quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Velejando pela Arte



O espanhol Diego Velázquez foi o principal artista da corte espanhola no século XVII. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, As Meninas. Certamente, este é o quadro mais famoso de toda a carreira brilhante de DV. Certa vez minha mãe possuía uma cópia emoldurada. Na verdade, a cena é um reflexo de espelho. DV aparece como uma espécie de Alfred Hitchcock, munido de pincel e paleta. A estrela da cena é a princesinha sentada, sendo atendida por uma aia de joelhos, num momento de posicionamento social, de privilégio, numa época em que só a Nobreza podia bancar retratos feitos por grandes pintores. Um cachorro se acomoda no chão, sem ter noção alguma dos abismos sociais do Mundo, no modo como inocentes gatos desfilavam despreocupadamente nas cortes dos faraós egípcios, em bichanos que não faziam ideia de estar sentando no colo de um poderoso monarca – é a inocência dos animais. O cachorro é a estima, o carinho, a fidelidade incondicional. Não é uma cena muito iluminada, e a pouca luz que entra pela janela tem a missão de iluminar, destacar e privilegiar a princesinha, que nasceu e cresceu absolutamente acostumada com mimos e cuidados exacerbados, no modo como, quando algum espírito privilegiado desencarna, este mesmo espírito pergunta: Onde está meu séquito? Onde estão meus servos? No modo como, a nível metafísico, os abismos sociais se esfarelam. Uma das aias do séquito é uma anã, um sinal de vantagem social, pois, na época, era muito chique e bonito ter uma aia anã dentre o séquito, como no filme Elizabeth, no qual, tanto esta como a irmã Mary Tudor tinham uma fiel aia anã. E por que isso era considerado tão elegante? Talvez pela pequenez ser considerada adorável e delicada. Ao lado da anã, uma criança, e não podemos observar se esta é menino ou menina, numa androginia, no modo como os anjos não têm sexo, pois são espíritos livres de corpos carnais, os quais, por suas vezes, têm sexo. Também ao lado da anã, outra aia, talvez a de maior importância no séquito, numa clara hierarquia, com tudo girando em torno do Sangue Azul, um paradigma governamental da época, havendo só depois, na Revolução Francesa, a elevação da Democracia, paradigma que vigora pleno até hoje. Um pouco atrás, uma figura que parece ser uma freira, na união consolidada entre Estado e Religião, um elo que se tornava uma coisa só, num Vaticano ainda poderoso, emergindo de um contexto medieval de onipresença na Europa. Ao lado da freira, uma figura apagada, incerta, como uma alma penada vagando pelo Umbral, incerta, hesitante, perdida. É um DV um tanto inseguro, e é da insegurança que vem o questionamento, e questionar é próprio dos sábios. Na parede ao fundo, quadros dependurados, num sinal de poder e riqueza, colecionando obras que custaram muito para ser confeccionadas, num símbolo de privilégio, juntando Arte e Dinheiro no mesmo plano, no mesmo nível, como, já ouvi dizer, que Nova York respira duas coisas – Arte e Dinheiro. Só que o artista, assim sendo, não quer exatamente ter posses e mais posses, mas quer ser reconhecido e respeitado. Em um dos quadros ao fundo, um homem e uma mulher, talvez o Rei e a Rainha da Espanha, no insuperável arquétipo forte-frágil, ritualizando a união heterossexual, tendo nesta a personificação de Yin e Yang, as forças opostas que regem, juntas, o Universo. Talvez sejam os pais da princesinha, pais que já articulam acordos matrimoniais, querendo casar a filha como um homem nobre, rico, de família ilustre e respeitada, restando à princesinha a ausência de escolha, tendo que se curvar e aceitar destino imposto, numa época em que ter amantes era tolerado, desde que fosse discreto, como no filme Maria Antonieta. Bem ao fundo, um enigmático senhor em uma porta, emoldurado por uma luz. A porta é uma revelação, revelando algo que estava oculto. É uma válvula de escape, uma fuga da realidade, para se fugir de um Mundo tão duro e inflexível. É o sonho, num DV sonhador, sempre querendo plenitude psíquica, libertação. Quase todos os personagens da cena olham para o espectador, e este é convidado a entrar e participar dos mimos ao redor da princesinha, cujos cabelos dourados brilham como a Espanha, há séculos, brilhava onipotente na Europa. Mas impérios surgem; impérios caem.


