quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Preto no Branco



AVISO: Antes de ler esta postagem, saiba que este blog, que é um cavalo purossangue cavalgando sempre à frente, está de férias e retornará efetivamente na segunda quinzena de fevereiro de 2019. Mesmo assim, posso estar postando antes disso, como agora. Mas o retorno definitivo é em fevereiro, ok?

Ironicamente, o sobrenome do artista negro americano Charles White quer dizer “branco” em inglês. Charles se empenhou em sua obra na causa afroamericana, num homem que tinha orgulho de ser descendente de escravos. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Black Sorrow. 1946. Como o título diz, há tristeza, talvez por um luto, uma perda, talvez na tristeza de um escravo açoitado, punido severamente por um delito leve, na incrível estupidez que é a Escravatura, expondo a perversidade do Ser Humano, com irmão maltratando irmão, como diz a letra de uma canção da cantora negra Tina Turner: Realmente não há diferença quando você olha embaixo da pele. Os EUA evoluíram, elegendo o negro Obama, mas o Mundo ainda tem muito o que evoluir. Aqui, há uma consolação, numa pessoa amparando a outra, num sentimento de reciprocidade, como um bom amigo fiel, que nos acompanha sempre, mesmo estando fisicamente longe, no poder do pensamento em acompanhar as pessoas de forma metafísica, num desapego, sem obsessões ou possessões. O quadro é assim mesmo, em preto e branco, como é descolorida a vida de uma pessoa deprimida, perdida, sem muita autoestima, numa pessoa que não se aceita, que não se acha “à fudê”, com o perdão do palavrão. Aqui, os braços se envolvem. A pessoa mais abaixo está de olhos fechados, talvez morta, talvez dormente, imaginando algo, querendo fechar os olhos para um Mundo tão cruel e duro, como um pobre coitado mendigo atirado numa calçada, esperando por uma moedinha para, quem sabe, comer um pãozinho no fim do dia. A pessoa de olhos fechados parece ser uma mulher; a de cima, um homem.Temos uma Pietà invertida, com o filho amparando a mãe, o Mar Primordial. Talvez sejam escravos vendo um terceiro escravo sendo açoitado, como na célebre lenda gauchesca do Negrinho do Pastoreio, em que um menino negro e pobre é cruelmente punido por seu senhor, sendo amarrado em um formigueiro, morrendo aos poucos, de forma excruciante e sofrida. Esta é a face política de Charles White, sempre querendo chamar a atenção sobre uma parcela desprivilegiada da população. Aqui, o homem parece estar querendo tapar os próprios olhos com a mão, sendo mais forte do que a mulher, a qual não quer ver a violência mundana de uma sociedade que sofre resquícios da Escravatura, moldando uma estrutura social como a da Bahia: ou você é preto e pobre trabalhando para um branco, ou você é branco e rico e tem negros pobres trabalhando para você. Este quadro mostra uma miséria social, numa América que, outrora, sequer imaginaria um negro presidente, pois as sociedades, que bom, vão evoluindo, no fato de que, na Dimensão Metafísica, os preconceitos todos caem por terra, numa relação de plena Igualdade, podendo, assim, haver Paz, inabalável Paz, muito, muito longe deste Mundo aguerrido. O homem cobre a própria testa, talvez para enxugar o suor de uma labuta muito dura, remetendo-me à célebre novela Sinhá Moça, da Rede Globo, numa novela que mostrava as crueldades da senzala, numa sociedade animalesca, insensível, estúpida. Talvez, no quadro, haja um momento de luto, talvez por uma criança que tenha nascido morta. É uma cena de lamentação, num CW embebido em uma veia política, fazendo da Arte um pertinente palanque de discussão sociopolítica, querendo despertar a América para discussões, lembrando as mãos absolutamente calejadas de escravos no sul dos EUA, nas vastas plantações de algodão, numa labuta que fere as impressões digitais dos dedos, no modo como numa sociedade desigualitária não há como um pobre ter sua identidade, nem como deixar uma marca no Mundo. Este quadro tem um certo movimento cíclico, nos ciclos da Vida, numa criança que nasceu, viveu e morreu dentro de uma senzala, o que nos leva ao questionamento: Por que o Mundo é tão duro? Porque a Vida não tem sentido sem vicissitudes, pois destas nasce o crescimento. Coragem!


