quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Cena de um Take Só



Nascida no Japão no início do Século XX e radicada no Brasil, Tomie Ohtake tem um instituto que leva o seu nome. A artista só começou a produzir Arte aos 40 anos de idade e permaneceu produtiva até o fim da vida, aos 101 anos de idade! Nunca ouvimos falar de que a Vida começa aos 40? Tomie é dona de obra vasta, com muita Arte em espaços públicos. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Abstração. Óleo sobre tela. 100 x 100 cm. Desculpe minha indiscrição, mas esta obra parece um bumbum de quem se sentou numa prancha de fotocópia! No sentido mais fiel de uma catarse – defecação, ou seja, purificação, expulsão de “demônios” psíquicos. É uma obra bem simétrica, num vermelho vibrante, como sangue japonês em uma mulher brasileira, numa Tomie que, em seu passado no Japão, absorveu a sabedoria do Minimalismo Gráfico Japonês, uma pureza, uma essencialidade perfumada, limpa, na sensação gloriosa de sair de um bom banho. É como um óvulo recém fecundado, partindo-se ao meio e iniciando o processo de geração de Vida num útero, no útero psíquico que é a mente de um artista, com gestação e desova. São duas partes de um todo, como um casal unido e apaixonado, numa Tomie romântica, ocupada em unir os opostos que regem o Universo, num orgasmo intergaláctico. São dois gomos de bergamota sendo dissociados, como numa análise científica, na qual a desconstrução dissocia elementos e faz análises, tirando conclusões, gerando todas as especialidades médicas existentes, sendo cada uma responsável por uma parte do corpo, na eterna tentativa ocidental de setorizar, dissociar e analisar, numa artista de origem oriental! Há uma linha divisória bem delgada e discreta, minimalista, estabelecendo polidas divisões entre apartamentos de um mesmo prédio, no discernimento entre minha casa e casa de outrem, como tive certa vez um sonho, em que meu apartamento tinha ligação ampla e direta com outro apartamento, numa sensação de exposição, invasão e vulnerabilidade, no sentido de que cada indivíduo, por mais apaixonado que seja, tem vida própria, e a vida deste anda ao lado da vida do cônjuge, mas, ainda assim, são dois “apartamentos” diferentes – cada um com sua Vida, e, digo mais: cada um com o controle total sobre a sua própria Vida. Na porção superior do quadro, a linha divisória se extingue, como dois amantes em momento ardente de transa, entre quatro paredes, mas, na Vida Pública, realmente, cada pessoa é uma história diferente, como ouvi certa vez da esposa de um homem, tendo ela dizendo a este: “Você não manda em mim!”. Como numa canção brasileira, que diz: “Que você diga a ele quem é mesmo o dono de quem!”. Na parte superior, vemos integração, com dois apartamento unidos, no deus Eros juntando opostos. São pinceladas que se alastram como mofo, tomando lentamente um lugar, ou como hera, a qual vai lentamente se alastrando, acabando por, enfim, revelar-se extremamente forte e avassaladora, só que agindo lenta e discretamente, sempre imprevista, sempre subestimada, e ZAZ! Um bote. Acaba conquistando os que não a viram chegando de fininho. É como um cheque sendo destacado do bloco, como uma pessoa perfumada, dando amostras de seu perfume, mas nunca se entregando por completo, pois aquilo sobre que se pode falar não é o verdadeiro aquilo. Ou seja, é uma flor sempre exalando perfume, mas nunca se entregando pro completo, num perfume eterno, que vence qualquer coisa da Dimensão Material, como pedras preciosas, na danação material: a Vida Eterna vence tudo, e pobre do apegado à Matéria. Nesta obra, são dois pulmões agindo em dupla, em equipe, dando conta das demandas do dia a dia, sempre trabalhando, nunca cessando, nunca querendo saber se é dia ou noite, se é dia útil ou feriado. E a fagulha da Vida se torna enigmática, num Ser Humano eternamente empenhado em imitar o inimitável. É como um defeito congênito, que gera dedos unidos, na necessária União da Humanidade, tão pregada no púlpito, um apelo tão ignorado diariamente pelo Egoísmo Humano, como leis cruéis, que pouco compaixão trazem, como impor dificuldades aos catadores de lixo. Não é amar se colocar nos sapatos do outro?


