quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Gol de Rubens



O brasileiro Rubens Gerchman era descendente de suecos e flertou claramente com a Pop Art, abordando Política, Esporte e Arte. Antes, quero dizer que a sigla CDA não faz parte das obras nesta postagem. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, A Luta, O Trabalho. Óleo sobre cartão. 50 x 60 cm. Rubens traz uma abordagem sociopolítica, tentando compreender o papel do Brasil num cenário global. No centro do quadro, temos uma expressa placa, dando ordens, impondo autoridade, no modo como um artista deve se impor ao Mundo. A placa significa um marco, e é cheia de imperativo, num regime totalitário que sequer permite que o cidadão saia do país. É uma placa redonda como o Sol o astro-rei que rege o Sistema Solar, numa força gravitacional que se estende aos confins gelados das fronteiras sistêmicas. É a transgressão do faraó Aquenáton, impondo o culto monoteísta ao Disco Solar, Áton, numa imposição estatal, numa regência embriagada pelo próprio poder, no apego humano ao poder, num Getúlio Vargas suicida que não podia imaginar a própria vida sem poder, embarcando para o Vale dos Suicidas, talvez até hoje se arrastando como um mendigo esfarrapado, na discrepância entre riqueza mundana e riqueza mental. No topo do quadro, a palavrachave TRABALHO, pois qualquer ser humano, por mais rico que seja, precisa trabalhar, havendo no labor uma questão de saúde mental, numa pessoa que, ao laborar, fica com os pés no chão, rechaçando o canto sedutor e desnorteador do Ócio, a mãe de todos os vícios. Vemos um mapinha do Brasil em vermelho, talvez numa alusão comunista. Dentro do mapa, flechas imperiosas procuram impor a ordem e o progresso expressos na bandeira nacional, num país de medidas continentais, sendo difícil a um governo federal impor unidade a um Brasil tão heterogêneo. Ao fundo do mapa, um negror imprevisível, cheio de dúvidas, no modo como muitos brasileiros resolveram se exilar. As iniciais BR buscam dar simplicidade, no poder de união da simplicidade, havendo no Universo apenas um caminho, que é Tao, sendo ilusões os demais caminhos, pois Tao é o grande vale que encaminha tudo e todos. Ao fundo da palavra “trabalho”, linhas oblíquas, como no trânsito, tentando falar da forma mais clara e expressa, simples, estabelecendo limites, como deve haver limite respeitoso em relação a outrem e a mim, nas saudáveis fronteiras entre pessoas, entre estados, precisando existir toda a polidez diplomática, sempre primando pelo diálogo e pelos meios pacíficos, no modo como os arcanjos são os espíritos que gozam da Plena Felicidade, espíritos que primam pela pacificação de todas as dimensões do Universo, no modo como é indescritível a Paz da Dimensão Metafísica, um plano onde não há ouro ou riquezas aptas a seduzir a pessoa. Vemos, aqui, um grupo de cavalheiros indistintos, como anônimos tijolos em uma parede, e nenhum desses homens tem identidade, distinção, personalidade, no modo como o sistema opressor morre de medo do delineamento de personalidade, pois um cidadão que pensa é um cidadão que contesta, precisando haver respeito à Inteligência. Este microprotesto traz placas, e uma dela convoca o cidadão a não mais se atirar nas cordas e lutar por algo, no modo como a Vida é cheia de luta, num Mundo exigente que desafia o cidadão a contemplar as maravilhas do Yang, da Vida Social, na racional lança de São Jorge, aniquilando o dragão horroroso da opressão, assassinando um sistema que não quer que o cidadão pense ou filosofe. Outra placa traz o ano de um Brasil imerso na Ditadura, num momento em que o artista brasileiro se viu castrado e reprimido, numa época em que o Bloco Capitalista Mundial temia que o Brasil se tornasse uma União Soviética ensolarada, na eterna cisão entre os seres humanos, um ser com inabalável talento para a Guerra e para o esgotamento dos meios diplomáticos, num momento bélico em que o Homem se torna macaco, com sua boca atada, censurada, aniquilando a Vida Cultural de uma nação. Este é um quadro que se impõe, como Betty Faria em uma cena da novela censurada Roque Santeiro, em que a estrela, de majestosos óculos escuros, impõe-se altivamente, assustando os porões da Censura, amedrontando o misógino Estado Opressor, o qual teme enormemente a Liberdade.


