quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Artistas Populares da Pop Art (Parte 11)




            Falo sobre vários artistas da Pop Art. As análises semióticas a seguir são minhas e não do livro base de Osterwold, minha referência bibliográfica.

Acima, Custom Painting, ou seja, Pintura Customizada, um óleo sobre tela de Peter Phillips, de 1965. Com três metros de comprimento, o quadro traz as sensuais pernas rosas de uma mulher extrapolando divertidamente os limites do quadro, trazendo uma subversão, do mesmo modo como vemos um pé de um diabo extrapolando o enquadramento da cena no Juízo Final de Aldo Locatelli, em Caxias do Sul. Phillips traz aqui sua paixão pelas cores, na alegria da Pop Art. O fundo é de um amarelo solar, embasando uma desordem proposital, uma bagunça gostosa, como numa festa. A mulher, em preto e branco, contrastando com a meia calça colorida, está com um seio nu, numa beleza de seio exposto. Sua pele é perfeita e sequer tem um poro. Ela usa uma faixa branca sobre os cabelos, que estão desarrumados, esvoaçando. Ela olha para o espectador, desafiando-o, encarando-o, provocando-o. Vemos um tabuleiro similar a um de xadrez, mas aqui não há a intercalação entre quadrados brancos e pretos do jogo, mas uma igualdade gráfica entre cada quadrado, como num frio piso de cerâmica ou azulejos num banheiro. A ausência cromática une-se à mulher, e sua cintura é fina, perfeita, invejável. A mulher está no auge de sua forma. Acima dela, agressivas engrenagens industriais, num sistema complexo, também em preto e branco, que tem uma missão, um objetivo, um norte, uma razão para viver. As engrenagens parecem de fato estar mexendo-se, ameaçando ferir a mulher e absorvê-la, sugá-la para dentro das entranhas industriais que tanto fascinam a Pop Art, como na Revolução Industrial. Há faixas azuis tensas e oblíquas, ocultando um pouco a mulher e as engrenagens. As linhas azuis parecem ser o padrão estético dos anos 80, década que rejeitou as formas arredondadas dos anos 70 e que adotou linhas que lembram um choque, um raio de tempestade, numa agressividade geométrica, na gíria chocante da época. Mas este quadro de Phillips traz um pouco do colorido dos anos 80, uma década muito jovial. Vemos um octógono alaranjado, como uma laranja quadriculada, como num ringue de algum tipo de arte marcial, num artista que sabe que, para vencer, este mesmo artista precisa ser bom, competente. O octógono parece o enigmático hexágono luminoso no pólo norte de Saturno, desafiando os cientistas nos mistérios que formaram a Terra e a Humanidade. Vemos uma espécie de arcoíris bicolor, só com faixas verdes e vermelhas, contorcendo-se sensualmente em linhas arredondadas, cruzando o quadro de ponta aponta, como uma pista de autorama, com carros concorrendo para ver quem é o melhor, na competitividade inevitável do mundo. O arcoíris é como um til, acentuando palavras, no complexo tom anasalado da Língua Portuguesa. Vemos a parte de um belo carro retrô chegando, estacionando no quadro, querendo seduzir a mulher, atraindo-a com luxo e dinheiro. É um jogo de sedução. As engrenagens revelam as entranhas do funcionamento do carro, numa potência industrial, pujante como um parque industrial próspero. Na placa do carro vemos a palavra special, ou seja, especial, do modo como o homem, para seduzir a mulher, tem que tratá-la como se ela fosse especial como uma princesa, uma rainha, respaldando-a, sustentando-a, no machismo da prostituição. E vemos também um elemento muito estranho e indecifrável, uma forma fálica com desenhos geométricos estranhos, como linhas pontilhadas. Seria uma peça que compõe o carro? Qual seu propósito e sua utilidade? Qual o seu papel nesta obra de Phillips? Por que o artista traz-nos algo tão difícil de compreender? As obras de Arte estranhas acabam por se revelar interessantes e apaixonantes, rechaçando o óbvio, a monotonia. Neste quadro tudo dança em um só ritmo. A mulher calça sapatos de salto altíssimo, como se estivesse batendo perna de salto alto, num sacrifício doloroso em nome da beleza e da elegância, numa privação facultativa. O salto a sustenta em um patamar elevado, sendo este representado pelo carro.

