quarta-feira, 20 de março de 2019

Hilma de Corpo e Alma



A sueca Hilma af Klint é considerada uma pioneira do Abstracionismo. Espiritualizada, Hilma alegava que espíritos a guiavam para que a própria Hilma fosse uma mensageira, uma mera executora de pinturas. Af Maria, que modéstia!  Klint está, neste momento, tendo uma grande retrospectiva no Guggenheim de Nova York. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Altarpiece. Aqui, temos um altar, um caminho de evolução, de depuração, como nas várias séries escolares, da Pré Escola ao Ensino Superior, almejando a excelência, no modo como as universidades formam suas elites. São inúmeras manhãs acordando cedo e estudando na sala, num esforço diário, numa luta. O grande Sol acima é Tao, o Pai de Todos, a grande força criativa que rege todas as dimensões do Universo, havendo no Sol a figura patriarcal que traz, infalivelmente, a luz de todos os dias, numa certeza, numa credibilidade, no modo como o Antigo Egito, em geral, só podia ser governado por homens, num machismo que perdura até hoje, em plena era em que a Digitalização e a Democracia igualam os Seres Humanos – ou busca igualar, em nobre intenção. É o grande prato de ouro, sobre o qual todos se apóiam, com muita classe e elegância, no modo como os espíritos depurados são finos e exalam um perfume irresistível, numa Hierarquia suave, sutil, porém fortíssima, indestrutível, estando a Vida em Sociedade repleta de Hierarquia, como nas famílias, nas escolas, na Vida como um todo. O fundo negro é a incerteza, no fato de que não há frias provas científicas de que existe uma dimensão acima da Dimensão Material. A pessoa, portanto, tem que ter fé sem ter certeza, o que é um grande desafio, uma verdadeira prova espiritual. Este degradê colorido é um puríssimo prisma sendo decomposto em todas as cores, numa alegria festiva, carnavalesca, nos lugares abençoados metafísicos, onde só há beleza, juventude, força e certeza, numa vida plena, numa vida incrivelmente abençoada, numa vida que revela as intenções nobres de Tao para com os próprios filhos. É a dança das cores, numa explosão de percepção, no arcoíris da Paz, o arco que traz a renovação da certeza, como o Desencarne é uma verdadeira ressurreição, no modo como o egípcio antigo, por meio da mumificação, almejava a Vida Eterna, onde nada perece. Temos aqui um formado piramidal, numa escadaria que leva aos Céus, num Hilma inclinada à depuração, acreditando na Ressurreição, no fato de que a Vida na Terra está fadada à danação, como diz uma célebre canção: “No fim, todos nós perdemos nosso charme”. O apodrecimento cadavérico é um grande desafio à Fé da pessoa, tendo esta que se inclinar em ideias nunca comprovadas. A pontinha desta pirâmide é negra, no sentido de que a pessoa tem que se despir de expectativas, observando o Universo de forma isenta e desidealizada, realista. É a pirâmide da Maçonaria, uma organização de muita hierarquia, um “Clube do Bolinha” no qual mulher não entra. O Mundo considera a mulher um cidadão de segunda categoria, e as próprias mulheres se consideram cidadãos de segunda categoria. Hilma sabe que desencarnará e que deixará para trás seu corpo feminino, ressuscitando como um anjo andrógino, sem sexo. Este grande Sol está cercado de muitos raios pontiagudos e agressivos, exigindo que mantenhamos distância; exigindo que não olhemos diretamente para ele. É um grande gongo, cujo badalar abala tudo e todos, como um vulcão inclemente explodindo, engolindo cidades inteiras. Ao redor deste astro rei, um círculo azul, uma espécie de aura, de aureola, no formato do planeta Terra, uma esfera que, vista de longe, é uma singela estrelinha azul. Esta pirâmide á ambiciosa, e quer mirar e atingir em cheio este alvo. É o objetivo de vida, a meta, o norte, e dinheiro nenhum pode dar norte à vida de qualquer pessoa. Este degradê cromático é como as paletas de cores de gráficas, oferecendo todo um leque para a pessoa escolher a tonalidade certa, nas múltiplas opções da Vida, num lugar onde há inúmeras funções a serem desempenhadas.