Acima, Sem Título. Acrílica sobre tela. 150 x 150 cm. Todo o charme do contraste entre claro e escuro, numa divisão nítida, como em dois reinos distintos, onde há amizade mas, ao mesmo tempo, a conservação da individualidade. É uma forma simples como um ícone de computador, em extrema facilidade de simplicidade nítida, clara como um riacho de água pura, onde podemos enxergar o fundo, no modo como o Universo é incrivelmente translúcido, e podemos enxergar com telescópios os cafundós do Cosmos, no eterno desejo do Ser Humano de conhecer o que há ao redor, buscando compreender Deus e a Criação. É uma fome, uma demanda, no modo como o Espiritismo recomenda que a pessoa acumule conhecimento, mas há aí um choque com o Taoismo, que prega que quanto mais simplicidade tem a pessoa, menos esta pessoa quer conhecimento... Neste quadro, há um discreto delineamento de um círculo, numa forma redonda que abrange estes dois reinos, como num acordo diplomático, no modo como são “macacos” os que não têm sofisticação diplomática, pois o diplomata crê que o Ser Humano é universal, ou seja, que vale a pena lutar pela Paz e pelo entendimento, ao contrário do insulto que uma parente minha recebeu no Exterior, quando esta parente, ao pedir um copo d’água num estabelecimento, foi servida com um copo de água suja! Ou seja, minha parente foi insultada e implicitamente chamada de macaca, quando, na verdade, macaca é a pessoa que serviu a água suja. Por favor. E não são as guerras a falência das alternativas diplomáticas de entendimento? Neste quadro vemos um conflito bélico, numa guerra entre Dia e Noite, talvez numa Tomie catarseando um clima de guerra interior, consigo mesma, pois feliz daquele que tem Paz dentro de si. Na Guerra é assim: vejo a mim mesmo como belo e maravilhoso, num narcisismo, e vejo como horrível o adversário, numa subestima. Mediocridade. E os conflitos se instalam. A linha divisória neste quadro não é tensa como um campo de batalha, mas é sutilmente curvilínea, talvez na esperança de trazer integração liquidiscente entre estas partes em conflito. É como um copo d’água cheio até a metade: ele está meio cheio ou meio vazio? É como uma orla de alvas areias, paradisíacas, na beleza avassaladora de uma colônia espiritual, na beleza metafísica, intocada, feita de puro pensamento, e nada de matéria. E a água vem em brandas ondas negras, respirando no vaivém das ondas, como na arrebatadora cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, num momento de identidade nacional, em que o melhor do Rio foi mostrado ao Mundo, na sedução da sensualidade brasileira. São como as pedrinhas do calçadão do Rio, nas ondas do Mar estilizadas pro pedrinhas claras e escuras, num código binário, no charme da foto em preto e branco, na construção técnica do espírito, exaltando a beleza fria da lógica matemática, trazendo a mortificação pacificadora, rechaçando ilusões auspiciosas e vulgares. E o sutil círculo central traz centralização, polarização, querendo dar um basta a guerras, a desentendimentos, sonhando com um Mundo em que a Arte reina absoluta, estimulando mentes e gerando pensamento. Venha caminhar neste calçadão e curtir esta temperatura amena brasileira, numa Tomie Ohtake que se tornou uma filha adotiva do Brasil, juntando a exuberância tropical à discrição nipônica. A tortuosa linha divisória aqui é o fato de que, na Matéria, não há perfeição, pois, como disse um astrônomo, é exatamente a imperfeição o que faz o Universo funcionar! É como um guardanapo dobrado ao meio, como no registro binário das xilogravuras, na dança entre negativo e positivo, na estrutura racional do espírito, rechaçando o sofrimento, o Mal e o desespero. É uma singela lajotinha, feita para decorar lugares. É como um botão de elevador, pois, conforme a vontade da pessoa, o elevador sobe ou desce. Ou seja, aquele que tem vontade, vence, pois o autoencontro é demanda para uma vida inteira, com vicissitudes a serem vencidas. E o artista vence por meio da Arte, é claro.


