O americano Franz Kline se
destacou em um movimento chamado Expressionismo Abstrato. Inspirei-me para falar
do artista a partir de uma foto recente de uma amiga minha, estando esta viajando
por Nova York, numa grande exposição sobre Kline. Os textos e análises
semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Blueberry Eyes. 1960. FK tem pinceladas vigorosas, furiosas,
impetuosas, desbravadoras. Muito de sua obra são insinuações, sugestões. Ele se
irritava quando diziam que a inspiração para suas pinceladas vinha da
caligrafia chinesa – mas que parecia que vinha, isso parecia. Temos uma pequena
pincelada em vermelho, na sedução, no fascínio de uma mulher de vermelho, na
vibrante cor do sangue, da Vida, como no majestoso manto rubro do Drácula do
genial ator Gary Oldman. É como se uma gota de sangue de FK tivesse caído sobre
a tela, num artista se doando ao máximo ao trabalho, estruturando sua vida em
torno do próprio atelier. É a cor da decoração interna de bordéis, com tudo “cheirando”
a Sexo. É uma lasciva flor primaveril querendo se reproduzir, no instinto de
preservação da espécie, no cio incontrolável, regendo a Vida na Dimensão
Material, sendo o Desencarne uma castração, só que uma castração espiritual.
Aqui, há um elegante jogo cromático em tons de azul, como um colar de pedras
preciosas coloridas, no fascínio de um lustre de cristal, emitindo seu leque
cromático, prometendo dias de Paz e de Vida, numa eterna Festa da Uva, num
lugar onde o frescor da Vindima dura para sempre, em doce perfume. Temos aqui
um FK perfumado, como num sedutor frasco de perfume, como o Quasar de O
Boticário, num vidro em tons de azul tão bonito que dá pena de ser jogado fora
ao término do líquido. Vemos uma pincelada mais clara, de um cinza claro, numa
estrutura vertical, ereta, numa coluna elegante, com porte, como um majestoso
cavalo, uma obraprima de Tao. É um grande prédio ereto, desafiando os Céus e
arranhando estes, na interminável ambição humana de desafiar limites, de buscar
conhecimento, mordendo a maçã proibida e aventurando-se pelos meandros da
Existência, como num labirinto, no modo como cada pessoa tem que, por si só,
encontrar a saída para este labirinto que é a Vida. O fundo em azul traz um céu
perfumado e limpo, numa dimensão onde não há espaço para dias gélidos e
cinzentos, nem para dias escaldantes, numa espécie de São Pedro benevolente,
com dias agradáveis e noites amenas, na metáfora do ar condicionado, sempre
buscando o abrandamento de condições climáticas, no modo como tudo gira em
torno da dimensão acima de nós, o prometido Reino, com pessoas belas,
emolduradas por uma luz, numa vida plena, produtiva e divertida. É o grande
plano divino para conosco. Na parte inferior há um borrão mais negro,
misterioso, num dia que não está completamente elucidado, num mistério que
ainda intriga, como a vastidão do Universo, numa vastidão que, na prática, é
eterna, sendo o Ser Humano incapaz de compreender a obra de Tao. Este borrão
negro é como uma raiz, submersa, escondida, como um sistema de esgoto sob uma
cidade, ou uma malha de metrô, estruturas ocultas que querem que as cidades
físicas se pareçam ao máximo com as cidades metafísicas. Toda árvore precisa de
suas raízes para sobreviver, e a pessoa sem raízes fortes, perece, no sentido
de que não é interessante uma pessoa que se aliena de suas próprias raízes, de
sua própria família, no modo como uma célebre popstar via sua própria vida ruir
a partir do momento em que esta popstar quebrou relações com a própria mãe! O
atelier é a raiz do artista. O Lar é a raiz, com seus ramos profundamente
fincados no Imaculado Útero de Nossa Mãe. FK tem traços para todos os lados,
querendo talvez apontar setas para diferentes direções, no modo como um impasse
existencial causa desnorteamento, com placas viradas para vários lados, numa
confusão, num FK catarseando um sentimento de falta de noção, de carência de
norte. As obras de FK nos fazem querer tê-las em nossas salas de estar! É uma
cena de um lugar vibrante, no qual muitas coisas excitantes acontecem, numa
agenda social invejável, rica, num lugar de muita Vida, Saúde e Juventude.