Acima, Denílson. Serigrafia sobre papel. 50 x 50 cm. Esta cena é um momento crucial, em que o atleta se prepara para atirar ao gol, num Rubens amante do Esporte. O fundo é quente, acolhedor, na cor dourada da vitória, no ouro que premia os que se sobressaem na multidão, ouro que premia os distintos, os memoráveis. A moldura é verde, formando, com o amarelo, as cores que unem o Brasil em época de Copa do Mundo, num momento federal em que os brasileiros esquecem quaisquer diferenças e abraçam um bem comum, que é a Seleção – oxalá o Brasil fosse assim sempre, unido. A cor dourada é a promessa mágica da cornucópia da Dimensão Metafísica, um lugar onde todos nos sentimos campeões, havendo no Esporte metáfora com a vitória do Desencarne, da libertação. Desencarnar é como uma vitória de Copa, com uma chuva dourada de êxito caindo dos Céus, de Tao. O uniforme do jogador traz a famosa marca Nike, a deusa da vitória, num símbolo incisivo, que finca, como no inocente gesto de vitória, que imita um homem penetrando num ânus ou numa vagina, havendo na penetração carnal uma cópia grotesca da vitória espiritual. O número 20 traz a juventude, de jogadores que, apesar de serem homenzarrões no campo, são garotos, são muito jovens, em um Mundo exigente, que exige desde cedo a maturidade por parte da pessoa, num lugar onde crescer e evoluir é a regra. A figura do jogador, em preto e branco, contrasta capciosamente com o fundo colorido, num contraste entre sisudez e alegria. O fascínio do preto e branco faz metáfora com o registro binário, na construção técnica do espírito, nas charmosas fotos de estrelas de Hollywood, fazendo dos astros metáforas dos espíritos evoluídos, polidos, sábios e poderosos, nossos “irmãos mais velhos”. Aqui, o jogador abre os braços como se estivesse pronto para decolar e voar, havendo nos aviões metáforas com a emancipação, a libertação do pensamento racional, havendo no formato do avião uma forma fálica, como um pênis alado, cortando os céus, desvirginando os céus, no modo como, até certa época, voar era um programa glamoroso, com os passageiros e aeromoças aprumando-se para o voo, num momento mágico de elevação, como numa raça de alienígenas evoluídos, trazendo à Humanidade noções civilizatórias e avançadas, numa espécie de colonização, no modo como o Europeu colonizou as Américas, ou como os ingleses trouxeram desenvolvimento à Argentina. Não podemos ver a bola no quadro, e este é um momento em que o atleta está absolutamente concentrado, alheio a quaisquer distrações, talvez até sem perceber o barulho da torcida ao redor. Aqui, o juiz é invisível, como Tao, sempre fiscalizando e encarregando-se de que as regras sejam cumpridas e respeitadas. O cabelo do jogador é bem curto, disciplinado, como cabelo de militar, sem espaço para frescuras, na objetividade do chute, sempre atraído pelo poder gravitacional da goleira, da porta passiva, do princípio feminino de donzela indefesa, tendo que ser resgatada pelo príncipe encantado, um príncipe que, na verdade, não existe. Este jogador é como uma andorinha, vivendo livre e feliz. Na camisa de Denílson, o brasão da CBF com quatro estrelas que contam uma história, uma trajetória, como um rastro, uma carreira, num país ambicionando sempre mais títulos, expressando uma supremacia, uma excelência. Ao redor do jogador existe uma aura, como se uma luz emanasse dele, emitindo um brilho, um talento, no modo como há pessoas com o dom de observar a aura invisível das outras pessoas. O brilho, o raio de Sol, é como uma lança que aponta, e nós podemos apreciar a iluminação, mas não podemos olhar diretamente para o Sol, para o astro. Temos que usar óculos escuros. Este Denílson está em plena forma, no modo o artista vai adquirindo “porte atlético” ao produzir, adquirindo um “calejamento”, uma manha. O astro em preto e branco sai nas fotos dos jornais, numa mídia sempre sedenta por ídolos, por estrelas, como Gisele na capa da Veja.


