A sueca Hilma af Klint é
considerada uma pioneira do Abstracionismo. Espiritualizada, Hilma alegava que
espíritos a guiavam para que a própria Hilma fosse uma mensageira, uma mera
executora de pinturas. Af Maria, que modéstia! Klint está, neste momento, tendo uma grande
retrospectiva no Guggenheim de Nova York. Os textos e análises semióticas a
seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Altarpiece. Aqui, temos um altar, um caminho de evolução, de
depuração, como nas várias séries escolares, da Pré Escola ao Ensino Superior,
almejando a excelência, no modo como as universidades formam suas elites. São
inúmeras manhãs acordando cedo e estudando na sala, num esforço diário, numa
luta. O grande Sol acima é Tao, o Pai de Todos, a grande força criativa que
rege todas as dimensões do Universo, havendo no Sol a figura patriarcal que
traz, infalivelmente, a luz de todos os dias, numa certeza, numa credibilidade,
no modo como o Antigo Egito, em geral, só podia ser governado por homens, num
machismo que perdura até hoje, em plena era em que a Digitalização e a
Democracia igualam os Seres Humanos – ou busca igualar, em nobre intenção. É o
grande prato de ouro, sobre o qual todos se apóiam, com muita classe e
elegância, no modo como os espíritos depurados são finos e exalam um perfume
irresistível, numa Hierarquia suave, sutil, porém fortíssima, indestrutível,
estando a Vida em Sociedade repleta de Hierarquia, como nas famílias, nas
escolas, na Vida como um todo. O fundo negro é a incerteza, no fato de que não
há frias provas científicas de que existe uma dimensão acima da Dimensão
Material. A pessoa, portanto, tem que ter fé sem ter certeza, o que é um grande
desafio, uma verdadeira prova espiritual. Este degradê colorido é um puríssimo
prisma sendo decomposto em todas as cores, numa alegria festiva, carnavalesca,
nos lugares abençoados metafísicos, onde só há beleza, juventude, força e
certeza, numa vida plena, numa vida incrivelmente abençoada, numa vida que
revela as intenções nobres de Tao para com os próprios filhos. É a dança das
cores, numa explosão de percepção, no arcoíris da Paz, o arco que traz a
renovação da certeza, como o Desencarne é uma verdadeira ressurreição, no modo
como o egípcio antigo, por meio da mumificação, almejava a Vida Eterna, onde
nada perece. Temos aqui um formado piramidal, numa escadaria que leva aos Céus,
num Hilma inclinada à depuração, acreditando na Ressurreição, no fato de que a
Vida na Terra está fadada à danação, como diz uma célebre canção: “No fim,
todos nós perdemos nosso charme”. O apodrecimento cadavérico é um grande
desafio à Fé da pessoa, tendo esta que se inclinar em ideias nunca comprovadas.
A pontinha desta pirâmide é negra, no sentido de que a pessoa tem que se despir
de expectativas, observando o Universo de forma isenta e desidealizada,
realista. É a pirâmide da Maçonaria, uma organização de muita hierarquia, um
“Clube do Bolinha” no qual mulher não entra. O Mundo considera a mulher um
cidadão de segunda categoria, e as próprias mulheres se consideram cidadãos de
segunda categoria. Hilma sabe que desencarnará e que deixará para trás seu
corpo feminino, ressuscitando como um anjo andrógino, sem sexo. Este grande Sol
está cercado de muitos raios pontiagudos e agressivos, exigindo que mantenhamos
distância; exigindo que não olhemos diretamente para ele. É um grande gongo,
cujo badalar abala tudo e todos, como um vulcão inclemente explodindo,
engolindo cidades inteiras. Ao redor deste astro rei, um círculo azul, uma
espécie de aura, de aureola, no formato do planeta Terra, uma esfera que, vista
de longe, é uma singela estrelinha azul. Esta pirâmide á ambiciosa, e quer
mirar e atingir em cheio este alvo. É o objetivo de vida, a meta, o norte, e
dinheiro nenhum pode dar norte à vida de qualquer pessoa. Este degradê
cromático é como as paletas de cores de gráficas, oferecendo todo um leque para
a pessoa escolher a tonalidade certa, nas múltiplas opções da Vida, num lugar
onde há inúmeras funções a serem desempenhadas.