Acima, O Triunfo de Baco. A cena é de absoluta descontração, num momento festivo, embalado pela sensação de embriaguez do vinho, no ditado In Vini Veritas, ou seja, No Vinho, a Verdade. Este Baco não tem um corpo atlético, como um deus olímpico, mas uma barriguinha, que conota relaxamento e festividade. Baco está quase nu, com grande parte do corpo exposta. Aos seus pés, uma jarra de cerâmica, que representa a acumulação, a poupança, o resguardo. O vinho se funde com o sangue humano, e dá todo o seu efeito de embriaguez. Baco, com a cabeça adornada por ramos e folhas de videira, adorna do mesmo modo a cabeça de um homem, que está de joelhos perante Baco, rendendo-se ao momento de farra e alegria, no modo como o vinho “liberta” a voz da pessoa, e os embriagados passam a cantar esfuziantemente, perdendo a timidez e os limites de encabulação, revelando-se espontâneos e altamente à vontade, na sensação de Liberdade que a embriaguez traz, numa época em que não existia o diagnóstico de Alcoolismo, e um alcoólatra era tido apenas como alguém que gostava de beber, nada mais. Este homem de joelhos é o Yang se curvando perante o Yin festivo, e temos em Baco um homem um tanto feminino, não extremamente viril nem machão. O homem de joelhos é a Razão se curvando perante a Loucura, no modo como uma festinha, de vez em quando, não faz mal a pessoa alguma. É uma pequena licença que o indivíduo pede para se desligar um pouco da sisudez do Mundo lá fora. Nas costas do homem ajoelhado, uma longa faca, mas a faca está inerte e inexpressiva, num momento em que a tensão agressiva perde a força para dar espaço ao prazer libertador da gandaia, como nos detectores de metal na entrada de certas casas noturnas, o que é um aviso: Deixe para traz a agressividade mundana e venha simplesmente festejar e curtir a Vida. Como a festa tem todo um caráter feminino trazido por Baco, não vemos mulher alguma na cena; só homens. Ao lado de Baco, um rapaz com a cabeça também adornada por folhas de videira, segurando uma longa taça de vinho, no modo como Jesus disse que Seu sangue está no vinho, ou seja, o próprio Salvador se curvando perante um deus pagão! Este rapaz ao lado de Baco também está quase nu, num quadro que retrata uma noite amena, de temperatura agradável, num momento propício para uma boa festinha, na eterna tentativa humana de tentar entender como é o prazer da Vida de Desencarnado, num lugar onde nunca há muito calor, nem muito frio. E o vinho é um artifício para reproduzir, de forma tosca, a deliciosa sensação de liberdade dos espíritos desencarnados. Dois homens olham para o espectador e sorriem satisfeitos com a farra, convidando o espectador a entrar na folia e a tomar um bom vinoto. De costas para a cena, outro homem, com a cabeça também adornada com ramos, só que ele está vestido, e encoberto por uma sombra que o deixa quase imperceptível perante os demais elementos na cena – é a Discrição, num artista que observa quieto o Mundo, sempre buscando retratar este da forma mais única possível. Mais ao fundo, um senhor tira o chapéu – é a cordialidade, num homem que, ao tirar o chapéu, demonstra respeito aos demais no lugar, no termo Tirar o Chapéu, ou seja, aprovar ou não aprovar alguém. E temos que tirar o chapéu para DV. Podemos ouvir a conversa animada e as risadas de salão, numa música contagiante que enche o ar com agradabilidade. Baco está de pés descalços – é a Simplicidade, a sensação de Liberdade de um espírito que se sente à vontade para ser o que quiser ser. E Baco nos convida a tirar os sapatos, como fui num casamento certa vez na Bahia – os anfitriões deram chinelos de dedo aos convidados, para que estes se sentissem em Casa. E não é insuportável uma festa na qual há desconforto e falta de Liberdade para festejar?


