Willys de Castro traz uma
verdadeira paixão pela forma geométrica, num casamento entre Matemática e
Sensibilidade. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus.
Boa leitura!
Acima, Composição. Guache sobre papel. 1950. 25 x 21 cm. Um labirinto, numa
pessoa perdida, querendo se encontrar, querendo encontrar algum sinal, alguma
pista, alguma noção, no tormento de almas que não se encontraram na Vida, na
luta diária para que os meandros labirínticos tenham algum sentido. É o
labirinto do videogame clássico Pac Man, dos anos 80, em que um comilão precisa
comer pontos e fugir de fantasminhas que atormentam o labirinto. É como o
formato de um cérebro, cheio de vias e ruelas que podem enganar as almas
perdidas. O que será de minha vida? São as ruas de uma cidade complexa, que não
foi planejada por um Niemeyer, com construções e vias que foram se alocando
gradativamente, resultando em um labirinto o qual somente os nativos sabem
desvendar, deixando turistas em polvorosa, com estes mal sabendo como se
deslocar por tão complexa urbe. Este quadro é como um vitral, tão rico em
cores, enchendo de cor o interior de um templo, na alegria de quem tem o que
fazer da Vida, sem sofrimento, apenas com trabalho. Neste labirinto, o Minotauro
está à espreita, esperando que vítimas desavisadas sejam pegas de surpresa,
como na toca de Laracna, monstro de Tolkien, num buraco escuro e fétido, cheio
de meandros traiçoeiros, com as vítimas sendo presas em uma charada insolúvel, no
monstro abocanhando as presas e se banqueteando. Aqui é um jogo truncado, sem
linhas orgânicas. É o interior de uma colmeia, dentro da qual somente as
abelhas sabem se deslocar, no conforto de quem está completamente adaptado à
sua própria casa, numa capacidade enorme de adaptação, como num artista bem à
vontade em seu próprio atelier, seu escritório, seu canto de labor, de sentido
da Vida, pois qual a esperança para os que não trabalham? Temos um diálogo
entre linhas finas e grossas, e parece um tanque de tratamento de água, um
serviço essencial à Vida em Sociedade, pegando a água suja e tratando-a, em uma
das necessidades mais básicas de um ser vivo – a Hidratação. Então a água, com
suas infinitas linhas tortuosas, insinuantes e liquidiscentes, move-se por este
labirinto truncado, sendo o Feminino tortuoso que se esgueira com uma serpente
por este cenário, tão racional, tão clean. Então, duro e mole se abraçam na
dança cósmica erótica da junção de opostos, na energia que permeia todo o
Cosmos, na sensualidade das fotos do telescópio Hubble, quando este fotografou
um verdadeiro ninho de galáxias, muitas e muitas galáxias, num mistério: Por
que o Universo é tão grande? O que tem depois de tudo que vemos? Existe uma
parede limitadora? E atrás dessa parede – tem o quê? O Ser Humano é
inevitavelmente ignorante. Temos aqui uma assimetria gritante, num Willys um
tanto alheio a simetrias, querendo buscar um equilíbrio menos óbvio. Estas
linhas são dinâmicas, como se quisessem se encontrar, passando umas pelas
outras, numa busca incessante, visto que tudo é processo. São como tripas
digerindo o alimento, com todo um itinerário a ser cumprido, como no curso da
Exposição Agroindustrial da Festa da Uva de Caxias – o visitante tem que passar
por tudo, como visitando o interior de uma cobra de cabo a rabo. Aqui, temos
muito da cor preta, a cor da Discrição, do Luto, trazendo uma nesga de uma
noite, num céu sem estrelas, estéril, simples, sem ilusões nem idealizações, na
necessária falta de expectativa, uma falta que tem que ser praticada para que,
assim, seja evitada a frustração. Este quadro tem movimento, com elementos
fazendo amor uns com os outros, numa orgia gráfica, em que há uma busca incessante
por adaptação e aquietação, como numa pessoa se revirando na cama, buscando ter
a posição ideal para poder dormir bem. São placas tectônicas se realocando,
causando comoção. É como um código binário de computador, na construção técnica
do espírito, com códigos racionais e frios sendo processados, no que o
Espiritismo chama de “Mortificação”: lave-se de ilusões e de tolos sinais
auspiciosos, pois a Vida tem toda uma face séria, seríssima. Nenhuma vida é em
vão. É um labirinto mutante, sempre pregando truques em seus andarilhos, no
fato de que, da Vida, pouco podemos prever, com esquinas guardando surpresas. É
o senso de humor de Tao.
