quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Clareza de Clark



Lygia Clark se autointitulava uma “não artista”. Porém, apesar da humildade da artista, podemos observar o talento de LC na obra desta brasileira, e somos levados a discordar do termo “não artista”. Discordamos de alguém com que concordamos! Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Bichos. Animais caminhando e voando por uma floresta virgem, selvagem. É uma variedade de Fauna, num Brasil tão rico em recursos naturais, no modo como a exuberante Natureza Brasileira inspirou, por exemplo, todo o Modernismo Brasileiro, na busca por uma identidade nacional, assim como é um desafio a construção de identidade do Cinema Brasileiro. São brinquedos espalhados em um playground, ou em uma sala de uma casa que abriga uma ou mais crianças. São como pessoas desencarnadas e mortificadas, no modo como o espírito é algo “morto”, sem as trepidantes ambições que tanto flagelam o Ser Humano. É um ambiente, um organismo no qual cada espírito (ou bicho) tem seu papel, e cada um está satisfeito e contente em estar como está, como numa cidade de bonecas, onde a beleza reina por todos os cantos, num lugar de muita Paz e silêncio, onde uma pessoa brutalizada pela Vida pode desencarnar e voltar a ser criança de algum modo, voltando ao grande Lar Uterino, abraçando a Grande Rainha, a Mãe de todas as dimensões do Cosmos. É como no final do filme Elizabeth, em que a rainha entra triunfante, toda de branco, como uma noiva, em uma sala cheia de súditos, e cada súdito tem um papel numa cena tão plácida, iluminada e perfumada. A rainha emerge de uma porta emoldurada por luz, como na magia da cidade de Gramado, e cruza o salão acarpetado em direção ao trono, pálida como a neve, pura como a vontade de se fazer o Bem, com cabelos ruivos ardentes como fogo, na chama que vibra dentro de corações bondosos e pertinentes, moralmente evoluídos, no sentido de qualquer vida – o Crescimento. Aqui, temos origamis elegantes, numa artista atenta a linhas elegantes e simples, de alguém que sabe que menos é mais, como diz Tao. A foto em preto e branco traz elegância ao cenário, numa cena que não precisa mais do que duas cores para se expressar. São como papéis amassados, jogados no chão por anticidadãos, que não amam a cidade onde vivem e, por consequência, não são amados pelo Mundo, pois a receita da Felicidade é amar o Mundo. É como uma pista de dança depois de um baile vibrante, sobrando confetes e serpentinas para serem varridos, renovando o salão e fazendo este apto para um novo baile. Então, a rainha se senta em seu trono e podemos ouvir o som vibrante de samba, com vida e sangue ardendo dentro do corpo da regente, unindo o povo e conduzindo este pelos caminhos da União, num eterno baile que a Vida brota implacavelmente, na universalidade da fluidez, um conceito que ultrapassa Tempo e Espaço, numa cena atemporal, que arrebata pessoas de todas as nacionalidades, nas semelhanças entre japoneses e brasileiros, por exemplo, na universalidade da Dimensão Metafísica. Nas paredes ao fundo, vemos dois quadros de LC. O da direita está disposto como losango, com uma pirâmide alva que se contrapõe ao fundo negro, como numa noite em um momento do Egito Antigo, na sedução das pirâmides sendo sensualmente iluminadas por uma Lua Cheia, a Mãe da Noite, o satélite feminino que rege o Mundo em seus ciclos menstruais. No quadro da esquerda, vemos uma ruptura, como um zíper sendo aberto, numa abertura, numa exposição de pensamentos de LC, abrindo o zíper da mente da artista e do espectador, como uma calça sendo deflorada antes do Sexo, como dois namorados sexualmente felizes. No quadro da esquerda, temos dois pólos, dois opostos que se beijam, como Ocidente e Oriente, na fusão entre os dois opostos, o casal cósmico que gerou tudo, no orgasmo do Cosmos, na força que rege a reprodução e a perpetuação da Vida, pois Tao não pode se envergonhar de algo que o próprio Tao criou, como num livro de Educação Sexual para adolescentes, banindo a Malícia e trazendo o Esclarecimento. Nesta instalação de LC, há uma certa fragilidade, como se qualquer vento poderia levar os “origamis” embora, numa fragilidade, uma vulnerabilidade, num artista que se dá ao Mundo, querendo ser respeitado por este, sendo assim, uma sacanagem o espectador soprar estes origamis. Respeite!