Acima, Sjustjärnan. Um namoro com Leonardo da Vinci, na célebre obra
deste, no Antropocentrismo Renascentista, em que o Ser Humano é o centro do
Universo – mas o homem, aqui, é o centro, e não a mulher... No quadro, a
palavra “evolução”, no sentido da Vida, que é uma verdadeira escadaria, a qual
tem que ser galgada com esforço olímpico, sendo a Vida uma grande escola, a
maior escola de todas. Aqui, este homem tenta se equilibrar, buscando um
centro, um ponto de apoio, no modo como o artista busca se equilibrar por meio
da Arte, querendo ser respeitado como artista, como pessoa importante e
fundamental à Vida em
Sociedade. Este homem está numa bolha de sabão, livre, leve e
solto, na leveza do alto astral de pessoas bem humoradas, no modo como rir é o
melhor remédio, havendo na Comédia um bálsamo às dores existenciais. Toda esta
obra busca um equilíbrio, e o quadro tem um contraste, com metade clara, metade
escura. É o modo como, na luz, nada mais natural do que a noite, numa artista
observando a dança entre dia e noite, nos opostos regendo o Cosmos, como nos
contrastes majestosos do mestre Escher, amplamente comentado neste mesmo blog –
dê um search para “mago” e pesquise aqui. Há duas esferas opostas, cada uma
regida por um homem, e cada um destes segura uma cruz, no modo como o
Cristianismo é uma história bela e trágica, nos ensinamentos apolíneos de Jesus
e no fim trágico e doloroso do Messias. São dois mundos, regidos por deuses
diferentes. O homem ao centro também segura uma cruz em cada mão, no modo como
o Espiritismo é, na prática, um ramo do Cristianismo, e orações cristãs são
amplamente feitas em centros espíritas. Este homem ao centro é Jesus,
crucificado, exposto ao Mundo, humilhado cruelmente, numa época em que o
proclamado Reino dos Céus era incompreensível ao homem comum, ao homem tosco
antigo, havendo em Jesus um homem não só à frente do próprio tempo, mas à
frente de todos os tempos. Pelo quadro há formas de caracóis, ou conchas
marinhas, como uma infinita escadaria circular, majestosa, com elegantes
mulheres, em estonteantes vestidos, descendo graciosa e elegantemente tais
escadarias, num lugar onde a elegância não é exceção, mas regra. Jesus chama o
Ser Humano a evoluir e crescer como espírito, pois, cedo ou tarde, o espírito
começa a perceber e aceitar a necessidade de depuração, havendo na Encarnação
uma escola muito, muito boa, a melhor de todas. Este quadro quer uma simetria
equilibrada, mesmo com opostos são desiguais. É como a Humanidade tendo sua
história marcada entre antes e depois da encarnação de um homem. E a Sociedade
exige que seja um homem, nunca uma mulher, num lugar onde eles podem tudo; elas
podem nada. Estaria Hilma nos chamando a uma evolução, em que os gêneros vão se
tornar iguais? Temos aqui as duas faces da Lua, numa face em mistério, jamais
revelada ao Ser Humano, em segredos de estado, segredos divinos, com segredos
que só podem ser revelados em outra dimensão, em outra vida, pois, da Vida,
pouco se sabe... Este homem crucificado abre os braços para voar como uma
paladina ave, buscando comida e desbravando ecossistemas, com sua afiadas
garras agressivas, capturando camundongos desavisados. É a Humanidade alçando
voos de tecnologia, querendo ir a Marte e voltar a salvo, num Ser Humano nunca
satisfeito, sempre querendo mais, na inclinação do espírito em viver em um
mundo onde a Paz tem um silêncio ensurdecedor. Este homem parece estar se
exercitando com um polichinelo, preparando-se para a Vida, ficando mais forte,
evoluindo e crescendo como homem, fazendo metáfora com as pessoas malhando em
academias, almejando a plena forma e a força para enfrentar as inevitáveis
dores da Vida. Este homem está em cima do muro, indeciso, numa Hilma
catarseando um sentimento de indefinição, de insegurança. São as almas se debatendo
entre o Bem e o Mal.