Acima, Estudo para Cartaz da V Bienal de São Paulo. Guache sobre papel
milimetrado. 1959. 66 x 71 cm.
Os triângulos vermelhos centrais formam o sinal de energia radioativa, num
aviso: Não chegue perto demais. Tome cuidado. A Arte é como uma bomba atômica,
só que uma bomba do Bem, que traz entendimento e elevação, na missão da Arte em
fazer de nós humanos pensantes. É também o sinal de reciclagem, convidando a
Humanidade e fazer da Terra um lugar limpo e puro, visto que Tao é isso –
limpeza. Ater-se ao essencial, varrendo o desnecessário, o fútil, o ilusório, o
tolo. WC tem um trabalho assim, limpo, num artista que entende o poder da
Simplicidade, da clareza de expressão. Estas três cores são como etnias, como
nos anéis da Bandeira Olímpica, convidando o Ser Humano a celebrar o que nos
faz irmãos, ou seja, nosso Pai, na eterna missão da Religião – unir os
diferentes. É o uso de formas iguais, triangulares, para compor cenários
diferentes. De algumas formas, vemos gravatas borboletas, na aprumação, na
preparação para um grande e luxuoso evento, na tentativa humana de compreender
a agenda social metafísica, uma dimensão onde tudo é limpo, organizado e belo.
A borboleta representa a ressurreição, numa lagarta que morre em um túmulo, que
é o casulo, e renasce bela e colorida, pronta para uma nova vida, como um ser
de carne desencarnando, deparando-se com a realidade de que a Vida continua,
havendo na Morte apenas uma vírgula, apenas um virar de página. As asas dos
anjos são a Liberdade de Pensamento, na sensação libertadora que é o Amor, pois
quem cuida do Mundo não se sente tão agrilhoado. Aqui, num selo à direita, temos
cinco números cinco, numa metalinguagem – número falando de número. São os
dedos de uma mão, filhos de um mesmo rio, de um mesmo pulso, numa árvore que
une as pessoas em torno das mesmas raízes. Nesta obra, o papel milimetrado é o
pensamento racional, organizacional, num âmbito técnico e matemático, numa
construção técnica, como em qualquer instituição de Ensino. É a racionalização,
fazendo da Arte uma expressão de esforço racional, querendo representar esta
face fria da existência, a face do Conhecimento. Os triângulos aqui são
unidades básicas, como átomos indivisíveis, como espíritos indivisíveis, os
quais podem render muitas combinações, num eterno exercício lúdico de
recombinações. O centro do quadro é o centro do sinal de reciclagem já
mencionado, e parece uma Cruz de Malta, símbolo dos guerreiros cristãos, como
no peito do herói He-Man, na luta que é partir em busca de reconhecimento e
realização, no modo como já ouvi de um artista: A pessoa só se realiza quando
morre, ou seja, viver é lutar. Se até a talentosa diva Marília Pêra já pensou,
frustradinha, em largar o ofício de atriz, ouviu da colega Fernanda Montenegro:
Farás o quê? Vender bananas? Ou seja, a Vida é a força para virar as páginas.
Esta página quadriculada de Willys de Castro é uma página pronta para ser
virada, num novo momento que terá de ser encarado com coragem, com força, pois
já ouvi de uma médium: Quem tem muita vontade, consegue. Aqui, o tom de amarelo
é o papel envelhecido, no inevitável envelhecimento humano, na cor dourada de
um dente de ouro, na inevitável passagem de Tempo, nos relógios derretidos de
Dalí – tudo acaba se derretendo, mesmo a mais dura rocha. O vermelho cheira a
Chanel número cinco, no encanto feminino de uma sala perfumada, agradável, como
são agradáveis as linhas simples de um desenho, numa Vênus e Marte de
Botticelli expressados de forma clara, claríssima. É o poder da Luz, da
iluminada Galadriel de Tolkien, no poder de revelar mistérios, como numa Julia
Roberts ao final esclarecedor de um filme, conectando-nos a esta aurora do
desencarne, na dimensão acima de nós, uma dimensão que nos espera, e nos
aguarda junto a entes muito queridos. Estes triângulos de WC dançam frente aos
nossos olhos, brincando entre si, numa dança de Arte, pois, já disse aqui no
blog, as Artes estão umas dentro das outras.