Acima, J’Accuse #7. 1966. Uma carga, um peso, um cargo, numa pessoa que tem que trabalhar muito para receber alguma bonificação. Esta carga toda parece ser uma exuberante coroa na cabeça desta negra trabalhadora, talvez descendente de príncipes africanos, na universalidade da Realeza, com sangue azul até em tribos tidas como “primitivas”, fazendo com que o sangue azul faça metáfora com o nobre sangue metafísico que abrange absolutamente todos os seres humanos sobre a Terra. Mais acima no quadro, um adereço xamanístico, mágico, ritualístico, nos rituais de magia das tribos africanas, numa altivez exótica, na beleza da cultura negra primordial. Este adereço pode ser uma espécie de deus, com uma coroa altamente misteriosa, com vários “furos”, deixando o ar passar, fazendo metáfora com Tao, que é a Vida respirando, respirando sempre, fazendo com que o ar passe e nutra todos no Mundo, num conceito de leveza e harmonia. Estes furos imitam as grades de uma prisão, no negro africano que foi arrancado à força de seu lar e obrigado e deixar para trás todas as suas referências. Mas, mesmo assim, o escravo construiu uma cultura de resistência, como nas religiões afrobrasileiras, ou como no uso dos tambores, marcando para sempre o Samba e a Axé Music, fazendo do Brasil único em sua miscigenação cultural. Este monte de palhas parece ser uma extensão do cabelo da negra, numa exuberância, como na moda do cabelo black power, nos anos 70, num momento em que o negro abraçou sua própria identidade, não mais tendo vergonha do cabelo afro, como em mulheres lindas como a atriz negra brasileira Taís Araújo, Beyoncé e ou Naomi Campbell, num Mundo que começa a se abrir à pluralidade, em descendentes que passam a exibir orgulho racial, como no ano de 1988, em que se celebraram os Cem Anos da Abolição da Escravatura no Brasil, numa campanha publicitária que trazia atores negros erguendo a cabeça e dizendo repetidamente: “Negro!”. Esta mulher veste roupas majestosas, fartas, como uma rainha envolta em fartas vestes de veludo. A mulher fita o espectador, quase desafiando este. A mulher parece saber que, no fundo, é herdeira de um legado muito rico, muito intenso, como na arrebatadora seção africana do Met, com obras que remetem a poderosos rituais de magia, na universal tentativa humana em buscar entender o Mundo ao qual viemos como inocentes bebês. Esta é uma cena de altivez, e a mulher demonstra ter força para carregar tudo que carrega, como no peso que é uma coroa na cabeça de um herdeiro de monarca, na absoluta responsabilidade de herdar um trono outrora ocupado por monarcas tão dignos, tão heroicos, tão lendários. Mas esta mulher negra parece ter a força de um pilar de duro mármore, suportando o peso e mostrando ao Mundo ter orgulho de ocupar uma posição de tanto poder representativo. Este monte de palha é a fartura de cornucópia, numa cozinha rica, como na rica cultura gastronômica baiana. Este adereço ritualístico é um aviso: mantenha distância. Os furos quadriculados são como uma trama de tear, numa Divina Providência que tece os destinos humanos, havendo uma razão muito forte para uma pessoa nascer em uma posição social tão desprivilegiada, havendo na Humildade um degrau que, contraditoriamente, leva à Altivez. A negra e esta carga mágica formam um só organismo. Este rosto esculpido olha para bem longe, como um líder imaginando o destino do próprio povo, na virtude que cobre a pessoa visionária, que consegue enxergar além das mediocridades. Estes quadrados vazados são como casas de uma mesma tribo, com cada indivíduo tendo uma função, uma dignidade dentro do grupo. Sobre a fronte do rosto esculpido se debruça algo que parece ser uma cauda de cobra, no modo como várias culturas têm as serpente como símbolos de fertilidade liquidiscente, quando que, para outras culturas, como a católica, a serpente é símbolo da maldade e de vulgaridade humana, digna de ser esmagada pelos alvos pés de Nossa Senhora.


