quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Uma Loteria de Arte



Falo novamente sobre o artista gráfico Luiz Sacilotto. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, C7959, óleo sobre tela, 100 x 100 cm, 1979. Acervo MAM de São Paulo. Sacilotto nos deixa perplexos com tanto efeito ótico, e ficamos tontos. Temos um pouco de MC Escher, num jogo entre claro e escuro; entre positivo e negativo. É o grande tabuleiro da Vida, e a pessoa tem que ter espírito de xadrezista, encarando tudo com muita paciência e cautela, num enorme desafio que é o autoencontro. É um jogo cerebral, racional, em que os oponentes vão se movendo de forma fria, pensada, mortificando as emoções e privilegiando a beleza do pensamento racional, rechaçando malícias e impondo ordem e bem estar, na beleza de uma melodia matemática, na face racional da Vida, Yang. É como um malicioso vírus sendo detectado em um computador, numa mente tensa e atenta a quaisquer movimentos insinuantes, na lógica de uma equação, de uma assimetria: um grande é igual a três pequenos, ou seja, x é igual a 3y, remetendo-me à época do Colégio, tempos em que eu desprezava os números. Temos aqui um ciclo intermitente, sempre criando, pois Tao é um incansável criador, sempre produzindo, sempre deslumbrando com sua inteligência suprema, impecável e eterna em significado, rendendo infinitas interpretações. Aqui temos um piso lúdico, num jogo entre presença e ausência, no registro binário do pensamento, num raciocínio simples, mas com o Ser Humano sendo eternamente arrastado por vírus maliciosos – Tao não pode se envergonhar de algo que o próprio Tao fez. Temos aqui um ralo de pia, como um centro galáctico, numa demanda misteriosa, dragando energia, no mistério do propósito do Universo – como este funciona? É como uma peneira, parte retendo, parte liberando, nunca sendo óbvia, nunca sendo só negra, nunca sendo só branca, no charme das fotografias em preto e branco. Temos aqui um efeito convexo, com o xadrez externalizando, saliente, agressivo, como se quisesse se libertar, a ponto de explodir, em um ponto de ebulição, como numa catarse que vai se formando dentro da pessoa, sempre crescendo, sempre inchando, até chegar ao ponto que a catarse extrapola e explode como uma supernova, trazendo rios de vômito psíquico, numa sensação de descarrego e alívio. Esta bolha está prestes a explodir, como uma crise econômica, afetando tudo e todos, espalhando fragmentos de cocô por todos os lados, como numa comédia pastelão, numa guerra de tortas em um baile, baile no qual absolutamente todos são atingidos, no poder da Arte em fazer “o chão tremer”. É como um papel dobrado em quatro partes diagonais, como os pontos cardeais, alastrando-se por todos os cantos do Universo, em comoção. Bem ao centro, temos uma forma semelhante à Cruz de Malta, o símbolo dos guerreiros cristãos, como Jesus Cristo se tornou uma força gravitacional que ecoará para sempre na História da Humanidade, na sabedoria avassaladora de um homem simples, que nunca se tornou mundanamente poderoso em vida, mas se tornando um arrastador de multidões, tornando-se alguém que começou a “pisar nos calos” dos poderosos, num Jesus que tecia críticas contundentes ao cinismo humano. É o centro de tudo, numa Dimensão Metafísica que se revela como sendo tudo, desprezando por completo a Matéria, vendo nesta uma ilusão. É como a vista aérea de um liquidificador trabalhando, integrando os ingredientes numa sopa primordial, na simplicidade organizacional de se colocar todo o Universo no mesmo saco, ou seja, todos os membros de uma mesma e única família, na grande família estelar de Tao, o Produtor. Aqui, as formas quadriculares ficam pervertidas, fornecendo um efeito arredondado, mas num quadro que não traz qualquer linha tortuosa, ou seja, é o retilíneo manifestando tortuosidade, numa grande e irônica contradição, como a Luz gerando a Sombra, e viceversa. Esta obra é um dos exemplos de “nó” que LS dá em nossos olhos, lançando mão de efeitos visuais. Temos aqui um X que se alastra pelos quatro cantos da obra, abrangendo tudo e todos, nunca deixando de fora qualquer membro desta família. Nunca. Tao é integração.


