A longeva artista Carmen
Herrera nasceu em Cuba e está há mais de meio século radicada nos EUA. Carmen é
tida como uma grande minimalista e abstracionista. Os textos e análises
semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Encontro, 2009. Aqui temos uma ruptura, como alguém que sai de um
país para morar em outro. É como uma ponte que cai, deixando uma estrada
desconexa. É como um transplante de órgão, num ato de substituição, de reparo.
É como um vidro quebrado, impossível de ser consertado. São duas linhas
tentando se encontrar, esforçando-se para que haja unidade e concórdia, numa
heróica empreitada diplomática de reaproximar países inimigos como EUA e Cuba.
Temos aqui uma Carmen querendo conciliar as diferenças e unir nações, num
esforço diplomático, calcado nas conversações de Paz, nunca de Guerra, talvez
num protesto contra os embargos econômicos à ilha de Fidel Castro. São duas
pessoas tentando se encontrar, numa Carmen romântica. São linhas desencontradas,
num momento de briga e discórdia, como irmãos discutindo por causa de Política,
numa “treta”, um embate. Temos aqui um ciclo de máquina de lavar roupa, numa
figura simétrica, num redemoinho, no modo como há enigmática Paz no olho de um
furacão, e um artista, que vai causando comoção e reconhecimento, refugia-se
dentro de casa, em Paz, deixando lá fora as questões da Vida Pública,
refugiando-se no aconchego do Lar, curtindo aspectos simples da vida
corriqueira, como cozinhar um macarrão e compartilhar uma garrafa de vinho,
pois a Vida é boa quando é simples. O atelier é o Lar do artista, numa bagunça
positiva, onde o artista sabe onde encontrar cada coisa, numa ordem só
compreendida pelo próprio artista. O atelier é essa bagunça nutritiva,
aconchegante, conciliando o Caos com organizada Produtividade, no casamento
entre Razão e Loucura. Temos aqui uma imagem simples e limpa, numa Carmen
minimalista, limpinha, higienizada, tentando impor limpeza em uma orla tão
suja, tão cheia de tocos de cigarro, tão cheia de espigas de milhos consumidas,
na inevitável sujeira do Mundo lá fora, na Vida em Sociedade, havendo em um
namoro um oásis em meios a um deserto tão duro quanto os preconceitos da
Sociedade Patriarcal, sociedade na qual a mulher está fadada a ser uma mera
cadela do macho alfa. Essas duas faixas são como o quase toque entre Deus e o
Adão de Michelangelo, tão próximos, tão perto, mas nunca de fato se tocando, na
metáfora com a Dimensão Metafísica, onde tudo é espiritual, e onde o toque
epitelial não existe, sendo a derme o símbolo da Dimensão Física, da Matéria,
da dimensão onde tudo está danado e condenado à própria destruição, na ilusão
das pedras preciosas, as quais são tidas como símbolo da Eternidade, mas são
apenas símbolo, e, por incrível que pareça, as pedras preciosas estão também
fadadas à danação, jamais sobrevivendo à Vida Eterna Espiritual, no modo como,
infelizmente, o Ser Humano tende a acreditar que as pedras preciosas são
eternas – tolinho. É a metáfora do ouro de tolo, sendo que qualquer ouro é de
tolo, na fixação humana em acumulação de riqueza material, fixação a qual é uma
perda de tempo. Aqui, é como se tivéssemos um mínimo átomo separando as duas
faixas, num trato entre cavalheiros, com a honestidade no fio de bigode, num gentleman, ou seja, um homem gentil, o
qual, apesar de ter uma espada na bainha, dá preferência à conversa diplomática
e à cordura da Paz, como dizem que era muito polido e calmo meu bisavô, Joaquim
Pedro Lisboa, um dos homens mais respeitados da História de Caxias do Sul. Esta
forma gráfica dá também a impressão de que é uma faixa inteira, só que dobrada
ao meio, como num vale, ou um degrau, nos vários degraus que um homem tem que
trilhar até obter o respeito da sociedade à sua volta, no modo como só é feliz
que é respeitado. Aqui, é como uma bandeira tremulando, transmitindo a altivez
de uma nação digna e respeitada. São como nuvens retilíneas em um Céu de Brigadeiro, na
retilinidade do pensamento lógico, o qual evita as tortuosidades insinuantes da
malícia e da perda de foco. São opostos se beijando, numa eterna dança que une
os opostos do Universo, causando o fluxo das galáxias.
