Caxias do Sul tem um aeroportozinho próprio. Pelotas tem um
aeroportozinho próprio. Santa Maria tem um aeroportozinho próprio. Maringá, no
interior do Paraná, tem um aeroportozinho próprio. O que está faltando para
Gramado e região terem um aeroportozinho próprio? A demanda turística dessa
região justifica: Gramado, Canela e Nova Petrópolis formam uma trinca próspera,
hospitaleira e irresistível. Para quem é de fora do Rio Grande do Sul, é meio
complicado, pois tem que pegar um avião até Porto Alegre e, lá, pegar uma van
ou um ônibus para a Serra Gaúcha, transitando por uma estrada que, ouvi dizer,
não é lá uma Brastemp. Com um aeroporto regional das Hortênsias, tudo ficaria
mais fácil ao turista, que vem para gastar dinheiro em hospedagem, refeições,
chocolates, produtos de couro, roupas, malhas, souvenires etc. Há todo um
mercado em expansão, e oportunidades de se fazer negócio são vislumbradas,
apesar da crise espantar um pouco o turista.
Desde que me conheço por gente, vou para Gramado com minha
família, e minhas lembranças apontam para as paisagens, como na vista de tirar
o fôlego no hotel Laje de Pedra, em Canela. Eu aproveitava muito bem as piscinas
térmicas dos hotéis gramadenses. Certa vez um primo meu disse algo muito pertinente:
- Aqui em Gramado há uma sinergia.
Tudo combina com tudo. E o profissionalismo de Gramado é
tão respeitável, que constrói uma cidade para todos os bolsos:
- Há os hotéis mais luxuosos, onde Xuxa Meneghel se
hospeda, há os hotéis de padrão médio que, apesar de não terem tanto luxo, são
ótimos, e há as pousadas mais simples que, apesar da simplicidade, dão uma boa
cama, um bom chuveiro e um bom café da manhã;
- Há várias categorias de restaurantes, desde os mais
sofisticados, com suculentos filés e vinhos finos, passando pelas pizzarias à la
carte e rodízio - a preferência dos mais jovens - e chegando às lancherias mais
simples, contando até com um Mc Donald’s e um Mc Café na cidade, além de uma
loja da Subway. Aliás, Gramado tem cafeterias excelentes, muitas vezes
integradas a chocolaterias, só que há certas disparidades nos preços do café: o
mesmo expresso pode variar de preço de lugar para lugar, conforme a
sofisticação do ambiente. Sentar em um café e simplesmente observar o movimento
na rua é relaxante. Os turistas gostam muito também do Café Colonial, de grande
fartura, sem falar em galeterias, prato típico da região de imigração italiana,
visto que Gramado é composta, além da etnia itálica, pelos alemães e
portugueses, uma trinca homenageada na Praça das Etnias, que vende produtos
coloniais, algo muito exótico para quem é de fora da região.
Turistas gaúchos caminham pelas ruas com seus chimarrões, algo
pitoresco para quem é de fora do RS. Entrar numa chocolateria e sentir o cheiro
do chocolate e baunilha é um convite ao consumo prazeroso, e os fabricantes se
esforçam para oferecer muitas variedades da guloseima, com vários sabores e
formatos. Minha loja preferida de doces é a Florybal, com preços ótimos. Os
estabelecimentos da região em geral primam pela agradabilidade dos espaços
convidativos, como o Le Jardin Parque de Lavanda, que fica na RS 115, num cuidadosamente
mantido jardim – é claro, como diz o nome - com vários níveis com uma cafeteria
que serve uma gostosa torta de maçã e trufas de chocolate sabor lavanda, em uma
vista deslumbrante para esse lugar único que é a Serra Gaúcha. No mesmo parque,
no nível mais elevado, há uma floricultura com muitas variedades de plantas a
venda, por preços módicos. Ainda falando em jardins, a cidade de Nova Petrópolis,
no costume tradicional do imigrante alemão, prima por canteiros de flores caprichados
mantidos nas ruas da cidade, havendo, nos arredores, um café com um telhado de
grama, com flores ornamentais, algo que creio que seja único na região. Falando
em vegetação, há a Rua Coberta de Gramado, com cafés e restaurantes embaixo das
fartas trepadeiras verdes, com estabelecimentos que, nos dias mais frios,
oferecem cobertores e aquecedores a gás externos para que o público não evite
os espaços abertos – o frio faz parte do pacote. Falando em frio, há o
formidável parque indoor Snowland, com neve, esqui, patinação e escorregadores
o ano inteiro - a alegria da garotada.
O Parque do Caracol em Canela é um bom programa para quem
gosta de ar livre. A famosa cascata do Caracol cai em meio a um penhasco
enorme, com um mirante dando vista para o recorte geológico serrano. E há uma
longa escadaria que leva até a base da cascata, em um lugar que convida a um
piquenique, com um vinhozinho e uns pinhões, contemplando a mata nativa de
araucárias – não é a araucária uma das árvores mais belas do mundo? Inclusive,
leva o nome de Caracol uma famosa chocolateria de Gramado. Outro parque nesta é
a Aldeia do Papai Noel, todo temático para trazer o espírito natalino em todas
as épocas do ano, com a casa decorada do Bom Velhinho. Há também o Gramado Zoo,
considerado um dos melhores do mundo. O Lago Negro, com seu entorno verde,
oferece passeios de pedalinhos sobre as águas. O tradicional Mini Mundo
apresenta suas maravilhosas maquetes, construídas com esmero notável, numa
velha lembrança de minha infância.