            Acima, Perfect Match, ou seja, Parceira Perfeita, um óleo sobre tela em três partes de Allen Jones, de 1966-67. Uma voluptuosa mulher revela-se em um quadro de predominância rubra, na cor do desejo e do sexo. Ela é alta, com quase três metros de altura. Seus seios estão no auge, praticamente mirando para o céu. São seios perfeitos, imunes a críticas ou rejeições. Sua cintura é afunilada, mostrando glúteos deliciosos, na medida certa. Ela usa uma saia insinuante como a famosa saia branca esvoaçante de Marilyn Monroe, sendo esta uma espécie de musa da Pop Art – artista inspirando artista. A saia da mulher é bem justa, bem acima dos joelhos, e tem uma certa e perturbadora transparência, revelando a silhueta das coxas. Suas pernas foram pintadas para dar a impressão de movimento, de caminhada – vemos aqui mais de duas pernas nessa ilusão de ótica. A mulher equilibra-se sobre dois frágeis pés de bailarina, e parece estar usando sapatilhas. É como se estivesse usando um salto invisível, muito alto e desconfortável, na dor da beleza. Este óleo sobre tela de Allen Jones é bem colorido, pois, além do vermelho, vemos laranja, amarelo e verde. Uma das pernas da mulher é escura, destacando-se com uma meia calça, mostrando que, para aparecer, é preciso desaparecer, na contradição filosófica taoista – menos é mais. O corpo da mulher é delineado por finos traços pretos, definindo um corpo tentador, digno de ser exposto e admirado pois, já ouvi dizer, é natural a pessoa sarada querer mostrar o próprio corpo, mostrar o empenho de seu esforço e de sua privação espartana de exercícios e dieta. Esta mulher é uma garota de Ipanema, digna de render inspiração poética de um poeta introvertido e tímido. A boca da mulher está discreta, quase fundindo-se com a cor do restante do rosto. O pescoço é de um tom levemente mais escuro do que o tom da face, mostrando um pescoço discreto, com um leve sombreamento à direita. E por que o artista não nos revela o rosto dela totalmente? Seria uma intenção de striptease, na qual esconder é excitar? A parceira perfeita é uma mulher sem defeitos, idealizada, muito distante dos inevitáveis defeitos das pessoas. O poeta tem uma paixão platônica em relação à garota de Ipanema, e observa-a à distância, sem de fato conhecê-la ou relacionar-se com ela. Existe aqui um fascínio pelo distanciamento, do mesmo modo que um gramado de campo de futebol parece ser perfeito e imaculado se observado de longe. O cabelo da mulher é negro como a asa da graúna, e está perfeitamente modelado, sem um fio fora do lugar, em formas arredondadas livres de arestas ou defeitos, sem vicissitudes para serem observadas e vencidas pela luta da vida. A mulher é um ser fabricado, como na clássica comédia dos anos 80 Uma Mulher Nota Mil, na qual uma mulher perfeita é criada por dois rapazes adolescentes. Aqui, a mulher é fabricada, na idealização ao redor da indígena Iracema, com hálito de baunilha, na sensualidade da marca Victoria´s Secret, que vende artigos sofisticados e sensuais às clientes, como lingeries tentadoramente frágeis. O cabelo da parceira ideal de Jones tem discretas mechas roxas, e por quê? Uma parte da coxa também puxa para o roxo. O roxo é uma cor sensual, limpa e perfumada. Aqui, podemos sentir um perfume feminino no ar. Os bicos dos seios são pequenos, minimalistas, como se o corpo da mulher tivesse sido esculpido em pedra, fazendo com que o artista tirasse da pedra tudo o que não fosse uma linda mulher. Na metade inferior do quadro, uma explosão solar de dourado, iluminando as pernas da mulher, trazendo riqueza e prosperidade, como um homem decidido a cobrir a mulher de joias e presentes caros, mimando-a, seduzindo-a com dinheiro. Na extremidade inferior, vemos verde, da cor de palmeiras que farfalham calmamente em uma brisa amena, trazendo serenidade e prazer de calmaria. Existe algo melhor do que fazer as coisas com calma? Este quadro é bem retangular e elegante, alto, esguio, acompanhando quase toda a estatura da modelo, na elegância de um prédio bem alto, imponente e majestoso. A metade superior do rosto permanece um mistério, como houvesse receio em expor a mulher por completo, como em uma crise de ciúmes e de sentimento de possessão. A mulher é indomável e pertence a si própria.

