíclico, nos ciclos da Vida, numa criança que nasceu, viveu
e morreu dentro de uma senzala, o que nos leva ao questionamento: Por que o Mundo
é tão duro? Porque a Vida não tem sentido sem vicissitudes, pois destas nasce o
crescimento. Coragem!
Acima, J’Accuse #7. 1966. Uma carga, um peso, um cargo, numa pessoa que
tem que trabalhar muito para receber alguma bonificação. Esta carga toda parece
ser uma exuberante coroa na cabeça desta negra trabalhadora, talvez descendente
de príncipes africanos, na universalidade da Realeza, com sangue azul até em
tribos tidas como “primitivas”, fazendo com que o sangue azul faça metáfora com
o nobre sangue metafísico que abrange absolutamente todos os seres humanos
sobre a Terra. Mais acima no quadro, um adereço xamanístico, mágico,
ritualístico, nos rituais de magia das tribos africanas, numa altivez exótica,
na beleza da cultura negra primordial. Este adereço pode ser uma espécie de
deus, com uma coroa altamente misteriosa, com vários “furos”, deixando o ar
passar, fazendo metáfora com Tao, que é a Vida respirando, respirando sempre,
fazendo com que o ar passe e nutra todos no Mundo, num conceito de leveza e harmonia.
Estes furos imitam as grades de uma prisão, no negro africano que foi arrancado
à força de seu lar e obrigado e deixar para trás todas as suas referências.
Mas, mesmo assim, o escravo construiu uma cultura de resistência, como nas
religiões afrobrasileiras, ou como no uso dos tambores, marcando para sempre o
Samba e a Axé Music, fazendo do Brasil único em sua miscigenação cultural. Este
monte de palhas parece ser uma extensão do cabelo da negra, numa exuberância,
como na moda do cabelo black power, nos anos 70, num momento em que o negro
abraçou sua própria identidade, não mais tendo vergonha do cabelo afro, como em
mulheres lindas como a atriz negra brasileira Taís Araújo, Beyoncé e ou Naomi
Campbell, num Mundo que começa a se abrir à pluralidade, em descendentes que
passam a exibir orgulho racial, como no ano de 1988, em que se celebraram os
Cem Anos da Abolição da Escravatura no Brasil, numa campanha publicitária que
trazia atores negros erguendo a cabeça e dizendo repetidamente: “Negro!”. Esta
mulher veste roupas majestosas, fartas, como uma rainha envolta em fartas vestes
de veludo. A mulher fita o espectador, quase desafiando este. A mulher parece
saber que, no fundo, é herdeira de um legado muito rico, muito intenso, como na
arrebatadora seção africana do Met, com obras que remetem a poderosos rituais
de magia, na universal tentativa humana em buscar entender o Mundo ao qual
viemos como inocentes bebês. Esta é uma cena de altivez, e a mulher demonstra
ter força para carregar tudo que carrega, como no peso que é uma coroa na
cabeça de um herdeiro de monarca, na absoluta responsabilidade de herdar um
trono outrora ocupado por monarcas tão dignos, tão heroicos, tão lendários. Mas
esta mulher negra parece ter a força de um pilar de duro mármore, suportando o
peso e mostrando ao Mundo ter orgulho de ocupar uma posição de tanto poder
representativo. Este monte de palha é a fartura de cornucópia, numa cozinha
rica, como na rica cultura gastronômica baiana. Este adereço ritualístico é um
aviso: mantenha distância. Os furos quadriculados são como uma trama de tear,
numa Divina Providência que tece os destinos humanos, havendo uma razão muito
forte para uma pessoa nascer em uma posição social tão desprivilegiada, havendo
na Humildade um degrau que, contraditoriamente, leva à Altivez. A negra e esta
carga mágica formam um só organismo. Este rosto esculpido olha para bem longe,
como um líder imaginando o destino do próprio povo, na virtude que cobre a
pessoa visionária, que consegue enxergar além das mediocridades. Estes
quadrados vazados são como casas de uma mesma tribo, com cada indivíduo tendo
uma função, uma dignidade dentro do grupo. Sobre a fronte do rosto esculpido se
debruça algo que parece ser uma cauda de cobra, no modo como várias culturas
têm as serpente como símbolos de fertilidade liquidiscente, quando que, para
outras culturas, como a católica, a serpente é símbolo da maldade e de
vulgaridade humana, digna de ser esmagada pelos alvos pés de Nossa Senhora.