Acima, Svanen. Os cisnes do dia e da noite se entrelaçam, num abraço muito
envolvente, com Yin e Yang se complementando. São como duas cobras em coito, na
fúria de um momento de selvagem cio. Formam um brasão, um objeto aristocrático,
um escudo cheio de honra e orgulho. Os cisnes se beijam em uma cena romântica,
num grande filme de amor, no que é, segundo uma amiga minha psicóloga, o
segredo da Vida – é o Amor, que mexe com minha cabeça e me deixa no cio, digo,
assim. Aqui, temos um grande equilíbrio simétrico, num exercício de compensação,
de equivalência, como dar um imóvel usado como entrada para a compra de um
imóvel novo, como numa fria equação, havendo na Matemática a beleza do
Pensamento Racional. As asas batem em liberdade, na realização do Desencarne,
como um anjo se libertando e mergulhando num túnel de luz, sendo guiado por
amorosos anjos guias, anjos que, quando encarnados, eram ignorados pela dureza
do Mundo Material. Bem ao centro do quadro temos formas aristocráticas, no modo
como, de forma metafísica, somos todos sangue azul, fazendo metáfora com os
sangue azul na Terra – a Dimensão Material é um grotesca cópia da dimensão
acima daquela. Neste brasão há um saco, talvez um útero, o receptáculo
universal, a grande barriga criadora que nos colocou no Mundo, nutrindo-nos.
Este saco é esférico, como a Terra, a grande bolha orgânica de vida selvagem
que nos expeliu e inaugurou nossa Encarnação, numa etapa difícil, cheia de
percalços que, no fim das contas, causa muito Bem e muito crescimento ao indivíduo,
como benéficas colheradas de um remédio amargo. Mais acima da bolha, formas
douradas que formam um falo, num orgulho ereto de um impávido obelisco, na
tentativa humana de compreender a Vitória e a Realização, havendo um verdadeiro
culto às celebridades que se tornam bem sucedidas, cabendo, ao resto das
pessoas (comuns), contentar-se com o fato das mesmas simplesmente terem
sobrevivido. É uma hierarquia mundana, e a pessoa bem sucedida é imitada pelas
pessoas comuns, como o paradigma capilar contemporâneo feminino, num cabelo de
Gisele. Aqui, há uma dança das horas, nas horas passando e marcando as tarefas
do dia, como o badalar pontual, infalível, num despertador tocando e expulsando
a pessoa de seu cantinho de gostoso pecado capital da Preguiça – a cama,
adorada caminha. Aqui, um X corta o globo de Norte a Sul, no esforço humano em
compreender este pequenino planeta no qual inocentemente nascemos, num planeta
cercado por um Cosmos tão vasto que se torna infinito. Aqui, temos o poder
chamativo do contraste, no modo como há inevitáveis contrastes entre as
pessoas, pois cada pessoa é única, altamente singular e especial, ficando todos
iguais perante à Urna Eletrônica. O fundo do quadro é formado por quatro
quadrados, como uma casa sendo pacientemente construída, como tijolos de vidro,
que deixam a luz solar passar, na elegância de uma pessoa autêntica e
verdadeira, uma pessoa na qual sabemos que podemos confiar, num anjo
transparente, no amigo Anjo da Guarda, no fato de que Tao jamais nos deixa sem
guia, e cada um de nós tem, sempre, um Anjo da Guarda – o problema é que nem
todos nós no sentimos acompanhados e guiados. Esses cisnes são dois anjos – um
da Vida e o outro da Morte, no reloginho que existe em cada um de nós, um
reloginho que nos avisa de que é hora de voltar para o Lar. É uma Rosa dos
Ventos cíclica, recebendo a força dos ventos, como uma tempestade de granizo
destruindo parreirais, nas forças naturais avassaladoras, no modo como o
espírito encarnado sofre fortíssima influência de tais forças, sendo um
verdadeiro dom gravitar acima da Natureza e ser uma pessoa espiritualizada.
Esses dois cisnes estão brigando, num momento de raiva, na agressiva
competitividade do Mundo, num contexto em que irmãos se tornam rivais numa
quadra de tênis, num Mundo sedento em saber qual dos dois é o melhor, o macho
alfa. Aqui, é como uma bomba atômica explodindo em todas as direções, no poder
do artista em se tornar uma tempestade.
