Antes de se encontrar como
artista plástico, Luiz Sacilotto trabalhou como publicitário e desenhista de
Arquitetura. Muitas de suas obras convidam ao um olhar além da visualização
frontal, convidando-nos a observar de vários ângulos. Os textos e análises
semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Composição. Óleo sobre brasilit. 24 x 41 cm. 1948. Uma
diversificação cromática muito divertida. O círculo vermelho é o Sol nascente
do Japão, no deus egípcio do disco solar, como um gongo, esperando para ser
tocado, anunciando algo – a chegada de uma visita ou a disposição do almoço na
mesa. O som é uma agressão auditiva, marcando a divisão entre dois momentos, no
modo como Jesus dividiu em duas a História da Humanidade. É uma gota de sangue,
como num exame de sangue, no modo científico ocidental de se fazer verificação
empírica, como cozinhar um macarrão, provando um fiozinho para ver se todos os
outros fios estão prontos. É o canal natal, pelo qual o indivíduo vem ao Mundo,
no túnel de luz que nos espera no desencarne, transportando-nos à dimensão
acima, um lugar onde só há gente boa, gente honesta, jogando os maliciosos no impiedoso
Umbral. Este quadro é um organismo, no qual cada órgão tem sua função, seu
papel, como na Vida em Sociedade, na qual o indivíduo tem que ter alguma
função, tem que produzir algo, senão é rejeitado como fezes, na grande latrina
das almas desocupadas – é a Justiça Divina, uma coisa séria. Temos algo de
quadriculado aqui, como um Mondrian, só que com maior diversificação cromática.
São como coloridos confetes carnavalescos, jogados ao alto como um espumante
sendo aberto, num momento de euforia, de extravasamento de demônios, no modo
como, em toda vida, há de existir uma pitada de diversão; por outro lado, não é
patético aquele que só se diverte? Temos alguns elementos negros no quadro,
numa noite fechada, na sedução da Vida Noturna, com boates que buscam seduzir o
frequentador, com pessoas que caem na sedução das Drogas, numa pessoa
agrilhoando a si mesma, pois nunca ouvimos dizer que o Inferno é você mesmo? Os
elementos em amarelo são uma majestosa aurora, num nascer que renova a Vida
sobre a Terra, num despertador tocando, trazendo o indivíduo para uma nova
jornada, um novo momento. É a magia de despertar em um mundo plácido, cheio de
beleza, com as cores douradas de uma renovação, de uma nova perspectiva, no
modo houve uma aurora na vida de Sacilotto, quando este despertou para a Arte,
abraçando a si mesmo e abrindo o próprio coração para o Mundo, como me disse
uma psicóloga: Aonde quer que vá, vá com todo o seu coração, pois quem ama o
Mundo, por este é amado. É uma meritocracia comportamental, ao contrário de
nossos irmãos umbralinos, que sofrem. Quebrando um pouco a quadriculação, o
quadro traz linhas orgânicas, como na sinuosidade de um violão, no formato do
corpo da mulher, no modo como as modelos magérrimas fazem poses para parecer
que têm mais curvas do que realmente têm, e isto é irônico: A Indústria da Moda
exige modelos magérrimas e, ao mesmo tempo, exigem que elas pareçam mais voluptuosas
(!). Na porção superior do quadro, uma forma que parece ser a cabeça de um
cachorro, animal que representa a fidelidade incondicional, ou seja, o melhor
amigo do Homem, como os cães farejadores em busca de drogas em aeroportos,
auxiliando na incessante guerra contra a drogadição, pois as drogas são sinais
auspiciosos, ilusões, reduzindo pessoas a seres patéticos. As partes em azul
são a alma sonhadora, com a “cabeça nas nuvens”, no modo como o sonho, acompanhado
de labor, tem sua importância, pois como é pobre a vida de quem não sonha nem
um pouquinho! O quadrado púrpura, que abriga a assinatura do artista, é a
sofisticação, é a cor de um hematoma, nos inevitáveis socos que a Vida vai
dando em cada um de nós, fazendo com que o indivíduo tenha a força para se reerguer
e continuar amando a Vida. É necessário um espírito olímpico! Ao lado do
elemento em púrpura, um quadrado dividido ao meio, como um Frankenstein, uma
colagem, uma clipagem, unindo peças separadas e fazendo algo novo, como uma
colcha de retalhos.
