O artista deu nome ao Museu
de arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, o MARGS. Recentemente, houve em
Caxias do Sul uma mostra que incluía quadros de Ado de uma coleção particular,
algo que me arrebatou. Os textos e análises semióticas a seguir são
inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, um quadro cujo título
não pude identificar – peço perdão! Uma paisagem gaúcha, dos Pampas ou dos
Campos de Cima da Serra. O Vento Minuano parece cortar os campos, e podemos
ouvir o assobio do vento, com uns eventuais cantos de queroquero. É um lusco
fosco, pois não sabemos dizer se é noite ou dia; se amanhece ou entardece, num
limiar, um limite, num artista que tem a coragem de transitar por linhas
tênues, num espírito aventureiro de quem gosta de uma pitada de risco. As
linhas são curvilíneas, onduladas, e parece uma cena marítima, com ondas indo e
vindo, na liquidiscência existencial, com ondas que hora levam ao topo, hora
para o fundo. É uma combinação cromática de muito bom gosto, com tons de azul e
verde, num Ado elegante, criterioso, numa pincelada que dá frescor, uma
delícia. O capim selvagem ondula ao sabor do vento, e podemos ouvir o farfalhar
sensual da vegetação, dançando ao vento, no grande baile que é um ecossistema,
onde cada agente tem seu lugar nesta “pista de dança”. Aqui, pode ser uma noite
clara de luar, num céu limpo no qual a Lua exerce todo seu fascínio, numa
universalidade, pois a mesma Lua é vista por seres humanos de todas as épocas e
lugares, como uma mãe que abraça toda a sua ninhada, fazendo de nós irmãos,
iguais, no conceito de Igualdade da Revolução Francesa, como no paradigma da
urna eleitoral: homem ou mulher, gay ou hétero, preto ou branco, rico ou pobre:
todos somos absolutamente iguais na hora de pressionar as teclas da urna
eletrônica, num exercício de Democracia, um sistema que tem nobres intenções. O
artista é uma pessoa que quer se engajar neste “baile”, buscando um papel
(relevante) nessa cena social: O que é a Arte? Por que ela é importante? Como
devemos tratar os artistas? Aqui, as colinas são baixinhas e suaves, com curvas
dignas de corpão de top model, na forma como o Feminino é relacionado à
Natureza, à Mãe de todos nós, seres de carne e osso, ou a Mãe psíquica, na
imaculada concepção espiritual. É como uma máquina de lavar roupa, onde todos
são submetidos ao mesmo processo, num exercício de equiparação. Estes campos
têm pontos enegrecidos, talvez num Ado Malagoli desejoso de catarsear um
sentimento de abandono e escuridão, no poder terapêutico das catarses, quando o
artista vomita sobre as pessoas, exigindo ser respeitado e valorizado. Na
porção mais inferior do quadro, vemos uma forma negra, indecifrável,
misteriosa. Pode ser uma moita solitária, em um campo tão ermo e desabitado,
tão selvagem. Pode ser uma figura humana, sozinha, talvez padecendo no frio do
vento invernal, talvez um gaúcho de poncho, agasalhado para enfrentar a
travessia incerta que é a Vida, sempre pronto para esbarrar em percalços que,
no fim das contas, acabam ajudando o indivíduo a encontrar seu próprio caminho.
É um sentimento de solidão e desolação, num quadro que, apesar de um tanto
melancólico, é belo. Talvez a Lua esteja quase aparecendo ao fundo, atrás dos
montes, anunciando-se com uma luz azulada, reinando sobre as noites dos Pampas.
Os montes ao fundo parecem um mar muito revolto e inquieto, nas inquietudes dos
artistas, mentes sensíveis em constante busca de percepções singulares,
criativas, pois criar é a obrigação de cada artista, ou seja, produzir, e isto
é a receita da felicidade – ter um lugar no Mundo. A misteriosa forma negra
parece uma criança perdida, chorando pelos pais, num sentimento de estar longe
de casa, longe do aconchego do Lar, a casa primordial que nos espera após o Desencarne.
É um como um poeta atravessando uma ponte, sempre com receio, talvez com medo
de cair no rio e se perder. As ondulações são cabelos ao vento, numa certa
rebeldia, numa porção adolescente mínima que acompanha o indivíduo mesmo na
idade adulta, pois é interessante a pessoa conservar dentro de si uma pontinha
de jovialidade.
