Falo novamente sobre o
artista gráfico Luiz Sacilotto. Os textos e análises semióticas a seguir são
inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, C7959, óleo sobre tela, 100 x 100 cm, 1979. Acervo MAM de
São Paulo. Sacilotto nos deixa perplexos com tanto efeito ótico, e ficamos
tontos. Temos um pouco de MC Escher, num jogo entre claro e escuro; entre
positivo e negativo. É o grande tabuleiro da Vida, e a pessoa tem que ter
espírito de xadrezista, encarando tudo com muita paciência e cautela, num
enorme desafio que é o autoencontro. É um jogo cerebral, racional, em que os
oponentes vão se movendo de forma fria, pensada, mortificando as emoções e
privilegiando a beleza do pensamento racional, rechaçando malícias e impondo
ordem e bem estar, na beleza de uma melodia matemática, na face racional da
Vida, Yang. É como um malicioso vírus sendo detectado em um computador, numa
mente tensa e atenta a quaisquer movimentos insinuantes, na lógica de uma
equação, de uma assimetria: um grande é igual a três pequenos, ou seja, x é
igual a 3y, remetendo-me à época do Colégio, tempos em que eu desprezava os
números. Temos aqui um ciclo intermitente, sempre criando, pois Tao é um
incansável criador, sempre produzindo, sempre deslumbrando com sua inteligência
suprema, impecável e eterna em significado, rendendo infinitas interpretações.
Aqui temos um piso lúdico, num jogo entre presença e ausência, no registro
binário do pensamento, num raciocínio simples, mas com o Ser Humano sendo
eternamente arrastado por vírus maliciosos – Tao não pode se envergonhar de
algo que o próprio Tao fez. Temos aqui um ralo de pia, como um centro
galáctico, numa demanda misteriosa, dragando energia, no mistério do propósito
do Universo – como este funciona? É como uma peneira, parte retendo, parte
liberando, nunca sendo óbvia, nunca sendo só negra, nunca sendo só branca, no
charme das fotografias em preto e branco. Temos aqui um efeito convexo, com o
xadrez externalizando, saliente, agressivo, como se quisesse se libertar, a
ponto de explodir, em um ponto de ebulição, como numa catarse que vai se
formando dentro da pessoa, sempre crescendo, sempre inchando, até chegar ao
ponto que a catarse extrapola e explode como uma supernova, trazendo rios de
vômito psíquico, numa sensação de descarrego e alívio. Esta bolha está prestes
a explodir, como uma crise econômica, afetando tudo e todos, espalhando
fragmentos de cocô por todos os lados, como numa comédia pastelão, numa guerra
de tortas em um baile, baile no qual absolutamente todos são atingidos, no
poder da Arte em fazer “o chão tremer”. É como um papel dobrado em quatro
partes diagonais, como os pontos cardeais, alastrando-se por todos os cantos do
Universo, em comoção. Bem
ao centro, temos uma forma semelhante à Cruz de Malta, o símbolo dos guerreiros
cristãos, como Jesus Cristo se tornou uma força gravitacional que ecoará para
sempre na História da Humanidade, na sabedoria avassaladora de um homem
simples, que nunca se tornou mundanamente poderoso em vida, mas se tornando um
arrastador de multidões, tornando-se alguém que começou a “pisar nos calos” dos
poderosos, num Jesus que tecia críticas contundentes ao cinismo humano. É o
centro de tudo, numa Dimensão Metafísica que se revela como sendo tudo,
desprezando por completo a Matéria, vendo nesta uma ilusão. É como a vista
aérea de um liquidificador trabalhando, integrando os ingredientes numa sopa
primordial, na simplicidade organizacional de se colocar todo o Universo no
mesmo saco, ou seja, todos os membros de uma mesma e única família, na grande
família estelar de Tao, o Produtor. Aqui, as formas quadriculares ficam
pervertidas, fornecendo um efeito arredondado, mas num quadro que não traz
qualquer linha tortuosa, ou seja, é o retilíneo manifestando tortuosidade, numa
grande e irônica contradição, como a Luz gerando a Sombra, e viceversa. Esta
obra é um dos exemplos de “nó” que LS dá em nossos olhos, lançando mão de
efeitos visuais. Temos aqui um X que se alastra pelos quatro cantos da obra,
abrangendo tudo e todos, nunca deixando de fora qualquer membro desta família.