Acima, Mais Amarelo, Menos Verde, 1989. Impossível não pensar em Copa do
Mundo no Brasil quando vemos este quadro. Verde e amarelo são uma combinação
harmoniosa, pois ambos concordam em uma coisa; ambos possuem o dourado em sua
composição. Apesar de serem cores diferentes, são irmãs, convivendo em Paz no
Imaculado Útero da Dimensão Metafísica, onde todos somos sangue nobre, havendo
nas dinastias mundanas uma cópia grotesca. É claro que aqui o amarelo se impõe,
deixando ao verde um papel sutil de coadjuvante. É como na Festiqueijo, a qual
tem uma rainha e a dama de companhia desta, no jogo entre princesa e rainha,
numa relação hierárquica – apesar da princesa ser coadjuvante, tem todo um
charme especial, causando um certo incômodo à toda poderosa rainha, no modo
como grande e pequeno alimentam um ao outro, havendo um embate entre
quantitativo e qualitativo, num ato de discernimento. Aqui temos uma explosão
dourada, como uma banana madura, havendo numa Carmen Miranda o papel simbólico
da selvagem e misteriosa América do Sul, na feminilidade reinando sobre uma terra
exótica, cheia de ritmos. Aqui temos uma assimetria, e é como uma luta marcial,
onde o lutador mais agressivo triunfa, no modo como a Sociedade gosta de
colocar dois machos numa arena para ver quem é o macho alfa no octógono,
havendo uma total universalidade no modo como as sociedades humanas incentivam
diversos tipos de lutas e esportes marciais, cabendo ao cromossomo XY a tarefa
de simbolizar e incorporar a agressividade Yang, numa sociedade que jamais
cobra da mulher o desenvolvimento da agressividade, e sim cobrando da mulher a
feminilidade, a suavidade e a delicadeza, no modo humano de ver na oposição dos
sexos um símbolo de Tao, que é o casamento entre tais opostos – os anjos não
têm sexo, logo, são superiores, e a sexualização ritualística é típica do Ser
Humano encarnado, típica da prisão que nos cerca. O Mundo é assim mesmo – não
estou reclamando. Aqui, o verde serve de telhado para o amarelo, e este é
indefeso, inspirando a dignidade de um herói que salva a pátria, que salva a
mocinha raptada pelo vilão, no modo como a menina jovenzinha acredita que um
dia será salva pelo príncipe encantado – tolinha. Quando Joãozinho protege o
que é mais importante do que ele mesmo, Joãozinho se torna importante, no modo
como cada sexo tem seu modo de ter dignidade, apesar desse modo apelar
inevitavelmente à desigualdade. É um paradoxo: como duas cores contrastantes
podem ser tão iguais? Aqui, não temos liquidiscência, numa Carmen racional,
retilínea, matemática, na tentativa heroica de um professor em incutir nos
próprios alunos o gosto do Pensamento Racional, Frio, Matemático. É uma aspa
esperando pela aspa oposta, numa questão pendente, como um pagamento em aberto,
na ilusão humana em ficar esperando por um milagre, um desfecho mágico, havendo
no Desencarne a libertação, numa pessoa totalmente consciente do fato de que
seu corpo físico ficou para trás, abraçando uma nova vida, numa nova dimensão,
num Lar que, apesar de novo, é antiquíssimo. Aqui, o verde se resguarda
discretamente para que o amarelo desponte, no modo como o grande artista dá a
impressão de que não teve trabalho algum para desenvolver algum trabalho, no modo
como não podemos imaginar Whitney Houston em um estúdio gravando as músicas de O Guardacostas. Este quadro é um momento
de quase triunfo, em que o amarelo está prestes a englobar tudo e todos,
impondo-se com agressividade, numa irrefreável ambição, como um ator que quer
papar todos os prêmios possíveis por uma atuação, na eterna infelicidade
humana, na qual o Ser Humano nunca está contente com as terras em seu próprio
reino, como num sedento Império Romano, sempre impondo-se com a arrogância da
espada cortante, no modo como a pessoa arrogante se sente afiada como um
bisturi, sendo que Tao diz que, quando você se sente como uma tesoura cega, é
porque está tudo bem com você, porque você está sendo humilde e realista, nunca
se achando no direito de causar Mal ao seu irmão.
