O carioca Gonçalo Ivo é
filho do escritor Lêdo Ivo e estudou Arte no MAM-Rio, onde também lecionou. É
formado em Arquitetura e foi ilustrador e programador visual. Em 2000, concebeu
o cenário do programa Metrópolis, da TV Cultura. No mesmo ano, montou um
atelier em Paris.
Frequentou o atelier de Iberê Camargo e tem obras
pertencentes ao MAC-SP, à Pinacoteca SP e ao Museu de Belas Artes do Rio. Os
textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Arte da Fuga 2º Livro. Óleo sobre lona. 2014. 140 x 140 cm. Uma autêntica colcha
de retalhos, num modo para se aproveitar pequenos pedaços de pano, sobras,
restos, algo concebido de forma simples, como foi o fondue de queijo, o qual, hoje,
é considerado fino, mas nasceu numa forma dos camponeses suíços para aproveitar
os restos de diferentes queijos. O artista é um costureiro de colchas de
retalho, associando coisas dissociadas e criando algo novo. Aqui, são como
pixels em uma imagem digitalizada, num zoom profundo, exibindo as unidades
mínimas que são os pixels, como átomos formando células e células formando
tecidos, na eterna intenção humana de encontrar as partículas mínimas da
matéria, mas uma intenção que nunca terá sucesso, pois tudo o que Tao faz é
eterno, ou seja, não existe a “Partícula de Deus”. São ladrilhos em uma parede,
ou paralelepípedos, colocados cuidadosa e pacientemente, com ruas pavimentadas,
deixando para trás a rudeza das estradas de terra e trazendo urbanização a uma
comunidade anteriormente agrária, como na pavimentação de Caxias do Sul. É uma
festa de cores, num tecido que pode cair muito bem, cromaticamente, com roupas
em tom de rosa. É um jogo de xadrez alegre, sem a sobriedade cinzenta, sendo
esta resultante do preto com o branco. É uma parede de tijolos constituída de
forma aleatória, sem uma regra em especial, na desordenação festiva de confetes
quadriculados caindo sobre uma pista de dança, no modo como a tecnologia
digital acontece de forma dura, truncada, na construção técnica do espírito, na
frieza racional, rechaçando emoções que fazem com que a pessoa muito emotiva
sofra. É uma frieza do Bem; uma frieza necessária para que a pessoa sofra o
menos possível. Este quadro tem um sabor de tuttifrutti, e podemos sentir o
perfume em tons de magenta, como uma linda Barbie perfumada. Podemos ouvir o
samba em salões de baile cariocas, numa cidade que entra em comoção
carnavalesca. É um arquiteto montando os tijolinhos, do modo como Tao está
sempre criando, sempre elocubrando, sempre colocando sua própria inteligência a
serviço do Universo, pois, já ouvi dizer, tudo o que precisamos mostrar é nossa
inteligência. É uma sociedade colorida, diversificada, e há aqui muito respeito
às diferenças. A Sociedade é um muro com tijolos tão diferentes uns dos outros,
na nefasta tentativa ditatorial em equalizar o inequalizável. Este quadro me
lembra de um cartaz da Campanha da Fraternidade – estudei em colégio de freiras
– nos anos 80, em que uma imagem do rosto de Jesus estava composta por pixels,
de modo que só era possível observar o rosto mantendo certa distância do
cartaz. Era o início da Era Digital, uma onda que veio para ficar, pois a
digitalização racional e fria faz metáfora com a construção técnica de cada
alma humana, no modo como cada pessoa tem que desbravar instintivamente o seu
próprio caminho, não existindo livro que ensine a viver. São como múltiplas
janelinhas na fachada de um prédio muito populoso, e cada apartamento exibe um
tipo de cor, ou apartamentos de luz apagada, com pessoas em momentos diferentes
do dia ou da noite, no modo como o notívago odeia os barulhos diurnos da Vida
em Sociedade. É como na cena final do filme Uma
Secretária de Futuro, em que a câmera vai se afastando da janela de um
escritório e vai mostrando uma infinidade de outros escritórios, com várias
vidas sendo vividas e várias histórias sendo contadas. O mais irônico neste
quadro é o fato de que, enquanto imagem digitalizada – é a foto do quadro e não
o quadro em si –, há múltiplos pixelzinhos que formam tal imagem digital, ou
seja, há uma ironia metalinguística: pixel falando de pixel.