           Acima, Something Like Sisters, ou seja, Algo Parecido com Irmãs, um óleo sobre tela de Allen Jones, de 1962. As aludidas duas irmãs aqui estão desenhadas com traços elementares, premeditadamente infantis – não parece que a tela foi feita por um adulto. Na parte superior, há três sóis, como no cinturão de Órion, como em um sistema solar complexo, estranho, alienígena. Mas os sóis são um tanto diferentes uns dos outros: um é só amarelo, o outro tem dois círculos e o outro tem um só círculo emoldurado por um sobrecírculo cinzento, e aqui os sóis são como irmãs que, apesar de terem o mesmo pai e a mesma mãe, são diferentes uns dos outros, na busca por identidade e individualidade. A cor branca, de lacuna cromática, tem um certo destaque aqui, como em um dia encoberto, com luz difusa, onde o Sol não tem um papel muito marcante; tem um papel sutil. As duas figuras humanas que remetem às irmãs têm traços bem incertos, e quase não dá para ver que se tratam de figuras humanas. A da esquerda parece ter calvície, com um espaço entre as mechas de cabelo, parecendo vestir um pé de meia sobre o corpo. Sua boca está fechada, com um marcante batom vermelho. Sua pele alaranjada mistura-se ao plano de fundo, num laranja muito presente na tela toda, como numa colorida aurora, anunciando com beleza e majestade um novo dia. Seus olhos são dois traços borrados, com um discreto padrão de listras. O que são as listras? São barras de ferro de uma prisão? A irmã aqui sente-se presa a algo ou alguém? Não se sabe. E sua calvície é como um aeroporto, útil exatamente por ser vazio, como uma pessoa produtiva, que produz algo, na sensação de dignidade que acomete os dignos. Em seu pescoço, mais listras, e a cor verde é bem presente na tela toda, como mato brotando espontaneamente, fortemente entre fissuras no asfalto e no concreto, na inevitabilidade da vida, da força da vital que preenche o ser vivo. Uma de suas listras é negra, como se estivesse de luto por alguém da família, talvez por uma terceira irmã, que não está presente na tela. Na tela há várias linhas retas, em contraste com as formas sugestivas e borradas do restante do trabalho. Curvas versus retas, numa dualidade charmosa. Já, a irmã da direita parece ter um gorro na cabeça, e seu cabelo ruivo é um tom mais escuro do que a irmã. A da direita está com a boca entreaberta, como se estivesse falando algo. Seu batom também é vermelho. Acima de seus olhos, várias estrelinhas, de vários tamanhos, como numa paisagem espacial, em constelações ricas em diversidade. As estrelas revelam uma personagem sonhadora, eternamente buscando beleza no caos da existência. As estrelas são mágicas, como de uma fada cintilante, brilhando como o sapatinho de cristal de Cinderela. O gorro é verde como na fertilidade de um gramado bem regado. Ela usa uma echarpe listrada e, por cima, um casaco negro, como o céu noturno em uma noite encoberta, sonegando o brilho das estrelas sonhadoras, idealizadoras, como ideias a serviço da criatividade artística – todo artista sonha. Ao redor da irmã da direita há borrões de várias cores: laranja, amarelo escuro, azul cinzento e verde escuro. Na parte inferior do quadro, as linhas retas formam uma espécie de avenida, pela qual não há tráfego; há paz. É uma cidade tranquila, com a quietude de uma cidadezinha de interior. Aqui, Allen Jones traz-nos paz, e as irmãs estão em concordância uma com a outra, apesar das inevitáveis diferenças, visto que cada ser humano é dotado de individualidade, cada pessoa sendo única – somos iguais e somos diferentes. A avenida está vazia, mas pronta para receber qualquer tráfego, abrigando a vida em sociedade e as necessidades diárias de qualquer lugar. A irmã da direita tem algo parecido com uma mão, que parece abrigar quarteirões de uma cidade, e quase podemos ler algo aqui, neste subconjunto, nessa realidade parcial. E as ruas e avenidas revelam-se em sua dignidade, abrigando o vaivém frenético da vida cotidiana.