Acima, Svanen No. 17, Group IX, Series SUW. Aqui, há uma enorme
centralização, num Norte que guia os navegantes, numa grande estrela que guia
os observadores, numa Hilma desejosa de se encontrar, de encontrar Norte para
sua própria vida. Tudo girando em torno de um pequenino ponto central, numa
sensação de organização, no modo como falta Norte à pessoa deprimida e desestimulada.
Aqui, temos um labirinto desbravado, solucionado, com seus meandros traiçoeiros
sendo desvendados, numa luz que simplesmente rechaça quaisquer dúvidas,
solucionando um enigma que antes tanto desnorteava e enganava. É como numa
hierarquia, numa torre social na qual o centro de tudo é um rei ou uma rainha,
com tudo se organizando em torno da pessoa mais importante da pirâmide social,
com a face de uma monarca reproduzida nas notas de dinheiro, numa sensação de
Ordem, em que todo o corpo social se mantém unido e coeso ao redor de uma
figura no topo de um pódio. A cor do fundo é de um tijolo, na exata cor da
superfície marciana, havendo na cor do sangue o símbolo do deus da Guerra, nos
banhos de sangue em que irmão assassina irmão. É a cor do pó de tijolo das
quadras de tênis, num espaço em que é essencial ter vontade de vencer, havendo
no jogo um centro, um objetivo. Aqui, temos um verdadeiro alvo, desafiando o
jogador a acertar bem no centro, como um médico fazendo um diagnóstico preciso,
fincando seu alfinete bem ao meio da questão, observando com muita clareza o
que há de errado com o paciente. Este nervo central, como no nervo de um dente,
é cercado por círculos que se dividem em meias luas, com várias cores, num
quadro diversificado, no modo como o bom líder tem que entender a peculiaridade
de cada um de seus súditos, como numa família, havendo uma elevação hierárquica
na figura do irmão mais velho, como no termo “Big Brother”, num programa
televisivo em que os “irmãos mais novos” são monitorados e controlados, no modo
como Papai do Céu vê tudo o que fazemos – é como se fosse uma tela de Cinema,
numa tela mostrando com clareza cada um de nossos atos. Aqui, é como um vale
profundo, num pontinho bem no fundo, na força gravitacional do que puxa tudo
para baixo, numa força magnética irresistível, no modo como Tao é este profundo
vale, como água, procurando sempre o espaço mais baixo, numa água que precisa
aceitar onde está – a pessoa deprimida não quer aceitar onde está, ficando,
assim, sofrendo. É como o buraquinho no topo de um vulcão, expelindo
furiosamente suas catarses, querendo se libertar, querendo simplesmente criar
asas e fugir de um mundo tão duro e descolorido – pergunte a um prisioneiro se
este gosta da prisão. Aqui, é como um sistema solar, com a figura central
patriarcal do grande astro, com os planetas ao redor, num universo em que as
coisas funcionam por meio da pura Lei da Gravidade, num sistema que, para
funcionar, é necessário que a figura do regente seja (altamente) respeitada,
pois um corpo social entra em crise e colapso a partir do momento em que o
líder se distancia do próprio povo, vide a situação atual da Venezuela, no que
Tao chama de “guia tortuoso”. Aqui, é como o Som se propagando pelo espaço,
como uma gota que cai bem ao centro do balde, causando uma comoção ondular que
vai se apoderar de todo o corpo social. É uma pessoa brilhando, numa explosão
que a faz uma estrela, no enigma que é o “ter brilho” – não há livro que
ensine. Há um mistério nas estrelas, pois não sabemos dizer ao certo o que as
faz brilhar, e assim é Tao, um mistério que jamais será solucionado, resultando
na Vida Eterna, a maior manifestação de poder que pode existir. É uma supernova
estourando em todas as direções. Aqui, temos um reino unido, pacífico e
próspero, no desafio que é se tornar um líder respeitado pelo Povo. A crise
acontece a partir do momento em que o centro se desfaz, causando desnorteamento
e confusão. Aqui, temos um degradê de depuração, havendo no minúsculo centro
uma imensidão de Fé e Libertação. São as várias camadas geológicas de uma esfera,
na curiosidade científica em cortar e analisar.