Acima, Preto e Branco, 1952. Aqui, temos uma pirâmide vista de cima, na
metaforização das classes sociais, sendo o topo o faraó, o homem encarnado mais
poderoso do Egito, havendo acima do faraó o Nada, o Vazio, o qual é Tao, o
Imaterial, no modo como é difícil observarmos os movimentos da Divina
Providência, a qual age silenciosamente, regendo todos, regendo inclusive o
faraó. Aqui há um jogo entre claro e escuro, como num MC Escher, no namoro preto
& branco entre os opostos que geraram uma majestosa geração de atores e
atrizes em Hollywood, numa era de ouro do Cinema, havendo nesta arte um dos
maiores símbolos do Século XX, o século do Cinema, no modo como o Século XXI
será, provavelmente, o século da Internet. Aqui temos uma mandala, sempre
girando, na cena cíclica onde todos temos um papel em uma dimensão tão
hierárquica, como na Hierarquia Militar. Este jogo de contraste traz uma certa
textura metálica, prateada, no termo silver
screen, ou seja, tela de prata, atribuído ao Cinema. É um jogo de espelhos,
de superfícies reflexivas, num metal polido, civilizado, apontando um estágio
avançado no crescimento humano, havendo na Arte uma áurea expressão humana,
numa prova de progresso e avanço psíquico. Aqui, também temos um túnel, numa
espécie de casa giratória, numa casa maluca, em que as coisas mudam de lugar,
num lúdico caos, como num liquidificador, com o chão alternando espaço com o
teto, como um mágico caleidoscópio, com cristais hexagonais de neve, nunca
havendo um cristal igual ao outro, como impressões digitais, nas saudáveis e
inevitáveis diferenças de personalidade entre os seres humanos. No frigir dos
ovos, juntando claro com escuro, temos o cinza, a cor da dúvida existencial, do
dia cinzento, nunca claro demais, nunca escuro demais, como usar óculos
escuros. São as cinzas de um corpo cremado, na perda do corpo material, num
espírito se despindo das glórias mundanas e abraçando uma nova vida, uma vida
menos obcecada por poder e dinheiro. É como um fosso de elevador, como questões
girando em torno do mesmo ponto, no modo como inúmeros historiadores falam
sobre o mesmo período histórico. Aqui, temos um jogo de xilogravura, o qual
exige máxima atenção e concentração da parte do artista, havendo várias ciladas
no aparentemente simples jogo entre vazio e cheio. Nesta vista aérea, não
sabemos se o negócio sobe ou desce, numa Carmen deixando o espectador livre
para acreditar no que o espectador quiser acreditar, no modo como cada pessoa
vê o que quiser ver, na liberdade de interpretação, na característica da grande
obra de Arte – render inúmeras interpretações, numa incessante cornucópia
intelectual. Talvez tenhamos aqui uma ponta de faca apontada para nós – não sabemos.
É o contraste entre Yin e Yang, tendo um trazendo algo do outro, numa
perspectiva de concórdia. O que é bom para ruim, é ruim para o outro, como num
jogo de futebol, no qual a alegria do goleador se opõe à tristeza do perdedor,
tendo que haver no ganhador a elegância de não esfregar o triunfo na cara do
oponente. São como dois times se degladiando, embaralhando-se no campo, tendo
que encontrar equilíbrio entre atacar e defender, havendo no juiz a figura
neutra e imparcial, como uma Suíça intermediando questões diplomáticas, como
num Papa Francisco, empenhado em usar o próprio grande poder representativo
para solucionar questões espinhosas, questões como inevitáveis e eternos
desentendimentos. Aqui, temos uma estrela que brilha. É como uma gravata
borboleta, no garbo de um cavalheiro perfumado, buscando soluções para impasses
e brigas, no modo como um homem de Tao é um agente da Paz, um divino diplomata,
na vitória da intelectualidade sobre a animalidade; na vitória da mente sobre a
bunda. Aqui, temos um diamante negro, negro e profundo como os confins do
Cosmos, com corpos celestes que estão tão distantes que sequer podem ser vistos
da Terra. Então, o artista se depara com tal vastidão, tal eternidade,
adquirindo a noção da superioridade de Tao e a noção de que o Ser Humano pouco
pode saber.