Nunca. Tao é integração.
Acima, C8074, têmpera sobre tela, 80 x 80 cm, 1980. Uma reação em
cadeia ocorre aqui, e cada agente do espaço é afetado, como uma crise
econômica, ou como na Greve dos Caminhoneiros, quando um pequeno aspecto acaba
por afetar todo o corpo social. É uma explosão de bananas, numa Carmen Miranda
emplacando como grande estrela mundial. É uma visão abrangente, como grandes
homens visionários de negócios, sempre observando oportunidades de grande
abrangência, na grandiosidade de mentes que superam pontos de vista medíocres,
gravitando acima de visões simplórias, óbvias e entediantes, num LS sempre
pensando na “diagonal”, fugindo do entediante “x é igual a x”, ou seja, da
falta de estilo e de senso de estilo de uma pessoa que só se veste de uma cor,
numa harmonização cromática óbvia e desinteressante. O fundo dourado é a mente
áurea, na beleza de uma aurora que pinta o céu de ouro, como na turnê El Dorado, da cantora Shakira, pois, no
cartaz de divulgação, a diva colombiana está coberta de uma tinta dourada, na
conotação de que a artista é preciosa, ou seja, vale cada centavo do preço do
ingresso, no instinto poderoso de artistas que conseguem se vender muito bem, e
isso é uma característica do espírito, pois não há livro ou faculdade que
ensine a pessoa a vencer na Vida, no modo como muitas pessoas instintivas
“deixam no chinelo” pessoas graduadas em prestigiadas instituições de Ensino –
é uma “vingança”. Aqui temos uma força magnética, polarizadora, num artista no
palco que “incendeia” a plateia em um show intenso, catártico, libertador, no
poder libertador de colocar algo para fora de si. São como pelos eriçados,
arrepiados por algo, numa energização, na energia que se sente na espinha ao se
lidar com “bruxos”, pessoas que possuem um encanto pessoal avassalador,
contagiante e vibrante. São como espermatozoides em trânsito, procurando
incessantemente por algo, numa indistinção, pois cada espermatozoide é comum e
tem um número próprio de identificação, como numa lista de chamada, numa
equalização que traz humildade ao indivíduo e, ao mesmo tempo, traz libertação,
pois a pessoa decide por si mesma o que fazer da Vida, na igualdade da urna
eletrônica. São metades de um círculo, como no Congresso em Brasília, duas metades
da laranja que precisam se encontrar para trazer complementação, fechando um ciclo
e observando o plano geral, no modo como a passagem do Tempo faz com que a
pessoa olhe para si mesma com clareza e precisão. Aqui, temos uma bagunça
organizada, pois, apesar dos elementos não estarem dispostos de forma correta,
como num desfile de batalhão militar, os elementos se movem num balé coletivo,
como num grande grupo de bois sendo guiados pelo vaqueiro, guiando o grupo,
impondo ordem ao caos da Dimensão Material. É como um grande cardume de peixes,
no esforço grupal de sobrevivência para escapar de predadores, confundindo este
como o balé confuso, no modo como a grande obra de Arte se forma ao “dar um nó”
na cabeça do espectador, no poder da Arte em quebrar barreiras e evitar
expectativas óbvias, pois não seria deprimente um artista que só faz aquilo que
é esperado desse mesmo artista? É como um recente comercial de perfume, no qual
um rapaz derruba paredes e diz: “Não serei mais quem vocês esperam que eu
seja”. Esses peixinhos tentam se libertar, rompendo uma película castradora que
limita mentes, como na Arte ideológica de sistemas totalitários, ou seja, uma
falsa Arte esta, pois não é livre, e, sem Liberdade, não há Arte redentora,
pois a Redenção é o objetivo da obra, como anjos livres, batendo suas asas
frente a possibilidades, sempre confortáveis em seus direitos, suas
possibilidades. É como a superfície de um porco espinho, num aviso claro:
mantenha distância e respeite, do contrário, você poderá se machucar, na
construção de um instinto de preservação, na necessidade darwiniana de
adaptação ao Mundo ao redor, no modo como o animal esperto passa sua própria genética
para frente, na seleção que elege a genialidade de um artista, no fato de que,
num museu, é absolutamente proibido tocar em uma obra de Arte – temos que observar
a uma certa distância.