Acima, C8074, têmpera sobre tela, 80 x 80 cm, 1980. Uma reação em cadeia ocorre aqui, e cada agente do espaço é afetado, como uma crise econômica, ou como na Greve dos Caminhoneiros, quando um pequeno aspecto acaba por afetar todo o corpo social. É uma explosão de bananas, numa Carmen Miranda emplacando como grande estrela mundial. É uma visão abrangente, como grandes homens visionários de negócios, sempre observando oportunidades de grande abrangência, na grandiosidade de mentes que superam pontos de vista medíocres, gravitando acima de visões simplórias, óbvias e entediantes, num LS sempre pensando na “diagonal”, fugindo do entediante “x é igual a x”, ou seja, da falta de estilo e de senso de estilo de uma pessoa que só se veste de uma cor, numa harmonização cromática óbvia e desinteressante. O fundo dourado é a mente áurea, na beleza de uma aurora que pinta o céu de ouro, como na turnê El Dorado, da cantora Shakira, pois, no cartaz de divulgação, a diva colombiana está coberta de uma tinta dourada, na conotação de que a artista é preciosa, ou seja, vale cada centavo do preço do ingresso, no instinto poderoso de artistas que conseguem se vender muito bem, e isso é uma característica do espírito, pois não há livro ou faculdade que ensine a pessoa a vencer na Vida, no modo como muitas pessoas instintivas “deixam no chinelo” pessoas graduadas em prestigiadas instituições de Ensino – é uma “vingança”. Aqui temos uma força magnética, polarizadora, num artista no palco que “incendeia” a plateia em um show intenso, catártico, libertador, no poder libertador de colocar algo para fora de si. São como pelos eriçados, arrepiados por algo, numa energização, na energia que se sente na espinha ao se lidar com “bruxos”, pessoas que possuem um encanto pessoal avassalador, contagiante e vibrante. São como espermatozoides em trânsito, procurando incessantemente por algo, numa indistinção, pois cada espermatozoide é comum e tem um número próprio de identificação, como numa lista de chamada, numa equalização que traz humildade ao indivíduo e, ao mesmo tempo, traz libertação, pois a pessoa decide por si mesma o que fazer da Vida, na igualdade da urna eletrônica. São metades de um círculo, como no Congresso em Brasília, duas metades da laranja que precisam se encontrar para trazer complementação, fechando um ciclo e observando o plano geral, no modo como a passagem do Tempo faz com que a pessoa olhe para si mesma com clareza e precisão. Aqui, temos uma bagunça organizada, pois, apesar dos elementos não estarem dispostos de forma correta, como num desfile de batalhão militar, os elementos se movem num balé coletivo, como num grande grupo de bois sendo guiados pelo vaqueiro, guiando o grupo, impondo ordem ao caos da Dimensão Material. É como um grande cardume de peixes, no esforço grupal de sobrevivência para escapar de predadores, confundindo este como o balé confuso, no modo como a grande obra de Arte se forma ao “dar um nó” na cabeça do espectador, no poder da Arte em quebrar barreiras e evitar expectativas óbvias, pois não seria deprimente um artista que só faz aquilo que é esperado desse mesmo artista? É como um recente comercial de perfume, no qual um rapaz derruba paredes e diz: “Não serei mais quem vocês esperam que eu seja”. Esses peixinhos tentam se libertar, rompendo uma película castradora que limita mentes, como na Arte ideológica de sistemas totalitários, ou seja, uma falsa Arte esta, pois não é livre, e, sem Liberdade, não há Arte redentora, pois a Redenção é o objetivo da obra, como anjos livres, batendo suas asas frente a possibilidades, sempre confortáveis em seus direitos, suas possibilidades. É como a superfície de um porco espinho, num aviso claro: mantenha distância e respeite, do contrário, você poderá se machucar, na construção de um instinto de preservação, na necessidade darwiniana de adaptação ao Mundo ao redor, no modo como o animal esperto passa sua própria genética para frente, na seleção que elege a genialidade de um artista, no fato de que, num museu, é absolutamente proibido tocar em uma obra de Arte – temos que observar a uma certa distância.


