quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Quem ama Kusama



AVISO: Antes de ler esta postagem, saiba que o blog entrará em férias e retornará na segunda quinzena de fevereiro de 2019. Nesse meio tempo, pode acontecer, porém, de eu postar alguma(s) vez(es). Se isso acontecer, pode deixar que eu divulgo no Face. Mas o retorno definitivo é em fevereiro, ok?

Longeva, a japonesa de nascença Yayoi Kusama conheceu um Japão patriarcalista e opressor, no pós II Guerra Mundial. Por isso, ficou por uns tempos nos EUA, onde trabalhou e ficou amiga de estrelas como Andy Warhol. Kusama é conhecida por suas obras frequentemente ilustradas com bolas e círculos. Voluntariamente, ela mora em uma clínica psiquiátrica no Japão. Kusama é um dos raros exemplos de artistas que enriqueceram com seu trabalho. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Flor. 1952. Este quadro tem um quê de xilogravura, com impressões binárias entre claro e escuro, no glamour binário das fotos em preto e branco, fotografando grandes estrelas do Cinema, fazendo metáfora com a beleza perfeita dos espíritos depurados, verdadeiras estrelas que convidam a Humanidade ao apuro moral, ao aprimoramento, à mortificação que rechaça tolos sinais auspiciosos. É a lição da Dignidade, numa Kusama em busca de si mesma, lutando contra um transtorno psiquiátrico, tentando se expressar ao Mundo, como uma pessoa esquizofrênica, que busca contornar esse distúrbio e se expressar com clareza ao Mundo. A clínica psiquiátrica deve dar a Kusama uma sensação de lar e acolhimento. Aqui, temos umas borrifadas, como de spray, em amarelo e vermelho, como o Sol ardente da bandeira nacional do Japão, numa Kusama que, depois de morar nos EUA, retorna triunfante ao lar, num globo sempre ávido por novidades artísticas. O círculo amarelo é o infame Anel maligno de Tolkien, seduzindo eternamente o Ser Humano, fazendo este se comportar da forma mais imoral possível, numa visão sombria do Ser Humano – Tolkien não idealiza o Mundo, e não tece personagens perfeitos como indefectíveis heróis de filmes de Disney, sendo estes filmes para crianças, infantes que ainda não entendem a Malícia do Mundo. A grande moldura negra traz um silêncio de luto, numa dimensão negra, como numa pessoa em pleno momento de depressão. Será que Kusama tem ideia do quanto ela própria é importante, reconhecida e valorizada? Como perguntou o apresentador Ratinho ao mestre cômico Chespirito: “O senhor tem ideia de como o senhor é importante no Brasil?”. Tudo o que um artista faz, é de forma inocente e pura, colocando a cara a tapa. Temos aqui listras que remetem a uma prisão, no enclausuramento em uma clínica psiquiátrica, num ambiente controlado, em que pacientes agitados são contidos e amarrados, numa amarga metáfora com a Encarnação, a qual não passa de uma sentença de cárcere, mas uma prisão que, além de não durar para sempre, causa crescimento no indivíduo. Temos aqui várias bolinhas negras, como frutos em uma árvore, numa mente fértil e criativa, numa mesa farta, como numa ceia de Natal, o momento de cornucópia que procura fazer com que o Ser Humano entenda a vida vibrante após o Desencarne. São como gotas negras de uma tempestade sombria, na sensação amarga de uma pessoa que é internada psiquiatricamente, num momento de ruptura, em que o indivíduo é forçado a encarar a prisão que é a Vida e encarar a incompreensão do Mundo. Estas listras são sensuais venezianas em uma cálida tarde de Verão à beira de uma piscina, no momento de prazer em estar entre amigos, no modo como, imagino, Kusama deve ser amiga de todos os pacientes, médicos e enfermeiros da clínica. As bolinhas negras são os comprimidos de medicação psiquiátrica, na disciplina hospitalar: tal hora é hora de tomar o remedinho, e ai de quem não quiser tomar! São frutas podres caindo de uma árvore num desperdício, com frutas que não serviram de alimento, e pereceram, no modo como perece existencialmente a pessoa que não coloca a sua própria inteligência a serviço do Mundo. Gotas de uma chuva negra, como no sombrio momento de surto, numa crise que faz parecer horrível o mais belo dia de Sol. Essas manchas de “spray” são como atos de vandalismo, numa vontade artística de deixar uma marca, tendo num vândalo uma pessoa que, no fundo, quer fazer Arte, mas definitivamente não o faz na prática. É um capim selvagem nascendo, na beleza das flores silvestres, que não tiveram de ser plantadas pelo Homem para florescer.