Acima, Love Letter II. 1977. A flor abaixo é a feminilidade, rubra, da cor do interior uterino, com cheiro de Chanel número cinco. A flor é a força da Natureza, desabrochando na época reprodutiva, sem esquecermos que a flor é o órgão genital da planta. É como as rosas no cenário do acústico de Cássia Eller na MTV, contrastando com a masculinidade e a agressividade catártica da intérprete, uma pessoa que subia no palco para “vomitar” e fascinar a plateia, num desabafo, talvez numa pessoa farta dos preconceitos do Mundo. É como as rosas que o professor Girafalez oferece à Dona Florinda, no seriado Chaves, num gesto de sedução, de romantismo, na delicadeza de um coração apaixonado. Acima, temos a figura de uma matriarca, uma mulher que, apesar de mulher e feminina, precisa desenvolver força para suportar os golpes da Vida, numa pessoa nascida em um contexto social de desigualdade, com bairros pobres que abrigam, em geral, pessoas negras, fazendo que ainda respiremos ecos da Escravatura. A mulher está muito séria, e não olha para o espectador, mas olha para o alto, num horizonte amplo, talvez sonhando com uma vida melhor para si ou para os seus, pensando como será a vida de seus filhos e netos, se estes vão ainda sofrer com as disparidades sociais. Seus lábios são fartos como a flor abaixo. A flor exala um perfume que faz com que nos esqueçamos momentaneamente dos problemas lá fora, no modo como é importante que a pessoa, ao entrar em casa, tenha que deixar o Yang lá fora, e curtir o Yin no aconchego do Lar. A flor desabrocha delicadamente, como no primoroso trailer do filme A Época da Inocência, numa trama de sedução em que um homem é tentado a largar tudo e todos por uma belíssima mulher. É o clima reprodutivo de Primavera, com a Vida explodindo como uma granada, espalhando-se pelos bosques e florestas, na força implacável da Vida, no modo como um artista busca ser isso, uma força natural, como um tsunami, mas um tsunami do Bem, inundando as percepções de outrem e abalando as bases de velhos preconceitos como o Racismo, num Charles White empenhado em trazer essa discussão a um país onde a Miscigenação é pouco difundida. Aqui, temos uma mulher de terceira idade, acumulando experiência de Vida, numa pessoa que viveu décadas experimentando um contexto social pouco belo, com pessoas que já nascem prisioneiras, numa criança que não chega a contestar uma realidade com a qual o negro se acostumou, havendo no negro uma cultura forte, de muita identidade, como as correntes musicais americanas – Blues e Jazz, por exemplo. Esta rosa é afável, sedutora, com uma gentileza que faz com que nos esqueçamos da dureza do Mundo lá fora, da dureza dos espinhos de uma bela roseira, como a beleza de pinheiros araucárias, repleto de espinhos em suas copas, na necessária e inevitável imperfeição da Dimensão Material. A seriedade e a austeridade da matrona negra se impõe no quadro, e ela olha para o Céu, talvez pensando nas tramas invisíveis da Divina Providência, perguntando-se: Por que nós negros sofremos tanto? Num espírito que decidiu encarnar em um contexto social complexo e difícil, fazendo dos obstáculos e vicissitudes um combustível para o aprimoramento espiritual. A mulher usa dois brincos, ou seja, não é uma mendiga, mas também não vive em pleno conforto. Os brincos são os dois elos que se ligam, jamais podendo ser separados, no modo como a carne está fortemente ligada ao espírito, só havendo o desligamento no momento determinado pela Justiça Divina. Seu cabelo é black power, assumindo a genética africana, num orgulho de fazer erguer a cabeça falicamente, na expressão chula, porém válida: “Colocar o pau na mesa”. Aqui, sua pele está suada, exausta depois de um dia de labor braçal, como limpar a casa do patrão. É uma pessoa que não sabe o que é participar de um baile glamoroso, cheio de joias, vestidos e música fina. Então, a dureza se justifica no passo do aprimoramento moral. E a Rosa Mística de Maria segue incólume, intocada, exalando seu perfume fino, no perfume espiritual das pessoas que agem sem obsessão material.