Acima, House. Acrílica (suporte desconhecido). 35 x 107 cm. Temos aqui cores um tanto mondriânicas. As letras são simples e claras, como debaixo do Sol da Califórnia, na sofisticação ensolarada de Los Angeles, numa luz solar que faz metáfora com o esclarecimento, com a solução de negros mistérios, como historiadores, que recontam uma história a partir de vestígios enigmáticos. Estas letras não têm serifas, e procuram ir ao centro do ponto de forma direta. A obra é banhada pelo Sol, e a luz é a atenção do público, um público sempre ávido por comoções artísticas, vendo no artista uma verdadeira força da Nartureza, como um terremoto, abalando percepções, num momento de coragem por parte do autor. As letras caem como confetes, na magia de um baile de carnaval, na alegria inabalável de uma dimensão em que os percalços mundanos acabaram, só havendo espaço para felicidade, para preenchimento, no fato de que o desencarnado não só é feliz como também sabe que é feliz. O formato vertical é como um mágico totem, trazendo elevação como um obelisco, rasgando os céus em busca de superação e aprimoramento. A letra O é como um buraco negro, arrastando tudo e todos, arrastando inclusive a luz. É como uma forma de bolo, na magia aconchegante de uma casa onde a Rainha do Lar fez um bolo, cujo perfume doce se espalha pela casa, no modo como uma casa gira em torno da própria cozinha, e o atelier é como uma cozinha, onde riquezas são construídas, no talento de chef que combina ingredientes para produzir algo novo. A letra H é dourada e ocupa o topo desta hierarquia, regendo e alinhando as demais letras, no modo mundano no qual tudo gira em torno de riqueza, numa pessoa embrutecida que chega a um ponto em que só considera dinheiro, no modo como dinheiro compra tudo, menos Amor – não é desafortunado aquele que acha que se pode vender ou comprar Amor? A letra U é em formato de receptáculo, de feminilidade e passividade, no modo como o goleiro é o guardião, sempre defendendo a donzela indefesa, tornando-se o herói da história. Esta letra U é da cor do céu, de um céu limpo, no enigma da Dimensão Metafísica: como podemos observar cidades que são invisíveis? A letra S está bem discreta, fundindo-se com o pano de fundo, numa exposição sutil, conotando uma timidez e um recato, numa mulher que vive a vida na sombra de um homem, numa sociedade que jamais aceitará uma mulher independente, com mulheres que sentem na carne toda a opressão patriarcal, na qual o Homem pode tudo e a Mulher pode nada, havendo no Homem a noiva e havendo na Mulher a dama de companhia, no modo Eva é um arremedo da obraprima Adão. Este S é uma serpente iluminada, desprovida de mistérios, como uma tenebrosa aranha iluminada, com seus mistérios e horrores desvendados, não mais amedrontando, não mais sendo considerada incrivelmente feia. É uma serpente de luz, do Bem, trazendo purificação sob o Sol do esclarecimento, como a solução de um mistério de Agatha Christie. Então, a noite da Morte acaba, e uma estrela branca desponta ao Leste, na Terra da Estrela da Manhã. A letra E, de Rubens sangue, digo, rubro sangue, fornece uma base para tudo, nos vínculos da família que, apesar de serem carnais, sobrevivem ao desencarne do sangue, no modo como tais vínculos sobrevivem à Morte Física, na alegria de uma pessoa que, ao desencarnar, encontra-se com uma saudosa avó. Esta letra E é como um cabo elétrico colocado em uma tomada, fornecendo a energia e a força que um artista precisa ter para continuar trabalhando e batalhando pelos sonhos de carreira. É o choque mental da catarse, num artista querendo colocar na tomada os dedos do Mundo! Pois cada artista tem um desafio – o de vencer e ser respeitado. Estas letras não obedecem a um rígido alinhamento, e parecem dançar sobre a base branca, que é Paz, e esta permite que exista o conforto da Liberdade, no modo como o Bem é sempre agradável. O branco é o útero imaculado, na concepção divina que nos trouxe à Vida, pois Tao age assim, de forma imaculada, sempre amando incondicionalmente, deixando seus filhos ficarem livres.