Acima, Sala da Infinitude Espelhada – Hino da Vida. 2015. Bolas de futebol, na comoção que toma o Brasil em época de Copa do Mundo, com nações concorrendo em uma espécie de guerra benéfica, num espetáculo de Diplomacia. Os espelhos dão a noção de infinitude, numa mágica sala de espelhos, na tentativa humana de compreender aquilo que não tem término, no sentido de que o poder de Tao reside nesse vazio, nessa falta de término, no modo como passaremos a eternidade querendo compreender o que é Tao – a Eternidade é o maior presente que pode ser dado, pois, sem Eternidade, a existência não tem sentido algum. Vemos uma Kusama sedenta de cor, de alegria, com bolas que parecem um jardim mágico, como se fosse uma luxuosa sala de estar ao ar livre, no perfume saudável da vida ao aberto, ao campo, no sentido de que a riqueza de um reino não está nos palácios, mas nos campos, que são os palácios naturais que vestem roupas majestosas, havendo no monarca um papel representativo, no modo como um artista quer, por si só, representar a Arte, tornando-se uma espécie de embaixador, num artista representando todos os outros artistas, formando uma categoria, uma classe. Essas bolas estão livres, leves e soltas, gozando da deliciosa sensação de Liberdade, como um anfitrião cortês, que faz com que o convidado se sinta confortável e servido como um rei, no talento de anfitrião que algumas pessoas têm. Aqui, teto e chão são negros, como se fosse uma sala banhada por uma luz suave, que não fere as vistas, na infinidade negra do Universo, num Ser Humano que não sabe, não faz ideia do que existe além da escuridão das profundezas do Cosmos, como galáxias que estão tão longe que sua luz sequer chegou até hoje à Terra – o Universo é eterno? Como pode ser algo infinito? O Cosmos sobre o qual pode-se falar não é o verdadeiro Cosmos. Aqui, são como balões que ascendem ao Céu, como uma alma desencarnada que retorna ao lar espiritual, ao ventre de Tao, o grande Lar que a todos acolhe, sem exceção. São como lâmpadas de decoração oriental, como um prisma, fabricando várias cores, enchendo de alegria uma paisagem com um arco-íris, na sedução de uma rica paleta de cores. Nestas bolas, há várias manchinhas negras, como em cães dálmatas, na noção de fertilidade de uma numerosa ninhada, cheia de filhotinhos dálmatas, no enigma uterino – o que pode fabricar a Vida? É como um mar de anjinhos barrocos aos pés de Nossa Senhora, o Grande Lar que rejeita o Mundanismo e abraça a Virtude, na riqueza do comportamento moral, na elevação do não-querer taoista, o conceito que faz com que o espírito perca o interesse por luxos e riquezas e abrace o simples e o limpo, o essencial. Essas pintinhas negras são uma interferência em uma estação de rádio, nas inevitáveis imperfeições negras da Vida, com manchinhas que nos lembram de que estamos encarnados, ou seja, estamos numa situação de prisioneiros, uma sensação que pode (e deve) ser abrandada por meio do desprendimento, pelo não-ambicionar, pelo não-ter expectativas, pois a expectativa é a mãe da frustração. E como se frustra o Ser Humano! Essas bolas parecem tocar umas nas outras, num momento de interação social, numa luxuosa e simples sala de estar, um lugar onde uma boa conversa traz muito prazer, nas enormes, limpas e suntuosas salas de estar metafísicas, salas cheias de pessoas bonitas e finas, na dimensão onde a patetice das ambições perece completamente. Podemos ouvir o som de sinos, no som das bolas tocando umas às outras, fazendo metáfora com a interação social, com pessoas se tocando, conhecendo-se e construindo amizades, pontes. Temos uma Kusama que gosta de interação, como imagino que ela interaja com os pacientes da clínica onde mora. Aqui, espectador é trazido para interagir num momento mágico, olhando-se nos espelhos e conhecendo a si mesmo, sob vários ângulos.