Acima, Mulher com Criança. A criança está completamente entregue, jogada
nos braços da mulher, a qual tem um olhar incerto, olhando para o nada, talvez
se perguntando se poderá sustentar com tranquilidade a menina, cujo cabelo está
adornado com uma fita vermelha, combinando com o círculo rubro no busto da
mulher, na cor que significa os laços de sangue, a genética. Talvez seja a avó
da criança, e a mãe pode ter morrido, deixando a menina aos cuidados da vó,
pois esta mulher não tem traços joviais, e seus olhos negros se deparam com
algo imprevisível e denso, num quadro não muito iluminado, com um certo peso de
cores escuras. É o mistério existencial, e ao indivíduo sobra a sombra do
imprevisível, rezando para não sofrer com os movimentos da Vida. A mulher veste
uma toca branca, que é o telhado do Lar, a proteção, a estrutura familiar, e
talvez a avó faça guarda compartilhada enquanto a mãe da menina sai para
trabalhar e trazer dinheiro para casa, na obrigação de fornecer alimento e
conforto para a menina, numa mãe que começa a sentir o avassalador peso da
responsabilidade. Uma ponta da toca branca é em vermelho, num útero que sofreu
as dores do parto e trouxe ao Mundo de forma sofrida um bebê, na coragem que
uma mulher tem que ter no momento do parto, num ato de expulsão e, ao mesmo
tempo, Amor. Podemos ouvir o choro da criança se espalhando pela casa, e
podemos ver seus brinquedos espalhados pelo chão, numa casa permanentemente
bagunçada, o que é inevitável nas crianças. A mãozinha da menina entra em
contraste com a mão grande da avó, num ato de proteção, em que um adulto lembra
do modo como ele mesmo foi criado, transmitindo às crianças o modo como foi
educado, no modo como é inevitável criarmos nossos filhos do modo como fomos
criados por nossos pais. Atrás no quadro, uma parede cinzenta e escura, na cor
discreta da dúvida existencial, e vemos linhas azuis retilíneas, que são o uso
da razão, num adulto que tem que ser, além de afetuoso, racional, impondo à
criança limites racionais, limites disciplinares, num lar onde, além de Amor,
há regras rígidas, fazendo com que a criança, nesse sistema disciplinar,
sinta-se respaldada e protegida. A gola da mulher é um tanto elizabetana, no
modo como o monarca se torna pai de todo o seu povo, havendo no trono uma
metáfora da Divina Providência, a força governamental invisível que rege a
todos na Terra, numa forma de governo tão forte que mal é percebida. As mãos
fortes da mulher seguram com força a menina, garantindo que nada de mal poderá
acontecer à menina, no impulso protetivo de qualquer pai ou mãe: preservar o
filho, garantindo que este sinta o mínimo possível de dor, pois, já ouvi de uma
psicóloga, a dor psíquica é inevitável; o que é evitável é o sofrimento por
esta mesma dor. A linha azul é a imposição de limites, e é dura, fazendo com
que a criança se torne um adulto realista, forte e responsável, para, então,
este novo adulto ter sua vez de criar uma criança, no ciclo intermitente da
Vida, onde o adulto volta a ser criança. Aqui, a mulher está absolutamente
séria, sem esboçar qualquer sorriso de alegria, sentindo o peso da menina em
seus braços. Sua blusa é de uma cor verde profundo, muito profundo, na
meditação que só é possível numa casa na qual a criança esteja dormindo pacificamente.
Já, a menina tem uma roupa de cândido rosa, num quê doce, como docinhos em uma
festa de aniversário infantil, numa avó adulta que, apesar de ser crescida, pode
voltar um pouco a ser criança novamente, sendo criança através da própria neta.
A criança está numa posição de amamentação, mas é claro que a avó não fornece
leite materno, ao contrário das amas de elite, as escravas negras que
amamentavam bebês aristocráticos da fazenda de café. É como a gloriosa sensação
de “mamar” leite condensado, num reconfortante retorno ao Lar, à casa de todos
nós, a esta “urna eletrônica” que tanto nos faz irmãos.