Acima, Velha Senhora Fritando Ovos. Aqui, temos algo barroco, com um considerável contraste entre claro e escuro. A velha senhora é o alento do Lar, preparando um desjejum, alimentando seu netinho. O jovem rapaz já sente na pele a dureza do Mundo, fadado a se tornar homem e a enfrentar um Mundo tão difícil de ser conquistado, talvez num DV que se deparou com uma Vida na qual os bônus não “caem do Céu”. O rapaz ajuda a vó na casa, e entende como as coisas são caras e difíceis. Este é um quadro que mostra uma realidade pobre e sofrida, num DV empenhado em explorar todas as faces da Pirâmide Social, desde nobres até plebeus, num artista que não ficou só atento a ser remunerado por grandes príncipes ricos. Trata-se de uma refeição simples e frugal, e claro que não é um banquete no qual a pessoa pode encher a barriga como um rei, bebendo de vinhos finos e caros. É uma refeição do povo, numa classe social que tem que se contentar com o mínimo, talvez num DV querendo fazer um manifesto social, uma denúncia da desigualdade. Os ovos são o fruto do dia, do trabalho diário, numa casa em que qualquer comida sobre a mesa tem que ser valorizada, nunca sendo desperdiçada. Os ovos na panela são como galáxias giratórias, no ritmo natural do Universo e do Mundo, num grande enigma: Por que uns são tão ricos e outros tão pobres? Qual o sentido da desigualdade na Terra? Por que não vivemos em plena igualdade na Dimensão Material? Os ovos são a fertilidade da mente artística, e um ovo, ainda não quebrado, está na mão da velha senhora, talvez resguardando este ovo, não querendo desperdiçá-lo. É uma casa em que os gastos são rigorosamente controlados. Existe comida, mas é controlada. Na mesa ao lado, uma cebola não descascada, esperando para ser usada. Seus cabelos desgrenhados são a aparência desfavorecida de quem é muito pobre, num povo ignorante que é vítima de mentes capciosas, manipuladoras e exploradoras, num povo seduzido por políticos de aparência impecável, como um certo político, cujo nome não mencionarei. Num ponto de vista marxista, a base da pirâmide carrega todo o resto; sob outro ponto, é o topo quem carrega este mesmo resto. Ao lado da cebola, repousa uma faca, num DV de técnica impecável, digna de mestres renascentistas. É claro que a faca é o resguardo agressivo, e o menino, no fundo de sua psique, que se tornar um homem rico e poderoso, para nunca mais sofrer como proletário, num sentimento de justiça, até de “vingança”, querendo prover para sua avó uma vida menos sofrida e menos pobre. O menino traz coisas nas mãos, provavelmente encomendas que a avó solicitou, numa criança que, desde cedo, foi exigida de ter responsabilidades de adulto, numa pessoa que amadureceu de forma precoce, frente às exigências do Mundo, como no poderoso homem de Cidadão Kane, um menino que foi arrancado de sua doce infância, um homem que, no leito de morte, clamou seu velho esqui, o Rosebud, numa memória de uma fase de sua vida em que as coisas não eram tão duras e truncadas, na simplicidade infantil. É um trauma de infância, que acompanha a pessoa até o fim de seus dias. Este menino não é um principezinho, adulado com muitos brinquedos. Apesar de pobre, esta casa tem algo de aconchegante e acolhedor, e podemos ouvir o som dos ovos fritando, com o cheiro se espalhando por uma residência tão humilde. A cabeça da senhora está coberta por um véu branco, como uma Virgem Maria, preocupada em cercar de carinho o neto mas, ao mesmo tempo, exigir força desta criança. Ao lado da faca, um pilão, esmagando os sonhos de pessoas que se frustram, que, de tempos em tempos, dão-se mal na Vida. É a força necessária que a pessoa tem que ter para virar as páginas. O menino é um espírito que quis encarnar em um contexto duro para, assim, evoluir moralmente e fortalecer-se, deixando para traz ilusões tolas e auspiciosas. É a mortificação da mente, na construção técnica de uma alma.