Acima, Sala de Espelhos da Infinitude. 1965. Um jardim de doces, de caramelos, de pirulitos, na sedutora casa da bruxa que aprisionou João e Maria. Como o Espiritismo diz que, na Dimensão Metafísica, há deliciosos doces para serem comidos, mas doces que não engordam e que não dão algum outro malefício, doces leves, que nunca pesam no estômago. É o saudável pecado da Gula, numa Kusama deliciosa. Nesta foto, a artista está no meio da obra, e a obra, cheia de espelhos, dá a sensação de uma sala enorme, até onde os olhos podem enxergar, numa sala extremamente confortável, informal, que nos convida a deitar, dormir e conversar. Aqui, vemos uma Kusama de vermelho, no sangue japonês que lhe pulsa nas veias, na cor da sensualidade, da feminilidade, da Vida. É como algo que me fascinava quando criança, nos sorteios do programa infantil matutino Balão Mágico, em que uma gigantesca montanha de cartas mostrava telespectadores do Brasil inteiro, crianças sonhando em ser sorteadas e presenteadas pelos carismáticos apresentadores mirins. Lembra-me da sala de leitura de um colégio que frequentei, um cômodo com fartas almofadas e livros para que os alunos lessem, num momento informal, simples, de entrega, no mergulho em um lugar tão acolhedor, que me deixa tão confortável. É um lugar para dormir tranquilamente, no saudável pecado da Preguiça, como na canção de Bruno Mars: “Hoje nada farei. Só quero deitar em minha cama. Hoje nada farei. Nada mesmo”. Como na canção Lazy Afternoon, ou seja, Tarde Preguiçosa, cantada por Barbra Streisand, na própria cantora dizendo que, na maior parte do tempo, só deseja se deitar embaixo de uma árvore e nada mais fazer. Resta saber porque Kusama prefere morar numa clínica. Provavelmente, na clínica a artista se sinta segura, cuidada e acolhida. É uma espécie de floresta de almofadas, numa floresta em forma de sala, numa sala que, porém, não é uma floresta em si, mas uma espécie de floresta “fabricada”, artificial, uma floresta metafísica. É o encanto de uma casa limpa, sem qualquer resquício de poeira ou sujeira. As pintinhas vermelhas são como manchas de catapora ou alguma outra doença, numa Kusama que consegue transformar Doença em Arte. São como os belos e tóxicos cogumelos vermelhos com pintinhas brancas, numa floresta perigosa, que exige que nunca baixemos a guarda completamente, na constante vigília dos encarnados – se você está na “prisão”, não é bom agir como se não estivesse nesta. É como um mar de serpentes, num ambiente familiar, onde a pessoa se sente acolhida e pertencente a um organismo, a um grupo, identificando-se. Aqui, Kusama está com os braços para cima, como se estivesse se espreguiçando depois de um trabalho tão árduo de confecção desta obra de Arte. São como bolinhas de plástico bolha, no prazer agressivo de violação que é estourar as bolinhas de ar do plástico, no prazer do “estupro”. Kusama está séria, como se soubesse de sua própria importância – será que ela sabe? É como um campo de guerra tomado de sangue de combatentes mortos, num dia novo e rubro que nasce após o guerreiro tombar, no descanso de uma pessoa que batalhou muito na Vida, numa espécie de recreio, de refúgio, no mundo onde a juventude dourada vive em Paz e Produtividade, algo que o Ser Humano tem dificuldade em entender, pois as Guerras não são História; são interrupção de História. A História reside precisamente na Paz e na Prosperidade, valores que só estão inabalavelmente garantidos na Dimensão Metafísica – a Terra é para ser imperfeita, pois a Vida não tem sentido sem vicissitudes. É como um salão de baile após o Carnaval, com um mar de confetes e serpentinas, num oceano espumoso, repleto de Vida. É um covil de cobras, confortáveis umas com as outras, como num clã. Podemos ouvir o sutil farfalhar dessas almofadas, num momento de silêncio, num lar. Kusama nos convida a pular dentro dessa sedutora piscina, numa vastidão incrível.