Acima, C8333, têmpera Rhodopas sobre tela, 45 x 90 cm, 1983. Um salão muito
suntuoso, num namoro com o Art Déco. Há elegância em linhas retas, na elegância
aristocrática das roupas listradas, na conotação de “sangue azul”, sendo este
um termo mundano que faz metáfora com a realidade superior metafísica, sendo
esta o plano em que a Simplicidade reina absoluta, no que o Espiritismo chama
de “queda da mentira”, ou seja, um lugar onde todos saímos exatamente do mesmo
útero divino, na metáfora de Nossa Senhora, uma crença católica que busca fazer
com que o Ser Humano entende a Imaculada Conceição, no fato de que somos todos
puros a ponto de termos sido concebidos em um plano intocado, virgem, longe,
muito longe da Dimensão Material. Temos aqui um equilíbrio e uma serenidade. Um
grande “v” corta a tela, como um profundo decote provocador, no jogo de
sensualidade entre “mostrar e esconder”, sempre atiçando a percepção, num Ser
Humano hipnotizado pela sensualidade una do Universo, um organismo só, cheio de
braços, como um deus hindu, numa sopa primordial que integra diferentes
ingredientes. As linhas delgadas em verde e azul fazem um jogo de alternância e
acabam se beijando, entremeando-se, como uma hera tomando lentamente conta de
um muro, acabando por se revelar fortíssima, sempre trabalhando quietamente,
sempre crescendo com pequenos passos de bebê, revelando-se soberana, sempre
subestimada, sempre invisível, nunca sendo percebida e, por isso mesmo, vencendo
ao final, na capital necessidade de discrição, pois ser discreto é ser invisível
como Tao, a elegância eterna, a força transparente que permeia tudo e todos,
uma força interessante, que rechaça o óbvio, no desafio de se resolver uma
equação matemática. É como um vale, sendo cortado por um rio, numa força
titânica natural, como raios de trovão, como no poderoso laço mágico da Mulher
Maravilha, instrumento que faz com que a pessoa enlaçada só fale a Verdade,
nunca mentindo, no que o Espiritismo chama de “Espírito da Verdade”, como nos
Dez Mandamentos, parâmetros morais que visam guiar a evolução do Ser Humano na
Terra, e a Humanidade tem diante de si um grande caminho moral a percorrer,
como na construção ética científica: Até onde o Ser Humano pode ser atento
cientificamente estando, ao mesmo tempo, atento ao moral, ao correto? Esta tela
tem um dourado profundo, severo, na universalidade do Ouro, elemento nobre
encontrado na América pelos navegadores espanhóis, na eterna obsessão humana
por poder, na insatisfação infeliz de um rei que não está contente com o
próprio reino, querendo sempre mais, muito mais. A Ambição é inimiga da Paz. É
como a majestosa e icônica máscara mortuária de ouro de Tutancâmon, na busca
humana em projetar, em metais preciosos e pedras preciosas, a nobreza de Tao,
que é a plenitude psíquica. O Ouro faz metáfora com a Nobreza; não é a Nobreza em si. Então, temos um Ser
Humano eternamente confuso, nunca conseguindo observar além de projeções,
confundindo nobreza psíquica com nobreza física, nunca vendo que o Pensamento é
melhor do que a Matéria. Temos aqui rios retilíneos, que rechaçam para sempre a
tortuosidade patética das emoções, ou rechaçando uma pessoa bêbada. São rios de
uma cidade altamente planejada, como nas cidades metafísicas, donas de Arquitetura
nobre e deslumbrante, no problema de que o Ser Humano ama os palácios mas
ignora os campos, a beleza do ar livre, com florestas que vestem roupas
majestosas. É como uma pirâmide de cabeça para baixo, subvertendo a ordem
vigente, no poder um artista em “virar o Mundo de cabeça para baixo”, dizendo
que os últimos serão os primeiros, ou seja, aquele que for mais apegado à
Matéria terá dificuldades para compreender o Imaterial, o vazio sedutor de Tao.
É como um grande morcego dourado abrindo as asas, na beleza superior da
perfeição de florestas psíquicas, no modo como a Era Elizabethana acabou por
exaltar a beleza dos campos ingleses. É aqui um objeto fabricado, na tentativa
de compreendermos o que é a Matriz que nos rege.
