Nascida no Japão no início
do Século XX e radicada no Brasil, Tomie Ohtake tem um instituto que leva o seu
nome. A artista só começou a produzir Arte aos 40 anos de idade e permaneceu
produtiva até o fim da vida, aos 101 anos de idade! Nunca ouvimos falar de que
a Vida começa aos 40? Tomie é dona de obra vasta, com muita Arte em espaços
públicos. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa
leitura!
Acima, Abstração. Óleo sobre tela. 100 x 100 cm. Desculpe minha indiscrição,
mas esta obra parece um bumbum de quem se sentou numa prancha de fotocópia! No
sentido mais fiel de uma catarse – defecação, ou seja, purificação, expulsão de
“demônios” psíquicos. É uma obra bem simétrica, num vermelho vibrante, como
sangue japonês em uma mulher brasileira, numa Tomie que, em seu passado no
Japão, absorveu a sabedoria do Minimalismo Gráfico Japonês, uma pureza, uma
essencialidade perfumada, limpa, na sensação gloriosa de sair de um bom banho.
É como um óvulo recém fecundado, partindo-se ao meio e iniciando o processo de
geração de Vida num útero, no útero psíquico que é a mente de um artista, com
gestação e desova. São duas partes de um todo, como um casal unido e apaixonado,
numa Tomie romântica, ocupada em unir os opostos que regem o Universo, num orgasmo
intergaláctico. São dois gomos de bergamota sendo dissociados, como numa
análise científica, na qual a desconstrução dissocia elementos e faz análises,
tirando conclusões, gerando todas as especialidades médicas existentes, sendo
cada uma responsável por uma parte do corpo, na eterna tentativa ocidental de
setorizar, dissociar e analisar, numa artista de origem oriental! Há uma linha
divisória bem delgada e discreta, minimalista, estabelecendo polidas divisões
entre apartamentos de um mesmo prédio, no discernimento entre minha casa e casa
de outrem, como tive certa vez um sonho, em que meu apartamento tinha ligação
ampla e direta com outro apartamento, numa sensação de exposição, invasão e
vulnerabilidade, no sentido de que cada indivíduo, por mais apaixonado que
seja, tem vida própria, e a vida deste anda ao lado da vida do cônjuge, mas,
ainda assim, são dois “apartamentos” diferentes – cada um com sua Vida, e, digo
mais: cada um com o controle total sobre a sua própria Vida. Na porção superior
do quadro, a linha divisória se extingue, como dois amantes em momento ardente
de transa, entre quatro paredes, mas, na Vida Pública, realmente, cada pessoa é
uma história diferente, como ouvi certa vez da esposa de um homem, tendo ela
dizendo a este: “Você não manda em mim!”. Como numa canção brasileira, que diz:
“Que você diga a ele quem é mesmo o dono de quem!”. Na parte superior, vemos
integração, com dois apartamento unidos, no deus Eros juntando opostos. São
pinceladas que se alastram como mofo, tomando lentamente um lugar, ou como
hera, a qual vai lentamente se alastrando, acabando por, enfim, revelar-se
extremamente forte e avassaladora, só que agindo lenta e discretamente, sempre
imprevista, sempre subestimada, e ZAZ! Um bote. Acaba conquistando os que não a
viram chegando de fininho. É como um cheque sendo destacado do bloco, como uma
pessoa perfumada, dando amostras de seu perfume, mas nunca se entregando por
completo, pois aquilo sobre que se pode falar não é o verdadeiro aquilo. Ou
seja, é uma flor sempre exalando perfume, mas nunca se entregando pro completo,
num perfume eterno, que vence qualquer coisa da Dimensão Material, como pedras
preciosas, na danação material: a Vida Eterna vence tudo, e pobre do apegado à
Matéria. Nesta obra, são dois pulmões agindo em dupla, em equipe, dando conta
das demandas do dia a dia, sempre trabalhando, nunca cessando, nunca querendo
saber se é dia ou noite, se é dia útil ou feriado. E a fagulha da Vida se torna
enigmática, num Ser Humano eternamente empenhado em imitar o inimitável. É como
um defeito congênito, que gera dedos unidos, na necessária União da Humanidade,
tão pregada no púlpito, um apelo tão ignorado diariamente pelo Egoísmo Humano,
como leis cruéis, que pouco compaixão trazem, como impor dificuldades aos
catadores de lixo. Não é amar se colocar nos sapatos do outro?