Acima, Contrarrelevo. LC entende ao poder da Simplicidade. Há arestas, que precisam ser aparadas, no modo como uma mesa de vidro se torna nociva se suas extremidades não forem polidas, no modo como a polidez psíquica respeita o próximo, o cocidadão. O termo “canto moeda” denomina essa polidez vítrea, no valor inestimável da gentileza e da civilidade. Aqui, o velho e bom contraste entre preto e branco, como nas fotos monumentais de um Sebastião Salgado, na magia da imagem bicromática, como nas fotografias de um passado mágico e plácido, no eterno retorno a esta dimensão de concórdia e Paz, como num filme, como em monumentais escadarias e lugares elegantes e, ainda assim, simples, pois o excesso é deselegante. Aqui, temos um OVNI, uma nave que aterrisa em uma terra estranha, como seres humanos em Marte, fazendo da Humanidade uma civilização alienígena. É como um diamante impecavelmente polido, brilhando e seduzindo, no modo como brilha uma pessoa humilde e pés no chão, como uma Fernanda Montenegro, que, ao ser indicada a um Oscar, autointitulou-se uma “fodida”, com o perdão do palavrão, Fernanda! Numa humildade que observamos em LC, na simplicidade gráfica, como em boas lições de Geometria no Colégio. É como o brinquedo Genius, uma mania dos anos 80, em que o jogador tem que ter memória fotográfica para vencer, numa complexidade em que cores e sons se misturam para confundir e desnortear o jogador, como um bom filósofo em duelo, confundindo o oponente com as inevitáveis e engraçadas contradições, sendo que sempre há dois lados para a mesma moeda, no entrelaçamento entre Razão e Loucura. Esta forma se equilibra fragilmente, buscando equilíbrio e estabilidade, no modo como um artista quer se estabelecer e ser reconhecido. Neste OVNI, o preto predomina, mas é necessária a presença do branco, é claro, pois seria muito monótono um quadro todo negro. É como se fosse o sinal da reciclagem, e o branco gira pelo OVNI, como um bom gari, varrendo as ruas de uma cidade, no modo como o Mundo seria um caos sem os garis, destruindo completamente a arrogância de uma pessoa que se acha tão superior aos garis. É um jogo de lençóis dobrado, na organização de um lar zelado por uma mulher zelosa e cuidadosa, como nas mães perfeitas dos comerciais de TV de sabão em pó, numa perfeição inexistente, como na amorosa mãe de Kevin em Esqueceram de Mim, a qual, apesar de ter Amor pelo filho, cometeu um deslize em relação ao menino. Podemos ouvir o som de janelas e portas sendo abertas e fechadas, nos barulhos corriqueiros de um lar. Cortando a obra em dois hemisférios, vemos uma linha branca extremamente tênue e discreta, inevitável, numa LC que sabe que a Perfeição é uma ilusão, e os erros aparecem mais do que como imposição divina; os erros surgem para gerar Aprendizado, como num artista no palco, levando um tombo traiçoeiro (e engraçado), como no show que vi de Laura Pausini em Porto Alegre em 1997, quando a cantora escorregou por uma escada no palco, mas levantou-se e tocou o show para frente, ou seja, leve tombos e renasça, lutando sempre! Vamos aqui da esquerda para a direita em dois opostos cortantes, e precisamos usar luvas protetoras, como se estivéssemos pegando uma panela quente no fogão, na lição da Precaução. O quadro todo tem um centro perfeito, bem no meio de tudo, num equilíbrio, num centro gravitacional. O título da obra fala de um branco que resolveu se opor ao total, adquirindo diferenciação, pois não é intragável um artista que quer ser outro artista? É a luta pela identidade, como na campanha publicitária de uma edição recente da Festa da Uva de Caxias: cada uvinha do cacho era, na verdade, uma impressão digital, na identidade de um povo, de uma gente. E temos em LC uma grande impressão.