Acima, Fête Africaine. Óleo sobre tela. 1999. 97 x 129 cm. Células epiteliais
que formam um conjunto, uma totalidade, um organismo social, como numa colmeia,
onde cada ser tem sua função, sua dignidade, na metáfora de Matrix: Aquilo que
não tem função é deletado, ou seja, quem não produz e não mostra sua própria
inteligência ao Mundo, pois, já ouvi dizer, tudo o que Fulaninho precisa
mostrar é a própria inteligência. Aqui, temos um vitral de igreja muito rico,
na fartura cromática de uma cornucópia, na infinidade do pensamento bondoso, em
oposição à mediocridade, à mesquinharia e à burrice do pensamento mau, sendo
este deletado, como a serpente esmagada pelos alvos pés de Nossa Senhora, como
a serpente do Éden, no ponto em que um espírito encarna e depara-se com um
Mundo tão duro, tão difícil, com percalços que acabam por ocasionar um enorme
crescimento ao indivíduo encarnado, como uma já falecida política gaúcha, que
foi prostituta, presidiária e venceu as vicissitudes da Vida, tornando-se bem
votada política – esta senhora venceu a dificuldade e desencarnou, voltando
para casa. Esta derme é divertida e diversificada, num artista que mostra
desejar um pouquinho de alegria em meio a um Mundo tão sisudo, tão cinzento, na
dúvida existencial que mistura o negro com a luz, como no Castelo de Grayskull,
um lugar de disputa entre o Bem e o Mal. São quadras altamente irregulares de
uma cidade labiríntica, numa urbe sem prévio planejamento, num crescimento
aleatório e desordenado, no modo como as crises existenciais são verdadeiros
labirintos, exigindo do indivíduo perdido uma enorme paciência e um titânico
esforço para que, por fim, a pessoa perdida dê para si mesma um norte
existencial – é o grande desafio da Vida, com centros espíritas lotados de
pessoas em busca de uma luz, de um auxílio, de uma orientação, havendo nesses
centros muito carinho, pois ao espírita resta a crença de que somos todos
iguais e irmãos. É como um prisma absolutamente estilhaçado e destruído, numa
pessoa que vê a própria Vida se quebrar em inúmeros pedacinhos, restando varrer
os cacos, colocar estes no lixo seco e partir em busca de um novo prisma – é o
poder da renovação, como uma cobra trocando de pele, na estratégia de Marketing
de produtos de beleza, em estratégias de Mercado que visam vender o conceito de
Vida nova, havendo aqui uma cópia grotesca do Desencarne, pois a pessoa tem que
cumprir uma missão espiritual antes de retornar ao Lar, ao ventre de Nossa
Senhora, a Mãe Virgem que nos concebeu de forma estritamente espiritual. São
linhas complexas, entrando em harmonia com uma tendência atual de Design, na
qual há pontos ligados por linhas tensas e oblíquas, fazendo metáfora com a
Internet, a rede que nos liga no planeta inteiro, na eterna tentativa humana em
imitar a Grande Internet Cósmica sensual que une o Cosmos, na fluidez eterna
que mergulha tudo e todos no mesmo líquido amniótico mental. São confetes
quadriculados e pontiagudos, numa espécie de carnaval duro, juntando os opostos
contraditórios, que são fluidez e pensamento racional, no modo como cada pessoa
tem dois olhos – um Yin e outro Yang, como na junção entre tradicional e
moderno, na junção de opostos que se encaixam perfeitamente. Visto bem de
longe, este quadro traz pixels inúmeros, tensos, os quais, à distância, trazem
fluidez. É uma cortina de banho, nos inevitáveis rituais diários de higiene e
limpeza, na tentativa carnal em entender a eterna e inabalável limpeza da
Dimensão Metafísica, o lugar onde estamos todos sempre limpos, cheirosos e bem
dispostos, no modo como, já ouvi dizer, a juventude feliz é uma invenção de
velhos, pois cada passo da Encarnação tem suas dificuldades truncadas. É como
uma calçada de rua, com pedras encaixadas instintivamente, só que uma calçada
bem alegre, em um lugar onde stress e tristeza não entram. E, nesta igreja, não
há exclusão nem excomunhão, mas um abraço fraterno de um lugar onde sobrenomes
e dinastias mundanas caem completamente por terra. E esta cidade rica e
vibrante se torna um lar, com um habitante que não desejar morar em qualquer
outro lugar.