Acima, Retrato da Infanta Maria Teresa da Espanha. Aqui, um ultraprivilégio, numa menina absolutamente aprumada, o mais arrumada possível, para uma cerimônia de coroação, numa realeza tão vaidosa, tão atenta às aparências. Esta menina está paralisada, congelada, mal podendo respirar, mal podendo se mexer, nascida num contexto social que, no frigir dos ovos, é uma prisão. A menina aqui é prisioneira de seu próprio privilégio, num apego ao status mundano, numa pessoa que, mentalmente, sofre por não poder desfrutar de uma vida mais simples, menos pretensiosa, menos excessivamente abastada. É o paradoxo da riqueza: ao se comprar algo, surge na pessoa rica o sentimento de vazio; se a pessoa decide ceder em caridade, esta pessoa fica preenchida existencialmente, sendo que tudo gira em torno da dimensão acima, nas operações impecáveis da Divina Providência, como uma aranha angelical, que tece com perfeição os destinos dos filhos de Tao, no modo como é próprio da Realeza querer imitar ao máximo esta Providência Metafísica, havendo no monarca um simples representante da Plenitude Psíquica – apenas um representante, um carteiro, um mensageiro, um embaixador. Infelizmente, é próprio da vaidade querer ser Tao. Esta menina está pronta para casar em um acordo entre coroas, fazendo da moça uma moeda de troca, uma mercadoria, e a menina sequer tem o direito de opinar, tendo que se curvar à vontade dos próprios pais. É a crueldade humana, num talento para a infelicidade, num plano em que a pessoa não se sente amada ou respeitada. É a prisão dos privilégios, numa contradição enorme: Como pode um favorecimento ser tão desfavorável? Os cabelos da menina carregam laços e cristais, num ritual de aprumação que levou horas para ser concluído. Por que ela se arruma tanto, tão excessivamente? Onde o Ser Humano quer chegar? Sua pele é pálida como seu vestido, e sua cintura fina está provavelmente atada por um espartilho ou algo que o valha, num contexto de opressão, num indivíduo tomando pelo sentimento depressivo de vazio. A menina leva uma vida enfadonha, pois tem casa, comida e roupa lavada. Na prática, a menina é uma simples reprodutora, um simples útero usado como uma galinha para fornecer ovos. Como pode ser tão chique e, ao mesmo tempo, tão grosso? O vestido é bordado com pérolas, e custou uma pequena fortuna, algo absolutamente inacessível ao proletariado do reino, ao qual só resta ficar pasmado com os excessos aristocráticos. Ao povo resta a crença de que os ricos são felizes; aos ricos resta a infelicidade. Que Mundo, não? A menina tem os lábios avermelhados e bochechas coradas, como seu útero, que já chegou à Menarca, assinalando assim o momento em que os acordos matrimoniais tomam forma, numa Sociedade que não quer saber se a menina está feliz ou infeliz. A menina se vê manipulada, e sabe que, se recusar a casar, poderá sofrer punições, sofrer com os preconceitos do Mundo, em que uma mulher que não se casa é malvista. Atrás da menina, um fundo escuro, que faz contraste com o vestido alvo: o doce e o amargo andam juntos, fazendo da Vida um sabor agridoce. E a menina tem que dar graças a Deus por ter nascido em um contexto tão privilegiado. São os rituais humanos, em toda a ritualidade que existe na união entre Homem e Mulher. A menina está entediada com uma vida tão fácil, numa aristocracia que se sente sexy demais para arregaçar as mangas e fazer algum trabalho de fato, quando que o Labor é necessário a todos. As riquezas mundanas giram em torno da plenitude espiritual da dimensão acima, tendo no dinheiro uma cópia tosca da felicidade.