Acima, Espaço Modulado. Carteiras de cigarro, no “vício” por Arte, sendo ambos artista e espectador amantes do artístico, do que é obra da Mente Humana, sendo a Arte uma verdadeira unificadora da Humanidade. São teclas de um piano, enchendo a mente de percepção, e podemos ouvir uma delicada melodia enchendo a sala, como no elegante foyer do Theatro São Pedro, de Porto Alegre. São três caixinhas de remédio, com a tarja preta avisando que a droga pode causa dependência, no modo como nunca há Arte suficiente para satisfazer uma mente ávida por ser atiçada por um artista. É como uma lembrança indelével que tenho quando, em um shopping, vi um carrinho de bebê com trigêmeos! É um símbolo de fertilidade e abundância, no modo como LC paria, no modo humano de tentar compreender a Maternidade Biológica. É um conjunto de arranhacéus, competindo inutilmente entre si, pois têm exatamente a mesma altura e largura, sendo uma simétrica equação, num equilíbrio clássico e claro de ser observado. O conjunto é respaldado por discretas linhas finas, separando os blocos uns dos outros, estabelecendo que, apesar de ser uma família, uma mesma ninhada, trigêmeos, são indivíduos, e cada um tem sua própria vida, em seu próprio espírito individual, único. Apesar da semelhança física ser tão evidente, tratam-se de ovos num mesmo ninho, mas um ovo de cada cor, de cada modo, no modo como um pai consegue observar a virtude de cada filho, o ponto forte de cada filho, como nos Ursinhos Carinhosos, os quais, apesar de ser irmãos e iguais, cada um tem no peito um elemento gráfico diferente, delineando-se assim a individualidade inconfundível, como uma família de vinhos, na qual, apesar dos rótulos de cada variedade ser único, podemos observar, colocando as garrafas lado a lado, de que se trata de uma família. São como frios números de identificação, como se cada um tivesse seu número próprio de telefone, na frieza numérica que diferencia e, ao mesmo tempo, iguala, em inevitável (e irônica) contradição. É um sorriso de dentes simétricos, impecáveis, como degraus de uma escada, de uma gradação, numa caminhada evolutiva, na evolução das espécies, pois tudo é processo, e Tao nunca faz algo imutável; bem pelo contrário, faz fluidez. É um portamalas organizado, numa mente organizada, que coloca a em ordem a vida de uma pessoa, rechaçando a desordem de uma vida empobrecida, vida esta mergulhada em um submundo degradante, numa verdadeira prisão. A Mente precisa de Liberdade para operar propriamente, e o problema das ditaduras é que, nestas, a Arte inexiste; nestas, a Arte é um simulacro, um arremedo de Arte. Temos um trio de prédios de uma cidade impessoal, num mundo duro que tanto pode subjugar e assustar o indivíduo, desafiando um artista a levar em frente um velho sonho; o sonho de vencer. São três impositivas placas de trânsito, dando o mesmo aviso três vezes, nas inevitáveis regras civilizatórias da Vida em Sociedade, como, por exemplo, a áurea regra anticriminal. A Vida em Sociedade é um acordo entre partes, um consenso, e o artista precisa encontrar um meio de compreender isso tudo, sem, é claro, deixar de fazer Arte. São três janelas com a persiana quase baixada por completo, num quarto na penumbra, convidando a um dos maiores prazeres que existem – dormir. São como três copos cheios menos do que metade, como um branco leite, sempre nutrindo os filhos, sempre zelando pelo ninho, no modo como um artista é Pai de sua própria obra. São três cigarros todos quase consumidos pelo fogo, no modo como, ao tabagista, nunca um cigarro é o suficiente, e um novo cigarro tem que ser sempre aceso. É um painel de vibração sonora, e, neste momento, há muita tranquilidade e estabilidade, num momento em que a pessoa pode encontrar prazer em coisas simples, como observar uma porção de mata virgem. Aqui, o branco está mais discreto do que o preto, numa dança de contrastes, como na bicromia dos trajes de gala dos cavalheiros, todos iguais, todos irmãos, ao contrário das damas, cujos vestidos são sempre diferentes uns dos outros – ao Yang resta a igualdade; ao Yin, a diferenciação. É a força ritualística da Vida em Sociedade. São três apartamentos de dimensões iguais, mas cada um com um tipo de Decoração.