Acima, Love Letter III. 1977. A concha é a sedução do Mar, do cheiro de orla, como no final de O Senhor dos Anéis, em que uma barca mágica leva as pessoas a um lugar de orlas brancas, paradisíacas e agradáveis, no Mar nos chamando de volta para casa, num lugar cômodo e cheio de liberdade, num Lar confortável, onde estamos cercados de irmãos que nos amam. A concha é a beleza natural, com um ser mole dentro dela, reservado, escondido, um ser que sabe a importância de se manter a Discrição. A concha é o lar seguro, abrigando as pessoas num ambiente longe de ameaças, no modo como a criança, no fundo, gosta de receber limites, pois estes dão a sensação de invólucro, de proteção. Esta concha paira nas alturas, remetendo a uma urbe espiritual, uma sacra cidade onde há energia de trabalho e diversão, numa atribulada agenda social, cheia de Vida. A concha se sustenta por si mesma, sem precisar de apoio, pois não é feita de matéria, de calcário, mas é feita de pensamento, na vitória do cérebro sobre a bunda. O fundo azul do quadro é um Céu de Brigadeiro, perfeito, intocado, sem qualquer sinal de nuvem, de interferência, num lugar especial onde nunca há mau tempo, num lugar onde a temperatura é sempre amena. É um céu que nos remete à estética dos anos 80, pós moderno, numa alusão a uma cidade imaterial, como nos céus de Dalí, numa clareza incrível, num dia claro em que um artista se expressa com clareza, causando comoção estilística. A concha parece girar, com força própria, e está em pleno equilíbrio, combinando Yin com Yang. Abaixo temos um negro encapuzado, remetendo ao brutal assassinato de um rapaz negro nos EUA há anos atrás, um rapaz inocente morto por um homem que desconfiou pela vítima estava caminhando na Rua com um capuz sobre a cabeça, num caso de comoção mundial, com o próprio presidente Obama dizendo: “Se eu tivesse um filho, ele se parecia com este rapaz”, e assim podemos entender o empenho de Charles White e trazer à tona delicada questão racial nos EUA (e no Mundo, inclusive no Brasil). Este rapaz negro olha altivo para o espectador, como Marisa Monte em seu álbum de estreia, numa pose de certeza, numa pessoa que está segura de si mesma, desafiando o espectador. É o orgulho racial, numa pessoa que tem que construir uma identidade em cima da herança de seus antepassados, no modo como eu próprio já fui ridicularizado por ser descendente de colono italiano, no modo como o ex-governador gaúcho Ivo Sartori disse ser um orgulho de ter vindo da Colônia. Este rapaz, com seu capuz, parece um cavaleiro jedi, no poder do orgulho, da dignidade, lutando para se estabelecer num Mundo que ainda é tão duro em relação à aparência da pessoa. O capuz é a proteção, o resguardo, como óculos escuros protegendo do Sol, no modo como o orgulho é uma proteção psíquica, bloqueando-se contra atos maliciosos de desrespeito e frivolidade. O céu azul aqui é um oceano plácido, acolhedor e doce, longe das intempéries dos mares físicos, na luta de um pescador para trazer o peixe para casa, no modo como é uma luta a vida de qualquer pessoa que se cansou de ficar esperando por um príncipe encantado que jamais chegará. É a mortificação, a aniquilação de ilusões tolas, no modo como o Espiritismo prega que o espírito, para se elevar, tem que se mortificar. Este rapaz tem um semblante um pouco triste, sofrido, depois de um dia duro em um serviço subserviente, como cortar cocos ou empilhar lenha. A forma deste rapaz encapuzado é um pouco semelhante à concha, fazendo tudo virar uma coisa só neste quadro. É uma relação de continuidade, na sensualidade da integração cósmica, nos oceanos infinitos de energia que interliga a todos nós, em um continuum sexy de irmandade, de amor espiritual, como linhas telefônicas vastas, infinitas. A concha é um telefone por meio do qual podemos ouvir a energia cósmica fluir de forma intermitente. É o parafuso que nos liga e nos une ao Grande Plano Universal para conosco, num Ser Humano que ainda tem muito pela frente. Aliás, tem a Eternidade pela frente.