Acima, C8333, têmpera Rhodopas sobre tela, 45 x 90 cm, 1983. Um salão muito suntuoso, num namoro com o Art Déco. Há elegância em linhas retas, na elegância aristocrática das roupas listradas, na conotação de “sangue azul”, sendo este um termo mundano que faz metáfora com a realidade superior metafísica, sendo esta o plano em que a Simplicidade reina absoluta, no que o Espiritismo chama de “queda da mentira”, ou seja, um lugar onde todos saímos exatamente do mesmo útero divino, na metáfora de Nossa Senhora, uma crença católica que busca fazer com que o Ser Humano entende a Imaculada Conceição, no fato de que somos todos puros a ponto de termos sido concebidos em um plano intocado, virgem, longe, muito longe da Dimensão Material. Temos aqui um equilíbrio e uma serenidade. Um grande “v” corta a tela, como um profundo decote provocador, no jogo de sensualidade entre “mostrar e esconder”, sempre atiçando a percepção, num Ser Humano hipnotizado pela sensualidade una do Universo, um organismo só, cheio de braços, como um deus hindu, numa sopa primordial que integra diferentes ingredientes. As linhas delgadas em verde e azul fazem um jogo de alternância e acabam se beijando, entremeando-se, como uma hera tomando lentamente conta de um muro, acabando por se revelar fortíssima, sempre trabalhando quietamente, sempre crescendo com pequenos passos de bebê, revelando-se soberana, sempre subestimada, sempre invisível, nunca sendo percebida e, por isso mesmo, vencendo ao final, na capital necessidade de discrição, pois ser discreto é ser invisível como Tao, a elegância eterna, a força transparente que permeia tudo e todos, uma força interessante, que rechaça o óbvio, no desafio de se resolver uma equação matemática. É como um vale, sendo cortado por um rio, numa força titânica natural, como raios de trovão, como no poderoso laço mágico da Mulher Maravilha, instrumento que faz com que a pessoa enlaçada só fale a Verdade, nunca mentindo, no que o Espiritismo chama de “Espírito da Verdade”, como nos Dez Mandamentos, parâmetros morais que visam guiar a evolução do Ser Humano na Terra, e a Humanidade tem diante de si um grande caminho moral a percorrer, como na construção ética científica: Até onde o Ser Humano pode ser atento cientificamente estando, ao mesmo tempo, atento ao moral, ao correto? Esta tela tem um dourado profundo, severo, na universalidade do Ouro, elemento nobre encontrado na América pelos navegadores espanhóis, na eterna obsessão humana por poder, na insatisfação infeliz de um rei que não está contente com o próprio reino, querendo sempre mais, muito mais. A Ambição é inimiga da Paz. É como a majestosa e icônica máscara mortuária de ouro de Tutancâmon, na busca humana em projetar, em metais preciosos e pedras preciosas, a nobreza de Tao, que é a plenitude psíquica. O Ouro faz metáfora com a Nobreza; não é a Nobreza em si. Então, temos um Ser Humano eternamente confuso, nunca conseguindo observar além de projeções, confundindo nobreza psíquica com nobreza física, nunca vendo que o Pensamento é melhor do que a Matéria. Temos aqui rios retilíneos, que rechaçam para sempre a tortuosidade patética das emoções, ou rechaçando uma pessoa bêbada. São rios de uma cidade altamente planejada, como nas cidades metafísicas, donas de Arquitetura nobre e deslumbrante, no problema de que o Ser Humano ama os palácios mas ignora os campos, a beleza do ar livre, com florestas que vestem roupas majestosas. É como uma pirâmide de cabeça para baixo, subvertendo a ordem vigente, no poder um artista em “virar o Mundo de cabeça para baixo”, dizendo que os últimos serão os primeiros, ou seja, aquele que for mais apegado à Matéria terá dificuldades para compreender o Imaterial, o vazio sedutor de Tao. É como um grande morcego dourado abrindo as asas, na beleza superior da perfeição de florestas psíquicas, no modo como a Era Elizabethana acabou por exaltar a beleza dos campos ingleses. É aqui um objeto fabricado, na tentativa de compreendermos o que é a Matriz que nos rege.