Acima, Jardim de Narcisos. 1966. A sensação gloriosa de se deitar em um lugar acolhedor, confortável, numa plena sensação de liberdade. É como a brincadeira infantil da piscina de bolinhas, numa Kusama doce e inocente, de candura infantil, uma candura que o Ser Humano jamais poderia perder, combatendo o embrutecimento de pessoas empedernidas. Kusama nos convida a boiar com ela, numa sala de estar tão confortável, tão digna de um grande anfitrião, no talento de bem receber. As bolinhas prateadas são como gotas de chuva congeladas, mas nunca agredindo com o frio, e sim numa temperatura amena, digna das noites da Dimensão Metafísica. É um momento de entrega e rendição, numa pessoa que decide descansar e simplesmente esquecer do Mundo lá fora, desligando-se, como no hábito de se desligar o telefone, sem atender a ligações, nem que seja uma ligação do Papa Francisco. Estas bolinhas são metálicas, fabricadas, e a cor prateada, de espelhos, é a cor da reflexão, num momento de introspecção no qual a pessoa olha para si mesma, num saudável momento solitário, momento de solitude o qual é necessário a quaisquer pessoas. É como uma fábrica de bolinhas, na magia da produtividade, da fabricação, do fornecimento, numa vida produtiva, com mercadorias sendo produzidas e vendidas, numa Kusama que soube se vender extremamente bem, como Warhol, conquistando o status de grande artista. As bolinhas são como frutos que caíram do pé, num desperdício, como frutos que simplesmente apodrecem sem ser consumidos. É a magia da fertilidade, da Vida, no mistério reprodutivo, fazendo metáfora com a mente criativa, numa Imaculada Conceição, numa Kusama que nasceu e viveu num Japão tão cinzento e sisudo, talvez um país um tanto insensível a Arte em geral, algo que fez com que Kusama abraçasse o Mundo Ocidental. Aqui, temos novamente uma Kusama vestida de vermelho, fazendo um contraste com esta tarde prateada e cinzenta, num dia de Inverno, que convida à reclusão do Lar. É como a menininha de vermelho de A Lista de Schindler, contrastando com um filme todo em preto e branco, na dura e descolorida realidade dos campos de concentração, mostrando a menininha executada, sendo jogada numa vala com muitos outros cadáveres, como se abatem animais, sem o direito de uma sepultura digna de respeito. Talvez haja em Kusama uma perplexidade em relação aos horrores bélicos, tentando curar o Mundo por meio da Arte, do convite à reflexão, ao questionamento, no papel do artista em fazer com que o Mundo “acorde” de certo modo – a politização artística é inevitável, desprovendo de alienação o artista, no modo como devia e deve ser difícil para um artista viver em meio a governos ditatoriais opressores, sendo estes os autênticos inimigos da Arte. Aqui, temos um momento de prazer, como fazer um cocô muito bem feito – por favor, não vamos transformar em tabu o assunto “fluxo intestinal”. Como me disse uma professora que se tornou minha amiga: fazer xixi é um prazer; dormir é um prazer etc. Kusama está com a cor do fluxo intestinal, do interior uterino, submetida às cólicas mensais, buscando na Arte um bálsamo, no modo como deve ser difícil ser mulher e um Mundo tão hostil a liberdades, em patriarcas que castram mulheres. São vários olhos que são os olhos de inúmeros espectadores, nas comoções públicas que acompanham o trabalho de Kusama, com inúmeros olhos que veem o que a artista traz de dentro de si, no modo como um artista dá à luz bebês, que são suas obras, no modo metafísico de se imitar a Maternidade Física, em metáfora. É como um gigantesco colar de pérolas desmantelado, desconstruído, analisado em partes, no modo humano de dividir o Corpo Humano em parte e estabelecer especialidade médicas. É uma deliciosa banheira cheia de espuma, no prazer de um banho sendo tomado sem pressa, no prazer proporcionado pela limpeza.


