Uma pessoa de minha família sofreu em Nova York uma gigantesca
decepção. O que aconteceu é que esta pessoa, ao acertar os valores na agência
de viagens, antes de viajar, foi informado de que poderia comprar ingressos
para ver, ao vivo, ninguém menos do que Frank Sinatra. Então esta pessoa chegou
em NY cheia de expectativas e, na noite do espetáculo, foi ao teatro da
Broadway, e na bilheteria havia um atestado médico exposto, dizendo que o show
estava cancelado porque o Sr. Sinatra estava doente a afônico. Mesmo tendo o dinheiro
devolvido, esta pessoa de minha família pegou um táxi e voltou ao hotel, indo
dormir com esta frustração, na cidade que nunca dorme. Falando em celebridades,
uma jornalista brasileira, certa vez em um guia de viagens, disse que uma das
coisas mais maravilhosas de NY era ver na rua passeando, sozinha, Jackie
Onassis, a qual tem um lago no Central Park que leva o seu nome. Isso se chama
respeito – passear tranquilamente e ser, ainda assim, famosona, assim como NY.
Como neste blog já falei sobre o
Metropolitan Museum of Art, o Met, vou dar apenas rápidas pinceladas sobre este,
mas já vou avisando: se NY fosse um trem, o Met seria a locomotiva, o nervo, o
condutor. O resto da cidade viria engatado atrás. Nada contra os vagões atrás,
mas o que move a Big Apple é a fina cultura de um museu cosmopolita e rico,
riquíssimo, muito graças aos milionários americanos que fizeram e fazem gordas
doações ao museu. Em NY, por favor, vá ao Met. Outra pessoa de minha família
disse que o que mais valeu a pena em NY foram o Met e o Central Park.
NY já foi cenário de tantos, mas
tantos filmes, que quem chega lá não se sente em uma terra totalmente estranha.
Filmar em NY é caro, e requer, além de autorização da Prefeitura, pagar altas
taxas, o que faz com que diretores americanos optem por filmar na cidade
americana de Vancouver, a qual tem ruas extremamente fiéis às de NY, tanto que
o que é filmado em Vancouver, o expectador jura que foi filmado em NY. É muito
mais barato filmar em Vancouver. É claro que a Big Apple tem atrações
estritamente turísticas, como passear de charrete pelo Central Park, algo
romanceado em tantos filmes. NY segue sendo sedutora, benéfica, cruel, bela,
forte. Como diz Madonna em uma música que leva o nome do slogan famoso I Love New York, esta cidade não é para
mulherzinhas; ou em uma canção de outra artista, as luzes desta cidade
inspirarão você, e não há algo que você NÃO possa fazer lá. NY é coração do
Mundo Ocidental, com paixão declarada de gênios como Woody Allen, que usou a
cidade em tantos de seus filmes, com inesquecíveis trilhas sonoras, como da
célebre obra de Ira Gershwin, que traz identidade cultural a esta ilha bonita.
Outras das inúmeras declarações de amor a NY são os seriados Friends, Seinfeld, Sex and the City
e Will & Grace.
Todos querem morar em NY. O turista sente-se num filme. Sem falar que é
uma cidade de clima diversificado: o verão é o cúmulo de quente e o inverno é o
cúmulo de frio, com dias de tanta neve que a Prefeitura tem que orientar os nova-iorquinos
a não sair de casa. Ouvi dizer que NY no outono é belíssima, por causa das
cores das árvores. Antigamente, as ruas de Caxias do Sul eram adornadas por
plátanos, mas foram eliminadas porque, na época, achava-se que os plátanos
causavam tuberculose. Hoje, na cidade serrana, só há plátanos em pontos
específicos. Uma pena. Em NY, a manutenção do Central Park é terceirizada, e a
Prefeitura sabe que o parque tem que ser extremamente bem cuidado, pois é um
dos espaços verdes mais famosos do mundo, incrustado em uma frenética selva de
pedra, onde reinam oportunidades, sucessos e frustrações. Há de tudo em NY.