Acima, The Dove No. 2, from Group
IX Series SUW/UW. Um formato de
coração, talvez numa Hilma romântica. Neste coração há uma unidade, uma
conciliação, como duas pessoas apaixonadas que resolvem morar juntas, na magia
de um casal apaixonado tomando café da manhã e trocando beijinhos. Aqui, é como
o sistema sanguíneo, com veias e artérias dividindo as tarefas, havendo o
sangue limpo e o sangue sujo, na demanda do dia, na demanda de um trabalho, de um
labor. É como na Vida em Sociedade, em que há uma divisão de tarefas, e aquele
que não tem tarefas, sente-se isolado; sente-se fora do Mundo. Na porção
inferior vemos a magia de um prisma, na beleza das cores de um monumental
lustre de cristal, como o grande lustre no Hard Rock Café Gramado, com várias
esferas de cristal reproduzindo a silhueta de uma guitarra. Aqui, é como uma
majestosa cortina, mergulhando um cômodo no breu e convidando ao descanso, como
um guerreiro que, depois de sua missão na Terra, merece um longo descanso. Este
quadro tem uma candura feminina, com um rosa delicado e um vermelho vibrante,
nas cores do interior uterino, como no cenário pink em que Marilyn Monroe
cantou que os diamantes são os melhores amigos de uma mulher (!). Esta grande
esfera se apodera do quadro, como uma grande joia reluzente, na dificuldade
humana em entender a verdadeira joia é o pensamento; a falsa joia é a joia
física, material. A base deste quadro é negra como a asa da graúna, embasando
todo um mistério, como um assassinato narrado por Agatha Christie, havendo nos
mistérios algo de divertido, desafiando a pessoa a desvendar algo, no modo como
o Universo eternamente desafiará o Ser Humano, havendo neste a imortal
curiosidade científica, com os cientistas se debruçando sobre a indecifrável
Eternidade, a Eternidade que nos espera após a morte do corpo físico. É o breu
da noite, só que, aqui, sem estrelas. Mas o prisma alegre desafia a escuridão,
trazendo um consolo e uma promessa, nos vastos salões suntuosos onde festas
elegantes são feitas, na apolínea agenda social de um lugar limpo e bem
administrado, melhor do que qualquer prefeitura sobre a face da Terra. Temos
aqui duas serpentes entrelaçadas, num encontro, como uma pessoa sensível que
percebe a necessidade de adquirir agressividade, pois cada um tem que partir em
busca do que lhe falta, e é importante que eu não me projete em outrem. Há aqui um
vermelho bem vibrante, num show de Flamenco, na cultura intensa espanhola, na beleza
das manifestações artísticas que surgem das misteriosas entranhas da Cultura
Popular, como o Samba, o Jazz etc. Em oposição à parte vermelha, ao lado, uma
parte mais sisuda e discreta, num contraponto, na necessidade de Discrição, na
humildade da pessoa realista, uma pessoa que resiste às tentações do Ego. Esta
grande esfera constitui um aspecto de vidro opaco, não muito translúcido, como
um filtro, uma proteção, revelando algo consideravelmente arejado, nunca
fechando portas, sempre ventilando, como um homem de palavra, um homem que jamais
se venderá por uns pilas, pois honra e virtude não estão a venda. É a questão
da Honestidade, que é um aspecto de Tao, sendo este a elegância eterna. Há
neste quadro delgadas linhas brancas, com se estivessem cheias de seiva, cheias
de Vida, alimentando uma planta, na circulação do precioso sangue vegetal, na
indelével incapacidade humana em reproduzir aquilo que foi feito por Tao. É o
Globo Terrestre, esta grande escola que exige o máximo de seus alunos, como um
lutador de Boxe, jamais se atirando nas cordas, sempre percebendo a necessidade
de um espírito guerreiro, cheio de vontade, num jogador que entra em campo para
ganhar. Este é um quadro um tanto simétrico, e é como no Brasil, com as águas
do Rio e do Mar se encontrando e, ainda assim, nunca se misturando, numa
manutenção de identidade, com duas pessoas que, por mais unidas que estejam,
conservam as respectivas personalidades.