Acima, Horizontal Rust. 1960. As vigorosas pinceladas negras parecem
querer vetar, esconder algo, talvez por pudor. São como as tiras negras que
censuram as partes íntimas em um striptease. O negror aqui se impõe sobre a
base branca, e podemos ver uma “guerra”, um conflito entre revelar e esconder,
talvez numa indecisão, num impasse, num momento dúbio de confusão, num
desnorteamento existencial enorme, em que o indivíduo simplesmente não sabe o
que fazer, num impasse que “engessa” a pessoa, impedindo esta de agir, de
reagir, de dar uma resposta às durezas inevitáveis da Vida. São como galhos de
árvores brigando por um espaço ao Sol, na competição do dia a dia, num mundo em
que muitos espermatozoides competem pelo mesmo óvulo, como vi certa vez em um
evento solene, em que vários fotógrafos acotovelavam-se em torno de uma
autoridade, brigando como se fossem animais competindo por um pedaço de carne,
numa animalidade incrível, incivilizada. Como é patética a porção animal do Ser
Humano! Aqui, há entrevero de curvas, numa rodovia confusa, sem placas sinalizadoras,
num contexto que exige que a pessoa aja de forma instintiva, aprendendo por si
mesma os caminhos da Vida, do Mundo, visto que não há livro ou faculdade que
ensine a viver. Aqui, o artista quer nos dizer algo, quer nos interpelar,
abraçando o espectador com essas tarjas negras, como rastros no caminho,
contando uma história, uma proveniência, no modo como ninguém foi encontrado em
uma lata de lixo, no modo como todos temos uma história, no modo como somos
frutos da Imaculada Conceição da Dimensão Metafísica, nosso Eterno Lar, para
onde vamos (e voltamos) após a complicada Vida Carnal. É como uma estrada
calejada, marcada por décadas de serviço à Comunidade, como passos na beiramar,
deletados naturalmente pelo vaivém das ondas, na sedução do vazio da orla, como
Tao é um copo vazio, pronto para servir ao Mundo, na dignidade dos que vivem em
nome da Humanidade, e não em benefício próprio – e como é comum o egoísmo! Como
é comum o tradicional modo humano de operar cruelmente! Aqui, vemos uma singela
faixa alaranjada, discreta, coadjuvante, como uma nesga de Sol num fim de
tarde, lutando para colorir um mundo tão sem cor, tão sisudo, como uma pessoa
se casando não por Amor, mas por conveniência social. É o talento humano para a
Infelicidade. Por outro lado, a base deste quadro pode ser um profundo negror
do Cosmos, com coisas tão distantes que suas luzes sequer chegaram a nós na
Terra, no modo como, no frigir dos ovos, até um ateu tem que admitir a
existência de uma Inteligência Suprema, tal a vastidão cósmica. Neste fundo
preto, as faixas brancas buscam trazer Paz e Esclarecimento a um contexto tão
ignorante, tão consumido pela miséria psíquica. É o modo como o Ser Humano
conhece algumas coisas, mas desconhece muitas outras, num planeta Terra em meio
a um galgar incessante de aprimoramento científico e tecnológico – onde vamos
parar? É como tribos indígenas no Brasil foram só descobertas nas últimas
décadas, numa densa mata cujo âmago ainda não compreendemos completamente, no
modo como na Vida não se pode ter tudo, e que é necessário o contentamento
frente ao fato de que a pessoa, por mais poderosa que seja, não pode ser Tao.
Aqui, é como uma comida sendo assimilada dentro do organismo, no modo como um
artista vai sendo assimilado pelo Corpo Social, tornando-se um artista célebre
e respeitado, o sonho de qualquer artista, o sonho de ser algo que faz Bem ao
Mundo. É como uma cidade de crescimento desordenado, num Caos que é, por
exemplo, o complexo de anéis saturninos, os quais, de longe, são perfeitos,
mas, de perto, são caóticas rochas fluindo. É como observar um gramado de
futebol de longe e de perto, observando detalhes que, à distância, passam
despercebidos. As partes claras são um emaranhado de teias confusas, prontas
para fisgar uma vítima, na luta pela Vida, luta que permeia a existência
encarnatória, num mundo duro, em que menina veste rosa e menino veste azul –
sim, eu também odiei aquela mulher. O preto é a Ignorância.