Acima, C9216, têmpera acrílica sobre tela, 120 x 150 cm, 1992. LS traz aqui
uma ludicidade, e não sabemos se estamos diante de uma profundidade ou de uma
saliência, no modo como tudo traz em si a própria contradição, na ironia de
Tao, o grande piadista. É algo como MC Escher, que brinca com o espectador. São
faces de uma pedra esculpida, como um diamante, no modo como o humilde, o pés
no chão, brilha em sua simplicidade, pois a elegância só pode existir na
limpeza. É um tabuleiro de xadrez modificado, em três dimensões, numa obra de
apenas duas dimensões! O azul é como se houvesse janelas, buracos pelos quais a
obra respira em um dia de Sol ardente, em “nuvens de algodão”, numa
meteorologia agradável, num respiro, como num anúncio publicitário limpo em um
jornal, em meio à saturação gráfica jornalística – nesta, onde não há texto, há
foto. Portanto, o que é menos, é mais. Este frio azul faz contraste com o
vermelho ardente, no vermelho sanguíneo, na cor da carne, dos bordéis, onde
tudo cheira a sexo, levando a uma saturação, pois o cliente, depois do sexo,
não mais quer permanecer no bordel – é uma transação econômica, uma troca.
Então quente e frio se unem, proporcionando uma temperatura agradável, num
lugar onde não se sente frio nem calor, naqueles dias em que nem suamos, nem
temos calafrios, na temperatura ideal, característica metafísica. É como o alto
de um prédio sendo observado na diagonal, com sacadas proeminentes ou vazadas –
côncavas ou convexas. Ao espectador cabe escolher qual modo de vista adotar,
sendo tudo possível, como numa intertextualidade, quando há um jogo de termos,
como, por exemplo, “Encha o nosso SAC”. É o jogo entre metafórico e literal. Neste
prédio, não sabemos se as janelas são azuis ou vermelhas, e não sabemos se as janelas
azuis estão, na verdade, refletindo um dia de Céu de Brigadeiro. É um prédio
extremamente limpo, sem qualquer sinal de sujeira, num lugar onde há beleza por
todos os lados. É uma arquitetura clean, sem excessos, sem desnecessidades, na
vitória da Simplicidade, num design futurista, como pirâmides, estruturas de
linhas muito simples, indo direto ao assunto, ao nervo da questão, numa energia
objetiva, direto ao ponto, na racionalidade das mentes sábias, simples em suas
linhas sem frescuras. Temos aqui uma perspectiva renascentista, num movimento
que deu novo fôlego a uma Europa ainda medieval, “engessada”, fazendo do
Renascimento a nova onda de frescor e novidade, junto com as Navegações, um
momento de progresso na Humanidade, a qual está o tempo todo crescendo,
buscando a cura de doenças. Este prédio é frio e impessoal, e representa o
Racional, com escritórios de decoração limpa, em um ambiente de labor em que a
pessoa coloca em uso o lado “reto” de si mesma, na energia fálica de uma
agulha, indo direto ao ponto, como um bom psicoterapeuta, que faz rapidamente
um diagnóstico, identificando de forma terrivelmente clara o problema do
paciente, ajudando este a desbravar caminhos e a contornar as vicissitudes. É
um olhar frio, isento, no modo como o psicoterapeuta não pode ser um amigo
próximo do paciente, pois, do contrário, o diagnóstico, embebido em emoções,
não seria preciso. Então, neste prédio, não há lugar para emoções, mas para a
produção de pensamento retilíneo, como na caneta fálica de um arquiteto,
desenhando prédios de majestade gráfica, buscando sempre a depuração, no modo
como o crescimento moral do espírito é o sentido da Vida. Neste quadro, temos
também um jogo de iluminação, e umas faces estão mais iluminadas do que as
outras, trazendo, assim, a Terceira Dimensão. É um quadro que traz
luminosidade, na clareza de pensamento, na vitória régia da Luz sobre a
Escuridão, ou seja, a serpente da malícia sendo esmagada pelos alvos pés de
Nossa Senhora. O Conhecimento vem para erradicar a Ignorância, esmagando
preconceitos tolos, preconceitos escuros, pesados e fechados, estando estes cheios
de teias de aranha.
Acima, C9325, têmpera acrílica sobre tela, 110 x 110 cm, 1993. Aqui, temos
novamente um LS ilusionista. Linhas oblíquas tensas, num balé duro, truncando.