Acima, Arlequim e o Gato Preto. Símbolos de alegria e irreverência, os
arlequins, neste quadro de Malagoli, estão representados por um homem sério,
talvez cansado de ser palhaço, do tipo de palhaço que faz os outros rir mas, em
seu interior, é um palhaço que chora. Este arlequim é lânguido, preguiçoso,
talvez esperando o momento de entrar em cena, concentrando-se para arrancar
risadas do público. Talvez seja um folião de Carnaval, mas um folião sério, que
pouco se diverte no baile. É um Ado mortificado, livre de ilusões, livre da
influência de sinais auspiciosos, como se soubesse que, por mais lindo que o
circo seja, este circo vai levantar a lona e irá embora, no sabor inevitável da
desilusão... E o terreno, que outrora abrigou o circo, transforma-se em um
vazio existencial enorme, num Mundo tão duro, que tanto castra sonhos e
ilusões, sendo tão difícil manter a alegria em um Mundo que tão pouco
sorri. O gato preto é o agouro, o mistério que nos espera em qualquer esquina
da Vida, e podemos ouvir seu miado e seus passos silenciosos, no negror da
Noite, da boemia, um hábito que, apesar de alegre, pode viciar, pois, ao lado
deste triste arlequim, há uma garrafa de vinho e um cálice, talvez num palhaço
alcoólatra, que se viciou em inocentes goles de bebida, talvez enchendo a cara
antes de subir no palco, numa vida tão triste e tão desprovida de perspectivas.
É um quadro melancólico. O arlequim não sabe direito onde colocar os braços,
numa incerteza, num desconforto, e talvez esteja pensando em largar a profissão
para fazer um trabalho que lhe traga mais dignidade e estabilidade. É uma
pessoa de alma circense, mas uma pessoa que, apesar de jovem ainda, começa a
sentir a seriedade da Vida. O gato é seu companheiro, talvez seu único amigo,
numa vida solitária, num circo que passa de cidade em cidade, nunca
estabelecendo raízes, sempre nômade tal qual cigano, com uma certa dificuldade
para definir e estabelecer o seu próprio papel no Mundo, o papel do arlequim. A
sua roupa tem losangos um tanto coloridos, mas um tanto pálidos, na própria
palidez da pele do rapaz e de seu chapéu, fazendo contraste com o gato negro, e
o cálice é branco também – aqui, o branco define um certo vazio, como uma folha
em branco, e o arlequim imagina o que poderá ser escrito nesta folha, e começa
a perceber que, cada vez mais, a Vida lhe exige escrever algo nesta folha,
exigindo uma definição existencial: Afinal de contas, o que você vai fazer da
Vida? A garrafa de álcool é uma espécie de companheira, um amigo, um consolo, mas
uma amizade que pode vir a comprometer todo um sistema neurológico, fazendo com
que este “amigo” se torne seu pior inimigo, havendo no álcool algo que pode
atrapalhar muito uma vida. O arlequim está prostrado, desanimado e desnorteado,
mas é jovem e tem toda a vida pela frente, e parece que está esperando por
algo, por algum sinal, mas um sinal que ainda parece estar longe de se revelar
por completo, pois quando o indivíduo tem certas etapas existenciais à sua
frente, essas etapas jamais podem ser abreviadas ou ignoradas, pois cada passo
de uma existência é capital, numa etapa que leva à outra – a Vida nunca é em vão. Ao lado da garrafa
temos um pano branco, que é o desejo de Paz, numa pessoa que se autoapaziguar,
buscando harmonia e querendo, de algum modo, se libertar de tantas dúvidas
escuras. O gato negro é o destino que não pode ser previsto antes da hora
certa, e o álcool é uma espécie de “anestésico”, havendo no alcoólatra alguém
que quer atenuar as dores do dia a dia, havendo na bebida uma válvula de escape
em um Mundo
tão duro, que tanto exige do indivíduo. O chapéu do arlequim é abrasivo como
uma pirâmide, pontiagudo, na dose de agressividade necessária a qualquer pessoa
que queira se definir existencialmente, como um arqueiro preciso, que sabe o
que quer; que sabe a quê veio. Os braços do rapaz são como correntes, no modo
como é a própria pessoa quem se amarra, quem se limita, quem se castra, pois o
autoencontro é dentro da pessoa, e não fora. O problema se constitui quando a
pessoa quer se encontrar esperando algo do Mundo, e é reconfortante observar
que o Mundo não muda. Coragem!