O bom de Gramado é passear, e há hotéis que emprestam bikes
aos seus hóspedes, por isso é pertinente avisar que, abaixo de chuva ou
chuvisqueiro, a cidade perde grande parte do charme – a única chuva
interessante em Gramado é em forma de neve, a qual não dá as caras todos os
anos. Por mais que os hotéis ofereçam capas de chuva aos hóspedes, o programa
fica meio estragado. O friozinho da região conquista quem vem de outras partes
do Brasil, como o Rio de Janeiro – os cariocas amam o frio serrano, pois vêm de
uma cidade que, apesar de maravilhosa, não poupa seus cidadãos de temperaturas
acima dos 40 graus centígrados. É o friozinho goshtoso do Sul. O Brasil é assim, uma colcha de retalhos, com uma diversidade
de destinos turísticos. Com a crise econômica generalizada, brasileiros que,
com mais dinheiro, iriam ao Exterior, optam por destinos nacionais e, assim,
Gramado sai ganhando. Conheço uma pessoa da Bahia que, ao chegar nesta cidade,
disse:
- Parece que ligaram o ar condicionado ao ar livre!
Um dos aspectos turísticos gastronômicos de Gramado é o
fondue: há de carne, queijo e chocolate. O problema do de carne é que os
restaurantes ficam esfumaçados no lado de dentro, visto que os pedaços de carne
são assados em uma pedra pelo próprio cliente, engordurando os vidros dos
estabelecimentos, numa vicissitude olfativa que faz parte do programa. Há um
buffet de fondue de chocolate no nível superior da loja da Florybal. Como você
deve saber, a receita original do fondue é a do de queijo, pois nasceu como uma
forma dos camponeses suíços aproveitarem os restos de queijo e, assim,
fundindo-os no fogão e comendo com pão – uma receita que nasceu de forma tão
simples e se tornou algo tão chique, como a bruschetta, que hoje é moda e
nasceu como uma forma de se aproveitar o pão dormido.
Gramado tem vários ótimos buffets a quilo na hora do
almoço. Conheço alguns: o Vale Quanto Pesa (que recebe os clientes com uma
lareira no inverno), o Di Pietro (com uma decoração diferenciada), o Scur (com
boas pizzas à noite) e um dos meus prediletos, o China in Serra (comida chinesa
e sushi, com um frango à xadrez impecável e uma refrescante salada de pepinos).
E há vários outros buffets pela cidade ao meio dia, com garçons na porta
convidando os passantes a entrar e comer – a concorrência é intensa no mercado
turístico gramadense, e quem não tem competência, desaparece, assim como em
qualquer mercado, de qualquer setor, no Brasil e o no mundo.
O setor moveleiro é muito forte em Gramado, com suas lojas luxuosas
e encantadoras, e com a ponta de estoque da Masotti. A Catedral da cidade é
ponto turístico obrigatório, com as estátuas dos dozes apóstolos no lado de
fora. O Natal Luz de Gramado é certamente o Natal mais bonito do Brasil,
atraindo multidões de turistas – já vi até argentinos, e em hotéis fala-se
espanhol para atender os clientes. As ruas são todas enfeitadas com pinheiros
de Natal e arranjos que, à noite, enchem os olhos do visitante com a iluminação.
A Parada de Natal é feita na Expo Gramado RS, havendo também o rico espetáculo
Nativitaten às margens do lago Joaquina Rita Bier. Falando em Natal, pude
apreciar a bela peça musical Korvatunturi, que conta a origem do Natal, em um
show circense de técnica apurada. A cidade de Canela também tem suas atividades
natalinas, formando com Gramado uma riqueza de opções para a data cristã. Falando
em religião, na Páscoa havia o Chocofest em Gramado, o qual, infelizmente,
passa por um momento de suspensão. A data é muito importante para a cidade,
pois o período alavanca as vendas de chocolates.
Há o famoso Festival de Cinema de Gramado, que agita a
cidade com estrelas e filmes em
exibição. Um longo tapete vermelho é colocado na Rua Coberta,
e as tietes histéricas berram ensandecidamente quando veem alguém famoso. Falando
em ruas cobertas, há outra quase em frente, o Largo da Borges, com lojas, café,
livraria, sorveteria e o excelente restaurante Mamma Pasta, cujo prato
predileto meu é um filé acompanhado de trouxinhas de funghi. E para a
mulherada, que adora “lamber vitrine”, o passeio pela urbe tem um charme
especial. Vale lembrar que, para curtir o passeio pelos lugares desse abençoado
lugar que são Gramado e região, é bom usar calçados confortáveis – já vi muitas
mulheres batendo perna de desconfortável salto alto. Não faça isso com seus
pés. Coloque tênis.
No mais, os arredores de dezembro oferecem um espetáculo à
parte: as hortênsias florescem por toda a região. E em Gramado há uma placidez
especial: os motoristas são altamente corteses, sempre deixando que o pedestre
atravesse calmamente a rua. Famílias passeiam com suas crianças e a já citada sinergia
gramadense trata de encantar o visitante, dando sempre um gostinho de quero
mais, em um prestigiado destino de luas de mel, por exemplo, ou simplesmente de
namorados que curtem uma estadia romântica na cidade formosa de Gramado, lugar
que tem um quê indecifrável. Gramado não brinca em serviço, nem Canela, que
conta com uma escola de Hotelaria. A estrada que liga uma cidade à outra tem
vários estabelecimentos, como lojas, restaurantes e, é claro, hotéis. É um
filão turístico; uma cornucópia de produtos e serviços. E Nova Petrópolis, com
o Parque Aldeia do Imigrante, é chamada de Jardim da Serra Gaúcha. Venha!
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