Acima, Interpostos. Guache sobre papel. 1959. 20 x 40 cm. Temos uma dualidade,
entre negativo e positivo. São como dois pontos, esperando por uma definição.
São janelas que levam a destinos diferentes. O quadro é dividido em duas
etapas, sendo uma o dia e outra a noite. Em ambos os lados, a noite é a mesma,
negra, imprevisível, misteriosa e densa, sem estrela alguma, apenas com um céu
fechado, com janelas que dão para o nada. É a inevitável dúvida existencial:
Para onde esta vida está me levando? São janelas gêmeas, idênticas, só que cada
uma em um pano de fundo diferente. O verde cinzento é o musgo, numa paisagem
polar, fria, dura. É a natureza gélida, num ambiente duro e glacial, na
desolação da falta de um lar quentinho e acolhedor. À esquerda, temos gelo
branco, numa estação de esqui, na dureza do gelo, num ambiente inóspito, pouco
acolhedor. São dois olhos negros em uma face, entregando uma noite
irremediavelmente negra, com dois olhos que nada veem. São a marca de dois
dentes de vampiro, sugando a vida de uma veia, num vampiro de almas, um
psicopata, aproveitando-se de almas ingênuas e despreparadas, almas expostas a
esta vampirização, a este sugamento de vida. É uma dualidade entre claro e
escuro, como no filme dos anos 80 “O Segredo de Áquila”, em que um casal é
separado por uma maldição, sendo ela condenada a ser uma águia ao dia e ele
sendo condenado a ser um lobo à noite, num casal que nunca podia se encontrar
de fato. É o jogo entre as estrelas da manhã e do entardecer, as quais, apesar
de ser a mesma estrela, são diferentes, em momentos diferentes, aparecendo como
opostos. Os dois quadrados negros dialogam entre si, e são iguais, apesar de
estarem em fundos de cores diferentes. São polos diferentes, estabelecendo uma
energia, na energia magnética entre os opostos, na circulação de energia entre
os polos da Terra, do modo como a polaridade da Terra filtra os raios nocivos
do Sol, protegendo nosso planeta de energias perniciosas, numa espécie de
filtro protetor, como um protetor solar, filtrando os raios nocivos que podem
agredir a pele. São dois olhos inúteis de morcego, que mal podem enxergar,
podendo só ver por meio da emissão de raios sonoros. São duas janelas de uma
mesma casa, levando à mesma noite, só que em contextos diferentes, trazendo a
mesma noite para a cena, numa fechada noite de Lua Nova, negra, densa. São janelas
diferentes que levam ao mesmo universo, ao mesmo céu, sendo caminhos diferentes
que acabam no mesmo destino noturno. São dois blocos de mármore, só que de
cores diferentes, mas de mesma densidade, resultando no mesmo resultado de uma
equação. São dois momentos, como num caso sendo julgado em duas instâncias. São
dois momentos – um diurno e um noturno, como no bloco de fotografias de um
antigo laboratório de revelação fotográfica de Caxias do Sul: o início do bloco
trazia Caxias ao dia; outro, Caxias à noite. É um mesmo planeta sendo apreciado
de duas formas. É um jogo vibrante entre claro e escuro. O negro permanece
imutável, mesmo ao dia, mesmo à noite. São dois olhos frios de aranha,
avistando uma presa capturada na teia, e a presa, quanto mais se debate, mais
presa fica, virando uma refeição que vai ser lentamente absorvida pela aranha
esfomeada. São olhos sem emoção, indiferentes, com apenas o simples desejo de
se alimentar. É como um zíper de calça, pronto para se encaixar e fechar a
calça, com peças de ajustando. O gelo e o musgo estabelecem um contraste, e
podemos ouvir o som de gelo sendo cortado, causando-nos arrepios. É como um
papel dobrado ao meio, e o quadrado negro é duplicado, como numa prensa de
imprimir, como numa xilogravura, repetindo padrões. O quadrado negro se repete
por panos de fundo diferentes, permanecendo imutável, independente do pano de
fundo, adquirindo integridade, nunca sendo influenciado pelo contexto. São duas
janelas que levam à mesma noite, só que em salas diferentes, em momentos
diferentes.