Acima, Preto e Amarelo, 2009. Temos uma certa perspectiva, no modo como a
Renascença renovou a Europa com ares de perspectiva geométrica, com
profundidade, “puxando” e espectador para dentro da obra. É como um quarto
escuro, no mais completo breu, iluminado por uma porta aberta, revelando um dia
de dourado Sol, iluminando dúvidas, como luz sendo jorrada para dentro de um
caixão, no milagre da ressurreição do Desencarne, num momento em que a pessoa
se dá conta de que a Vida continua, sempre com novos desafios, desafios estes
que ocasionam o necessário crescimento – qual o sentido da Vida sem uma meta,
um norte? Uma linha muito tênue negra divide o quadro, como uma linha do
Equador ou um Meridiano de Greenwich, no esforço humano em dividir e analisar
as coisas, o Mundo, estabelecendo limites e regras, como numa Tabela Periódica,
querendo compreender racionalmente uma dimensão de caos natural, num Ser Humano
sempre querendo compreender Tao, o Criador de Tudo. A cor dourada persiste
frente a um fundo tão negro, tão imprevisível, nas indecifráveis esquinas da
Vida, sempre pegando a pessoa de surpresa, nunca permitindo que esta pessoa
preveja absolutamente tudo, sempre guardando surpresas, no grande piadista que
é Tao. Aqui, é um bloco que se impõe, trazendo alguma referência frente a tantos
mistérios, como no monolito de 2001, numa clara influência alienígena, sempre
atiçando os ufologistas no mistério – fomos “colonizados” no passado? Aqui, é
como um livro que se abre, num artista se abrindo para o Mundo, num artista
querendo participar, querendo ter um papel, no grande desafio que é a pessoa
encontrar seu próprio lugar no Mundo. Aqui, é como uma folha de papel que foi
dobrada e reaberta, numa Carmen adquirindo o desafio da assimetria, que é um
equilíbrio mais sutil, como uma equação matemática: 3 “x” é igual a “y”, ou
seja, um pequeno é igual a meio grande. Aqui, é como uma barra de ouro, na
busca humana por riqueza, numa Inglaterra que enriqueceu milagrosamente durante
o reinado de Elizabeth I, na hierarquia econômica entre nações, num Egito
Antigo imperialista, no modo humano de impor Ordem por meio de flechas
pontiagudas, no eterno belicismo humano. Este pesado bloco foi claramente
trabalhado por um pensador civilizado, no modo como a Arte é uma prova da
sofisticação humana, fazendo do labor uma expressão. É como a logomarca da
Music Television, a MTV: há uma letra “m” pesada como um bloco, que representa
a reverência clássica, a sisudez, a mortificação, o ponto de vista conservador,
que diz que nada irá mudar no Mundo; já, as letras “t” e “v” imitam uma pichação,
a qual representa a jovialidade, a irreverência jovial, o ponto de vista
revolucionário, moderno e arrojado. Todos temos dois olhos – um olho
conservador e um olho progressista, ou seja, um olho republicano e um olho democrata,
na saudável alternância no Poder. Essa característica pessoal de cada americano
acaba refletindo de forma macro, num país que, nas últimas eleições, ficou
divido. Esta perspectiva de Carmen “salta” para fora do quadro e enfrenta o
espectador, num ato agressivo de libertação, como um cavalo correndo livre,
sempre perseguindo as fêmeas para este cavalo passar sua genética adiante. No
termo “murro em ponta de faca”, quando a pessoa compra uma briga a qual não
precisaria ser comprada. É uma ânsia por libertação, na expressão artística
querendo “agredir” o Mundo e imitar uma força da Natureza, como um terremoto,
fazendo das catarses bombas de comoção, nas faxinas espirituais que são as
catarses – o papel da Arte é libertar o Ser Humano, havendo uma antiarte nos
pensamentos opressores. Aqui, é como uma borboleta batendo as asas, como me
lembro de uma linda borboleta amarela em um dia ensolarado no casamento de uma
pessoa de minha família. A larva que se torna borboleta é um símbolo de
libertação, num patinho feio se libertando ao notar que é um cisne, na
necessária autocognição. Esta obra tem um certo arejamento, num fresco ar de
renovação, numa juventude ansiosa por renovação.