Acima, Sjustjärnan. Um namoro com Leonardo da Vinci, na célebre obra deste, no Antropocentrismo Renascentista, em que o Ser Humano é o centro do Universo – mas o homem, aqui, é o centro, e não a mulher... No quadro, a palavra “evolução”, no sentido da Vida, que é uma verdadeira escadaria, a qual tem que ser galgada com esforço olímpico, sendo a Vida uma grande escola, a maior escola de todas. Aqui, este homem tenta se equilibrar, buscando um centro, um ponto de apoio, no modo como o artista busca se equilibrar por meio da Arte, querendo ser respeitado como artista, como pessoa importante e fundamental à Vida em Sociedade. Este homem está numa bolha de sabão, livre, leve e solto, na leveza do alto astral de pessoas bem humoradas, no modo como rir é o melhor remédio, havendo na Comédia um bálsamo às dores existenciais. Toda esta obra busca um equilíbrio, e o quadro tem um contraste, com metade clara, metade escura. É o modo como, na luz, nada mais natural do que a noite, numa artista observando a dança entre dia e noite, nos opostos regendo o Cosmos, como nos contrastes majestosos do mestre Escher, amplamente comentado neste mesmo blog – dê um search para “mago” e pesquise aqui. Há duas esferas opostas, cada uma regida por um homem, e cada um destes segura uma cruz, no modo como o Cristianismo é uma história bela e trágica, nos ensinamentos apolíneos de Jesus e no fim trágico e doloroso do Messias. São dois mundos, regidos por deuses diferentes. O homem ao centro também segura uma cruz em cada mão, no modo como o Espiritismo é, na prática, um ramo do Cristianismo, e orações cristãs são amplamente feitas em centros espíritas. Este homem ao centro é Jesus, crucificado, exposto ao Mundo, humilhado cruelmente, numa época em que o proclamado Reino dos Céus era incompreensível ao homem comum, ao homem tosco antigo, havendo em Jesus um homem não só à frente do próprio tempo, mas à frente de todos os tempos. Pelo quadro há formas de caracóis, ou conchas marinhas, como uma infinita escadaria circular, majestosa, com elegantes mulheres, em estonteantes vestidos, descendo graciosa e elegantemente tais escadarias, num lugar onde a elegância não é exceção, mas regra. Jesus chama o Ser Humano a evoluir e crescer como espírito, pois, cedo ou tarde, o espírito começa a perceber e aceitar a necessidade de depuração, havendo na Encarnação uma escola muito, muito boa, a melhor de todas. Este quadro quer uma simetria equilibrada, mesmo com opostos são desiguais. É como a Humanidade tendo sua história marcada entre antes e depois da encarnação de um homem. E a Sociedade exige que seja um homem, nunca uma mulher, num lugar onde eles podem tudo; elas podem nada. Estaria Hilma nos chamando a uma evolução, em que os gêneros vão se tornar iguais? Temos aqui as duas faces da Lua, numa face em mistério, jamais revelada ao Ser Humano, em segredos de estado, segredos divinos, com segredos que só podem ser revelados em outra dimensão, em outra vida, pois, da Vida, pouco se sabe... Este homem crucificado abre os braços para voar como uma paladina ave, buscando comida e desbravando ecossistemas, com sua afiadas garras agressivas, capturando camundongos desavisados. É a Humanidade alçando voos de tecnologia, querendo ir a Marte e voltar a salvo, num Ser Humano nunca satisfeito, sempre querendo mais, na inclinação do espírito em viver em um mundo onde a Paz tem um silêncio ensurdecedor. Este homem parece estar se exercitando com um polichinelo, preparando-se para a Vida, ficando mais forte, evoluindo e crescendo como homem, fazendo metáfora com as pessoas malhando em academias, almejando a plena forma e a força para enfrentar as inevitáveis dores da Vida. Este homem está em cima do muro, indeciso, numa Hilma catarseando um sentimento de indefinição, de insegurança. São as almas se debatendo entre o Bem e o Mal.