Acima, O Brasil ou Brazil. Óleo sobre cartão. 50 x 35 cm. Estaria Rubens querendo dizer que o Brasil é um prisioneiro do Bloco Capitalista? A bandeira nacional está aprisionada, talvez por uma ditadura, por anos de chumbo, talvez um país vítima da Violência, em que o cidadão tem que se cercar de grades para se proteger, como no nome da ONG “Brasil sem Grades”, uma organização que quer que o Brasil saiba o que é estar livre da Criminalidade. Aqui, o Brasil está sufocado pelo contexto global, virando um “Brazil”, uma colônia, um estado controlado. Em um dos cantos há uma estrela – será que uma estrela comunista? A estrela está escanteada, reduzida, reprimida, e mal pode respirar em meio a tanta opressão. Neste quadro, barras horizontais e verticais formam uma cela de prisão, no sentido de que toda encarnação é uma prisão, havendo na vida do presidiário algo horrível, pois é a prisão dentro da prisão, no sentido de que nada pode comprar a Liberdade. A grande placa, em inglês, é altamente impositiva, como uma regra de trânsito, procurando promover Paz e Harmonia a um corpo social tão caótico e desorganizado, como no costume humano de separar as mulheres dos homens, tentando impor algum sentido, alguma ordem ao segregar seres humanos que, desencarnados, não têm sexo. A placa é redonda como uma moeda, na hierarquia global entre nações ricas e nações pobres, num Adam Smith que promove a total ausência de leis econômicas, deixando que a Economia Global se regule por si mesma, naturalmente, sem intervenções estatais, uma utopia que é difícil de acontecer, pois os estados globais interferem inevitavelmente. A placa manda o espectador parar e observar com atenção, no modo como a obra de Arte quer captar essa atenção e ser compreendida, amada, prestigiada, no modo como há muitos e muitos artistas que passam suas vidas sem saber o que é ser reconhecido – uma pena. Esta obra parece um cartaz convocando o povo para algo, para alguma movimentação, uma manifestação na Rua, uma passeata, desafiando altas autoridades e tentando impor a hegemonia popular, no modo como um líder que se afasta do próprio povo, deixa de ser líder, como na ruptura da Revolução Francesa, em que um golpe destituiu a Monarquia Francesa e se tornou um marco contemporâneo. O artista quer fazer isso; quer promover uma revolução. Mas se depara com o duro fato de que o Mundo não mudará, e que revoluções não acontecerão, no modo como é necessário que o indivíduo se mortifique de ilusões. A grande placa é uma autoridade, um rei, um presidente altivo, como, certa vez na Casa Branca, quando Obama era presidente, um repórter interrompeu o líder, e este disse: “Você está na minha casa”, sendo Obama animadamente aplaudido no recinto pelos demais jornalistas. Esta placa quer estabelecer o discernimento entre minha casa e a casa de outrem, no modo como um regime totalitário simplesmente estupra a casa do cidadão, fazendo deste um escravo destituído de Individualidade e de Liberdade de Pensamento. A placa é uma Lua cheia, seduzindo lobos uivantes e, desde sempre, atiçando a imaginação humana, no marco desbravador que foi a ida à Lua, com as pegadas do astronauta maculando a então intocada superfície lunar, no ato agressivo que foi fincar a bandeira americana em solo lunar, numa imposição de autoridade, num recado ao resto do Mundo: Não se meta com os Estados Unidos da América, no modo como os EUA, com aliados, têm o poder de impor restrições econômicas a outras nações, como Cuba. É o dono do campinho e da bola. Neste quadro, podemos ouvir o som do apito de um guarda de trânsito, ou o apito de um árbitro de Futebol, tentando impor ordem a um campinho em que cada um quer fazer uma coisa diferente, num árbitro que luta pela honra das regras, fazendo estas serem cumpridas. Aqui, a cor preta tem um papel importante, como negros e brancos segregados logo nos EUA, o país que se diz o paladino baluarte da Liberdade e da Igualdade.