Acima, C9216, têmpera acrílica sobre tela, 120 x 150 cm, 1992. LS traz aqui uma ludicidade, e não sabemos se estamos diante de uma profundidade ou de uma saliência, no modo como tudo traz em si a própria contradição, na ironia de Tao, o grande piadista. É algo como MC Escher, que brinca com o espectador. São faces de uma pedra esculpida, como um diamante, no modo como o humilde, o pés no chão, brilha em sua simplicidade, pois a elegância só pode existir na limpeza. É um tabuleiro de xadrez modificado, em três dimensões, numa obra de apenas duas dimensões! O azul é como se houvesse janelas, buracos pelos quais a obra respira em um dia de Sol ardente, em “nuvens de algodão”, numa meteorologia agradável, num respiro, como num anúncio publicitário limpo em um jornal, em meio à saturação gráfica jornalística – nesta, onde não há texto, há foto. Portanto, o que é menos, é mais. Este frio azul faz contraste com o vermelho ardente, no vermelho sanguíneo, na cor da carne, dos bordéis, onde tudo cheira a sexo, levando a uma saturação, pois o cliente, depois do sexo, não mais quer permanecer no bordel – é uma transação econômica, uma troca. Então quente e frio se unem, proporcionando uma temperatura agradável, num lugar onde não se sente frio nem calor, naqueles dias em que nem suamos, nem temos calafrios, na temperatura ideal, característica metafísica. É como o alto de um prédio sendo observado na diagonal, com sacadas proeminentes ou vazadas – côncavas ou convexas. Ao espectador cabe escolher qual modo de vista adotar, sendo tudo possível, como numa intertextualidade, quando há um jogo de termos, como, por exemplo, “Encha o nosso SAC”. É o jogo entre metafórico e literal. Neste prédio, não sabemos se as janelas são azuis ou vermelhas, e não sabemos se as janelas azuis estão, na verdade, refletindo um dia de Céu de Brigadeiro. É um prédio extremamente limpo, sem qualquer sinal de sujeira, num lugar onde há beleza por todos os lados. É uma arquitetura clean, sem excessos, sem desnecessidades, na vitória da Simplicidade, num design futurista, como pirâmides, estruturas de linhas muito simples, indo direto ao assunto, ao nervo da questão, numa energia objetiva, direto ao ponto, na racionalidade das mentes sábias, simples em suas linhas sem frescuras. Temos aqui uma perspectiva renascentista, num movimento que deu novo fôlego a uma Europa ainda medieval, “engessada”, fazendo do Renascimento a nova onda de frescor e novidade, junto com as Navegações, um momento de progresso na Humanidade, a qual está o tempo todo crescendo, buscando a cura de doenças. Este prédio é frio e impessoal, e representa o Racional, com escritórios de decoração limpa, em um ambiente de labor em que a pessoa coloca em uso o lado “reto” de si mesma, na energia fálica de uma agulha, indo direto ao ponto, como um bom psicoterapeuta, que faz rapidamente um diagnóstico, identificando de forma terrivelmente clara o problema do paciente, ajudando este a desbravar caminhos e a contornar as vicissitudes. É um olhar frio, isento, no modo como o psicoterapeuta não pode ser um amigo próximo do paciente, pois, do contrário, o diagnóstico, embebido em emoções, não seria preciso. Então, neste prédio, não há lugar para emoções, mas para a produção de pensamento retilíneo, como na caneta fálica de um arquiteto, desenhando prédios de majestade gráfica, buscando sempre a depuração, no modo como o crescimento moral do espírito é o sentido da Vida. Neste quadro, temos também um jogo de iluminação, e umas faces estão mais iluminadas do que as outras, trazendo, assim, a Terceira Dimensão. É um quadro que traz luminosidade, na clareza de pensamento, na vitória régia da Luz sobre a Escuridão, ou seja, a serpente da malícia sendo esmagada pelos alvos pés de Nossa Senhora. O Conhecimento vem para erradicar a Ignorância, esmagando preconceitos tolos, preconceitos escuros, pesados e fechados, estando estes cheios de teias de aranha.