Acima, Svanen. Os cisnes do dia e da noite se entrelaçam, num abraço muito envolvente, com Yin e Yang se complementando. São como duas cobras em coito, na fúria de um momento de selvagem cio. Formam um brasão, um objeto aristocrático, um escudo cheio de honra e orgulho. Os cisnes se beijam em uma cena romântica, num grande filme de amor, no que é, segundo uma amiga minha psicóloga, o segredo da Vida – é o Amor, que mexe com minha cabeça e me deixa no cio, digo, assim. Aqui, temos um grande equilíbrio simétrico, num exercício de compensação, de equivalência, como dar um imóvel usado como entrada para a compra de um imóvel novo, como numa fria equação, havendo na Matemática a beleza do Pensamento Racional. As asas batem em liberdade, na realização do Desencarne, como um anjo se libertando e mergulhando num túnel de luz, sendo guiado por amorosos anjos guias, anjos que, quando encarnados, eram ignorados pela dureza do Mundo Material. Bem ao centro do quadro temos formas aristocráticas, no modo como, de forma metafísica, somos todos sangue azul, fazendo metáfora com os sangue azul na Terra – a Dimensão Material é um grotesca cópia da dimensão acima daquela. Neste brasão há um saco, talvez um útero, o receptáculo universal, a grande barriga criadora que nos colocou no Mundo, nutrindo-nos. Este saco é esférico, como a Terra, a grande bolha orgânica de vida selvagem que nos expeliu e inaugurou nossa Encarnação, numa etapa difícil, cheia de percalços que, no fim das contas, causa muito Bem e muito crescimento ao indivíduo, como benéficas colheradas de um remédio amargo. Mais acima da bolha, formas douradas que formam um falo, num orgulho ereto de um impávido obelisco, na tentativa humana de compreender a Vitória e a Realização, havendo um verdadeiro culto às celebridades que se tornam bem sucedidas, cabendo, ao resto das pessoas (comuns), contentar-se com o fato das mesmas simplesmente terem sobrevivido. É uma hierarquia mundana, e a pessoa bem sucedida é imitada pelas pessoas comuns, como o paradigma capilar contemporâneo feminino, num cabelo de Gisele. Aqui, há uma dança das horas, nas horas passando e marcando as tarefas do dia, como o badalar pontual, infalível, num despertador tocando e expulsando a pessoa de seu cantinho de gostoso pecado capital da Preguiça – a cama, adorada caminha. Aqui, um X corta o globo de Norte a Sul, no esforço humano em compreender este pequenino planeta no qual inocentemente nascemos, num planeta cercado por um Cosmos tão vasto que se torna infinito. Aqui, temos o poder chamativo do contraste, no modo como há inevitáveis contrastes entre as pessoas, pois cada pessoa é única, altamente singular e especial, ficando todos iguais perante à Urna Eletrônica. O fundo do quadro é formado por quatro quadrados, como uma casa sendo pacientemente construída, como tijolos de vidro, que deixam a luz solar passar, na elegância de uma pessoa autêntica e verdadeira, uma pessoa na qual sabemos que podemos confiar, num anjo transparente, no amigo Anjo da Guarda, no fato de que Tao jamais nos deixa sem guia, e cada um de nós tem, sempre, um Anjo da Guarda – o problema é que nem todos nós no sentimos acompanhados e guiados. Esses cisnes são dois anjos – um da Vida e o outro da Morte, no reloginho que existe em cada um de nós, um reloginho que nos avisa de que é hora de voltar para o Lar. É uma Rosa dos Ventos cíclica, recebendo a força dos ventos, como uma tempestade de granizo destruindo parreirais, nas forças naturais avassaladoras, no modo como o espírito encarnado sofre fortíssima influência de tais forças, sendo um verdadeiro dom gravitar acima da Natureza e ser uma pessoa espiritualizada. Esses dois cisnes estão brigando, num momento de raiva, na agressiva competitividade do Mundo, num contexto em que irmãos se tornam rivais numa quadra de tênis, num Mundo sedento em saber qual dos dois é o melhor, o macho alfa. Aqui, é como uma bomba atômica explodindo em todas as direções, no poder do artista em se tornar uma tempestade.