Acima, . Serigrafia (suporte desconhecido). 31 x 46 cm. Mais uma vez, um Rubens amante da Política, inserido num Brasil que, na Ditadura, virou uma espécie de palco entre Capitalismo e Comunismo, detendo, torturando e assassinando opositores que apresentassem tendências comunistas, como Dilma Rousseff. Aqui, temos uma solidão, num Che Guevara de semblante triste, como se soubesse que terminaria assassinado e, assim, virando um ícone comunista, alimentando até hoje os que simpatizam com o Marxismo, como petistas em frente à prisão onde está detido Lula, fazendo “companhia” ao detento. Aqui, Che faz um gesto autoritário, mandando-nos manter distância respeitosa, e mostra a mão para provar que não está armado, que nada esconde, no modo como a vida de um cidadão honesto é um livro aberto, mas também no modo de sabermos que Che não foi nenhum anjinho, sendo um feroz opositor dos regimes capitalistas. É a guerra entre Liberalismo e Comunismo, numa guerra de pensamento, de doutrina. A palavra “só”, então, expressa tal solidão, no modo como deve se sentir irremediavelmente sozinha a pessoa que se vê num paredão, pronta para ser fuzilada, como num filme com Sean Penn, em que um presidiário, amarrado na cadeira da injeção letal, urina nas calças, tal o medo de morrer. O grande fundo em azul traz uma tristeza, uma frieza, num sangue quente que esfriou, num Che sepultado, com o cadáver esfriando, o que nos faz imaginar o que aconteceu com o espírito deste homem: Por onde será que anda? Será que ainda tem ódio no coração? Tem raiva? É ainda revoltado? A estrela acima é como uma coroação, como no deboche da revista Veja sobre o filme Lula – O Filho do Brasil, capa onde Lula aparecia com uma aureola de estrelas na cabeça, no endeusamento político que existe comumente, com pessoas que acham Lula um anjo; outras, um demônio. Este gesto de Che faz uma renúncia, um rechaço, uma repulsa, como se quisesse se despir de todas as suas roupas mundanas para abraçar a Vida Espiritual dos Desencarnados, na dimensão onde quaisquer vaidades caem por terra, no famoso ditado “Vão-se os anéis, ficam os dedos”. Aqui, temos um Che se sentindo altamente solitário e abandonado, desamparado na parede de execução, como um Cristo que diz: “Senhor, por que me abandonaste?”. Não venho aqui endeusar Che, porém, pois não me envolvo em Política. Esta é a estrela na fronte altiva de Iemanjá, na beleza da Rainha dos Mares, na competição entre potências europeias pelo domínio das devolutas terras americanas, como no jogo de tabuleiro War, em que oponentes lutam pelo domínio militar da Terra, na eterna tendência humana para a Guerra e para o desentendimento, para o esgotamento dos polidos e civilizados canais diplomáticos. Che está aqui sozinho num vasto oceano, como vagar interminavelmente pelas ruas de uma cidade erma, fantasma, perdendo a noção de Espaço e Tempo sob um Sol inclemente. Esta estrela de Che é uma bênção e uma maldição, pois é uma coroação de popularidade e é também uma carga, um peso insuportável, uma carga que o levou à perseguição e à execução. O Ser Humano leva o Yang a sério de mais, e esquece-se do Yin. É na metáfora do Super-Homem: se você for pacato como um Clark Kent, você será um super-herói, pois a Paz é melhor do que a Raiva. Os opositores de Che julgaram este um inimigo da Paz, da Ordem, num Che que passou a pisar nos calos de poderosos, num Che querendo, no fundo, ser muito poderoso. É a patetice das ambições humanas, numa pessoa nunca satisfeita, sempre querendo mais. Quem não ambiciona, pode ter Paz. Nesse sentido, Che praticamente se suicidou, atraindo a Morte para si. Aqui, Che está pedindo um tempo, talvez para se acostumar com os moldes da vida desencarnada, pois a Guerra é simplesmente inviável numa dimensão superior. A moldura negra é o abraço da Morte, fazendo com que a execução de Che fosse um expresso aviso aos seguidores do mesmo Che: Comportem-se!

Referências bibliográficas:

Rubens Gerchman. Disponível em <www.catalogodasartes.com.br>. Acesso 20 jan. 2019.

Rubens Gerchman. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>. Acesso 20 jan. 2019.

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