Acima, Projeto. Guache sobre papel. Data desconhecida. 20 x 40 cm. WC traz aqui uma
divertida ilusão de ótica, pois os quadrados são de mesmo tamanho, mas a ilusão
faz parecer com que sejam diferentes em tamanho. É a questão das ilusões da
Vida, quando um indivíduo observa o Mundo de forma idealizada, míope, vendo
coisas que não são reais, desligando-se no Senso Comum, do Mundo, e mergulhando
em um submundo, um lugar onde as mentiras de subconceitos tomam forma e
agrilhoam a mente da pessoa que vaga por este submundo. Quando a pessoa deixa o
Submundo, é uma libertação, numa mente que passa por um processo de
desintoxicação, o qual pode levar anos. Aqui, temos a dualidade entre Yin e
Yang, os gêmeos que regem o Universo. É como um papel dobrado ao meio, sendo
desdobrado, como páginas folheadas de uma revista, como as páginas da Vida,
sempre reservando surpresas, na eterna incapacidade do Ser Humano em prever nitidamente
o Futuro, uma incapacidade que é boa e divertida, além de necessária, como é
dito no filme Dogma: Deus é solitário
mas divertido, muito engraçado, num filme que, no frigir dos ovos, faz uma
homenagem à fé religiosa, numa declaração de amor, numa ironia, pois, no filme,
Deus é uma mulher, abalando as crenças patriarcais universais, pelas quais Tao
é masculino, quando, na verdade, o espírito não tem sexo nem sexualidade. É a
magia dos palhaços, no talento humano da irreverência, no sentido de que a Vida
não precisa ser tão sisuda, mas com uma pitada açucarada, engraçada: Quando eu
não precisava, eu recebia ajuda; agora que preciso, não obtenho ajuda! É como
uma janela sendo aberta, na lembrança que tenho quando, em uma praia de
Salvador, abri uma janela e fui surpreendido por um jardim muito bonito. Foi
uma surpresa, e agradável. Que sem graça seria a Vida sem surpresas! Que
desinteressante, que óbvio, que monótono. A cor cinza é a cor da discrição, em
um céu no qual é travada a batalha entre Luz e Escuridão, na imaginação binária
da criança, pois, para esta, algo ou é do Bem, ou é do Mal. Este quadro tem uma
simetria assimétrica (!). É como uma máquina de contar cédulas de dinheiro,
numa precisão matemática, cirúrgica, no modo como os ufologistas creem que a
tecnologia extraterrestre produz atos cirúrgicos de extrema precisão, uma
precisão que faz parecer com que o Ser Humano seja muito tosco. É a divisão de
24 horas em dia e noite, numa totalidade, no modo como a Terra é composta por
uma face iluminada e outra escura, na ironia de que, na Luz, nada mais natural
do que a Escuridão. É como uma gaveta sendo aberta, como num divã psiquiátrico,
no qual o paciente, para fazer valer o tempo e o dinheiro investidos na
psicoterapia, tem que abrir todas as gavetas de sua mente para o terapeuta, num
ato e entrega e confiança, num fio que faz com que o diagnóstico seja o mais
preciso possível, havendo no terapeuta uma visão fria, muito fria, no modo como
o paciente e o terapeuta tenham um vínculo extremamente racional, desprovido de
Emoção. É como gêmeos que, apesar de terem compartilhado um útero, são pessoas
completamente diferentes, na questão da individualidade, no modo como não
existem metades de uma mesma laranja, mas pessoas individuais, especiais em sua
peculiaridade, pois Tao não cria filhos iguais, como na riqueza da galeria de personagens
do gênio Chico Anysio, coleção na qual não podemos dizer que há personagens
mais ou menos parecidos, no poder da mente inventiva. É como completar um álbum
de figurinhas, tendo em cada figura algo diferente, peculiar, como em panteões
de super-heróis, tendo em cada um dos heróis poderes específicos, próprios,
individuais – Tao nunca faz dois filhos idênticos, no esforço criativo, no
critério para se rechaçar repetições, no desafio de um artista com décadas de
carreira, no desafio de não se repetir. Este discreto tom de azul é nobre, no
sangue azul psíquico que todos temos, pois somos todos príncipes. Somos sim,
mas de forma elevada, de forma de pensamento. Na Dimensão Metafísica, a Mentira
se desfaz.