Acima, Composição. Óleo sobre brasilit. 40 x 58 cm. 1948. Este quadro
pertence ao Museu de Arte Moderna do Rio. Um vitral de igreja, talvez num
Sacilotto religioso, mesmo que de forma inconsciente. Aqui, a herança
mondriânica é mais clara, com arestas e formas truncadas, duras, manifestando
toda a dureza do Mundo, um lugar em que a pessoa tem que provar que é boa e
competente, pois, sem provas, nada se confirma, numa exigência racionalista,
objetiva. Os vitrais coloridos de igreja quebram a sisudez religiosa, numa
igreja que exige que o devoto se confesse, fazendo com que o devoto se
arrepender de atos naturais e inofensivos, como a Masturbação, pois, como ouvi
numa palestra inesquecível de Marta Suplicy, a Adolescência é uma época em que
se masturbar dez vezes por dia é perfeitamente normal, ou seja, o Ser Humano
tem que aceitar sua própria natureza. Aqui, temos uma mágica cesta de Páscoa,
cheia de doces multicoloridos, no sentido de que o Espiritismo crê que, na
Dimensão Metafísica, há doces deliciosos para serem degustados, como numa
chocolateria gramadense, mas numa dimensão mental na qual a pessoa não engorda
pelo formidável pecado capital da Gula – olha a Igreja aí de novo. O que há de
errado em se sentir prazer, ora bolas? Neste vitral, temos algumas formas
tortuosas, no aspecto orgânico, como sangue líquido circulando por um corpo, ou
como uma seiva nutritiva, sempre circulando, sempre ventilando, sempre
alimentando corpos e estruturas. Temos aqui vias de uma cidade que não foi
planejada, numa urbe que foi se desenvolvendo gradativamente, compondo um
semilabirinto o qual apenas os moradores da cidade compreendem completamente,
desafiando o visitante, como entender perfeitamente a malha de metrô novaiorquina
– eu até tentei andar de metrô em NY, mas, quando cheguei à estação
subterrânea, achei tudo de um aspecto medonho, tão medonho que desisti de me
aventurar pelo subway. Como na obra de Romero Britto, a cor preta tem um papel
decisivo, pois o negror coadjuvante tem a função demarcadora, estabelecendo
limites entre os subcobjuntos multicoloridos, estabelecendo ordem e respeito à
propriedade alheia, pois há uma doutrina, desculpem-se, que prega o desrespeito
a outrem, à propriedade de outrem e à liberdade religiosa. No quadro, as partes
em azul são como se estivessem vazadas, proporcionando que o espectador flerte
com um belo dia de céu azul, numa cena de limpeza e certeza, num ar puro
circulando como fina melodia na Dimensão Metafísica, o Reino dos Céus que nos
espera após o inevitável Desencarne. É uma nova perspectiva, e a Arte tem esta
função, a de assinalar novos tempos, renovação, arejamento, como o
Impressionismo “estuprou” a Pintura Tradicional Acadêmica. Arte é isso –
jovialidade, como num da Vinci, que permaneceu jovial e bem-humorado até
morrer. Aqui, a diversidade proporciona convívio pacífico, com as
individualidades sendo respeitadas, dando nota zero aos que se acham
proprietários de outrem, pois Liberdade e Prazer andam juntos – nada de errado em
encontrar contentamento e alegria. Este é um vitral que foi estilhaçado pela
Reforma Protestante, numa época em que o Respeito à Diversidade era
absolutamente ignorado, precisando haver uma revolução para se trazer os
valores contemporâneos de Igualdade. Esta explosão cromática traz uma
cornucópia nobre e farta, nutrindo fartamente os súditos de um reino, num
regente amoroso, que se coloca a serviço do Povo, nunca se opondo a este, como
diz Tao: Nunca atrapalhe a escolha de um súdito em ser um pacato cidadão, um
súdito que fica quietinho no seu canto, vivendo a Vida com simplicidade, pois
quando há contentamento, nada significam talheres de ouro maciço – a Vida é boa
quando é simples. Temos aqui um quebracabeça, sendo que cada um o monta do modo
como desejar, pois pobre do artista que tem que produzir atrelado a uma
ideologia opressora. Nesse sentido, o artista, sem Liberdade, não é artista.