Acima, Sound of Silence. 1978. A concha é o coração pulsante da Mãe Primordial que nos colocou na Terra, a Iemanjá oceânica com suas sensuais curvas liquidiscentes, seus longos cabelos negros e sua estrela na fronte, a estrela dos mares, a suprema popstar que está sempre gerando, sempre criando, numa vida produtiva, positiva, interessante. É uma granada, mas uma granada do Bem, pulsando em cada um de nós, sendo o link que nos faz iguais, faz-nos irmãos. A concha tem o perfume do Mar, o perfume da saudável vida ao ar livre, na farta riqueza biológica deste ínfimo planetinha no qual vivemos. O homem negro aqui abre seu peito em um momento de perspectiva, de explosão catártica, na magia de uma mulher gerando a Vida, na magia de um ovo gerar um pintinho, no enigma supremo: o que gera, mantém e ceifa a Vida? É um gesto de abertura, de entrega, num artista que busca dar o melhor de si ao Mundo, sempre querendo interpelar o espectador, interpelar quem assiste e prestigia a obra de um artista, como num fãclube. As mãos do homem aqui são fortes, corpulentas e grandes, com mãos capazes de suportar muita pressão, como na triste história da diva Whitney Houston, a qual declarou ter sofrido gigantescas pressões depois de gravar um dos dez álbuns mais vendidos de todos os tempos, O Guardacostas. O cabelo black power é característico dos anos 70, numa época em que o ator brasileiro Tony Tornado, com o cabelo neste estilo, foi assaltado por outro negro no perigoso bairro novaiorquino do Harlem! É o cabelo usado por um Michael Jackson menino, num popstar que se tornou uma das figuras mais controversas na história do Pop, tornando-se um branco. O rapaz aqui fita diretamente o espectador, querendo falar algo, expressar algo, mas sentindo-se tolhido a abrir a boca, numa sociedade que no passado estava mergulhada no grande equívoco moral que foi a Escravidão. É um rapaz jovem, no início da Vida, e ele está sério, sem esboçar qualquer sorriso de alegria ou contentamento, numa vida dura, num Mundo em que uma pessoa negra, ainda, sofre preconceito, apesar da Humanidade já ter feito grandes progressos éticos. Atrás do rapaz, cores suaves, com um azul e um lilás brandos, talvez num Charles White querendo amenizar a vicissitudes de uma sociedade inigualitária. Aqui, temos um artista abrindo o próprio coração e “colocando a cara a tapa”. A concha, com uma abertura, é ao canal vaginal, a grande gruta sedutora e reúne segredos que desafiam a Masculinidade, no enigma da Sensibilidade: o que faz uma pessoa ser sensível à Arte? É um orifício misterioso, com mistérios prestes a serem desvendados pela luz do pensamento racional, iluminando o escuro, trazendo uma mensagem divina, pois algo de muito bom nos espera no Desencarne. Aqui, o interior da concha é escuro, e parece não haver iluminação lá dentro, no modo como um bebê, ao ser gerado no escuro da barriga da mãe, leva um choque ao vir ao Mundo, ao vir à luz, no primeiro grande trauma da pessoa – nascer. A concha tem o formato de um grande palácio, com arquitetura exótica, na depuradíssima arquitetura da Dimensão Metafísica, um lugar de Paz e Prosperidade, como no reinado de um monarca talentoso, que sabe interligar os próprios súditos. Aqui, o elemento protagonista é a concha, seguida do rosto sério do rapaz, um rapaz belo, que não precisa de cirurgias plásticas para ser bonito, pois nunca ouvimos dizer que beleza não se compra? As mãos dele são como portais que se abrem e trazem uma revelação, num intenso boom, numa onda fortíssima que quebra e afoga um surfista desavisado. O rapaz quer dizer alguma coisa, no modo como todo artista quer expressar algo, sendo um desafio ser entendido pelo público, no modo como é comum haver artistas malcompreendidos, no modo como Jesus Cristo foi malcompreendido ao ponto de morrer agonizando numa cruz. A Vida é dura. Portanto, a pessoa tem que se fazer forte. A concha é um presente dado ao espectador, e este fica agradecido aos artistas que têm a coragem de ousar e de marcar épocas.

Referências bibliográficas:

Charles White. Disponível em <www.artequeacontece.com.br>. Acesso 7 jan. 2019.

Charles White – A Retrospective. Disponível em <www.moma.org>. Acesso 7 jan. 2019.

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