Acima, Svanen No. 17, Group IX, Series SUW. Aqui, há uma enorme centralização, num Norte que guia os navegantes, numa grande estrela que guia os observadores, numa Hilma desejosa de se encontrar, de encontrar Norte para sua própria vida. Tudo girando em torno de um pequenino ponto central, numa sensação de organização, no modo como falta Norte à pessoa deprimida e desestimulada. Aqui, temos um labirinto desbravado, solucionado, com seus meandros traiçoeiros sendo desvendados, numa luz que simplesmente rechaça quaisquer dúvidas, solucionando um enigma que antes tanto desnorteava e enganava. É como numa hierarquia, numa torre social na qual o centro de tudo é um rei ou uma rainha, com tudo se organizando em torno da pessoa mais importante da pirâmide social, com a face de uma monarca reproduzida nas notas de dinheiro, numa sensação de Ordem, em que todo o corpo social se mantém unido e coeso ao redor de uma figura no topo de um pódio. A cor do fundo é de um tijolo, na exata cor da superfície marciana, havendo na cor do sangue o símbolo do deus da Guerra, nos banhos de sangue em que irmão assassina irmão. É a cor do pó de tijolo das quadras de tênis, num espaço em que é essencial ter vontade de vencer, havendo no jogo um centro, um objetivo. Aqui, temos um verdadeiro alvo, desafiando o jogador a acertar bem no centro, como um médico fazendo um diagnóstico preciso, fincando seu alfinete bem ao meio da questão, observando com muita clareza o que há de errado com o paciente. Este nervo central, como no nervo de um dente, é cercado por círculos que se dividem em meias luas, com várias cores, num quadro diversificado, no modo como o bom líder tem que entender a peculiaridade de cada um de seus súditos, como numa família, havendo uma elevação hierárquica na figura do irmão mais velho, como no termo “Big Brother”, num programa televisivo em que os “irmãos mais novos” são monitorados e controlados, no modo como Papai do Céu vê tudo o que fazemos – é como se fosse uma tela de Cinema, numa tela mostrando com clareza cada um de nossos atos. Aqui, é como um vale profundo, num pontinho bem no fundo, na força gravitacional do que puxa tudo para baixo, numa força magnética irresistível, no modo como Tao é este profundo vale, como água, procurando sempre o espaço mais baixo, numa água que precisa aceitar onde está – a pessoa deprimida não quer aceitar onde está, ficando, assim, sofrendo. É como o buraquinho no topo de um vulcão, expelindo furiosamente suas catarses, querendo se libertar, querendo simplesmente criar asas e fugir de um mundo tão duro e descolorido – pergunte a um prisioneiro se este gosta da prisão. Aqui, é como um sistema solar, com a figura central patriarcal do grande astro, com os planetas ao redor, num universo em que as coisas funcionam por meio da pura Lei da Gravidade, num sistema que, para funcionar, é necessário que a figura do regente seja (altamente) respeitada, pois um corpo social entra em crise e colapso a partir do momento em que o líder se distancia do próprio povo, vide a situação atual da Venezuela, no que Tao chama de “guia tortuoso”. Aqui, é como o Som se propagando pelo espaço, como uma gota que cai bem ao centro do balde, causando uma comoção ondular que vai se apoderar de todo o corpo social. É uma pessoa brilhando, numa explosão que a faz uma estrela, no enigma que é o “ter brilho” – não há livro que ensine. Há um mistério nas estrelas, pois não sabemos dizer ao certo o que as faz brilhar, e assim é Tao, um mistério que jamais será solucionado, resultando na Vida Eterna, a maior manifestação de poder que pode existir. É uma supernova estourando em todas as direções. Aqui, temos um reino unido, pacífico e próspero, no desafio que é se tornar um líder respeitado pelo Povo. A crise acontece a partir do momento em que o centro se desfaz, causando desnorteamento e confusão. Aqui, temos um degradê de depuração, havendo no minúsculo centro uma imensidão de Fé e Libertação. São as várias camadas geológicas de uma esfera, na curiosidade científica em cortar e analisar.