Acima, Natureza Morta. As frutas são perfeitamente redondas, como esferas
em um sistema solar, num balé rítmico, como na abertura do seriado televisivo Third Rock From the Sun, em que planetas
dançavam alegremente em cenas de irreverência no Cosmos. As frutas estão
dispostas espontaneamente, como se cada uma delas tivesse livremente escolhido
onde ficar. São coloridas, maduras e suculentas, num artista que se tornou
delicioso. Existe algo em Malagoli que nos transporta àqueles céus renascentistas,
azuis, limpos, angelicais. O limpo pano branco respalda as esferas, na cor
preferida dos centros espíritas, havendo uma ritualização ao redor do branco,
tomando este por símbolo de limpeza e de verdade nas atitudes; claridade;
certeza. Mais ao fundo, uma garrafa escura, e não podemos saber se ela está
cheia ou madura, numa dúvida que perdura, fazendo contraste com a
previsibilidade branca: sempre há coisas as quais nos pegam de surpresa, e aí
está a irreverência divina, num Tao piadista, repleto de senso de humor. A
garrafa guarda algo que só é revelado no momento certo e oportuno, e reserva
algo por anos, numa revelação, como na Vida plena que nos espera. Neste quadro,
há duas partes – a interna e a externa, havendo um intermédio de uma janela
retangular, um canal, uma utilidade, pois a janela que não é vazia, deixa de
ser janela, no sentido de como o vazio é sexy, atraente. Do lado de fora, uma
orla paradisíaca, num Ado desejoso de se desplugar um pouco e curtir o que há
de mais simples na Vida, como olhar para um Céu de Brigadeiro e encher os
próprios pulmões de ar, na simplicidade de momento em que tudo de que
precisamos é absolutamente nada. E este nada é Tao, o caminho eternamente
desobstruído. E assim é esta janela. Duas pessoas caminham tranquilamente pela
beira da praia, talvez um casal em Lua de Mel em um belo resort nordestino
brasileiro. As duas almas são a companhia, a fidelidade, a amizade, no modo
como um amigo faz com que o Mundo deixe de parecer tão duro e solitário, tão
assoberbador. É uma praia intocada, sem um sinal de lixo sobre a areia, no modo
como o ser humano, normalmente, não é cidadão, jogando lixo na areia de forma
irresponsável – a cidade é do cidadão, e de ninguém mais. A água é de um azul
caribenho, sedutor, limpo e perfumado, na clareza que respalda as intenções
boas e puras. Há suaves colinas verdejantes, numa flora que pulsa feliz em um
ecossistema exótico. Temos um Ado que ama as coisas belas e simples, numa
elegância de revista de Decoração. A luz de Ado sai do quadro e toca o
espectador. Podemos ouvir as pequenas ondas requebrando na beira, em ondas num
vaivém, sempre respirando, indo e vindo, num inocente coito. O céu limpo é a
promessa de dias com mais clareza, em que o indivíduo pode olhar para si mesmo
no espelho e saber quem está ali refletido. É claro que não existe 100% de
certeza na Vida, mas o autoencontro busca prever o máximo possível, evitando a
sensação ruim de estar perdido e solitário, frente a um cálculo matemático
indecifrável. Ado nos convida ao compartilhamento, e temos a vontade de cortar
estas frutas e comê-las, deglutindo Ado, como comemos a carne de Jesus na hóstia.
As duas pessoas na orla são os dois olhos de Ado, sempre atento ao Mundo ao
redor, sempre querendo registrar da melhor forma possível. A janela é como uma
tela de Cinema, na mais jovem das Artes, numa tela sonorizada que nos convida a
viajar pelos olhos de um diretor, de um ator, de um diretor de Arte, de um
artista. Podemos sentir o perfume das frutas, no perfume espiritual que dizem
que se podia sentir na presença do médium Chico Xavier, o maior médium de todos
os tempos. Esta janela está aberta e revelada, pronta para servir ao Mundo em
sua dignidade vazia, absolutamente desprovida de narcisismo ou egocentrismo.