Acima, Le Gros. 1961. Uma forma de sacarrolha, libertando os aromas do
vinho, no prazer da degustação, do sentir as nuances de sabor de algo, num
prazer de contemplação, depois de um dia de labor e esforço. É um grande T,
numa imposição emblemática, numa pessoa que se impõe, exigindo o mínimo de
respeito, de consideração. Aqui temos traços retilíneos, sem curvas orgânicas.
Temos tensão, como uma malha rodoviária, com estradas se tocando e se
despedindo uma das outras, no modo como as pessoas passam umas pelas vidas das
outras, na construção de relacionamentos, de pontes que impedem que o indivíduo
se sinta muito só, no prazer de cumprimentar um amigo na Rua. Ao centro do
quadro temos uma brecha, uma lacuna, uma interrupção. São as brechas da
Sociedade Patriarcal, com psicopatas se aproveitando ardilosamente dessas
brechas, espalhando sua malícia, suas más intenções, sua ausência de nobreza. É
a brecha da vagina, na porta da gruta do prazer, no aconchego do Lar, do acolhimento,
no Lar Eterno que espera por todos nós. É uma fechadura, num enigma de senha,
necessitando da chave certa, da chave exata, na porta fechada com a qual nos
deparamos todos os nossos dias de encarnados, tentando compreender o que ocorre
no Reino dos Céus, com amizades e parentescos que sobrevivem ao Desencarne.
Aqui, temos um FK vigoroso, fazendo com que as pinceladas viris sejam rastros
deixados por alguém, como um artista, que deixa seus rastros no Mundo,
esperando legar excelência, respeitável excelência. Podemos ver uma certa face
humana, sendo a faixa superior a linha dos olhos, sendo a faixa vertical o
nariz e sendo uma pequena boca a faixa inferior, num olhar de um espectador
exigente, como a crítica teatral Barbara Heliodora, uma crítica temida por
muitos profissionais do Teatro. A faixa superior é uma bandeja sendo carregada
por um altivo braço de garçom, distribuindo finas bebidas numa badalada noite
de vernissage, num momento de êxtase para o artista, vendo a galeria lotada de
gente, com seus quadros sendo contemplados pela primeira vez, numa
desvirginização. A vernissage é um momento mágico, e o orgulho do artista
transborda. É chique. A bandeja é o instinto de vendedor, oferecendo e
sugerindo, num artista que tem uma pitada de tino comercial, sabendo, além de
ser artista, ser vendedor, fazendo a difícil junção entre Arte e Mercado,
havendo em artistas célebres a capacidade de se vender, um instinto que,
infelizmente, nem todos os artistas têm. É como um artista plástico que conheci
em Porto Alegre,
um artista que na época era iniciante, e que ganhou um prêmio que contemplou
jovens artistas, e na noite de vernissage, ao lado das obras de todos os outros
concorrentes, este artista vestiu uma camiseta que fazia diálogo com a própria
obra deste artista, num gesto inesquecível, marcante, cheio de vontade de
vencer na Vida. A Vida exige vontade do indivíduo, havendo na pessoa depressiva
uma incrível falta de tesão pela Vida, numa espécie de labirintite. Estas
faixas negras são como um grande rio que desemboca em um par de cascatas,
resultando, no fundo, em um rio, na metáfora com a Linha Existencial, que é
como um rio, que transporta a pessoa pelos episódios da Vida desta, havendo
quedas d’água, com todo um percurso imaginado e proporcionado pela Divina
Providência, a “firma” que nos rege na Terra. Podemos ouvir o forte ruído de
água caindo, nas forças da Natureza, inspirando um artista a ser como essas
forças poderosas, influenciando e inspirando pessoas, pois esta é a capacidade
do grande artista – inspirar. Podemos sentir as gotículas refrescantes, no modo
como a transgressão traz frescor, traz juventude, traz renovação, na linda
transgressão que foi a Arte Moderna Brasileira. Estas águas negras são
imprevisíveis, e pouco podemos prever. É como o líquido negro de um perfume
lançado por Lady Gaga, havendo em Gaga uma transgressão maravilhosa, numa
artista que é uma dinamite de talento, inspirando outros artistas a contestar,
trazendo revoluções, as quais têm que conviver pacificamente com as tradições, pois
estas têm que ser respeitadas.