Acima, The Dove No. 2, from Group IX Series SUW/UW. Um formato de coração, talvez numa Hilma romântica. Neste coração há uma unidade, uma conciliação, como duas pessoas apaixonadas que resolvem morar juntas, na magia de um casal apaixonado tomando café da manhã e trocando beijinhos. Aqui, é como o sistema sanguíneo, com veias e artérias dividindo as tarefas, havendo o sangue limpo e o sangue sujo, na demanda do dia, na demanda de um trabalho, de um labor. É como na Vida em Sociedade, em que há uma divisão de tarefas, e aquele que não tem tarefas, sente-se isolado; sente-se fora do Mundo. Na porção inferior vemos a magia de um prisma, na beleza das cores de um monumental lustre de cristal, como o grande lustre no Hard Rock Café Gramado, com várias esferas de cristal reproduzindo a silhueta de uma guitarra. Aqui, é como uma majestosa cortina, mergulhando um cômodo no breu e convidando ao descanso, como um guerreiro que, depois de sua missão na Terra, merece um longo descanso. Este quadro tem uma candura feminina, com um rosa delicado e um vermelho vibrante, nas cores do interior uterino, como no cenário pink em que Marilyn Monroe cantou que os diamantes são os melhores amigos de uma mulher (!). Esta grande esfera se apodera do quadro, como uma grande joia reluzente, na dificuldade humana em entender a verdadeira joia é o pensamento; a falsa joia é a joia física, material. A base deste quadro é negra como a asa da graúna, embasando todo um mistério, como um assassinato narrado por Agatha Christie, havendo nos mistérios algo de divertido, desafiando a pessoa a desvendar algo, no modo como o Universo eternamente desafiará o Ser Humano, havendo neste a imortal curiosidade científica, com os cientistas se debruçando sobre a indecifrável Eternidade, a Eternidade que nos espera após a morte do corpo físico. É o breu da noite, só que, aqui, sem estrelas. Mas o prisma alegre desafia a escuridão, trazendo um consolo e uma promessa, nos vastos salões suntuosos onde festas elegantes são feitas, na apolínea agenda social de um lugar limpo e bem administrado, melhor do que qualquer prefeitura sobre a face da Terra. Temos aqui duas serpentes entrelaçadas, num encontro, como uma pessoa sensível que percebe a necessidade de adquirir agressividade, pois cada um tem que partir em busca do que lhe falta, e é importante que eu não me projete em outrem. Há aqui um vermelho bem vibrante, num show de Flamenco, na cultura intensa espanhola, na beleza das manifestações artísticas que surgem das misteriosas entranhas da Cultura Popular, como o Samba, o Jazz etc. Em oposição à parte vermelha, ao lado, uma parte mais sisuda e discreta, num contraponto, na necessidade de Discrição, na humildade da pessoa realista, uma pessoa que resiste às tentações do Ego. Esta grande esfera constitui um aspecto de vidro opaco, não muito translúcido, como um filtro, uma proteção, revelando algo consideravelmente arejado, nunca fechando portas, sempre ventilando, como um homem de palavra, um homem que jamais se venderá por uns pilas, pois honra e virtude não estão a venda. É a questão da Honestidade, que é um aspecto de Tao, sendo este a elegância eterna. Há neste quadro delgadas linhas brancas, com se estivessem cheias de seiva, cheias de Vida, alimentando uma planta, na circulação do precioso sangue vegetal, na indelével incapacidade humana em reproduzir aquilo que foi feito por Tao. É o Globo Terrestre, esta grande escola que exige o máximo de seus alunos, como um lutador de Boxe, jamais se atirando nas cordas, sempre percebendo a necessidade de um espírito guerreiro, cheio de vontade, num jogador que entra em campo para ganhar. Este é um quadro um tanto simétrico, e é como no Brasil, com as águas do Rio e do Mar se encontrando e, ainda assim, nunca se misturando, numa manutenção de identidade, com duas pessoas que, por mais unidas que estejam, conservam as respectivas personalidades.