Acima, Retrato do Papa Inocêncio X. O Papa está de “cara feia”, de poucos amigos, nada parecido com um anjo católico. É um homem sério, ciente de suas próprias responsabilidades religiosas. Seu trono emana poder, e o Papa sabe que o Mundo não é feito só de belezas, num homem um tanto mortificado, que sabe que a Sociedade exige do Homem o desenvolvimento da Agressividade. As roupas do Santo Padre são luxuosas, de finos tecidos, e ele se senta como um verdadeiro rei, em um trono luxuoso, algo muito distante da simplicidade de Jesus Cristo, que foi um homem que nasce, viveu e morreu pobre. É aqui um trono com detalhes em ouro, num Vaticano tão luxuoso, tão cheio de inestimáveis obras de Arte, no modo como o Catolicismo Apostólico Romano virou sinônimo de poder, luxo e riqueza. O anel na mão do pontífice conota poder, privilégio, e não são todos os papas que conseguem se manter humildes, simples e acessíveis ao Povo, aos fiéis. Simplicidade é para poucos, infelizmente. O anel, temos que beijá-lo. Temos que nos curvar perante um Vaticano ainda tão poderoso, com todas as loucuras e crueldade que o Homem já fez dizendo agir em nome de Jesus, fazendo coisas que Este jamais faria. O Papa olha impaciente para DV, como se quisesse logo se levantar e ir fazer outras coisas mais úteis. Na época, poder encomendar um retrato de DV conotava poder, muito poder, numa Espanha incondicionalmente católica, longe dos “hereges” Protestantismo e Anglicanismo, numa Espanha que, mesmo rica e poderosa, negava-se a não se curvar perante o Vaticano. Na outra mão do pontífice, um pedaço de papel, num contexto social em que ler e escrever era para poucos, para o topo piramidal social. O fundo do quadro, o estofamento do trono e a roupa do religioso são de cor vermelha, no sangue derramado de pessoas que se negaram a se curvar. É a cor do sangue de Jesus escorrendo durante a cruel execução na Cruz, num martírio que já seduziu muito aqueles que desejaram se tornar mártires também, desejando virar santo, na eterna ambição humana de se tornar estrela, num Ser Humano disposto a fazer de tudo para ser canonizado – é a inquietude ambiciosa, inimiga da Paz. Este quadro transpira luxo, num papa vaidoso, relutante em se desapegar de seus privilégios e riquezas. A saia do traje é branca, da cor da Paz que o padre no púlpito tanto deseja para o Mundo. Esta veste tem bordados finos, impecavelmente limpos, procurando imitar a pureza de Tao, no modo como os espíritas gostam muito de vestir a cor branca, a qual é sinônimo de pureza, de limpeza, de Tao. Aqui, o vermelho profundo faz contraste com o branco explícito, num papa que se aprumou tanto para posar. E como fica esquecida a pobreza da manjedoura na qual nasceu o Salvador! O chapéu na cabeça do pontífice é o telhado do Lar, na intenção primordial de Tao em fazer com que a pessoa sinta que pertence a um Lar, a uma proveniência divina, numa dimensão na qual os luxos mundanos não mais separam irmãos de irmãos. O padre olha fixo para o espectador, num papa sem o mínimo de simpatia ou carisma, como se o Papa soubesse dos pecados de cada um de seus fiéis, pois tenho uma amiga psicóloga que se diz absolutamente contra muitos conceitos do Vaticano, como o casamento em virgindade ou a proibição de masturbação. Este papa posa de dono da Verdade, quando na verdade é apenas um Ser Humano, cheio de defeitos e hipocrisias. O Papa tem um olhar desafiador, arredio. Seu trono, assim como muito da Arte contida no Vaticano, tem traços pagãos clássicos, muitos destes trazidos pela Renascença, numa contradição: como pode um lugar tão católico ser tão pagão? Este papa dá medo de olhar! Ele não está com a cara de estar satisfeito com o Mundo e com os fiéis, e olha para DV desconfiado. Cada lado do trono tem um detalhe em escultura, como uma dualidade, entre Norte e Sul, num pontífice o tempo todo forçado a tomar decisões difíceis, no peso que se acumula perante a cabeça que veste uma coroa. É uma posição de privilégio, sim, mas é também uma posição complicada, em que os cardeais do Vaticano estão, em segredo, o tempo todo julgando as decisões e ações do Papa que estes mesmos cardeais elegeram. É uma vigília incessante.

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