Acima, Sem Título. Acrílica
sobre tela. 150 x 150 cm.
Todo o charme do contraste entre claro e escuro, numa divisão nítida, como em
dois reinos distintos, onde há amizade mas, ao mesmo tempo, a conservação da
individualidade. É uma forma simples como um ícone de computador, em extrema
facilidade de simplicidade nítida, clara como um riacho de água pura, onde
podemos enxergar o fundo, no modo como o Universo é incrivelmente translúcido,
e podemos enxergar com telescópios os cafundós do Cosmos, no eterno desejo do
Ser Humano de conhecer o que há ao redor, buscando compreender Deus e a
Criação. É uma fome, uma demanda, no modo como o Espiritismo recomenda que a
pessoa acumule conhecimento, mas há aí um choque com o Taoismo, que prega que
quanto mais simplicidade tem a pessoa, menos esta pessoa quer conhecimento... Neste
quadro, há um discreto delineamento de um círculo, numa forma redonda que
abrange estes dois reinos, como num acordo diplomático, no modo como são
“macacos” os que não têm sofisticação diplomática, pois o diplomata crê que o
Ser Humano é universal, ou seja, que vale a pena lutar pela Paz e pelo
entendimento, ao contrário do insulto que uma parente minha recebeu no
Exterior, quando esta parente, ao pedir um copo d’água num estabelecimento, foi
servida com um copo de água suja! Ou seja, minha parente foi insultada e
implicitamente chamada de macaca, quando, na verdade, macaca é a pessoa que
serviu a água suja. Por favor. E não são as guerras a falência das alternativas
diplomáticas de entendimento? Neste quadro vemos um conflito bélico, numa
guerra entre Dia e Noite, talvez numa Tomie catarseando um clima de guerra
interior, consigo mesma, pois feliz daquele que tem Paz dentro de si. Na Guerra
é assim: vejo a mim mesmo como belo e maravilhoso, num narcisismo, e vejo como
horrível o adversário, numa subestima. Mediocridade. E os conflitos se
instalam. A linha divisória neste quadro não é tensa como um campo de batalha,
mas é sutilmente curvilínea, talvez na esperança de trazer integração
liquidiscente entre estas partes em conflito. É como um copo d’água cheio até a
metade: ele está meio cheio ou meio vazio? É como uma orla de alvas areias,
paradisíacas, na beleza avassaladora de uma colônia espiritual, na beleza
metafísica, intocada, feita de puro pensamento, e nada de matéria. E a água vem
em brandas ondas negras, respirando no vaivém das ondas, como na arrebatadora
cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, num momento de identidade
nacional, em que o melhor do Rio foi mostrado ao Mundo, na sedução da
sensualidade brasileira. São como as pedrinhas do calçadão do Rio, nas ondas do
Mar estilizadas pro pedrinhas claras e escuras, num código binário, no charme
da foto em preto e branco, na construção técnica do espírito, exaltando a beleza
fria da lógica matemática, trazendo a mortificação pacificadora, rechaçando
ilusões auspiciosas e vulgares. E o sutil círculo central traz centralização,
polarização, querendo dar um basta a guerras, a desentendimentos, sonhando com
um Mundo em que a Arte reina absoluta, estimulando mentes e gerando pensamento.
Venha caminhar neste calçadão e curtir esta temperatura amena brasileira, numa
Tomie Ohtake que se tornou uma filha adotiva do Brasil, juntando a exuberância
tropical à discrição nipônica. A tortuosa linha divisória aqui é o fato de que,
na Matéria, não há perfeição, pois, como disse um astrônomo, é exatamente a imperfeição
o que faz o Universo funcionar! É como um guardanapo dobrado ao meio, como no
registro binário das xilogravuras, na dança entre negativo e positivo, na
estrutura racional do espírito, rechaçando o sofrimento, o Mal e o desespero. É
uma singela lajotinha, feita para decorar lugares. É como um botão de elevador,
pois, conforme a vontade da pessoa, o elevador sobe ou desce. Ou seja, aquele
que tem vontade, vence, pois o autoencontro é demanda para uma vida inteira,
com vicissitudes a serem vencidas. E o artista vence por meio da Arte, é claro.