Acima, Mycenae. 1958. Aqui, temos mais leveza e cor, num frescor
carnavalesco, perfumado, num momento eufórico de alegria. Parece a bandeira
tremulante de uma nação bela e feliz, num contexto de Liberdade em que o cidadão
se sente à vontade para ser o que quiser ser, como pintar o cabelo com uma
determinada cor, nunca se sentindo julgado ou avaliado por causa desta cor. A
base branca traz Paz e plenitude, numa casa arejada e iluminada, como um
banheiro majestosamente ensolarado, com o perfume de um banho bem tomado,
deixando para trás quaisquer traços de sujeira ou de inutilidade, de falta de
propósito. É como um parque de diversões infantil, como nos parques do grupo
Disney, por exemplo, que são lugares em que os adultos voltam a ser crianças,
no modo como jamais podemos perder totalmente a candura, a inocência. É um
quadro que nos sorri, convidando-nos a embarcar para esta terra mágica, esta
terra bela em que a plenitude substitui o perecimento, acolhendo-nos como queridos
filhos de volta ao Lar, e este é o desejo do artista – autoencontro, inspirando
o espectador a este encontrar a si mesmo também. É um sábado ensolarado,
convidando a passear pelas ruas de uma cidade cheia de Vida, cheia de coisas
acontecendo, como exposições de Arte, sendo a Arte a ferramenta humana para
vencer as forças obscuras da Maldade, da Malícia. É um passeio de regata por um
dia de Sol, com temperatura amena, no prazer ao ar livre, como uma sala de
estar sem paredes, recebendo as visitas em meio a uma paisagem serrana, uma florida
paisagem cheia de nobreza e elevação. Quero roubar este quadro e levá-lo para casa!
O amarelo dourado premia os olhos do espectador, na preciosidade de obras que
ultrapassam milênios, nunca perdendo o fascínio, fazendo da Arte uma expressão
atemporal, rejeitando a passagem do Tempo e rejeitando o envelhecimento, numa
dimensão sem Tempo, sem idade, sem gênero, rejeitando o tradicional fato de que
a Humanidade coloca homens e mulheres em lugares diferentes, nos inevitáveis preconceitos.
É assim mesmo. Acostume-se. Aqui, é a alegria de uma criancinha à beiramar,
descobrindo a delícia de entrar em contato com as ondinhas da beira, na sedução
que a orla exerce sobre as pessoas, na sensualidade do vazio, daquilo que
acolhe, que chama, que atrai. É como uma casa simples, a qual, apesar de
majestosa, é simples! É o talento de alguém que sabe que, quanto menos, melhor.
Este quadro traz respiro, alívio, ventilação, um remédio para tórridos dias de
Verão, imitando a dimensão onde não há extremos climáticos, sem a bipolaridade
entre frio e quente. É uma roupa aérea, folgada, alegre, que dá prazer a quem a
veste, num tecido macio, carinhoso, sedutor, vaporoso, extremamente fino, fino
demais para ser produzido pro qualquer fabricante na Terra. FK vai se
movimentando instintivamente, nunca querendo desenhar algo de fato, algo óbvio,
como uma casa ou uma flor. O vermelho é o telhado de uma casa acolhedora, que
dá as boas vindas àquele que retorna, àquele que já cumpriu sua missão na
Terra. É uma cama majestosa, digna de rei, no prazer calmo de dormir,
simplesmente dormir, no gostoso pecadinho capital da Preguiça, como no famoso
espírito Patrícia, que dormiu por vários dias seguidos após o Desencarne. Aqui,
é como um labirinto resolvido, iluminado, com mistérios sendo solucionados e com
a luz da resolução finalmente despontando no Céu, com a Estrela da Manhã anunciando
uma nova etapa, como uma cobra deixando as velhas escamas para trás. Aqui, é
como uma criança peralta, arteira, bagunçando uma casa, no fato de que a Arte
só pode prosperar sob as asas da Liberdade. É como uma tábua de testes de
cores, num artista que está sempre ensaiando, sempre testando, nunca dando um
ponto final, nem um ponto definitivo, mas sempre fazendo a roda do processo andar,
sempre se transformando, sempre crescendo e se aprimorando, pois o estancamento
de processo é ilusório e malévolo.