Acima, Love Letter II. 1977.
A flor abaixo é a feminilidade, rubra, da cor do
interior uterino, com cheiro de Chanel número cinco. A flor é a força da
Natureza, desabrochando na época reprodutiva, sem esquecermos que a flor é o
órgão genital da planta. É como as rosas no cenário do acústico de Cássia Eller
na MTV, contrastando com a masculinidade e a agressividade catártica da
intérprete, uma pessoa que subia no palco para “vomitar” e fascinar a plateia,
num desabafo, talvez numa pessoa farta dos preconceitos do Mundo. É como as
rosas que o professor Girafalez oferece à Dona Florinda, no seriado Chaves, num gesto de sedução, de
romantismo, na delicadeza de um coração apaixonado. Acima, temos a figura de
uma matriarca, uma mulher que, apesar de mulher e feminina, precisa desenvolver
força para suportar os golpes da Vida, numa pessoa nascida em um contexto
social de desigualdade, com bairros pobres que abrigam, em geral, pessoas negras,
fazendo que ainda respiremos ecos da Escravatura. A mulher está muito séria, e
não olha para o espectador, mas olha para o alto, num horizonte amplo, talvez
sonhando com uma vida melhor para si ou para os seus, pensando como será a vida
de seus filhos e netos, se estes vão ainda sofrer com as disparidades sociais.
Seus lábios são fartos como a flor abaixo. A flor exala um perfume que faz com
que nos esqueçamos momentaneamente dos problemas lá fora, no modo como é
importante que a pessoa, ao entrar em casa, tenha que deixar o Yang lá fora, e
curtir o Yin no aconchego do Lar. A flor desabrocha delicadamente, como no
primoroso trailer do filme A Época da
Inocência, numa trama de sedução em que um homem é tentado a largar tudo e
todos por uma belíssima mulher. É o clima reprodutivo de Primavera, com a Vida
explodindo como uma granada, espalhando-se pelos bosques e florestas, na força
implacável da Vida, no modo como um artista busca ser isso, uma força natural,
como um tsunami, mas um tsunami do Bem, inundando as percepções de outrem e
abalando as bases de velhos preconceitos como o Racismo, num Charles White
empenhado em trazer essa discussão a um país onde a Miscigenação é pouco
difundida. Aqui, temos uma mulher de terceira idade, acumulando experiência de
Vida, numa pessoa que viveu décadas experimentando um contexto social pouco
belo, com pessoas que já nascem prisioneiras, numa criança que não chega a
contestar uma realidade com a qual o negro se acostumou, havendo no negro uma
cultura forte, de muita identidade, como as correntes musicais americanas –
Blues e Jazz, por exemplo. Esta rosa é afável, sedutora, com uma gentileza que
faz com que nos esqueçamos da dureza do Mundo lá fora, da dureza dos espinhos
de uma bela roseira, como a beleza de pinheiros araucárias, repleto de espinhos
em suas copas, na necessária e inevitável imperfeição da Dimensão Material. A
seriedade e a austeridade da matrona negra se impõe no quadro, e ela olha para
o Céu, talvez pensando nas tramas invisíveis da Divina Providência,
perguntando-se: Por que nós negros sofremos tanto? Num espírito que decidiu
encarnar em um contexto social complexo e difícil, fazendo dos obstáculos e
vicissitudes um combustível para o aprimoramento espiritual. A mulher usa dois
brincos, ou seja, não é uma mendiga, mas também não vive em pleno conforto. Os
brincos são os dois elos que se ligam, jamais podendo ser separados, no modo
como a carne está fortemente ligada ao espírito, só havendo o desligamento no
momento determinado pela Justiça Divina. Seu cabelo é black power, assumindo a genética africana, num orgulho de fazer
erguer a cabeça falicamente, na expressão chula, porém válida: “Colocar o pau
na mesa”. Aqui, sua pele está suada, exausta depois de um dia de labor braçal,
como limpar a casa do patrão. É uma pessoa que não sabe o que é participar de
um baile glamoroso, cheio de joias, vestidos e música fina. Então, a dureza se
justifica no passo do aprimoramento moral. E a Rosa Mística de Maria segue
incólume, intocada, exalando seu perfume fino, no perfume espiritual das
pessoas que agem sem obsessão material.
Acima, Love Letter III. 1977.
