quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Ado Locatelli, digo, Malagoli



O artista deu nome ao Museu de arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, o MARGS. Recentemente, houve em Caxias do Sul uma mostra que incluía quadros de Ado de uma coleção particular, algo que me arrebatou. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, um quadro cujo título não pude identificar – peço perdão! Uma paisagem gaúcha, dos Pampas ou dos Campos de Cima da Serra. O Vento Minuano parece cortar os campos, e podemos ouvir o assobio do vento, com uns eventuais cantos de queroquero. É um lusco fosco, pois não sabemos dizer se é noite ou dia; se amanhece ou entardece, num limiar, um limite, num artista que tem a coragem de transitar por linhas tênues, num espírito aventureiro de quem gosta de uma pitada de risco. As linhas são curvilíneas, onduladas, e parece uma cena marítima, com ondas indo e vindo, na liquidiscência existencial, com ondas que hora levam ao topo, hora para o fundo. É uma combinação cromática de muito bom gosto, com tons de azul e verde, num Ado elegante, criterioso, numa pincelada que dá frescor, uma delícia. O capim selvagem ondula ao sabor do vento, e podemos ouvir o farfalhar sensual da vegetação, dançando ao vento, no grande baile que é um ecossistema, onde cada agente tem seu lugar nesta “pista de dança”. Aqui, pode ser uma noite clara de luar, num céu limpo no qual a Lua exerce todo seu fascínio, numa universalidade, pois a mesma Lua é vista por seres humanos de todas as épocas e lugares, como uma mãe que abraça toda a sua ninhada, fazendo de nós irmãos, iguais, no conceito de Igualdade da Revolução Francesa, como no paradigma da urna eleitoral: homem ou mulher, gay ou hétero, preto ou branco, rico ou pobre: todos somos absolutamente iguais na hora de pressionar as teclas da urna eletrônica, num exercício de Democracia, um sistema que tem nobres intenções. O artista é uma pessoa que quer se engajar neste “baile”, buscando um papel (relevante) nessa cena social: O que é a Arte? Por que ela é importante? Como devemos tratar os artistas? Aqui, as colinas são baixinhas e suaves, com curvas dignas de corpão de top model, na forma como o Feminino é relacionado à Natureza, à Mãe de todos nós, seres de carne e osso, ou a Mãe psíquica, na imaculada concepção espiritual. É como uma máquina de lavar roupa, onde todos são submetidos ao mesmo processo, num exercício de equiparação. Estes campos têm pontos enegrecidos, talvez num Ado Malagoli desejoso de catarsear um sentimento de abandono e escuridão, no poder terapêutico das catarses, quando o artista vomita sobre as pessoas, exigindo ser respeitado e valorizado. Na porção mais inferior do quadro, vemos uma forma negra, indecifrável, misteriosa. Pode ser uma moita solitária, em um campo tão ermo e desabitado, tão selvagem. Pode ser uma figura humana, sozinha, talvez padecendo no frio do vento invernal, talvez um gaúcho de poncho, agasalhado para enfrentar a travessia incerta que é a Vida, sempre pronto para esbarrar em percalços que, no fim das contas, acabam ajudando o indivíduo a encontrar seu próprio caminho. É um sentimento de solidão e desolação, num quadro que, apesar de um tanto melancólico, é belo. Talvez a Lua esteja quase aparecendo ao fundo, atrás dos montes, anunciando-se com uma luz azulada, reinando sobre as noites dos Pampas. Os montes ao fundo parecem um mar muito revolto e inquieto, nas inquietudes dos artistas, mentes sensíveis em constante busca de percepções singulares, criativas, pois criar é a obrigação de cada artista, ou seja, produzir, e isto é a receita da felicidade – ter um lugar no Mundo. A misteriosa forma negra parece uma criança perdida, chorando pelos pais, num sentimento de estar longe de casa, longe do aconchego do Lar, a casa primordial que nos espera após o Desencarne. É um como um poeta atravessando uma ponte, sempre com receio, talvez com medo de cair no rio e se perder. As ondulações são cabelos ao vento, numa certa rebeldia, numa porção adolescente mínima que acompanha o indivíduo mesmo na idade adulta, pois é interessante a pessoa conservar dentro de si uma pontinha de jovialidade.