Acima, Sem Título. Escultura
em aço tubular monocromada com pintura automotiva. 300 x 100 cm. Uma cobra
ensandecida, cheia de vontade de viver, como uma cobra hipnotizada por um
flautista, erguendo-se falicamente, como um pênis obelisco, no macho alfa
anunciando o início de um novo dia, no modo como o topo do obelisco é a
primeira parte a ser iluminada pelo Sol da manhã, na beleza da Estrela da
Manhã, numa terra onde tudo está em seu lugar – o Reino dos Céus. Esta cobra é
uma mangueira fora de controle, rebelando-se, na saudável rebeldia que todo
artista tem que ter, pois, sem autenticidade, não se produz Arte, na luta de um
artista para rechaçar ao máximo a obviedade burguesa. Esta estrutura tem
equilíbrio, e fica de pé sem problemas, estável em sua simplicidade tortuosa, como
na logomarca da universidade Unisinos, figura que traz um rio sinuoso,
insinuante, esgueirando-se sorrateiramente pelas partes mais baixas do vale,
drenando encostas e hidratando comunidades. É uma veia sinuosa, numa cidade
vibrante, com um trânsito frenético. É uma mangueira de bombeiro, erguendo-se
para extinguir um fogo em um andar elevado de edifício, na cor do sangue, na
cor do perigo, na cor da carne. É uma artéria que vibra e nutre um corpo, como
um cordão de barbante, com mil e uma utilidades. São as amarras que afligem uma
pessoa, sendo esta alguém preocupado em satisfazer as expectativas de outrem,
numa prisão, numa amarra limitante, num artista que tem que mandar o Mundo
àquele lugar... É um rabisco vermelho de uma professora corrigindo uma prova de
aluno, chamando a atenção, como uma colega que tive no Ensino Médio, estudiosa,
dedicadíssima, e que, quando recebia uma prova corrigida na qual não tinha
tirado dez, esta aluna se perguntava: “Mas o que foi que aconteceu que eu não
tirei dez?”. Esta cobra tem muita vontade de se encontrar, pois o desejo de
estar bem é o primeiro passo para estar bem. É uma brincadeira na qual a cobra
está carregada eletricamente, e o jogador tem que guiar ao longo um anel e, no
menor contato do anel com a cobra, a cobra vibra com um choque, no modo como,
às vezes, é obrigação de um psiquiatra colocar na tomada os dedos do paciente,
para chamar a atenção do paciente em relação ao Mundo que cerca o mesmo paciente.
Vermelho é o sangue japonês nesta brasileira de coração, e esta cobra é
lustrosa, polida, impecavelmente acabada, tendo em Tomie uma mãe zelosa, de uma
criatividade pujante, como num Chico Anysio, responsável pela construção de uma
rica galeria de personagens, nos mistérios da Criatividade: De onde esta vem? Como
perguntaram certa vez ao cartunista Carlos Iotti: De onde tu tiras tantas
coisas? É uma divertida montanha russa, cheia de altos e baixos, de subidas e
descidas, no fato de que a Vida é assim mesmo, uma montanha russa. Portanto,
embarque e divirta-se. As vicissitudes são, na verdade, divertidas; as crises
são positivas. É a Vida bombando sangue incessante. Temos aqui uma elegância
arrebatadora, simples, como um cabelo devidamente ajeitado com gel. É uma
figura limpa, sem um resquício de pó, numa peça da qual é muito fácil se
retirar o pó, sem frufrus barrocos. Na real, é como uma coluna barroca,
tortuosa, dançante, sensual, sempre se contorcendo como uma gata no cio, numa
Igreja Católica tão inflexível em relação a Sexo. Que contradição. É o laço da
Mulher Maravilha, o qual, ao enlaçar alguém, faz com que este alguém fale
apenas a verdade, na busca humana sobre as verdades cósmicas: O que é Deus? É o
infinito. E não é assombroso (e engraçado) o fato de que uma pessoa jamais
findará? Mas o infinito é impossível para o Ser Humano, e esta cobra de Tomie
tem início, meio e fim. Não é excessivamente poderosa a ideia da Imortalidade?
É a corda de um laçador de furiosos animais rebeldes, na intenção humana de
domar o selvagem, trazendo Paz e controle. Como nas ditaduras, formas artificiais
de se obter Paz: terror e opressão.
Acima, Sem Título. Óleo
sobre tela. 100 x 150 cm.