Acima, Sem Título. Escultura em aço tubular monocromada com pintura automotiva. 300 x 100 cm. Uma cobra ensandecida, cheia de vontade de viver, como uma cobra hipnotizada por um flautista, erguendo-se falicamente, como um pênis obelisco, no macho alfa anunciando o início de um novo dia, no modo como o topo do obelisco é a primeira parte a ser iluminada pelo Sol da manhã, na beleza da Estrela da Manhã, numa terra onde tudo está em seu lugar – o Reino dos Céus. Esta cobra é uma mangueira fora de controle, rebelando-se, na saudável rebeldia que todo artista tem que ter, pois, sem autenticidade, não se produz Arte, na luta de um artista para rechaçar ao máximo a obviedade burguesa. Esta estrutura tem equilíbrio, e fica de pé sem problemas, estável em sua simplicidade tortuosa, como na logomarca da universidade Unisinos, figura que traz um rio sinuoso, insinuante, esgueirando-se sorrateiramente pelas partes mais baixas do vale, drenando encostas e hidratando comunidades. É uma veia sinuosa, numa cidade vibrante, com um trânsito frenético. É uma mangueira de bombeiro, erguendo-se para extinguir um fogo em um andar elevado de edifício, na cor do sangue, na cor do perigo, na cor da carne. É uma artéria que vibra e nutre um corpo, como um cordão de barbante, com mil e uma utilidades. São as amarras que afligem uma pessoa, sendo esta alguém preocupado em satisfazer as expectativas de outrem, numa prisão, numa amarra limitante, num artista que tem que mandar o Mundo àquele lugar... É um rabisco vermelho de uma professora corrigindo uma prova de aluno, chamando a atenção, como uma colega que tive no Ensino Médio, estudiosa, dedicadíssima, e que, quando recebia uma prova corrigida na qual não tinha tirado dez, esta aluna se perguntava: “Mas o que foi que aconteceu que eu não tirei dez?”. Esta cobra tem muita vontade de se encontrar, pois o desejo de estar bem é o primeiro passo para estar bem. É uma brincadeira na qual a cobra está carregada eletricamente, e o jogador tem que guiar ao longo um anel e, no menor contato do anel com a cobra, a cobra vibra com um choque, no modo como, às vezes, é obrigação de um psiquiatra colocar na tomada os dedos do paciente, para chamar a atenção do paciente em relação ao Mundo que cerca o mesmo paciente. Vermelho é o sangue japonês nesta brasileira de coração, e esta cobra é lustrosa, polida, impecavelmente acabada, tendo em Tomie uma mãe zelosa, de uma criatividade pujante, como num Chico Anysio, responsável pela construção de uma rica galeria de personagens, nos mistérios da Criatividade: De onde esta vem? Como perguntaram certa vez ao cartunista Carlos Iotti: De onde tu tiras tantas coisas? É uma divertida montanha russa, cheia de altos e baixos, de subidas e descidas, no fato de que a Vida é assim mesmo, uma montanha russa. Portanto, embarque e divirta-se. As vicissitudes são, na verdade, divertidas; as crises são positivas. É a Vida bombando sangue incessante. Temos aqui uma elegância arrebatadora, simples, como um cabelo devidamente ajeitado com gel. É uma figura limpa, sem um resquício de pó, numa peça da qual é muito fácil se retirar o pó, sem frufrus barrocos. Na real, é como uma coluna barroca, tortuosa, dançante, sensual, sempre se contorcendo como uma gata no cio, numa Igreja Católica tão inflexível em relação a Sexo. Que contradição. É o laço da Mulher Maravilha, o qual, ao enlaçar alguém, faz com que este alguém fale apenas a verdade, na busca humana sobre as verdades cósmicas: O que é Deus? É o infinito. E não é assombroso (e engraçado) o fato de que uma pessoa jamais findará? Mas o infinito é impossível para o Ser Humano, e esta cobra de Tomie tem início, meio e fim. Não é excessivamente poderosa a ideia da Imortalidade? É a corda de um laçador de furiosos animais rebeldes, na intenção humana de domar o selvagem, trazendo Paz e controle. Como nas ditaduras, formas artificiais de se obter Paz: terror e opressão.