Acima, Mulher com Criança. A criança está completamente entregue, jogada nos braços da mulher, a qual tem um olhar incerto, olhando para o nada, talvez se perguntando se poderá sustentar com tranquilidade a menina, cujo cabelo está adornado com uma fita vermelha, combinando com o círculo rubro no busto da mulher, na cor que significa os laços de sangue, a genética. Talvez seja a avó da criança, e a mãe pode ter morrido, deixando a menina aos cuidados da vó, pois esta mulher não tem traços joviais, e seus olhos negros se deparam com algo imprevisível e denso, num quadro não muito iluminado, com um certo peso de cores escuras. É o mistério existencial, e ao indivíduo sobra a sombra do imprevisível, rezando para não sofrer com os movimentos da Vida. A mulher veste uma toca branca, que é o telhado do Lar, a proteção, a estrutura familiar, e talvez a avó faça guarda compartilhada enquanto a mãe da menina sai para trabalhar e trazer dinheiro para casa, na obrigação de fornecer alimento e conforto para a menina, numa mãe que começa a sentir o avassalador peso da responsabilidade. Uma ponta da toca branca é em vermelho, num útero que sofreu as dores do parto e trouxe ao Mundo de forma sofrida um bebê, na coragem que uma mulher tem que ter no momento do parto, num ato de expulsão e, ao mesmo tempo, Amor. Podemos ouvir o choro da criança se espalhando pela casa, e podemos ver seus brinquedos espalhados pelo chão, numa casa permanentemente bagunçada, o que é inevitável nas crianças. A mãozinha da menina entra em contraste com a mão grande da avó, num ato de proteção, em que um adulto lembra do modo como ele mesmo foi criado, transmitindo às crianças o modo como foi educado, no modo como é inevitável criarmos nossos filhos do modo como fomos criados por nossos pais. Atrás no quadro, uma parede cinzenta e escura, na cor discreta da dúvida existencial, e vemos linhas azuis retilíneas, que são o uso da razão, num adulto que tem que ser, além de afetuoso, racional, impondo à criança limites racionais, limites disciplinares, num lar onde, além de Amor, há regras rígidas, fazendo com que a criança, nesse sistema disciplinar, sinta-se respaldada e protegida. A gola da mulher é um tanto elizabetana, no modo como o monarca se torna pai de todo o seu povo, havendo no trono uma metáfora da Divina Providência, a força governamental invisível que rege a todos na Terra, numa forma de governo tão forte que mal é percebida. As mãos fortes da mulher seguram com força a menina, garantindo que nada de mal poderá acontecer à menina, no impulso protetivo de qualquer pai ou mãe: preservar o filho, garantindo que este sinta o mínimo possível de dor, pois, já ouvi de uma psicóloga, a dor psíquica é inevitável; o que é evitável é o sofrimento por esta mesma dor. A linha azul é a imposição de limites, e é dura, fazendo com que a criança se torne um adulto realista, forte e responsável, para, então, este novo adulto ter sua vez de criar uma criança, no ciclo intermitente da Vida, onde o adulto volta a ser criança. Aqui, a mulher está absolutamente séria, sem esboçar qualquer sorriso de alegria, sentindo o peso da menina em seus braços. Sua blusa é de uma cor verde profundo, muito profundo, na meditação que só é possível numa casa na qual a criança esteja dormindo pacificamente. Já, a menina tem uma roupa de cândido rosa, num quê doce, como docinhos em uma festa de aniversário infantil, numa avó adulta que, apesar de ser crescida, pode voltar um pouco a ser criança novamente, sendo criança através da própria neta. A criança está numa posição de amamentação, mas é claro que a avó não fornece leite materno, ao contrário das amas de elite, as escravas negras que amamentavam bebês aristocráticos da fazenda de café. É como a gloriosa sensação de “mamar” leite condensado, num reconfortante retorno ao Lar, à casa de todos nós, a esta “urna eletrônica” que tanto nos faz irmãos.