Como é viva esta natureza morta!
Acima, Sonho. Temos um Ado com um pezinho no Surrealismo, tentando
decifrar os códigos herméticos oníricos, pois a Psicologia acredita que os
sonhos nada mais são do que projeções da psique da própria pessoa, numa espécie
de “olhar-se no espelho”. Semioticamente falando, a Arte também é feita de
projeções. Então, temos aqui uma metalinguagem: projeção falando de projeção,
no sonho do próprio Ado. Mas, na hora da análise, precisamos respeitar o
artista e jamais usar o trabalho do artista contra este. Vemos um cavalinho,
que é a Liberdade, na deliciosa sensação de cavalgar livre pelo campo, num Ado
que ama o ar livre, que é uma paixão dos gaúchos. O cavalo está parado, pronto
para ser montado; o cavalo é a rebeldia, que tem que ser domada para que a
pessoa tenha Paz. Podemos ouvir o relinchar do bicho, desafiando um cavaleiro a
montá-lo. Vemos uma mulher deitada no divã, como numa sessão de Psicanálise,
como se o sonho no quadro fosse desta mulher, num terapeuta esforçado a
decifrar os sonhos e dar um diagnóstico preciso, científico. A mulher deita,
dorme e sonha. Vemos um busto sem face, como um herói desconhecido, no modo
como no Mundo há tantas pessoas que não são reconhecidas ou valorizadas, no
baita desafio que é ganhar o respeito de outrem. Vemos uma garrafa azulada,
talvez um remédio, no modo como a Psicoterapia visa ser este remédio, com
psiquiatras receitando drogas que façam com que o paciente se sinta bem – é o
paradigma da drogadição assistida, legalizada. Atrás do busto sem face –
anônimo busto –, vemos formas retangulares que parecem ser livros, no prazer do
ato de ler, no modo como um livro pode se tornar uma companhia, como um rádio
ligado, por exemplo. Cortando o quadro vemos uma faixa amarela, dourada, como
numa torcida amarela de alguma seleção brasileira, na promessa de um Brasil
melhor, mais rico e mais pleno, num Brasil do futuro, que nos espera após
deixarmos o Brasil da Terra. A faixa amarela é a remuneração, o trabalho
dignificado, no esforço para se ganhar a Vida, na necessidade mundana de se
pagar contas e adquirir alimentos e roupas – é o day by day. Sobre a faixa amarela, vemos um castiçal com uma longa
vela intacta, que nunca foi acesa – é o resguardo, a reserva, a
autopreservação, numa vela que está sendo guardada para dias de escuridão, para
momentos de dúvida, de incerteza negra, nas surpresas da Vida. Mais ao fundo
vemos uma catedral de formato espinhoso e agressivo, furando os céus, num aviso
claro – tome distância; respeite. É uma seta que aponta para algo acima, para
um Mundo mais depurado. No fundo do quadro, o que vemos é uma vila, um vilarejo
pacato, eventualmente alvo de arrombadores de caixas eletrônicos, numa vila em
que há a Paz para se criar e produzir, no modo como um artista tem que se
desplugar do Mundo para, depois, replugar-se. Há um gramado verde e bem
cuidado, na dedicação do trabalho de um bom jardineiro, sempre debruçado sobre
o próprio trabalho, num exercício diário de Disciplina. Neste vilarejo, vemos
uma pequena torre vermelha, como um hidrante, pronto para controlar chamas, no
modo como a aparelho psíquico humano tem recursos para reprimir comportamentos nocivos
e perniciosos, evitando o acúmulo de ressentimentos, sendo estes nocivos como
se acumular lixo – o Desnecessário tem que ir embora. Bem ao fundo, o vilarejo
é beijado por um por do Sol ardente, na força ardente que queima dentro de cada
artista, sempre trazendo a luz do dia sobre as percepções humanas, na missão do
artista de unir as pessoas em torno de uma mesma obra de Arte, no constante
apelo dos padres em missas: Somos todos irmãos, e caminhos diferentes levam ao
mesmo destino, que é Tao. Na porção direita do quadro, há uma forma incerta que
imita um ponto de interrogação, na inevitável dúvida do artista: Será que as
pessoas vão me compreender?
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