Acima, C9325, têmpera acrílica sobre tela, 110 x 110 cm, 1993. Aqui, temos novamente um LS ilusionista. Linhas oblíquas tensas, num balé duro, truncando. São como raios de trovão, no termo “chocante”, dos anos 80, num dedo sendo colocado na tomada, levando um choque de realidade, numa verdade sendo revelada terrivelmente, no modo como um poder ditatorial pode se tornar terrível, escravizando o cidadão. Aqui, as linhas retas lutam para trazer alguma fluidez ao quadro, e temos aqui um efeito de movimento, e parece que o quadro se mexe, num organismo vivo, sempre respirando, sempre lutando pela vida, como árvores em uma floresta, lutando por um lugar ao Sol, na inevitável competitividade da Vida em Sociedade, numa competição que inicia cedo, já no início do Ensino Fundamental, numa classe em que os alunos competem para ver quem tira as notas mais altas, como num agressivo concurso de beleza, um evento que, apesar de parecer feminino e glamoroso, tem toda uma face masculina competitiva, como espermatozoides competindo pelo óvulo, pela taça do campeonato, o receptáculo feminino, a goleira no campo de futebol, a Grande Dama passiva. Temos um LS no jogo entre luz e sombra, numa luz ideal, a qual, apesar de tão clara, não fere os olhos, como olhar para um Sol metafísico, o qual, apesar de brilhar intensa e majestosamente, não fere os olhos de quem o olha diretamente. Este quadro foi concebido no início dos anos 90, década que testemunhou a escalada da Internet, dos e-mails. Esta obra parece ter sido feita em um computador, tal a técnica de Sacilotto. As listras retas estão “violadas” pelo movimento no quadro, e não temos aqui uma mera bidimensionalidade, mas profundidade abismal. É como uma lombriga quadriculada, movendo-se em um intestino, revelando-se intrusa, no modo como a Arte é essa intrusa, essa lombriga, mas nunca sugando e, sim, nutrindo. A Arte é uma lombriga do Bem. São como as listras de um pijama, numa cena onírica, em que os enigmáticos códigos dos sonhos tomam conta do cérebro de quem dorme. É um corredor digno dos filmes fantásticos de Tim Burton, um diretor que explora o esquisito, o estranho, o bizarro. Aqui, as linhas revelam pontinhos, ou seja, pessoas interconectadas, na Grande Internet Cósmica, na sensualidade una de um Cosmos unido, unificado, pois como é sexy o fato de estarmos todos interligados! As linhas tensas unificadoras vão revelando um Mundo conectado, no fato de que a Humanidade não mais pode aceitar a Vida sem a Internet – forma-se um poderosíssimo paradigma, indestrutível. As enciclopédias, por exemplo: sou do tempo da Enciclopédia Barsa, com quase vinte volumosos livros. Hoje, é tudo num clique. Como no termo World Clique da finada banda disco Deee-Lite: uma panelinha mundial, num CD lançado entre os anos 80 e 90, já anunciando a onda avassaladora internética. Apesar da tensão, essas linhas insinuam uma liquidiscência, no amor espiritual, desprovido de matéria, desprovido de corpo, de sexo, de raça, de cor. É uma retilinidade aquosa, na deliciosa sensação de Liberdade e Paz da EEC – a Experiência Extracoporal espírita, quando a pessoa, ao adormecer, continua consciente, com o espírito se descolando do corpo carnal, como se mergulhar numa piscina térmica, o Grande Útero Divino. Esta cena parece um doce, um pirulito, no doce pecado da Gula – o que há de errado em se sentir prazer? Aqui, sequer vemos um fiapinho de sujeira, como se alguém, munido de um pano, tivesse limpado a cena, como os polidos japoneses, na cena que vi em que uma moça japonesa, numa esteira de bagagem de aeroporto, limpava cada mala que entrava na esteira. Ou como, em torneios mundiais envolvendo o Japão, os japoneses, ao deixar o estádio de competição, limpam absolutamente tudo ao seu redor, sequer deixando vestígios. E não é a Bandeira Nacional Japonesa de uma limpeza incrível? Mas, como diz Tao, a maioria das pessoas se deixa seduzir pela sujeira.

Referência bibliográfica:
Obra. Disponível em <www.sacilotto.com.br>. Acesso 17 out. 2018.

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