Acima, Abóbora. 1981. Esta obra me faz lembrar do trabalho da artista plástica Beatriz Dagnese, a qual desenha quadros com uma minuciosidade enorme. A abóbora é o produto da Natureza; o mistério da Vida sendo gerada, nos mistérios criacionais de Tao, o Grande Arquiteto, no sentido de que Tao tem uma vida produtiva, pois está sempre criando, inspirando o Ser Humano a ter também uma vida produtiva, sem o veneno do ócio – todos temos que trabalhar e estudar, havendo no Umbral todo o sofrimento de almas improdutivas. Esta fruta é cheia de microbolinhas, como uma estampa, como um camaleão se esgueirando discretamente, enganando os olhos de vítimas ou predadores, como a Matéria Escura, o enigmático elemento invisível que permeia o Universo, no modo como este é translúcido. Assim é Tao – invisível. Essas bolinhas da abóbora são como pintinhas na pele, como o charme de pessoas sardentas, ou como a estampa de peixes, ou de outros seres vivos. Cada bolinha é uma estrela no Céu, em uma infinidade de estrelas, como uma doce branca neve caindo e se depositando. Aqui, há uma hierarquia, com bolinhas de vários tamanhos, e as maiores regem as menores, como numa família, em que os filhos mais velhos ajudam a criar e orientar os mais novos, como na rígida hierarquia militar, a qual é uma cópia tosca da hierarquia espiritual, pois esta é irresistível, pois está embasada na questão da depuração moral, havendo nos psicopatas a classe mais inferior, mais tosca, mais atrasada moralmente. Esta abóbora está prestes a explodir, pois abriga tanta vida, e traz dentro de si as sementes, que são a garantia de preservação da espécie, na luta pela Vida, numa cadeia alimentar, cadeia na qual os seres têm fome de têm vontade de fazer sexo, como na explosão hormonal da Adolescência, no modo como disse Marta Suplicy em uma palestra para adolescentes em Caxias do Sul: “A adolescência é uma época em que se masturbar dez vezes por dia é perfeitamente normal”, numa Marta causando perplexidade no salão da palestra. As sementes são a magia da reprodução vital, como ovos de chocolate de Páscoa, na força da cornucópia que traz fartura e prosperidade a um reino, como diz Tao : “Nas guerras, todos sofrem, e todos acabam com fome”. É uma abóbora dourada, nobre, como um tesouro no túmulo de um faraó, fazendo da Arte a preciosidade do Pensamento Humano, civilizatório, depurado, como o apuro civilizado de uma escultura grega. O fundo desta obra parece uma vidraça toda rachada, pronta para se quebrar e se acabar, na comoção da Arte, comoção que tem a função quebrar velhos rótulos rançosos, como o Modernismo Brasileiro nasceu para transgredir a tradicional Arte Acadêmica. É uma espécie de estupro, mas um estupro do Bem, inofensivo, no modo como as sociedades evoluem em meio à transgressão de alguns de seus indivíduos, como Lady Diana, cujas transgressões faziam com que o Povo e o Mundo a amasse ainda mais. Emoldurando o quadro, estruturas que parecem bordados de pano de prato, na expressão do Artesanato, na questão da feminilidade que rege o Lar, condenando a Mulher ao “trabalho escravo” de dona de casa, havendo em certas mulheres a força transgressora para perverter esse rótulo machista. E Kusama mostrou ser, à Sociedade Patriarcal, uma mulher de brilho próprio. Na porção superior da abóbora, um caule cortado, nas inevitáveis rupturas da Vida, com fases sendo deixadas para traz e novas fases sendo encaradas, como num jovem que saiu de casa para estudar em outra cidade, alienando-se do carinho do Lar, carinho com o qual o jovem cresceu acostumado. É como o passarinho bebê ensaiando os primeiros voos para, enfim, deixar o ninho e trilhar sua própria vida. O corte deste talo é uma ruptura, no trabalho árduo de colheita, no rumo inevitável da Vida, que é nascer, viver e morrer. No Desencarne, este talo cortado volta à Árvore Primordial, numa reentrância, num retorno, como o filho pródigo, que volta ao Lar em trajes de mendigo, num filho desejando voltar ao velho e bom Lar.

Referências bibliográficas:

JANSEN, Roberta. Yayoi Kusama e o Transtorno Artístico Compulsivo. Disponível em <www.oglobo.globo.com/cultura>. Acesso 12 dez. 2018.

Yayoi Kusama. Disponível em <www.modernamuseet.se>. Acesso 12 dez. 2018.

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