Acima, Sem Título. Óleo sobre tela. 100 x 150 cm. Um óvulo sendo assediado por incontáveis espermatozoides. É a passividade feminina com a agressividade masculina. Todos os espermatozóides são iguais, e concorrem lealmente uns com os outros, como no divertido Tudo o que yocê queria saber sobre Sexo mas tinha medo de perguntar, de Woody Allen. É uma concorrência justa, e todos têm a mesma competência e a mesma chance. É como uma foto de microscópio: O que é a Matéria? O óvulo se retira discretamente para a direita, como se não quisesse ser notado, num recato modesto, mesmo sendo o óvulo o protagonista da história. É uma Tomie Ohtake discreta, muito japonesa, numa pessoa que nunca quis aparecer mais do que a própria obra, ganhando respeito. Os tons de azul deste quadro são avassaladores, numa explosão cromática, dando-nos o desejo de levar a obra para casa e expor orgulhosamente o quadro na sala de estar. É a cor dos oceanos, a Mãe Líquida que nos gerou, na interminável caçada de astrônomos em busca de água e oxigênio fora da Terra. É um azul do planeta Netuno, uma esfera misteriosa, num Ser Humano muito aquém de descobrir os segredos cósmicos que nos cercam – Ciência é Curiosidade. Este quadro tem toda uma textura, com minuciosos detalhes, numa Tomie debruçadíssima sobre a tela, numa cena bela, signa de tela de computador. É o azul marinho que une os continentes. É uma esfera que respira, exalando Vida e perfume. É como um coral abaixo d’água, na vastidão aquática do nosso planeta, na eterna dança de galáxias girando, como numa ciranda, sempre integrando todos os agentes da cadeia, pois o Universo só funciona porque é uno, numa grande família, num grande segredo: Por que existe isso tudo? É um óvulo fecundado que se integra às paredes do útero, começando a gerar Vida, pois há uma nova vida a partir do momento em que óvulo e espermatozoide se unem, selando, em um breve momento, toda a genética do bebê, uma genética que acompanhará o indivíduo por toda a vida deste, com saúdes e doenças no código do DNA, no sentido de que, quando algo é genético, realmente a pessoa não pode escapar desse destino selado na barriga de uma mulher. Portanto, relaxe. É como um cometa passando, deixando um fascinante rastro de luz e perfume, como no cometa Halley, cuja passagem pela Terra causou comoção. É um lago dentro de outro lago, numa piscina paradisíaca e agradável. É um olho azul, integrado ao Mar e ao Céu, no modo como a Terra, vista do espaço, é uma estrela azulada. É uma cena em que há um movimento rápido, instantâneo, e é como se um habilidoso fotógrafo tivesse feito o clique precisamente no momento em que o óvulo dá os ares da graça, como um paparazzo inoportuno e chato, invadindo a privacidade de vidas, em troca de dinheiro, numa Diana, eternamente perseguida por fotógrafos oportunistas, exatamente como um óvulo perseguido por espermatozóides, como um estuprador rompendo em um banheiro feminino, numa bola deflorando uma goleira. É como vi uma vez na Rua, quando um mendigo, bem humorado, assustou moças que passavam por ele! É um jogo de sedução. O útero é o recato, a casa, o lar, um ambiente limpo e perfumado, estuprado por pequenos girinos que invadem a sala, numa pororoca, um encontro entre dois pólos, gerando, assim, um pólo só, que é o bebê, a nova vida, do modo como Tao foi quem criou Yin e Yang. Tao é uma esfera inteira, sem divisões, só com integração. Aqui, é como uma esponja de banho, lavando e renovando, como Tao é um banho bem tomado, renovador, em que a pessoa recobra energias. É o fascínio de um banheiro, o lugar para a renovação refrescante. Este quadro é como um bloco de mármore cortado, e podemos ver que, apesar de ser um material tão duro, é também flexível, mesmo que demore tantos bilhões de anos para se liquidificar em fluidos pétreos, na natural danação da Matéria, eternamente vencida pelo Pensamento, o qual, este sim, é eterno. É como insetos em torno da lâmpada, num perfume atraente, sedutor.