Acima, Composição. Óleo sobre tela. 53 x 66,5 cm. 1949. Fios
sustentando pontes, na demanda de uma urbe gigantesca, na demanda de uma pessoa
que simplesmente precisa fazer Arte, numa demanda espiritual, no engarrafamento
de uma cidade enorme, como um intestino constipado, amarrado, numa crise de
fluxo, no prazer da catarse em se fazer cocô, numa sensação libertadora de
desamarra. Grades de uma prisão, projetando uma sombra dentro de uma cela, no
desespero de um detento em se libertar – não somos todos detentos? É a sombra
que um artista deseja projetar no Mundo, fazendo “o chão tremer”, na capacidade
do grande artista em causar impacto e comoção, como na declaração antiburguesia
que foi Titanic. É como uma máquina
de tear, no labor paciente do artesão, como na Divina Providência, tecendo as
vidas das pessoas, fazendo com que passemos uns pelos outros, como irmãos se
conhecendo e desejando o reencontro em uma dimensão superior, nas almas
saudosas, que fazem com que sintamos muita saudade. Mais acima, vemos uma forma
azulada no formato de uma mancha, ou de um fantasma, como um ovo sendo frito,
no modo como a cabeça de uma pessoa é um forno no qual “pães” são
confeccionados, no milagre cristão da multiplicação de peixes, assinalando que,
acima da Terra, há rios fartos, sem a miséria de quem é rico; sem a miséria de
quem é pobre(!). Essas barras são como uma xilogravura, um carimbo, na
necessidade humana em conhecer, organizar e categorizar, enchendo o Mundo de
graças e nomes, numa busca incessante por esclarecimento, na missão científica
em conhecer e iluminar, numa estrela d’alva, surgindo fria no céu escuro,
assinalando o início de uma revolução, de um processo de iluminação,
desaparecendo aos poucos em meio às cores douradas de um novo dia, numa terra
onde há beleza e limpeza por todos os lados. É uma promessa consoladora,
restando à pessoa sonhar. Esta “ponte” é como um leque sendo aberto, numa
oferta de múltiplas opções, numa pessoa que tem que decidir fazer algum
trabalho, alguma coisa produtiva, pois, do contrário, é insuportável a sensação
de nada fazer, como no Umbral, a dimensão maliciosa, um lugar sem algo
produtivamente bom para ser feito, numa absoluta falta de sentido e de
propósito. São como ângulos de um círculo, em lições matemáticas de pensamento
racional e frio, na missão nobre da Matemática em estimular o pensamento
lógico, inteligente, conhecimento este que abrange tudo. E como eu desprezava a
Matemática! Temos aqui alguns quadrados e retângulos, prontos para serem
desbravados e nominados, no frescor que este leque traz, na brisa de novas
ideias de revoluções, havendo na Arte um nervo revolucionário – não seria
horrível nunca mais haver novos movimentos na Arte? Temos aqui também algumas
quinas cortantes e agressivas, no formato piramidal de espinhos, arestas
esperando para ser aparadas, numa personalidade um tanto agressiva, cheia de
ímpeto, no modo como a pessoa agressiva tem que tomar cuidado para não se
tornar uma pessoa barra pesada, que pega pesado, esquecendo de ser sutil, discreta
e cavalheiresca. Temos vários subconjuntos negros, imprevisíveis, no que nos
espera pelas esquinas da Vida, “dando nos dedos” de quem acha que tudo já sabe,
ou seja, a arrogância é a serpente sendo esmagada pelos alvos pés de Nossa
Senhora, numa busca por apuro moral, busca esta que é o propósito áureo – a
Vida não vai nos fazendo pessoas melhores? São como escadas de uma enorme
mansão, absolutamente suntuosa, mas uma mera cópia das mansões metafísicas,
sendo estas lugares ao desencarnado, apesar deste não ter documentos que
comprovem a posse – a posse é uma ilusão material, pois sequer somos donos de
nosso próprios corpos carnais, os quais perecerão. É um cenário gigantesco de
uma produção antiga de Cinema, convidando o espectador a sonhar, principalmente
durante a II Guerra Mundial, período em que o Cinema tinha que pegar leve,
trazendo algum consolo ao espectador em meio às horríveis notícias bélicas da
época. Arte é isso – antídoto. É um plano que tenta compreender o Eterno, na
comprovação do poder imenso de Tao – jamais haverá fim. É o perfume da Vida
Eterna. Irresistível.