Acima, Torches Mauve. 1960. Aqui, temos um quadro mais fechado, como num
dúbio dia de Inverno, cinzento, trazendo dúvidas sobre o futuro. É um dia para
ficar dentro de casa, comendo pinhão. É um recolhimento, uma hibernação, um
recato. É uma casa abandonada, debilitada, desabitada, numa porta escura para
onde não sabemos a que leva. Há uma tonalidade de azul discreto, cinzento,
muito longe de um dia de Céu de Brigadeiro, longe de um dia de Sol majestoso,
iluminando tudo e todos. Temos aqui um FK catarseando um sentimento de
abandono, de perecimento, numa vida envelhecendo, nunca tendo provas do que nos
espera após o Desencarne. É como diz uma canção: “Um dia frio, um bom lugar para
ler um livro”. É como uma estrutura desmoronando, num momento de colapso, de
crise, em que o indivíduo se depara com a devastação em sua própria vida, num
momento de crise e abandono, numa pessoa que tem que empreender um esforço
enorme para se reerguer, para se reconstruir, numa demanda existencial que
exige uma vida inteira, num grande desafio existencial, num trabalho vagaroso,
como uma formiga construindo e reconstruindo o próprio formigueiro, numa
formiga que não deve reclamar da Vida, aceitando a provação e, assim, crescendo
e ficando mais forte para encarar as empreitadas necessárias. A porta é a
goleira, a passagem do Desencarne. A porta é o princípio passivo feminino, e a
pessoa tem que ser humilde e passar por tal porta, por tal momento, enfrentando
a Vida com elegância olímpica, nunca se permitindo “se atirar nas cordas”,
pois, por mais que a pessoa esteja farta da Vida, essa pessoa tem que se fazer
adulta. Este quadro é essencialmente vertical, numa pessoa que tira força do
fundo d’alma para se erguer e para sorrir. É o monólito alienígena de 2001, convidando o Ser Humano a se
erguer, a conquistar o Mundo, a dominar a Terra, coroando um processo evolutivo
de milhões, de bilhões de anos, na tentativa humana de tentar compreender a
Vida e o Cosmos, usando suas humildes noções de horas, dias e anos para medir
as vastas distâncias do Universo. Esta porta é um desafio, e não são todos quem
têm a coragem de passar por isso, recolhendo-se simploriamente com medo, pois é
uma pena que uma pessoa inteligente e sofisticada não coloque esta mesma sofisticação
a serviço do Mundo. A Vida em Sociedade é repleta de desafios, e a coragem é
necessária para que a pessoa, de certo modo, tenha que mostrar o dedo do meio
para o Mundo, numa pessoa que está farta de ser uma prisioneira das
expectativas de outrem. Então as paredes tombam e o indivíduo toma o controle
sobre a própria vida, num artista desbravador, sendo imitado por artistas
menores, pois quando alguém tem sucesso, muitas outras pessoas querem entender
esse sucesso, fazendo, assim, imitações. Vejo um pouco de Iberê Camargo em FK,
com pinceladas vigorosas e dúbias, nunca trazendo uma definição muito clara,
sempre sugerindo, como nuvens no Céu, adquirindo muitas formas, muitas
insinuações. Aqui temos uma noite fechada sendo desafiada pelos primeiros
indícios de Sol de Aurora, como no final de um baile de gala, com os coloridos
vestidos das senhoras sendo beijados pelas luzes solares, revelando um dia
melhor, mais belo, mais pacífico. Temos aqui um embate, uma luta entre Luz e
Escuridão, na clássica guerra entre Bem e Mal, num ponto de competição, de
concorrência, de disputa, no modo como é a Consciência Humana, um palco em que
o Bem e o Mal lutam para moldar a conduta da pessoa, uma conduta que pode ser
nobre, ou não tão nobre. E a Serpente da Malícia é esmagada pelos alvos pés de
Nossa Senhora, numa lança de São Jorge, aniquilando o Dragão da Malícia,
impondo a praticidade e a simplicidade do Pensamento Racional, pois as luzes da
Razão triunfam sobre a inutilidade, sobre a sujeira do Mal. Aqui, é como uma
parede velha, surrada, desbotada, precisando urgentemente de um reparo, de uma
pintura, de uma manutenção, na rotina diária de uma cidade sendo administrada e
cuidada, na eterna tentativa humana que fazer com que as cidades físicas sejam
muito parecidas com as metafísicas.
Referências bibliográficas:
Franz Kline. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>.
Acesso 27 fev. 2019.
Franz Kline Obras. Disponível em <www.google.com>.
Acesso 27 fev. 2019.
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