Acima, They tens mainstay IV. Um quadro rico, como joias em um tesouro, só que joias abstratas. O fundo alaranjado traz sabor e cor, e formas curvilíneas e liquidiscentes tomam conta do quadro, num cenário em que não há espaço para linhas retas racionais, muito menos para arestas agressivas. É uma cena orgânica, como comida sendo assimilada pelo aparelho digestivo. Vemos várias espirais, como conchas ou escadaria curvilíneas, num lugar de Arquitetura tão rica e enigmática, no sonho enigmático de um arquiteto inspirado, empenhado em fazer coisas que fujam do convencional, do medíocre, num lugar em que a inspiração corre solta, sem repressões ou interrupções, num ato de encorajamento, fazendo com que a Arquitetura da Terra se pareça com uma pura intenção; uma pura pretensão. As espirais são psicodélicas, como nos anos 1960, e a Arte e o Estilo passaram a adquirir suas cores vibrantes, numa espécie de LSD mental. É um quadro doce, que parece ter sido feito por uma ou mais crianças. As espirais são túneis, como num certo filme antigo que mostrava humanos miniaturizados, injetados dentro do organismo de um paciente, em ambientes fechados, como uma sala de estar convidativa, cheia de conforto e simplicidade, cheia de carpetes macios e almofadas doces, convidando ao formidável pecado da Preguiça. São como túneis de um formigueiro, num labirinto o qual só as próprias formigas entendem, com túneis que proporcionam a viagem do Tempo e no Espaço, como no termo científico “Buracos de Minhocas”, túneis que fariam com que Tempo e Espaço fossem abreviados, proporcionando a viagem do Ser Humano para qualquer recanto do Cosmos. As espirais são uma Torre de Babel vista de cima, com sua espiral ascendente, como no interior do Guggenheim de Nova York, uma grande espiral que convida o espectador ao esforço de caminhar nesta estrada nunca truncada, nunca interrompida. É como um sorvete de máquina, com sua sedutora espiral doce, no adorável pecadinho da Gula. São os túneis intestinais, com todo um trajeto, todo um itinerário previsto, como num roteiro de viagem. O maior de todos os círculos aqui está na parte superior da cena, e remete a uma roseta de igreja, no puro e transparente Coração de Maria, a Benevolente Mãe que sempre acolhe incondicionalmente. É uma roda, uma mandala que vai girando, na dança das estações do ano, na capacidade de uma pessoa em contemplar a Natureza e em concluir a maestria da Mente Criadora. É um cristal muito nobre e fino, nas finas mansões da Rua Eterna, lugares acima de qualquer sonho arquitetônico na Terra. Temos neste quadro várias linhas em espiral que cortam a cena, como uma mola propulsora, como um ioiô, no vaivém das ondas do Mar, sempre respirando, sempre vivendo, sempre tendo uma vida produtiva. Aqui, é como um organismo de lar, e cada elemento se sente em casa, à vontade, numa sinfonia harmônica, como dentro de uma empresa, com cada pessoa tendo uma função específica, desde o diretor até a senhora da limpeza, sendo difícil para este mesmo organismo prescindir de alguém ali dentro. Mais ao Sul do quadro, uma joia multicolorida, composta sete círculos, uma joia muito rica, que faz uma assembleia de pedras antes dissociadas, encontradas em lugares diferentes da Natureza. É a riqueza da Vida em Sociedade, na tentativa humana em entender que a morte do corpo físico é uma grande ilusão, num Ser Humano sempre em busca do Eterno. Estes espirais são túneis traiçoeiros claustrofóbicos dos filmes de Alien, com uma tenebrosa criatura destrutiva caçando seres humanos por seus meandros, como um Minotauro no labirinto, sempre à espreita, como um artista que está “aprontando alguma”. É como o remoto jogo de Pac Man, dos anos 1980, em que fantasmas letais habitam um labirinto, como num castelo assombrado, na ilusão que se desfaz com o simples nascer do Sol, o nascer da Percepção, quando a lança do pensamento racional de São Jorge assassina o dragão do terror, trazendo paz ao reino e esclarecimento às mentes turvas.

Referências bibliográficas:

Hilma af Klint. Disponível em <www.curiator.com>. Acesso 13 mar. 2019.

Hilma af Klint. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>. Acesso 13 mar. 2019.

Hilma af Klint Obras. Disponível em <www.google.com>. Acesso 13 mar. 2019.

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