Acima, Vibração Ondular. Esmalte sobre madeira. 42,5 x 50, 5 cm. 1953. Teclas de um piano
em êxtase jazzista, no namoro entre as Artes. Ou como uma sanfona, produzindo
som, como os “noninhos” tocando gaita em frente a um restaurante gramadense,
convidando o cliente a apreciar Culinária e Arte. São trilhos de um trem, num
trajeto, como em Assassinato no Expresso
do Oriente, num trem cheio de assassinos conspiradores, no prazer em se
desvendar um enigma, um crime. É como o saudoso Jogo da Vida, da fabricante Estrela, num trajeto existencial que
passa por uma faculdade, pela construção de uma família e, por fim, a merecida
aposentadoria, ou seja, a chegada a uma dimensão onde a pessoa descansa para,
após, retomar a seriedade da Vida. É um trajeto, um desafio, uma trilha, como
um LP ou um CD girando, fazendo a pessoa caminhar, num itinerário, como no
trajeto nos pavilhões da Exposição Agroindustrial da Festa da Uva. São
pauzinhos tentando se organizar, numa dança, num balé, numa coreografia que
abrange cada membro do grupo, delegando papéis a todos, pois não é a Vida uma
grande ópera? E o rico poderoso desencarna achando que ainda é rico e poderoso:
nunca ouvimos que vão-se o anéis e ficam os dedos? Como no suicídio de Getúlio
Vargas, no apego ao Poder. É um teatro, como um ator que, depois da encenação,
despe-se do personagem e volta a ser a si mesmo, e o filme de uma vida é um
filme de Hollywood, com multidões observando encarnações, no indivíduo que, ao
desencarnar, sente-se como uma estrela voltando ao saudoso lar, recebido com
glória, numa infinidade de significado. Temos aqui o charme entre o preto e o
branco, num registro binário, numa grande estrela hollywoodiana fotografada em
preto e branco, com uma pele acetinada e cabelos deslumbrantes, aprumados. São
como espetos prontos para espetar a carne do churrasco, numa identidade
cultural, quando vi, certa vez, ninguém menos do que Paixão Côrtes almoçando
carne em um buffet em Caxias do Sul. São as “espetadas” que o psicoterapeuta dá
em seus pacientes, para que estes prestem atenção à própria demanda
existencial, espetadas que servem para ver se o paciente está vivo e consciente
de si mesmo, consciente de sua própria vida. É o termo “colocar os dedos na
tomada”, numa sensação desagradável, é claro, mas um remédio amargo que acaba
fazendo um tremendo bem à pessoa. Portanto, não devemos reclamar do aspecto
“feio” da Vida, pois o percalço vem para ajudar. São como sensuais venezianas
num dia quente de verão, deixando o quarto em uma penumbra sexy, numa cena de
prazer, de gosto pela Vida, num perfume de Verão, de férias, na pontinha de
melancolia quando o Verão acaba e a pessoa tem que voltar a encarar a Vida,
havendo nos objetivados um pouco menos dessa melancolia. Aqui, é uma trilha
viscosa deixada por um verme inofensivo, na construção de uma carreira
artística ou empresarial, na lição de cada momento, como uma cobra trocando de
pele, renovando-se, como trocar de forro um sofá velho, como descascar uma
fruta, como uma diva com décadas de carreira, chamando a atenção por sua
trajetória criativa e colorida, vibrante. É o termo que já ouvi para definir a
Linha do Tempo de usuários do Facebook: “penteadeira de puta”. Numa visão
machista, a mulher tem que ser imaculada e sem história, jovem para sempre.
Portanto, uma mulher artista aniquila este preconceito, havendo na Arte todo um
aspecto sociopolítico de contestação, rebelando-se contra um governo que ameaça
perseguir os opositores. Este quadro me lembra de um desenho da Pantera Cor de Rosa,
num apelo abstrato regado a música, numa experiência onírica em que os
elementos surgem da tela de forma estranha e instigadora, no poder da
Criatividade, sendo esta a obrigação de um artista. Esta trilha corta o quadro
de ponta a ponta, pervertendo os palitos retilíneos, submetendo estes à
liquidiscência inevitável da Vida, como em Moby Dick,
livro que, em um certo ponto, faz com que o leitor se sinta ondulando em um
barco em Alto Mar.