Acima, Oratório - A janela. Óleo sobre lona. 2010. 50 x 50 cm. Uma janela que traz
luz e esclarecimento, na magia dos oratórios, ricos em imagens, ídolos, no
inevitável paganismo que permeia as religiões monoteístas. No extremo alto do
quadro, vemos linhas delgadas coloridas, que são como uma interferência
televisiva, numa invasão, uma interrupção temporária, como num abalo sísmico,
como Jesus Cristo, homem que dividiu a História em duas, nos marcos na vida
amorosa de uma pessoa, num(a) namorado(a) que se torna referência
indestrutível, dividindo em duas a vida da pessoa. São interferências que
surgem como inevitáveis defeitos, no modo como a Vida não é para ser perfeita,
mas cheia de ciladas e alçapões, como num videogame, com várias fases, havendo
vicissitudes em cada fase – não seria insuportavelmente monótono um videogame
que não possui qualquer dificuldade? Então, a pessoa tem que ser forte e
entender que a vicissitudes são o tempero da Vida, e que cada dificuldade tem
sabor e propósito, no modo como até o chef mais saudável sabe que não pode
inexistir uma pitada de sal. Pobre daquele que crê que a Vida tem que ser
desprovida de dificuldades. A Vida exige espírito olímpico, elegante,
vitorioso, aguerrido. Aqui, temos retângulos uns dentro dos outros, como
bonecas russas, como uma avó, uma mãe e uma filha, no ambiente de família, como
uma Ripley da franquia Alien, quando
a protagonista se joga em meio a um ninho de extraterrestres, sua família,
ambiente em que o indivíduo se sente à vontade, confortável, acolhido e
compreendido. O principal retângulo é o menor, o dourado, numa placa de ouro,
digna de máscara mortuária de faraó egípcio, na obsessão humana por coisas
preciosas, num Ser Humano ávido, que não entende que o Pensamento gravita acima
e além da Matéria. É o prêmio dourado de um campeão, como uma miss voltando à
sua cidade, trazendo ao lar uma conquista, um título, na eterna necessidade
humana de vitória, de volta por cima, com histórias de sucesso que empolgam e
inspiram. Logo após, vem um retângulo alaranjado, na cor cítrica, numa laranja
doce, deliciosa, num pé criado com muito cuidado, na inspiração que Tao teve
para criar tantas frutas deliciosas sobre a face da Terra, como a manga, a
rainha das frutas. Logo após, linhas em azul, num retângulo vazado, tímido, que
deixa transparecer o que há atrás de si, na atitude desprendida e virtuosa da
pessoa que se desapega de orgulhos e ambições, tornando-se leve a arejada, nunca
pesando, nunca se impondo narcisisticamente, deixando a pessoa respirar livre,
fazendo a pessoa sentir a deliciosa sensação de libertação, como chegar à
praia, tirar os tênis e calçar simples chinelos – a Vida é boa quando é
simples, como na infância, época sem as amarguras adultas. Depois, um grande
retângulo rubro, na cor interior do útero, no perfume Chanel Número Cinco de
Marylin Monroe, um dos maiores símbolos estelares de Feminilidade de toda a
História da Humanidade, na cor do doloroso sangramento menstrual, como tenho a
memória de uma colega de colégio, estando esta tomando medicação para amenizar
a cólica. É a cor do deus da Guerra, Marte, em campos ensanguentados, na feiúra
da Raiva, do Ódio, no modo como é o Plano Físico, o dos encarnados, que agem
com a soberba da vaidade, do ridículo orgulho pétreo, numa sociedade
patriarcal, como os Dez Mandamentos, leis que visam o apuro moral da Humanidade;
parâmetros civilizatórios para trazer a Paz e a Fé, havendo no fiel um espírito
mais nobre, ao contrário daqueles que não veem além da Matéria. Por último,
vemos uma grande linha cinzenta, na cor da poluição das indústrias inglesas, no
surgimento da Sociedade Industrial, um momento em que o Ser Humano, como
sempre, passa a desejar mais e mais, nunca se contentando, quando que, o
segredo para se ser feliz, é se contentar com o que já existe: Se o que você
tem você acha que não é o suficiente, então você nunca vai ter o suficiente. E
um singelo pinheirinho de Natal prova ter força titânica, como na passagem evangélica
da mulher pobre doando moedas no templo.