Acima, Arlequim e o Gato Preto. Símbolos de alegria e irreverência, os arlequins, neste quadro de Malagoli, estão representados por um homem sério, talvez cansado de ser palhaço, do tipo de palhaço que faz os outros rir mas, em seu interior, é um palhaço que chora. Este arlequim é lânguido, preguiçoso, talvez esperando o momento de entrar em cena, concentrando-se para arrancar risadas do público. Talvez seja um folião de Carnaval, mas um folião sério, que pouco se diverte no baile. É um Ado mortificado, livre de ilusões, livre da influência de sinais auspiciosos, como se soubesse que, por mais lindo que o circo seja, este circo vai levantar a lona e irá embora, no sabor inevitável da desilusão... E o terreno, que outrora abrigou o circo, transforma-se em um vazio existencial enorme, num Mundo tão duro, que tanto castra sonhos e ilusões, sendo tão difícil manter a alegria em um Mundo que tão pouco sorri. O gato preto é o agouro, o mistério que nos espera em qualquer esquina da Vida, e podemos ouvir seu miado e seus passos silenciosos, no negror da Noite, da boemia, um hábito que, apesar de alegre, pode viciar, pois, ao lado deste triste arlequim, há uma garrafa de vinho e um cálice, talvez num palhaço alcoólatra, que se viciou em inocentes goles de bebida, talvez enchendo a cara antes de subir no palco, numa vida tão triste e tão desprovida de perspectivas. É um quadro melancólico. O arlequim não sabe direito onde colocar os braços, numa incerteza, num desconforto, e talvez esteja pensando em largar a profissão para fazer um trabalho que lhe traga mais dignidade e estabilidade. É uma pessoa de alma circense, mas uma pessoa que, apesar de jovem ainda, começa a sentir a seriedade da Vida. O gato é seu companheiro, talvez seu único amigo, numa vida solitária, num circo que passa de cidade em cidade, nunca estabelecendo raízes, sempre nômade tal qual cigano, com uma certa dificuldade para definir e estabelecer o seu próprio papel no Mundo, o papel do arlequim. A sua roupa tem losangos um tanto coloridos, mas um tanto pálidos, na própria palidez da pele do rapaz e de seu chapéu, fazendo contraste com o gato negro, e o cálice é branco também – aqui, o branco define um certo vazio, como uma folha em branco, e o arlequim imagina o que poderá ser escrito nesta folha, e começa a perceber que, cada vez mais, a Vida lhe exige escrever algo nesta folha, exigindo uma definição existencial: Afinal de contas, o que você vai fazer da Vida? A garrafa de álcool é uma espécie de companheira, um amigo, um consolo, mas uma amizade que pode vir a comprometer todo um sistema neurológico, fazendo com que este “amigo” se torne seu pior inimigo, havendo no álcool algo que pode atrapalhar muito uma vida. O arlequim está prostrado, desanimado e desnorteado, mas é jovem e tem toda a vida pela frente, e parece que está esperando por algo, por algum sinal, mas um sinal que ainda parece estar longe de se revelar por completo, pois quando o indivíduo tem certas etapas existenciais à sua frente, essas etapas jamais podem ser abreviadas ou ignoradas, pois cada passo de uma existência é capital, numa etapa que leva à outra – a Vida nunca é em vão. Ao lado da garrafa temos um pano branco, que é o desejo de Paz, numa pessoa que se autoapaziguar, buscando harmonia e querendo, de algum modo, se libertar de tantas dúvidas escuras. O gato negro é o destino que não pode ser previsto antes da hora certa, e o álcool é uma espécie de “anestésico”, havendo no alcoólatra alguém que quer atenuar as dores do dia a dia, havendo na bebida uma válvula de escape em um Mundo tão duro, que tanto exige do indivíduo. O chapéu do arlequim é abrasivo como uma pirâmide, pontiagudo, na dose de agressividade necessária a qualquer pessoa que queira se definir existencialmente, como um arqueiro preciso, que sabe o que quer; que sabe a quê veio. Os braços do rapaz são como correntes, no modo como é a própria pessoa quem se amarra, quem se limita, quem se castra, pois o autoencontro é dentro da pessoa, e não fora. O problema se constitui quando a pessoa quer se encontrar esperando algo do Mundo, e é reconfortante observar que o Mundo não muda. Coragem!