Acima, Estrutura de Caixas de Fósforos. Uma confortável poltrona, na qual podemos sentar e esquecer dos problemas da Vida, no conforto do Lar, um lugar onde podemos ficar à vontade, sem as obrigações do Mundo lá fora. O vermelho sanguíneo corre pelas veias da artista, numa vida que pulsa, como na Natureza exuberante do Rio de Janeiro, uma terra onde o Sol abençoa a orla. O vermelho é o interior uterino, num perfume feminino delicado e irresistível, no fascínio de pessoas perfumadas, na sensação benéfica e agradável de se sentir uma fragrância fina. Esta obra é um robô, uma criação sintética, na eterna tentativa do Ser Humano em querer imitar Deus, mas, já ouvi dizer de uma mulher que teve um dos seios extirpados por causa do Câncer, falando sobre a prótese peitoral: o que Deus faz, o Homem não faz igual. É um conjunto complexo de gavetas, cheias de coisas, de memórias, de pensamentos de dias que se passaram, talvez em memórias (muito) vagas de dias abençoados na Dimensão Metafísica, no plano espiritual onde a Paz reina, mostrando-nos que as Guerras não são História, mas uma interrupção de História, no sentido de que é só na Paz que há prosperidade e progresso – a Raiva é desprezível, pois esta é muito, muito menor do que a Paz, e isto não sou eu quem está falando, mas Tao. É a forma humana de se organizar, vivendo dias compartimentados, num desejo de organização, de disciplina, com a sensação de que a Vida está nos trilhos, arrumada, bela e perfumada. É uma obra um tanto truncada, e não vemos aqui linhas orgânicas e curvilíneas, mas linhas retas, como num Mondrian, como quarteirões de uma cidade, organizados de forma a haver ruas e avenidas retas, racionais e simples. Acessibilidade. É como um teclado de computador, ou uma tabela periódica, na eterna intenção humana de se compreender o Universo ao nosso redor, tentando encontrar lógica e coerência em uma dimensão tão complicada como a Material, um mundo que é puro enigma, pura charada, estimulando cientistas e filósofos a observar lógica retilínea em formas tão liquidiscentes, e aí surge uma contradição: tanto o redondo quanto o truncado são positivos; são iguais em fascínio. Tem a aparência de um armário que foi jogado fora, desprezado, talvez por estar muito feio e velho, detonado, perecendo em um lixão, talvez na esperança de ser carinhosamente adotado e restaurado, vencendo o Tempo e retornando à Fonte, ao plano primordial das Ideias, à Mãe Psíquica. É a Carne que perece, e a Consciência sobrevive à Morte Orgânica, na vitória da Mente sobre o Corpo; do Virtuoso sobre o Mundano. Estas gavetas estão em movimento, sendo abertas e fechadas o tempo todo, e podemos ouvir os barulhos de um lar, com o barulho das gavetas sendo abertas e fechadas, na demanda do dia a dia de uma casa com várias crianças, na exaustiva demanda de uma casa cheia de Vida, de riso e de choro. É como o universo dos Transformers, em que veículos se transformam em gigantescos robôs, como nos tradicionais seriados infantis japoneses, em que grandes robôs enfrentam horríveis monstros gigantes ameaçadores e destrutivos, e temos aqui novamente a questão: a Razão impondo ordem ao Caos, como uma ferida sendo esterilizada e medicada, coberta por um bandaid. Este “robô” tem duas pernas muito fortes, como pilares de pura pedra, como na metáfora de São Pedro, que fundou a Santa Sé, como na Catedral de Caxias do Sul, templo erguido sobre sólida rocha, resistindo a tudo e todos. Na parte superior da obra, uma lacuna, um buraco sem gaveta, talvez para guardar coisas que precisem de arejamento, no modo como o ar tem que circular, evitando as bactérias de uma água parada, uma água pestilenta que atinge aqueles que desistem de lutar pela Vida. As caixas de fósforo foram escolhidas por LC porque representam o fogo, a luz, o esclarecimento que combate rançosos preconceitos, no modo como um artista jamais pode ser preconceituoso ou malicioso, pois a Arte rechaça a Serpente da Malícia. A Arte é pureza.