Era fevereiro de 1998, e fui com um
amigo. Ao chegarmos de manhã cedo no Aeroporto JFK, diga-se de passagem bem
pequenino para ser um aeroporto de NY, esbarrei-me com o frio, depois de uma
noite meio mal-dormida no avião, inevitavelmente mal-dormida – não estou
reclamando. No controle alfandegário, fui atendido por uma moça bonita que
tinha o cabelo igual ao de Courteney Cox em Friends.
Como nós, os passageiros, só poderíamos chegar no hotel ao
meio-dia, pegamos um ônibus com os viajantes da excursão, e no ônibus começou a
tocar, a todo volume, New York, New York,
algo interessante se a noite tivesse sido bem-dormida. Well, fizemos um passeio
de barca para ver a Estátua da Liberdade e depois fomos a um shopping bem na
ponta sul da ilha, com uma inesquecível loja de esculturas em madeira. E, finalmente,
chegamos no hotel, um Hollyday Inn muito bom. Na excursão, havia um casal
simpático que me chamavam de “Caxias”, pois sabiam que sou de Caxias do Sul.
Havia também um rapaz que comprou centenas de CDs nesta viagem.
Fiz algo de que me arrependi: como
eu sabia que seria um clima frio, fui com um par de botinas, compradas
especialmente para a viagem. Só que eu não tinha noção de que deve-se bater
muita perna por NY, para aproveitar as ruas da cidade. Lá pela quinta quadra,
meus pés começaram a doer, e tive que comprar, às pressas, um par de tênis
confortáveis. Na loja, eu disse à simpática atendente negra que meus pés doíam,
e ela disse I undestand; I’m a woman,
ou seja, Eu entendo; sou mulher.
Normalmente, os nova-iorquinos são abertos à interação e ao intercâmbio
cultural, numa urbe tão heterogênea.
Para continuar aguentando o frio,
fui à tradicional loja de departamentos Macy’s para adquirir um sobretudo, o
qual tenho orgulhosamente até hoje, usando-o no auge do inverno serrano gaúcho.
Na Macy’s, atendeu-me um rapaz italiano muito polido, que me disse que morava
no bairro Village, o mesmo de Friends.
O rapaz viu meu sobrenome italiano e perguntou se eu era da Itália. Ainda na
loja, vesti o casaco, e, no mesmo estabelecimento, tratei de comprar um
cachecol. Em Chinatown, passei por uma linda loja de artigos chineses, e me
vidrei num belo par de dragões de porcelana, fantásticos, fortes, estranhos,
vibrantes, finos. Então, aconteceu um fato engraçado, pois o atendente, um
chinês filho do dono da loja, propôs-me um trambique: ele diria ao pai que me
vendeu o par por 120 dólares, mas na verdade o filho embolsaria 20 dólares a
mais que eu daria a este “por baixo dos panos”. Que sacanagem com o velho! Na
tradicional bookstore Barnes & Noble, adquiri um livro sobre o faraó Aquenáton,
um regente que me fascina, o que me remete à deslumbrante sessão egípcia do Met,
com suas esculturas perfeitas em granito. Também adquiri um livro na loja de sebo
Strand Bookstore. Na giftshop do Met, adquiri dois pôsteres florais e um bloco
de cartões postais de temática japonesa. Na famosa loja de brinquedos F.A.O. Schwarz,
bem do ladinho do The Plaza Hotel, adquiri um bicho de pelúcia, numa loja de
atendentes extremamente corteses. Em outra bookstore, adquiri o livro sagrado
do Taoísmo, algo que já mencionei neste mesmo blog, numa postagem sobre
Taoísmo. Como já disse neste mesmo blog, comprei também uma caneca do seriado
televisivo The Nanny, do qual sou fã,
mas depois, em casa, a peça caiu e quebrou – que pena. Também dei-me ao luxo de
adquirir um perfume marcante, o Xeryus, de Givenchy. Se algum dia eu voltar a
NY, farei menos compras, pois uma cidade é muito mais do que lojas.