Acima, Projeto para Pintura. Guache, grafite e cola sobre papel. 1958. 50
x 49 cm.
Este quadro me lembra de uma professora que tive na faculdade, quando a mestra
solicitou aos alunos que compusessem conceitos com apenas quatro quadrados,
conceitos como “ordem” e “surpresa”. Um grande desafio de criação. Aqui temos
um prédio frágil, desabando, como um WTC no 11 de setembro, o dia em que a
Terra parou. Aqui, temos um quadrado rebelde, louco para se destacar, se
sobressair e adquirir identidade, diferenciação, partindo em busca de si mesmo
no Mundo: O que será que devo fazer de minha vida? É o grande desafio
existencial, e verás que filho teu não foge à luta, neste campo de batalha que
recompensa quem leva o desafio a sério. Antes do quadrado rebelde, havia uma
simetria, uma harmonia, mas o quadradinho rebelde não estava feliz, e sentia-se
muito agrilhoado às expectativas do Mundo, como tive um amigo no Ensino
Fundamental, o Fulano. Fulano era extremamente inteligente, estudioso e CDF, e,
desde sempre, foi-se construindo em cima de Fulano toda uma expectativa: Fulano
tem que fazer Medicina, diziam todas as pessoas ao seu redor. Fulano prestou
vestibular para Medicina, e passou, é claro, em excelente colocação. Então
Fulano fez alguns semestres de Medicina, viu que não aquilo que queria, e
mandou tudo e todos àquele lugar, quando Fulano resolveu ingressar no curso de
Jornalismo. Ou seja, Fulano foi ser feliz, pouco se importando com o Mundo.
Bravo! Aqui, temos dois casais, só que um dos casais está se separando, e
sabemos identificar a desordem quando sabemos identificar a ordem, ou seja, há
base de comparação, pois se digo que algo é belo, é porque conheço o feio.
Aqui, é como um cigarro sendo apagado, num ciclo vicioso, no “vício” que um
artista tem em produzir, reinando feliz dentro de seu próprio atelier. Aqui,
temos um exercício de ruptura, num esforço para se sobressair, para
surpreender, para enfeitiçar as percepções do espectador. É como um anfitrião
preparando uma festa, esperando receber em grande estilo os convidados. O
espectador é convidado a entrar em uma “sala”, que é a mente do artista, numa
ironia, pois há outra sala, que é o lugar em que as obras estão expostas, como
na exposição cruel de um Jesus crucificado, numa humilhação, uma grande
humilhação frustrante, na necessidade que a Arte tem em tocar as pessoas, pois
é decepcionante ao artista ser ignorado como um mendigo na Rua. São as cores
rubronegras de Futebol, no desafio, na luta que é adentrar o campo do oponente
e deflorar a goleira deste, numa espécie de estupro. O artista quer “estuprar” o
espectador, num banho catártico, como Gloria Pires teve uma catarse no set de O Quatrilho, ovacionada pela equipe
inteira – técnicos, figurantes e atores. É uma libertação, como numa Cássia
Eller, que fazia do palco um verdadeiro pinico! Aqui, a ordem é frágil, abalada
por qualquer brisa amena, na fragilidade de uma flor, na fragilidade de uma
pessoa altamente sensível, uma sensibilidade que precisa ser protegida pela
camada fria do Yang, como um guardacostas salvando uma dama em perigo – o
autoencontro é dentro de si, e não fora. Este quadradinho rebelde faz uma
transgressão saudável, e quer muito quebrar a mesmice óbvia burguesa, como no
musical Hair, no qual a simplicidade
da cultura hippie se chocava com uma burguesia rica e fria – Arte e obviedade
não se misturam uma com a outra, é claro. Temos aqui uma fuga, uma ruptura, uma
desvirtuação, numa alma que decidiu tomar um caminho sombrio, querendo, de
algum modo, encontrar o Amor Verdadeiro, para saber, uma vez na vida, o que é
viver uma grande história de Amor, de entrega. É o filho pródigo que sai de
casa para se aventurar no Mundo, voltando para casa miserável como um mendigo
arrependido, aprendendo que o doce Verão passa e o Inverno chega, como um belo
circo, o qual levanta a lona e vai embora.
Referência bibliográfica:
Willys de Castro. Disponível em <www.escritoriodearte.com>. Acesso 3 out. 2018.
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