Acima, Planos em Superfície Modulada. Temos aqui uma exata simetria, como muitas logomarcas, como a do Banco do Brasil e outros órgãos públicos. Podemos observar o exato centro da obra, numa precisão matemática, o centro de tudo, numa vida centrada, numa LC focada, atenta ao essencial, em uma vida artística tão rica em simplicidade franciscana. É como o sinal de reciclagem, sempre girando, sempre fazendo a “máquina” girar, como numa Economia pulsante, num país rico, em que o dinheiro circula facilmente, rapidamente. É como uma máquina de lavar roupa, no ciclo de lavagem, numa máquina que é uma grande invenção, fazendo-me lembrar do inesquecível Tatata Pimentel, o qual dizia que minha geração não sabe o que é torcer roupa, como torcer um lençol, tendo uma pessoa de cada lado, girando em sentidos opostos, e é o que podemos ver aqui, com duas pessoas torcendo o mesmo lençol, como num trabalho de equipe, em que cada ator tem seu papel para o todo. Temos uma LC flertando com a Arquitetura, como nas formas simples e grandiosas de Brasília, como se diz que, na Dimensão Metafísica, a Arquitetura é depurada, digna de grandes mestres. Aqui, temos dois continentes se beijando, numa junção de opostos, num 69, em que tudo se encaixa, apesar de cada metade parecer ser tão diferente da outra. Imaginemos que o fundo é branco e que o restante é preto: as formas negras estão absolutamente próximas mas, mesmo assim, nunca se beijam. É a forma como o Amor Incondicional, Imaterial e Desapegado age, com sutileza, num gesto que nada de material tem – só espiritual. É como o Adão de Michelangelo quase tocando o dedo do Criador, o Grande Patriarca com sua longa barba branca, num neo Papai Noel, cheio de riqueza e fartura para distribuir. Em Michelangelo, esse Amor Intocado é o Psicológico, no modo que, depois do Desencarne, tudo o que permanece é psicológico, espiritual, no modo como, nos primórdios da Imigração Italiana no RS, as igrejas eram fundamentais, no sentido de existir, fornecido pelo padre, acompanhamento psicológico. E Arte é isso – Pensamento. Temos aqui uma lajota, a qual, combinada com muitas outras iguais, forma uma estampa, um chão, como um papel de parede, como numa xilogravura, que é uma espécie de carimbo, fazendo com que o artista vislumbre inúmeras combinações com este carimbo primordial, como no trabalho da xilogravurista caxiense Mara de Carli, a qual, a partir de um simples retângulo negro, criou muitas combinações, no poder da Imaginação. Agora, suponhamos que o fundo é negro e que o elemento é branco: temos novamente este quase beijo, este quase toque, e o centro sobrenatural é do pensador Jesus, o qual brilhou antes e depois de morrer, na comprovação da sobrevivência da Mente ante o perecer da Carne. Aqui, parece que temos peças em concreto, como na sedutora Fundação Iberê Camargo de POA, prédio que, por si só, já é Arte e, ainda assim, abriga mais Arte, numa metalinguagem: inspiração falando de inspiração. Parece as naves diabólicas de Guerras nas Estrelas, em que naves guiadas pelo tirano Darth Vader buscam destruir resistentes, no fato de que, no finzinho do sexto filme da franquia, Vader se arrepende e morre bonzinho. Aqui, temos um ventilador que nunca para, sempre ventilando, sempre fazendo fluxo, sempre vivendo e respirando, sempre provendo vales com chuvas, sempre alimentando seus filhos, como na logomarca dos produtos Nestlé – uma ave mãe alimentando os filhotinhos no ninho. Aqui, temos a beleza das linhas retas e matemáticas, como me disse um professor do Ensino Médio: a Matemática é bela, como cores dissociadas por um cristal. Temos uma LC ciente do charme do preto e branco, no charme das fotografias de antigas estrelas do Cinema, como no céu negro da Noite, salpicado de estrelas brancas.

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