Pessoas de minha família foram a NY
no outono, e deve ser uma época boa de se visitar a ilha, sem muito frio nem
calor. Uma amiga minha disse que foi no verão, e que o verão nova-iorquino é
muito quente, assim como dizem que Buenos Aires é cálida nos meses de verão. E,
como eu já disse aqui, o inverno da Big Apple pode ser bem complicado. Quando
fui, praticamente não choveu, mas um vento frio e cortante cruzava a ilha.
Aconteceu algo de que não esquecer-me-ei:
meu amigo e eu estávamos caminhando na rua e recebemos panfletos de uma casa tradicional
de shows, de cujo nome não lembro, mas achamos desinteressante e jogamos fora
os papéis de divulgação, sendo que, só depois, ficamos sabendo que, na noite
anunciada, ninguém menos do que Madonna fez um show surpresa, cantando algumas
canções do álbum que estava lançando na época, o respeitado Ray of Light, trabalho que até levou um
Grammy. Por que eu não fui à casa de shows? Que ódio! Coisas de Manhattan.
Falando nisso, mandei um e-mail para Lucas Mendes do programa Manhattan
Connection, da Globo News, falando que tomei café da manhã no The Plaza Hotel,
o que me custou cerca de 40 dólares, para comer o mesmo sucrilhos que encontro
em qualquer lugar do mundo, até no supermercado do ladinho da minha casa, e Lucas
concordou comigo. O Plaza é tão pretensioso que a chapelaria custa 3 dólares,
contra o preço-padrão de 1 dólar em todas as outras chapelarias da cidade. Na
verdade, eu só quis ir ao Plaza por causa do filme Cuidado com as Gêmeas, com Bette Midler e Lily Tomlin, e
decepcionei-me ao ver que o interior do saguão, no filme, foi todo construído
em set, sendo muito diferente da recepção real do emblemático hotel nova-iorquino.
No MoMA, jamais esquecer-me-ei de estar a poucos
centímetros de distância de um trabalho de Salvador Dalí. No Guggenheim,
caminhei pela famosa rampa em caracol. Em Little Italy, almocei uma deliciosa
pasta ao molho vermelho. Em Chinatown, comemorava-se o Ano Novo Chinês, e vi um
cortejo fúnebre passando na rua, mas não tirei fotos em respeito ao falecido.
Na Times Square comi uma pizza em um restaurante bem sujinho, bem New York. Num
restaurante chinês, comi um delicioso pato ao molho de morango. Fiz uma visita
guiada pela tradicional escola de design gráfico Parsons. Fui a diversos night
clubs, pois NY é uma cidade de vida noturna intensa e diversificada, com ótimos
DJs.
Conheço uma pessoa que me disse que
não curtiu NY. Que pena. A cidade é cheia de brasileiros, tanto residentes
quanto turistas. Vi ficar deslumbrado um carioca com um show de artistas de
rua. Outro aspecto que me chamou a atenção foi ver tantos turistas japoneses em NY. Falar em artistas,
fui ver três shows da Broadway: Titanic,
que nada tem a ver com o filme, Miss
Saigon, sobre uma inocente e adorável menina em dissonância com um ambiente
mundano, e O Fantasma da Ópera, com a
célebre cena do lustre caindo “em cima” da plateia. Dizem que Cats e O Rei Leão são fantásticas. Da próxima vez, não verei tantas peças;
verei apenas uma – já está bom vendo uma só. Aconteceu algo engraçado quando eu
estava na fila para comprar ingresso para a Broadway: eu estava distraído lendo
os painéis com os nomes das peças e uma nova-iorquina abordou-me severamente,
como se eu estivesse me insinuando para desrespeitar a fila. Eu, hein.