A concha é a sedução do Mar, do cheiro de orla, como no
final de O Senhor dos Anéis, em que
uma barca mágica leva as pessoas a um lugar de orlas brancas, paradisíacas e
agradáveis, no Mar nos chamando de volta para casa, num lugar cômodo e cheio de
liberdade, num Lar confortável, onde estamos cercados de irmãos que nos amam. A
concha é a beleza natural, com um ser mole dentro dela, reservado, escondido,
um ser que sabe a importância de se manter a Discrição. A concha é o lar
seguro, abrigando as pessoas num ambiente longe de ameaças, no modo como a
criança, no fundo, gosta de receber limites, pois estes dão a sensação de
invólucro, de proteção. Esta concha paira nas alturas, remetendo a uma urbe
espiritual, uma sacra cidade onde há energia de trabalho e diversão, numa
atribulada agenda social, cheia de Vida. A concha se sustenta por si mesma, sem
precisar de apoio, pois não é feita de matéria, de calcário, mas é feita de
pensamento, na vitória do cérebro sobre a bunda. O fundo azul do quadro é um
Céu de Brigadeiro, perfeito, intocado, sem qualquer sinal de nuvem, de
interferência, num lugar especial onde nunca há mau tempo, num lugar onde a
temperatura é sempre amena. É um céu que nos remete à estética dos anos 80, pós
moderno, numa alusão a uma cidade imaterial, como nos céus de Dalí, numa
clareza incrível, num dia claro em que um artista se expressa com clareza,
causando comoção estilística. A concha parece girar, com força própria, e está
em pleno equilíbrio, combinando Yin com Yang. Abaixo temos um negro encapuzado,
remetendo ao brutal assassinato de um rapaz negro nos EUA há anos atrás, um
rapaz inocente morto por um homem que desconfiou pela vítima estava caminhando na
Rua com um capuz sobre a cabeça, num caso de comoção mundial, com o próprio presidente
Obama dizendo: “Se eu tivesse um filho, ele se parecia com este rapaz”, e assim
podemos entender o empenho de Charles White e trazer à tona delicada questão
racial nos EUA (e no Mundo, inclusive no Brasil). Este rapaz negro olha altivo
para o espectador, como Marisa Monte em seu álbum de estreia, numa pose de
certeza, numa pessoa que está segura de si mesma, desafiando o espectador. É o
orgulho racial, numa pessoa que tem que construir uma identidade em cima da
herança de seus antepassados, no modo como eu próprio já fui ridicularizado por
ser descendente de colono italiano, no modo como o ex-governador gaúcho Ivo
Sartori disse ser um orgulho de ter vindo da Colônia. Este rapaz, com seu
capuz, parece um cavaleiro jedi, no poder do orgulho, da dignidade, lutando
para se estabelecer num Mundo que ainda é tão duro em relação à aparência da
pessoa. O capuz é a proteção, o resguardo, como óculos escuros protegendo do
Sol, no modo como o orgulho é uma proteção psíquica, bloqueando-se contra atos
maliciosos de desrespeito e frivolidade. O céu azul aqui é um oceano plácido,
acolhedor e doce, longe das intempéries dos mares físicos, na luta de um
pescador para trazer o peixe para casa, no modo como é uma luta a vida de
qualquer pessoa que se cansou de ficar esperando por um príncipe encantado que jamais
chegará. É a mortificação, a aniquilação de ilusões tolas, no modo como o
Espiritismo prega que o espírito, para se elevar, tem que se mortificar. Este
rapaz tem um semblante um pouco triste, sofrido, depois de um dia duro em um
serviço subserviente, como cortar cocos ou empilhar lenha. A forma deste rapaz
encapuzado é um pouco semelhante à concha, fazendo tudo virar uma coisa só
neste quadro. É uma relação de continuidade, na sensualidade da integração
cósmica, nos oceanos infinitos de energia que interliga a todos nós, em um
continuum sexy de irmandade, de amor espiritual, como linhas telefônicas
vastas, infinitas. A concha é um telefone por meio do qual podemos ouvir a
energia cósmica fluir de forma intermitente. É o parafuso que nos liga e nos
une ao Grande Plano Universal para conosco, num Ser Humano que ainda tem muito
pela frente. Aliás, tem a Eternidade pela frente.
Acima, Sound of Silence. 1978.