Acima, They tens mainstay IV. Um quadro rico, como joias em um tesouro, só que joias
abstratas. O fundo alaranjado traz sabor e cor, e formas curvilíneas e
liquidiscentes tomam conta do quadro, num cenário em que não há espaço para
linhas retas racionais, muito menos para arestas agressivas. É uma cena
orgânica, como comida sendo assimilada pelo aparelho digestivo. Vemos várias
espirais, como conchas ou escadaria curvilíneas, num lugar de Arquitetura tão
rica e enigmática, no sonho enigmático de um arquiteto inspirado, empenhado em
fazer coisas que fujam do convencional, do medíocre, num lugar em que a
inspiração corre solta, sem repressões ou interrupções, num ato de
encorajamento, fazendo com que a Arquitetura da Terra se pareça com uma pura
intenção; uma pura pretensão. As espirais são psicodélicas, como nos anos 1960,
e a Arte e o Estilo passaram a adquirir suas cores vibrantes, numa espécie de
LSD mental. É um quadro doce, que parece ter sido feito por uma ou mais
crianças. As espirais são túneis, como num certo filme antigo que mostrava
humanos miniaturizados, injetados dentro do organismo de um paciente, em
ambientes fechados, como uma sala de estar convidativa, cheia de conforto e
simplicidade, cheia de carpetes macios e almofadas doces, convidando ao
formidável pecado da Preguiça. São como túneis de um formigueiro, num labirinto
o qual só as próprias formigas entendem, com túneis que proporcionam a viagem
do Tempo e no Espaço, como no termo científico “Buracos de Minhocas”, túneis
que fariam com que Tempo e Espaço fossem abreviados, proporcionando a viagem do
Ser Humano para qualquer recanto do Cosmos. As espirais são uma Torre de Babel
vista de cima, com sua espiral ascendente, como no interior do Guggenheim de
Nova York, uma grande espiral que convida o espectador ao esforço de caminhar
nesta estrada nunca truncada, nunca interrompida. É como um sorvete de máquina,
com sua sedutora espiral doce, no adorável pecadinho da Gula. São os túneis
intestinais, com todo um trajeto, todo um itinerário previsto, como num roteiro
de viagem. O maior de todos os círculos aqui está na parte superior da cena, e
remete a uma roseta de igreja, no puro e transparente Coração de Maria, a Benevolente
Mãe que sempre acolhe incondicionalmente. É uma roda, uma mandala que vai
girando, na dança das estações do ano, na capacidade de uma pessoa em
contemplar a Natureza e em concluir a maestria da Mente Criadora. É um cristal
muito nobre e fino, nas finas mansões da Rua Eterna, lugares acima de qualquer
sonho arquitetônico na Terra. Temos neste quadro várias linhas em espiral que
cortam a cena, como uma mola propulsora, como um ioiô, no vaivém das ondas do
Mar, sempre respirando, sempre vivendo, sempre tendo uma vida produtiva. Aqui,
é como um organismo de lar, e cada elemento se sente em casa, à vontade, numa
sinfonia harmônica, como dentro de uma empresa, com cada pessoa tendo uma
função específica, desde o diretor até a senhora da limpeza, sendo difícil para
este mesmo organismo prescindir de alguém ali dentro. Mais ao Sul do quadro,
uma joia multicolorida, composta sete círculos, uma joia muito rica, que faz
uma assembleia de pedras antes dissociadas, encontradas em lugares diferentes
da Natureza. É a riqueza da Vida em Sociedade, na tentativa humana em entender
que a morte do corpo físico é uma grande ilusão, num Ser Humano sempre em busca
do Eterno. Estes espirais são túneis traiçoeiros claustrofóbicos dos filmes de Alien, com uma tenebrosa criatura
destrutiva caçando seres humanos por seus meandros, como um Minotauro no
labirinto, sempre à espreita, como um artista que está “aprontando alguma”. É
como o remoto jogo de Pac Man, dos anos 1980, em que fantasmas letais habitam
um labirinto, como num castelo assombrado, na ilusão que se desfaz com o
simples nascer do Sol, o nascer da Percepção, quando a lança do pensamento
racional de São Jorge assassina o dragão do terror, trazendo paz ao reino e
esclarecimento às mentes turvas.
Referências bibliográficas:
Hilma af Klint. Disponível em <www.curiator.com>.
Acesso 13 mar. 2019.
Hilma af Klint. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>.
Acesso 13 mar. 2019.
Hilma af Klint Obras. Disponível em <www.google.com>.
Acesso 13 mar. 2019.
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