Acima, Natureza Morta. As frutas são perfeitamente redondas, como esferas em um sistema solar, num balé rítmico, como na abertura do seriado televisivo Third Rock From the Sun, em que planetas dançavam alegremente em cenas de irreverência no Cosmos. As frutas estão dispostas espontaneamente, como se cada uma delas tivesse livremente escolhido onde ficar. São coloridas, maduras e suculentas, num artista que se tornou delicioso. Existe algo em Malagoli que nos transporta àqueles céus renascentistas, azuis, limpos, angelicais. O limpo pano branco respalda as esferas, na cor preferida dos centros espíritas, havendo uma ritualização ao redor do branco, tomando este por símbolo de limpeza e de verdade nas atitudes; claridade; certeza. Mais ao fundo, uma garrafa escura, e não podemos saber se ela está cheia ou madura, numa dúvida que perdura, fazendo contraste com a previsibilidade branca: sempre há coisas as quais nos pegam de surpresa, e aí está a irreverência divina, num Tao piadista, repleto de senso de humor. A garrafa guarda algo que só é revelado no momento certo e oportuno, e reserva algo por anos, numa revelação, como na Vida plena que nos espera. Neste quadro, há duas partes – a interna e a externa, havendo um intermédio de uma janela retangular, um canal, uma utilidade, pois a janela que não é vazia, deixa de ser janela, no sentido de como o vazio é sexy, atraente. Do lado de fora, uma orla paradisíaca, num Ado desejoso de se desplugar um pouco e curtir o que há de mais simples na Vida, como olhar para um Céu de Brigadeiro e encher os próprios pulmões de ar, na simplicidade de momento em que tudo de que precisamos é absolutamente nada. E este nada é Tao, o caminho eternamente desobstruído. E assim é esta janela. Duas pessoas caminham tranquilamente pela beira da praia, talvez um casal em Lua de Mel em um belo resort nordestino brasileiro. As duas almas são a companhia, a fidelidade, a amizade, no modo como um amigo faz com que o Mundo deixe de parecer tão duro e solitário, tão assoberbador. É uma praia intocada, sem um sinal de lixo sobre a areia, no modo como o ser humano, normalmente, não é cidadão, jogando lixo na areia de forma irresponsável – a cidade é do cidadão, e de ninguém mais. A água é de um azul caribenho, sedutor, limpo e perfumado, na clareza que respalda as intenções boas e puras. Há suaves colinas verdejantes, numa flora que pulsa feliz em um ecossistema exótico. Temos um Ado que ama as coisas belas e simples, numa elegância de revista de Decoração. A luz de Ado sai do quadro e toca o espectador. Podemos ouvir as pequenas ondas requebrando na beira, em ondas num vaivém, sempre respirando, indo e vindo, num inocente coito. O céu limpo é a promessa de dias com mais clareza, em que o indivíduo pode olhar para si mesmo no espelho e saber quem está ali refletido. É claro que não existe 100% de certeza na Vida, mas o autoencontro busca prever o máximo possível, evitando a sensação ruim de estar perdido e solitário, frente a um cálculo matemático indecifrável. Ado nos convida ao compartilhamento, e temos a vontade de cortar estas frutas e comê-las, deglutindo Ado, como comemos a carne de Jesus na hóstia. As duas pessoas na orla são os dois olhos de Ado, sempre atento ao Mundo ao redor, sempre querendo registrar da melhor forma possível. A janela é como uma tela de Cinema, na mais jovem das Artes, numa tela sonorizada que nos convida a viajar pelos olhos de um diretor, de um ator, de um diretor de Arte, de um artista. Podemos sentir o perfume das frutas, no perfume espiritual que dizem que se podia sentir na presença do médium Chico Xavier, o maior médium de todos os tempos. Esta janela está aberta e revelada, pronta para servir ao Mundo em sua dignidade vazia, absolutamente desprovida de narcisismo ou egocentrismo. Como é viva esta natureza morta!