Acima, Sete, 1949. Uma múmia habilidosamente enrolada, na tentativa humana
de compreender a Eternidade, querendo compreender o porquê da Morte, da
finitude da Matéria. É como um cartucho em hieróglifo, gravando o nome do
faraó, num Egito que simplesmente não permitia que o próprio povo fosse
alfabetizado. São como coloridos ovos de Páscoa, na magia de cornucópia de uma
cesta cheia de tesouros, no fascínio que os doces exercem, no modo como, já
ouvi dizer, há doces para serem comidos na Dimensão Metafísica, mas doces que
não engordam! Aqui, há um diálogo entre retas e curvas, e as retas “amarram” as
curvas, trazendo firmeza e estabilidade, como uma sólida canoa, nunca
afundando, sendo a Vida em Sociedade esta canoa, como as cidades estados,
aglomerando os seres humanos e deixando, no lado de fora, o caos da Natureza,
como na cidade estado de Minas Tirith, de O
Senhor dos Anéis, entalhada na rocha de uma montanha, no modo como um
artista pega um bloco de mármore e o transforma em uma figura humana, como na
incrível técnica de um Michelangelo, numa Pietà,
na qual podemos ver até as veias de Jesus salientes nas mãos do Salvador. A
Arte é Vida que pulsa, alimentando o Corpo Social, no modo como é equivocado
considerar a Arte um luxo dispensável. Aqui é como um traficante de drogas
embalando habilmente um pacote de cocaína, esperando passar despercebido nos
filtros oficiais de aeroportos, sendo descoberto por um cão farejador e preso
por tráfico internacional de drogas. É como um sólido bloco de presunto, sendo
finamente fatiado pelo açougue, em um pobre bichinho que acabou virando lanche
– não sou vegetariano! Aqui, é como um totem mágico, um emblema de feitiçaria,
na autoridade dos curandeiros de aldeia indígenas, numa milenar cultura oral,
com índios sabendo como usar cada erva nascida na selva, no imbatível Senso
Comum, que acaba absorvendo todas as outras formas humanas de conhecimento.
Temos aqui uma cidade irregular, que não foi planejada na caneta de um
arquiteto, desenvolvendo-se instintivamente, virando um labirinto no qual
somente um nativo pode se locomover tranquilamente. É um crescimento desordenado,
como nas favelas, que foram instintivamente tomando conta dos morros do Rio de
Janeiro. Aqui, há um ovo contendo outros ovos menores, como numa boneca russa,
no milagre da Vida, como uma ninhada de cachorrinhos, num Tao sempre gerando,
sempre fertilizando. As partes pretas são como espaços de água, como lagos e
rios, cortando e nutrindo um lugar. É como o dramático e catastrófico
rompimento de uma barragem de mineradora, arrastando tudo e todos, trazendo
Morte e desolação, numa tragédia tsunâmica, no modo como o Ser Humano, volta e
meia, está sujeito às intempéries da Dimensão Material – é assim mesmo. A parte
alaranjada é como âmbar, no fascínio colorido das pedras, como uma ametista,
tão feia e subestimada por fora e tão bela e rica por dentro, em um talento
oculto, prestes a ser revelado ao Mundo, fazendo com que a pessoa subestimada
surpreenda todos. Aqui, é como uma comida sendo digerida dentro de um estômago,
num processo digestivo de assimilação, no modo como um artista vai sendo
assimilado pela Sociedade, tendo no artista o privilégio de ser considerado
respeitável e memorável, com tantos artistas que só foram reconhecidos após a
Morte, ou, pior, que jamais foram reconhecidos. Tudo faz parte da linha
existencial, num espírito que, antes de reencarnar, aceita a dureza mundana.
Aqui é como um vitral, mas as partes negras não deixam o Sol passar, num
bloqueio, uma negação, um rechaço, numa pessoa que passou por algo e pegou
muito rechaço em relação a este algo. É como uma bijuteria exótica, enfeitando
elegantes senhoras, mulheres perfumadas e arrumadas, no encanto de uma pessoa
que se apruma para interagir socialmente. É como o colar de Ísis, com o disco
solar de Amon, numa relíquia mágica, poderosa, numa Arte que atravessa milênios
e continua a encantar.
Referências bibliográficas:
Carmen Herrera. Disponível em <www.en.wikipedia.org>.
Acesso 20 jan. 2019.
Carmen Herrera Obras. Disponível em <www.google.com>.
Acesso 20 jan. 2019.
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