Um óvulo sendo assediado por incontáveis espermatozoides. É a passividade
feminina com a agressividade masculina. Todos os espermatozóides são iguais, e
concorrem lealmente uns com os outros, como no divertido Tudo o que yocê queria saber sobre Sexo mas tinha medo de perguntar,
de Woody Allen. É uma concorrência justa, e todos têm a mesma competência e a
mesma chance. É como uma foto de microscópio: O que é a Matéria? O óvulo se
retira discretamente para a direita, como se não quisesse ser notado, num
recato modesto, mesmo sendo o óvulo o protagonista da história. É uma Tomie
Ohtake discreta, muito japonesa, numa pessoa que nunca quis aparecer mais do
que a própria obra, ganhando respeito. Os tons de azul deste quadro são
avassaladores, numa explosão cromática, dando-nos o desejo de levar a obra para
casa e expor orgulhosamente o quadro na sala de estar. É a cor dos oceanos, a
Mãe Líquida que nos gerou, na interminável caçada de astrônomos em busca de
água e oxigênio fora da Terra. É um azul do planeta Netuno, uma esfera
misteriosa, num Ser Humano muito aquém de descobrir os segredos cósmicos que
nos cercam – Ciência é Curiosidade. Este quadro tem toda uma textura, com
minuciosos detalhes, numa Tomie debruçadíssima sobre a tela, numa cena bela,
signa de tela de computador. É o azul marinho que une os continentes. É uma
esfera que respira, exalando Vida e perfume. É como um coral abaixo d’água, na
vastidão aquática do nosso planeta, na eterna dança de galáxias girando, como
numa ciranda, sempre integrando todos os agentes da cadeia, pois o Universo só
funciona porque é uno, numa grande família, num grande segredo: Por que existe
isso tudo? É um óvulo fecundado que se integra às paredes do útero, começando a
gerar Vida, pois há uma nova vida a partir do momento em que óvulo e
espermatozoide se unem, selando, em um breve momento, toda a genética do bebê,
uma genética que acompanhará o indivíduo por toda a vida deste, com saúdes e
doenças no código do DNA, no sentido de que, quando algo é genético, realmente
a pessoa não pode escapar desse destino selado na barriga de uma mulher.
Portanto, relaxe. É como um cometa passando, deixando um fascinante rastro de
luz e perfume, como no cometa Halley, cuja passagem pela Terra causou comoção.
É um lago dentro de outro lago, numa piscina paradisíaca e agradável. É um olho
azul, integrado ao Mar e ao Céu, no modo como a Terra, vista do espaço, é uma
estrela azulada. É uma cena em que há um movimento rápido, instantâneo, e é
como se um habilidoso fotógrafo tivesse feito o clique precisamente no momento
em que o óvulo dá os ares da graça, como um paparazzo inoportuno e chato,
invadindo a privacidade de vidas, em troca de dinheiro, numa Diana, eternamente
perseguida por fotógrafos oportunistas, exatamente como um óvulo perseguido por
espermatozóides, como um estuprador rompendo em um banheiro feminino, numa bola
deflorando uma goleira. É como vi uma vez na Rua, quando um mendigo, bem
humorado, assustou moças que passavam por ele! É um jogo de sedução. O útero é
o recato, a casa, o lar, um ambiente limpo e perfumado, estuprado por pequenos
girinos que invadem a sala, numa pororoca, um encontro entre dois pólos, gerando,
assim, um pólo só, que é o bebê, a nova vida, do modo como Tao foi quem criou
Yin e Yang. Tao é uma esfera inteira, sem divisões, só com integração. Aqui, é
como uma esponja de banho, lavando e renovando, como Tao é um banho bem tomado,
renovador, em que a pessoa recobra energias. É o fascínio de um banheiro, o
lugar para a renovação refrescante. Este quadro é como um bloco de mármore
cortado, e podemos ver que, apesar de ser um material tão duro, é também
flexível, mesmo que demore tantos bilhões de anos para se liquidificar em
fluidos pétreos, na natural danação da Matéria, eternamente vencida pelo
Pensamento, o qual, este sim, é eterno. É como insetos em torno da lâmpada, num
perfume atraente, sedutor.
Acima, Sem Título. Óleo
sobre tela. 70 x 70 cm.