São como raios de trovão, no termo “chocante”, dos anos 80, num dedo sendo
colocado na tomada, levando um choque de realidade, numa verdade sendo revelada
terrivelmente, no modo como um poder ditatorial pode se tornar terrível,
escravizando o cidadão. Aqui, as linhas retas lutam para trazer alguma fluidez
ao quadro, e temos aqui um efeito de movimento, e parece que o quadro se mexe,
num organismo vivo, sempre respirando, sempre lutando pela vida, como árvores
em uma floresta, lutando por um lugar ao Sol, na inevitável competitividade da
Vida em Sociedade, numa competição que inicia cedo, já no início do Ensino
Fundamental, numa classe em que os alunos competem para ver quem tira as notas
mais altas, como num agressivo concurso de beleza, um evento que, apesar de
parecer feminino e glamoroso, tem toda uma face masculina competitiva, como espermatozoides
competindo pelo óvulo, pela taça do campeonato, o receptáculo feminino, a
goleira no campo de futebol, a Grande Dama passiva. Temos um LS no jogo entre
luz e sombra, numa luz ideal, a qual, apesar de tão clara, não fere os olhos,
como olhar para um Sol metafísico, o qual, apesar de brilhar intensa e
majestosamente, não fere os olhos de quem o olha diretamente. Este quadro foi
concebido no início dos anos 90, década que testemunhou a escalada da Internet,
dos e-mails. Esta obra parece ter sido feita em um computador, tal a técnica de
Sacilotto. As listras retas estão “violadas” pelo movimento no quadro, e não
temos aqui uma mera bidimensionalidade, mas profundidade abismal. É como uma
lombriga quadriculada, movendo-se em um intestino, revelando-se intrusa, no
modo como a Arte é essa intrusa, essa lombriga, mas nunca sugando e, sim,
nutrindo. A Arte é uma lombriga do Bem. São como as listras de um pijama, numa
cena onírica, em que os enigmáticos códigos dos sonhos tomam conta do cérebro
de quem dorme. É um corredor digno dos filmes fantásticos de Tim Burton, um
diretor que explora o esquisito, o estranho, o bizarro. Aqui, as linhas revelam
pontinhos, ou seja, pessoas interconectadas, na Grande Internet Cósmica, na
sensualidade una de um Cosmos unido, unificado, pois como é sexy o fato de
estarmos todos interligados! As linhas tensas unificadoras vão revelando um
Mundo conectado, no fato de que a Humanidade não mais pode aceitar a Vida sem a
Internet – forma-se um poderosíssimo paradigma, indestrutível. As
enciclopédias, por exemplo: sou do tempo da Enciclopédia Barsa, com quase vinte
volumosos livros. Hoje, é tudo num clique. Como no termo World Clique da finada banda disco Deee-Lite: uma panelinha mundial,
num CD lançado entre os anos 80 e 90, já anunciando a onda avassaladora
internética. Apesar da tensão, essas linhas insinuam uma liquidiscência, no
amor espiritual, desprovido de matéria, desprovido de corpo, de sexo, de raça,
de cor. É uma retilinidade aquosa, na deliciosa sensação de Liberdade e Paz da
EEC – a Experiência Extracoporal espírita, quando a pessoa, ao adormecer,
continua consciente, com o espírito se descolando do corpo carnal, como se
mergulhar numa piscina térmica, o Grande Útero Divino. Esta cena parece um
doce, um pirulito, no doce pecado da Gula – o que há de errado em se sentir
prazer? Aqui, sequer vemos um fiapinho de sujeira, como se alguém, munido de um
pano, tivesse limpado a cena, como os polidos japoneses, na cena que vi em que
uma moça japonesa, numa esteira de bagagem de aeroporto, limpava cada mala que
entrava na esteira. Ou como, em torneios mundiais envolvendo o Japão, os
japoneses, ao deixar o estádio de competição, limpam absolutamente tudo ao seu
redor, sequer deixando vestígios. E não é a Bandeira Nacional Japonesa de uma limpeza
incrível? Mas, como diz Tao, a maioria das pessoas se deixa seduzir pela
sujeira.
Referência bibliográfica:
Obra. Disponível
em <www.sacilotto.com.br>. Acesso 17 out. 2018.