Acima, Sem Título. Óleo sobre tela. 70 x 70 cm. A máscara de Mulhergato, como num baile de carnaval, talvez numa Tomie conquistada pela alegria carnavalesca brasileira. É um grande olho que se abre, como num bebê abrindo os olhos pela primeira vez, observando o Mundo ao redor; observando os primeiros aspectos de uma encarnação. O negro discreto e sisudo, fúnebre, opõe-se a cores mais vibrantes, como um vivo vermelho, no sangue pulsando nas veias uma bateria de escola de Samba, na riqueza da herança afro, que trouxe os tambores às fantasias venezianas. É como um elegante peixe passando por águas: Será que os peixes dormem? É um olho aberto e receptivo, olhando de volta para o espectador, com olho no olho, numa Tomie querendo observar o Mundo, querendo saber quem é o seu espectador, na felicidade de um artista que se encontra com seu próprio fãclube, como artistas poderosos, com milhões de downloads no Youtube e milhões de seguidores nas redes sociais, no poder da popularidade, um poder que é para poucos, como me disse um amigo, que se considera um “fodido”, ou seja, sem um fãclube de fato – Whitney Houston, por exemplo, tem mais de meio bilhão de acessos do vídeo de I Will Always Love You. Este olho pisca como uma estrela corusca, no fascínio de um céu estrelado, o qual sempre fascinou o Homo Sapiens, sendo este um ser que sempre quis saber o que acontece. A estrela é independente, e brilha fixa no Céu, num panteão, como ao redor do Coliseu, com lugares decorativos para vários deuses, antes de Roma se render ao Cristianismo, o qual simplificou muito o sistema de deidades: Há um só Deus, um só Pai; o resto, são filhos dele, ou seja, não há deuses, mas espíritos depurados, elevados e moralizados, os quais ajudam a reger os filhos menos depurados, que ainda precisam de muito aprimoramento espiritual. Este olho é como um caroço de frutas, no mistério da Vida: O que faz uma semente gerar Vida sendo irrigada na terra? É um ovo de Páscoa, cheio de maravilhas dentro de si, como um mistério de um caleidoscópio, numa explosão de cores simétricas, como um majestoso vitral de igreja, num lar tão belo, tão plácido, como diz um depurado espírito no filme Nosso Lar: “Este lugar, esta colônia espiritual, é o meu lugar preferido em toda a galáxia”. A Vida é contentamento, aceitar onde se está, abraçando o momento de crise e indo à luta, como na metáfora taoista da água, tendo esta que aceitar onde está, seja num rio, seja numa cascata, seja nos níveis mais baixos para os quais a água flui. Dentro deste olho, há um jogo entre um rosa bebê e um azul discreto, quase bebê, num sedutor céu poente, anunciando uma manhã ensolarada e de céu limpo, no prazer simples de se encher os pulmões de ar e contemplar um Céu de Brigadeiro – o melhor da Vida está nas coisas simples, como no romance Violetas na Janela, em que a simples contemplação de flores traz alento. É como um olho de alienígena, frio, curioso, examinando nossa primitiva civilização, no modo como os ingleses já tiveram o desejo de colonizar o Mundo, generalizando o modo inglês e ocidental de viver, no modo como muitos acreditam que a Terra foi civilizada por civilizações alienígenas mais apuradas, como nos curiosos traços futuristas das pirâmides de Teotihuacán, como nos prédios de Blade Runner. O que será o futuro da Humanidade? Esta fenda, que corta este corpo negro, revela-se uma brecha pela qual podemos observar o Universo, como uma janela, um telescópio, no prazer erótico de se observar o interior de casas de vizinhos, como no filme Invasão de Privacidade. O Universo é sexy. É uma ponte, uma passarela, um canal, um corpo respira por esta brecha, numa janela eternamente aberta, eternamente Tao, sempre fluindo, sempre criando, pois Tao é o incansável criador, como um grande artista, o qual, a cada trabalho, surpreende e, o mais importante, despreza as expectativas alheias, pois nada mais enfadonho do que um artista que só faz coisas conforme as expectativas de outrem, de modo que, o melhor mesmo, é mostrar o dedo do meio para o Mundo e jamais atender às expectativas deste mesmo Mundo. É o dedo do meio de um artista autêntico como Tomie. Como no recente meio do dedo de Robbie Williams! Liberdade, prazer.

Referência bibliográfica:
Tomie Ohtake. Disponível em <www.escritoriodearte.com>. Acesso 26 set. 2018.

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