Acima, Abstração. Óleo sobre tela. 60 x 47 cm. 1950. Este quadro
pertence ao acervo do banco Itaú. É como um copo d’água derrubado sobre uma
toalha, nos inevitáveis acidentes do cotidiano, como diz uma canção: “Acidentes
acontecem; crianças crescem”. É a umidade tomando conta de um dia chuvoso,
úmido, brumoso. No canto inferior direito, uma cobra coral, traiçoeira,
perigosa, venenosa, esgueirando em meio ao mato para matar presas com seu
veneno irrefreável, como uma pessoa fofoqueira, que nada mais tem a fazer da
Vida – fofocar é uma perda de Tempo, pois fofoca e improdutividade andam
juntas. Desinteressante. Temos aqui um prisma poderoso, riquíssimo em cores,
numa explosão doce como um saco de jujubas, no modo como a Chiquinha não quis
dividir as balas com Quico, fazendo esta ficar com dor de barriga, pois tudo em
excesso é prejudicial – deitar na cama para descansar é bom e necessário, mas a
pessoa enlouquece quando fica tempo demais na cama. Temos aqui linhas tensas
oblíquas, dialogando com formas derretidas, como os relógios de Dalí, como na
tórrida superfície venusiana, um ambiente hostil ao Homem, no desafio da
Humanidade em desbravar o Cosmos, numa Humanidade ainda jovem demais. Um grande
losango alaranjado é uma deliciosa e perfumada laranja, madura no ponto, como
no slogan “Economizar é comprar bem”. Há aqui um jogo de transparências muito
sensual, com sombras suaves se movendo pelo quadro, como um protetor solar, uma
grande invenção. É como um tsunami esgueirando-se por terras secas, nas forças
titânicas da Natureza, no modo como o grande artista é uma onda selvagem e
gigantesca, arrastando as percepções do espectador, no modo como é feliz a obra
que causa comoção, incômodo e contestação, rompendo chãos e trazendo o Mundo a
um novo patamar – Arte é educar, mas de forma vibrante, divertida. Temos um
Sacilotto amante das cores, num arco-íris sedutor, num prisma de gotículas de
água, na promessa de um baú de ouro no fim do arco alegre, mas é uma promessa
apenas, pois o pós vida só acontece em um determinado momento, depois da
encarnação. É como a cor verde, que faz intermédio entre o amarelo e o azul,
duas cores que de nada têm em comum, ou seja, duas cores que guerreiam entre
si, em pura desigualdade. Então vem o verde e coloca-se entre os dois pólos
birrentos, construindo a promessa de um amanhã menos belicista e mais pacífico.
O verde não vai mudar o Mundo, mas vai trazer Esperança, pois já ouvi dizer que
a Filosofia não muda o Mundo, mas pode mudar a visão de uma pessoa sobre este
mesmo Mundo. Temos aqui linhas como um kilt, com linhas intercruzadas, como
complexos circuitos de um produto eletrônico, fazendo metáfora com a construção
técnica espiritual, quando a mortificação é necessária, vindo esta aniquilando
ilusões auspiciosas. Os percalços causam desilusões, e isto é bom, muito bom –
é capital. Temos aqui um namoro entre mole e duro, com linhas fazendo amor
entre si, num momento interessante de interação social, como um baile, numa
festa, num momento em que pontes são construídas. Então esta “ameba” curvilínea
se insinua, trazendo um filtro solar, uma sombrinha, um guardassol, fugindo da
obviedade solar e trazendo a discrição capciosa de uma sombra suave e sutil.
Aqui, a assinatura do artista está na parte superior do quadro, no modo como os
sonhos de artista estão lá no Céu, na Dimensão Metafísica, trazendo o desafio
de traduzir estes sonhos e trazer estes para cá, para a Terra, como já ouvi
dizer: O Ser Humano precisa tocar o Divino aqui, na Terra. A construção de
mitos é inevitável e, ao mesmo tempo, rechaçável. Dispa-se de bobagens
auspiciosas. E a serpente curvilínea se insinua sempre, fazendo fluir entre
vales a preciosa água, num símbolo antigo de fertilidade, no modo como a mente
artística não pode ser estéril, pois, se o for, produzirá qualquer coisa, menos
Arte. A Arte é filha da Liberdade, e viceversa.
Referência bibliográfica:
Obra. Disponível
em <www.sacilotto.com.br>. Acesso 17 out. 2018.
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