A máscara de Mulhergato, como num baile de carnaval, talvez numa Tomie
conquistada pela alegria carnavalesca brasileira. É um grande olho que se abre,
como num bebê abrindo os olhos pela primeira vez, observando o Mundo ao redor;
observando os primeiros aspectos de uma encarnação. O negro discreto e sisudo,
fúnebre, opõe-se a cores mais vibrantes, como um vivo vermelho, no sangue
pulsando nas veias uma bateria de escola de Samba, na riqueza da herança afro,
que trouxe os tambores às fantasias venezianas. É como um elegante peixe
passando por águas: Será que os peixes dormem? É um olho aberto e receptivo,
olhando de volta para o espectador, com olho no olho, numa Tomie querendo
observar o Mundo, querendo saber quem é o seu espectador, na felicidade de um
artista que se encontra com seu próprio fãclube, como artistas poderosos, com milhões
de downloads no Youtube e milhões de seguidores nas redes sociais, no poder da
popularidade, um poder que é para poucos, como me disse um amigo, que se
considera um “fodido”, ou seja, sem um fãclube de fato – Whitney Houston, por
exemplo, tem mais de meio bilhão de acessos do vídeo de I Will Always Love You. Este olho pisca como uma estrela corusca,
no fascínio de um céu estrelado, o qual sempre fascinou o Homo Sapiens, sendo
este um ser que sempre quis saber o que acontece. A estrela é independente, e
brilha fixa no Céu, num panteão, como ao redor do Coliseu, com lugares
decorativos para vários deuses, antes de Roma se render ao Cristianismo, o qual
simplificou muito o sistema de deidades: Há um só Deus, um só Pai; o resto, são
filhos dele, ou seja, não há deuses, mas espíritos depurados, elevados e
moralizados, os quais ajudam a reger os filhos menos depurados, que ainda
precisam de muito aprimoramento espiritual. Este olho é como um caroço de
frutas, no mistério da Vida: O que faz uma semente gerar Vida sendo irrigada na
terra? É um ovo de Páscoa, cheio de maravilhas dentro de si, como um mistério
de um caleidoscópio, numa explosão de cores simétricas, como um majestoso
vitral de igreja, num lar tão belo, tão plácido, como diz um depurado espírito
no filme Nosso Lar: “Este lugar, esta
colônia espiritual, é o meu lugar preferido em toda a galáxia”. A Vida é
contentamento, aceitar onde se está, abraçando o momento de crise e indo à luta,
como na metáfora taoista da água, tendo esta que aceitar onde está, seja num
rio, seja numa cascata, seja nos níveis mais baixos para os quais a água flui.
Dentro deste olho, há um jogo entre um rosa bebê e um azul discreto, quase
bebê, num sedutor céu poente, anunciando uma manhã ensolarada e de céu limpo,
no prazer simples de se encher os pulmões de ar e contemplar um Céu de
Brigadeiro – o melhor da Vida está nas coisas simples, como no romance Violetas na Janela, em que a simples
contemplação de flores traz alento. É como um olho de alienígena, frio,
curioso, examinando nossa primitiva civilização, no modo como os ingleses já
tiveram o desejo de colonizar o Mundo, generalizando o modo inglês e ocidental
de viver, no modo como muitos acreditam que a Terra foi civilizada por civilizações
alienígenas mais apuradas, como nos curiosos traços futuristas das pirâmides de
Teotihuacán, como nos prédios de Blade
Runner. O que será o futuro da Humanidade? Esta fenda, que corta este corpo
negro, revela-se uma brecha pela qual podemos observar o Universo, como uma
janela, um telescópio, no prazer erótico de se observar o interior de casas de
vizinhos, como no filme Invasão de
Privacidade. O Universo é sexy. É uma ponte, uma passarela, um canal, um
corpo respira por esta brecha, numa janela eternamente aberta, eternamente Tao,
sempre fluindo, sempre criando, pois Tao é o incansável criador, como um grande
artista, o qual, a cada trabalho, surpreende e, o mais importante, despreza as
expectativas alheias, pois nada mais enfadonho do que um artista que só faz
coisas conforme as expectativas de outrem, de modo que, o melhor mesmo, é
mostrar o dedo do meio para o Mundo e jamais atender às expectativas deste
mesmo Mundo. É o dedo do meio de um artista autêntico como Tomie. Como no
recente meio do dedo de Robbie Williams! Liberdade, prazer.
Referência bibliográfica:
Tomie Ohtake.
Disponível em <www.escritoriodearte.com>. Acesso 26 set. 2018.
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