Acima, Sonho. Temos um Ado com um pezinho no Surrealismo, tentando decifrar os códigos herméticos oníricos, pois a Psicologia acredita que os sonhos nada mais são do que projeções da psique da própria pessoa, numa espécie de “olhar-se no espelho”. Semioticamente falando, a Arte também é feita de projeções. Então, temos aqui uma metalinguagem: projeção falando de projeção, no sonho do próprio Ado. Mas, na hora da análise, precisamos respeitar o artista e jamais usar o trabalho do artista contra este. Vemos um cavalinho, que é a Liberdade, na deliciosa sensação de cavalgar livre pelo campo, num Ado que ama o ar livre, que é uma paixão dos gaúchos. O cavalo está parado, pronto para ser montado; o cavalo é a rebeldia, que tem que ser domada para que a pessoa tenha Paz. Podemos ouvir o relinchar do bicho, desafiando um cavaleiro a montá-lo. Vemos uma mulher deitada no divã, como numa sessão de Psicanálise, como se o sonho no quadro fosse desta mulher, num terapeuta esforçado a decifrar os sonhos e dar um diagnóstico preciso, científico. A mulher deita, dorme e sonha. Vemos um busto sem face, como um herói desconhecido, no modo como no Mundo há tantas pessoas que não são reconhecidas ou valorizadas, no baita desafio que é ganhar o respeito de outrem. Vemos uma garrafa azulada, talvez um remédio, no modo como a Psicoterapia visa ser este remédio, com psiquiatras receitando drogas que façam com que o paciente se sinta bem – é o paradigma da drogadição assistida, legalizada. Atrás do busto sem face – anônimo busto –, vemos formas retangulares que parecem ser livros, no prazer do ato de ler, no modo como um livro pode se tornar uma companhia, como um rádio ligado, por exemplo. Cortando o quadro vemos uma faixa amarela, dourada, como numa torcida amarela de alguma seleção brasileira, na promessa de um Brasil melhor, mais rico e mais pleno, num Brasil do futuro, que nos espera após deixarmos o Brasil da Terra. A faixa amarela é a remuneração, o trabalho dignificado, no esforço para se ganhar a Vida, na necessidade mundana de se pagar contas e adquirir alimentos e roupas – é o day by day. Sobre a faixa amarela, vemos um castiçal com uma longa vela intacta, que nunca foi acesa – é o resguardo, a reserva, a autopreservação, numa vela que está sendo guardada para dias de escuridão, para momentos de dúvida, de incerteza negra, nas surpresas da Vida. Mais ao fundo vemos uma catedral de formato espinhoso e agressivo, furando os céus, num aviso claro – tome distância; respeite. É uma seta que aponta para algo acima, para um Mundo mais depurado. No fundo do quadro, o que vemos é uma vila, um vilarejo pacato, eventualmente alvo de arrombadores de caixas eletrônicos, numa vila em que há a Paz para se criar e produzir, no modo como um artista tem que se desplugar do Mundo para, depois, replugar-se. Há um gramado verde e bem cuidado, na dedicação do trabalho de um bom jardineiro, sempre debruçado sobre o próprio trabalho, num exercício diário de Disciplina. Neste vilarejo, vemos uma pequena torre vermelha, como um hidrante, pronto para controlar chamas, no modo como a aparelho psíquico humano tem recursos para reprimir comportamentos nocivos e perniciosos, evitando o acúmulo de ressentimentos, sendo estes nocivos como se acumular lixo – o Desnecessário tem que ir embora. Bem ao fundo, o vilarejo é beijado por um por do Sol ardente, na força ardente que queima dentro de cada artista, sempre trazendo a luz do dia sobre as percepções humanas, na missão do artista de unir as pessoas em torno de uma mesma obra de Arte, no constante apelo dos padres em missas: Somos todos irmãos, e caminhos diferentes levam ao mesmo destino, que é Tao. Na porção direita do quadro, há uma forma incerta que imita um ponto de interrogação, na inevitável dúvida do artista: Será que as pessoas vão me compreender?

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