A concha é o coração pulsante da Mãe Primordial que nos
colocou na Terra, a Iemanjá oceânica com suas sensuais curvas liquidiscentes,
seus longos cabelos negros e sua estrela na fronte, a estrela dos mares, a
suprema popstar que está sempre gerando, sempre criando, numa vida produtiva,
positiva, interessante. É uma granada, mas uma granada do Bem, pulsando em cada
um de nós, sendo o link que nos faz iguais, faz-nos irmãos. A concha tem o
perfume do Mar, o perfume da saudável vida ao ar livre, na farta riqueza
biológica deste ínfimo planetinha no qual vivemos. O homem negro aqui abre seu
peito em um momento de perspectiva, de explosão catártica, na magia de uma
mulher gerando a Vida, na magia de um ovo gerar um pintinho, no enigma supremo:
o que gera, mantém e ceifa a Vida? É um gesto de abertura, de entrega, num
artista que busca dar o melhor de si ao Mundo, sempre querendo interpelar o
espectador, interpelar quem assiste e prestigia a obra de um artista, como num
fãclube. As mãos do homem aqui são fortes, corpulentas e grandes, com mãos
capazes de suportar muita pressão, como na triste história da diva Whitney
Houston, a qual declarou ter sofrido gigantescas pressões depois de gravar um
dos dez álbuns mais vendidos de todos os tempos, O Guardacostas. O cabelo black power é característico dos anos 70,
numa época em que o ator brasileiro Tony Tornado, com o cabelo neste estilo,
foi assaltado por outro negro no perigoso bairro novaiorquino do Harlem! É o
cabelo usado por um Michael Jackson menino, num popstar que se tornou uma das
figuras mais controversas na história do Pop, tornando-se um branco. O rapaz aqui
fita diretamente o espectador, querendo falar algo, expressar algo, mas
sentindo-se tolhido a abrir a boca, numa sociedade que no passado estava
mergulhada no grande equívoco moral que foi a Escravidão. É um rapaz jovem, no
início da Vida, e ele está sério, sem esboçar qualquer sorriso de alegria ou
contentamento, numa vida dura, num Mundo em que uma pessoa negra, ainda, sofre
preconceito, apesar da Humanidade já ter feito grandes progressos éticos. Atrás
do rapaz, cores suaves, com um azul e um lilás brandos, talvez num Charles
White querendo amenizar a vicissitudes de uma sociedade inigualitária. Aqui,
temos um artista abrindo o próprio coração e “colocando a cara a tapa”. A
concha, com uma abertura, é ao canal vaginal, a grande gruta sedutora e reúne segredos
que desafiam a Masculinidade, no enigma da Sensibilidade: o que faz uma pessoa
ser sensível à Arte? É um orifício misterioso, com mistérios prestes a serem
desvendados pela luz do pensamento racional, iluminando o escuro, trazendo uma
mensagem divina, pois algo de muito bom nos espera no Desencarne. Aqui, o
interior da concha é escuro, e parece não haver iluminação lá dentro, no modo
como um bebê, ao ser gerado no escuro da barriga da mãe, leva um choque ao vir
ao Mundo, ao vir à luz, no primeiro grande trauma da pessoa – nascer. A concha
tem o formato de um grande palácio, com arquitetura exótica, na depuradíssima
arquitetura da Dimensão Metafísica, um lugar de Paz e Prosperidade, como no
reinado de um monarca talentoso, que sabe interligar os próprios súditos. Aqui,
o elemento protagonista é a concha, seguida do rosto sério do rapaz, um rapaz
belo, que não precisa de cirurgias plásticas para ser bonito, pois nunca
ouvimos dizer que beleza não se compra? As mãos dele são como portais que se
abrem e trazem uma revelação, num intenso boom, numa onda fortíssima que quebra
e afoga um surfista desavisado. O rapaz quer dizer alguma coisa, no modo como
todo artista quer expressar algo, sendo um desafio ser entendido pelo público,
no modo como é comum haver artistas malcompreendidos, no modo como Jesus Cristo
foi malcompreendido ao ponto de morrer agonizando numa cruz. A Vida é dura. Portanto,
a pessoa tem que se fazer forte. A concha é um presente dado ao espectador, e
este fica agradecido aos artistas que têm a coragem de ousar e de marcar épocas.
Referências bibliográficas:
Charles White. Disponível em <www.artequeacontece.com.br>.
Acesso 7 jan. 2019.
Charles White – A Retrospective. Disponível
em <www.moma.org>. Acesso 7 jan. 2019.