Acima, Pano da Costa. Óleo sobre tela. 1990. 110 x 36,5 cm. Temos aqui um
kilt, um Mondrian festivo, com um jogo de irregularidades entre quadrados e
retângulos. As linhas vão se cruzando e estabelecendo cores híbridas, no modo
como as pessoas passam umas pelas vidas das outras, com amizades sendo feitas e
relacionamentos sendo (re)construídos. É uma obra vertical, como um arranhacéu,
um obelisco fálico enfeitando uma Buenos Aires pujante e rica. Os arranhacéus
são símbolos de poder e dinheiro, enfeitando grandes cidades ricas, ostentando
poder, como um dedo do meio sendo mostrado, na agressividade dos homens
obcecados em produzir cada vez mais riqueza, a qualquer custo, sendo a Ambição
a inimiga da Paz, pois se Joãozinho não está o tempo todo querendo, Joãozinho
pode estar tranquilo, gozando das coisas mais simples da Vida, como olhar para
um Céu de Brigadeiro. Aqui, os tons de azul são muito presentes, sendo azul da
cor do Céu, ou seja, da cor de uma promessa, de uma dimensão celestial,
depurada, limpa e organizada, na qual a pessoa se sente muito segura e
produtiva, como numa farta obra de um artista, fazendo do atelier uma
verdadeira fábrica, sentindo-se útil ao Mundo, sendo respeitado por este.
Circundando o quadro, vemos retângulos bem delgados, fininhos, discretos, na
virtude de uma pessoa que não quer simplesmente aparecer na Mídia, mas se
tornar útil. Há também vários tons de rosa, a cor do Amor, do Romantismo, com
rosas sendo entregues à namorada, esquecendo que, para uma pessoa ser
respeitada, rosas não bastam – é preciso que a Cabeça entre na relação, no
sentido de que lençóis de cetim são muito românticos, mas o que acontece quando
você não está na cama? Fins de semana em Gramado são muito românticos, mas a
Vida não é só fim de semana; a Vida não é só Gramado. A mortificação exaltada
pelo Espiritismo é necessária para que a pessoa se desintoxique de sinais
auspiciosos e atenha-se ao que importa, que é o apuro moral. Esperar coisas da
Vida é nocivo, pois Tao age assim, sem expectativas, numa saudável frieza, só
que uma frieza amorosa. Então, as linhas horizontais e verticais se cruzam,
traçando relacionamentos, na diversidade de espíritos, pois Tao nunca faz uma
alma igual à outra, e a prova disso é a Arte – o artista é bem singular. Temos
aqui um belo tapete, vendido pelos olhos da cara em uma loja chique, num
consumidor seduzido e iludido ao ponto de acreditar que este mesmo consumidor
só pode ser feliz se continuar consumindo infinitamente, fazendo da Ambição um
mal. Temos aqui uma dança perpendicular, num quadro que parece se movimentar,
nas grades de uma prisão, uma prisão luxuosa, bela e glamorosa, uma cópia da
Dimensão da Liberdade, uma cópia grotesca, pois o Ser Humano sabe, no fundo,
que tesouros trazem tudo, menos Amor, num filme que vi certa vez, num homem
que, assistido por um gênio da lâmpada, cobriu a mulher amada de presentes
caros e luxuosos, e, este homem, ao pedir ao gênio que esta mulher amasse este
mesmo homem, o gênio diz: “Não posso atender a este pedido”. Aqui, temos um
jogo truncado, sem córregos sinuosos, num colorido perfumado, como uma bandeja
de frascos coloridos de perfumes deliciosos, como o comportamento virtuoso
exala uma espécie de perfume, só que um perfume mental, psíquico, como o de
Chico Xavier, fazendo dos perfumes físicos uma mera cópia dos perfumes
metafísicos. É uma sólida parede de tijolos graciosos, num palácio suntuoso, só
que um palácio que é apenas uma cópia das moradas do Céu, sendo estas mansões
deslumbrantes e, apesar de não haver um documento que prove que certo espírito
possua aquela mansão metafísica, este mesmo espírito tem esta mansão, com
escadarias deslumbrantes, num local sempre limpo e organizado, no modo como o
artista tenta se organizar dentro de si mesmo, buscando ter uma vida produtiva
e positiva, fazendo algo do tempo que lhe é dado na Terra.
Acima, Santo Antônio. Têmpera sobre tela. 1996. 25 x 25 cm. Fitinhas coloridas de
Nosso Senhor (ou Nossa Senhora) do Bonfim, tremulando ao vento agradável que
varre a cidade de Salvador, conquistando a fé das pessoas, pregando uma dimensão
onde só entram os ricos em fé, deixando perecer os fracos em fé. Aqui, temos uma
cinzenta e insossa parede de concreto ou cimento, em paisagens impessoais de
cidades tristes e feinhas, havendo no artista a intenção de trazer cor e
consolação aos encarnados, trazendo cores para um concreto tão sem graça, tão
deprimidinho. Aqui, a base é azul marinho, na cor das vestes de Iemanjá, na cor
dos oceanos furiosos que engoliram o Titanic, no Ser Humano se deparando com as
titânicas forças naturais, buscando ter um pouco de estabilidade em uma esfera
tão instável, como nas interrupções dos terremotos e tsumanis, como um
formigueiro sendo destruído, cabendo às laboriosas formigas o serviço de
reconstrução, pois o Ser Humano não é sobre-humano ao ponto de reger a
Natureza, de reger a Dimensão Física. Esta obra tem uma textura de pedra, com
pequenas crateras que parecem ser as crateras lunares, na comoção do ano de
1969, quando o Ser Humano coloca os pés no satélite natural, numa prova de
poder por parte dos EUA, fincando agressivamente em solo lunar a bandeira do
Tio Sam – vivemos em um mundo competitivo, e uma das provas disso foi a Guerra
Fria. Neste quadro, no centro vemos um quadrado mais cinzento, não muito
alegre, na sobriedade sisuda, como um discreto executivo em um traje cinza, na
dúvida existencial dos dias cinzentos – será que vai nascer um novo dia? Acima
e abaixo do quadrado central, vemos doze retângulos multicoloridos, trazendo
uma euforia carnavalesca a um mundo que parece nunca sair da Quarta-Feira de
Cinzas, como diz o sambinha: “Tristeza não tem fim; felicidade, sim”. Há uma
tira bem branca, na pálida face do povo londrino, na palidez fantasmagórica, na
cor da ONU, organização que visa a Paz, tentando dar unidade a um mundo tão
longe de ser uno. Há uma tira de pálido cinza, como numa cidade suja pela
fuligem, na inevitável sujeira, a qual tem que ser ritualisticamente removida,
para que o Mundo se parece o máximo possível com a Eternidade. Podemos ouvir o
som de Axé Music. Vemos uma tira bem vermelha, sangrando, dolorida, no sangue
derramado por escravos negros, na estupidez humana que é a Escravatura. Parece
aquele artesanato brasileiro de garrafas de vidro transparente, preenchido por
areias multicoloridas, moldando figuras como paisagens praianas, na riqueza
singular o Artesanato Brasileiro. Vemos uma tira rosada, cândida, como a
perfeitinha pele de bebê, fazendo-nos ouvir os intermitentes choros de bebê,
tirando o sono da madrugada de pais. Podemos ver três tiras em tons diferentes
de azul, nas diferentes faixas cromáticas ao observarmos uma praia da beira até
altomar, no tom de azul discreto que o Google Earth mostra quando observamos o
Mar, no modo como, vista do espaço, bem de longe, a Terra é uma linda estrela
azulada. Vemos uma tira verde, na cor dos gramados de Futebol, o plano em que é
gritante a competitividade do Ser Humano, em times motivados pela força de
liderança do treinador, uma pessoa cuja obrigação é unir o time em torno do
“Goal”, ou seja, do inglês, o Objetivo, no modo como o artista, no fundo, tem
um objetivo muito claro: Vencer na Vida. Aliás, o objetivo de todo Ser Humano.
E o sedutor vazio da goleira é a força gravitacional de Tao, trazendo tudo e todos
consigo, no prazer de violação e “estupro” que é um gol sendo marcado, na
sensação de êxito que reside no fato de que ao time vencedor resta a alegria;
ao perdedor, a tristeza. Vemos tiras cromaticamente quentes, como laranja e
amarelo, na cor de uma taça de campeonato, na ambição do ouro olímpico, com
atletas se preparando intensamente, e podemos ouvir o célebre som da musiquinha
das vitórias de Ayrton Senna, com um locutor enlouquecido e deslumbrado,
vibrando junto a um país inteiro. No fundo, um artista quer ser um Senna,
abalando estruturas paradigmáticas, fazendo uma fina transgressão sem
violência.
Referências bibliográficas:
Gonçalo Ivo. Disponível
em <www.bolsadearte.com>. Acesso 28 nov. 2018.
Gonçalo Ivo.
Disponível em <www.enciclopedia.itaucultural.org.br>. Acesso 28 nov.
2018.
Gonçalo Ivo.
Disponível em <www.pt.wikipedia.org>. Acesso 28 nov. 2018.
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