            Acima, The Last of the Idols, ou seja, O Último dos Ídolos, um alumínio e pintura a óleo de Eduardo Paolozzi, de 1963. A estrutura parece um totem, na veneração fetichista do produto na gôndola do supermercado. É como um Empire State Building, escalado pelo imperialista rei King Kong, lutando contra aviões, que frente ao monstro são apenas moscas. O formato é como uma agressiva seringa, pronta para perfurar e violar uma nádega virginal. É um design futurista, ousado, estranho e vibrante. Há quatro quadrados amarelos que parecem as janelas deste prédio, emanando a reconfortante luz solar, que rega a vida na Terra. Na parte inferior, uma roda responsável por manter tudo funcionando e girando, na demanda industrial que tanto fascina a Pop Art. Aqui, as cores são primárias: azul, verde, vermelho e amarelo, numa candura infantil, como se o objeto fosse uma espécie de brinquedo embrulhado como presente de Natal. Parece um soldadinho de chumbo, em guarda, atento, guardando um castelo solitariamente. A extremidade superior parece a futurista residência do desenho Os Jetsons, que nos mostra como é a vida no futuro da Humanidade. Logo abaixo, círculos concêntricos, como uma gota caindo n’água, perturbando a paz da quietude. Os círculos são como faixas de música em um disco de vinil, e cada faixa tem um sabor próprio e uma cor característica, num LP de um artista que quer fazer diversas coisas. O centro é de um plácido azul, nas cores de Iemanjá, a Mãe das Águas, abençoando os navegantes e dando-lhes fartura nas redes de pesca, com muitos peixes debatendo quando estes entram em contato com o ar, como no milagre de Jesus Cristo na multiplicação dos pães e dos peixes, trazendo fartura na cornucópia da ceia de Natal, pois Tao é isto – uma mesa farta, como nas fartas galeterias, com a comida sendo reposta na mesa até que o cliente diga chega. A estrutura toda deste totem parece funcionar de alguma forma, com um objetivo desconhecido, tentando produzir algo para ser vendido em uma estratégia de Marketing. A imaginação de Paolozzi toma corpo aqui, e tudo tem um tom divertido, recreativo, com muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, entretendo as crianças e fazendo-as crescer em suas percepções emocionais e instintivas. Os círculos concêntricos são a energia solar emanando como ondas de rádio, espalhando um sinal de música, esporte e notícia para quem possui um aparelho de rádio. E as ondas de rádio extrapolam o planeta Terra e suas repercussões viajam pelo cosmos, talvez com nossas canções sendo ouvidas por civilizações alienígenas. Uau! O topo do totem é uma antena de Rádio ou TV, espraiando mensagens que provam como o ser humano evoluiu desde a Idade da Pedra. O totem é um cândido pirulito, com cores divertidas e deliciosas, tornando-se objeto de desejo entre os infantes. A sisuda base negra é o único elemento que destoa um tanto do restante, do conjunto. Logo acima, duas “fatias” de pão redondo que encarregam-se de dar o suporte secundário, sendo que essas fatias, sim, entram no tom geral deste trabalho tão inusitado e original. Como será que esta obra é pelo lado de trás? Será que foi feita para ser apreciada em todos os ângulos? Será qual surpresa nos espera se formos ver o que há atrás? É como um Davi de Michelangelo, só podendo ser apreciado de frente, assim como a Pietà do mesmo autor. O topo do totem parece os antigos microfones na era áurea do Rádio, o que hoje é considerado um charme retrô. Abaixo das “janelas” amarelas, estruturas em vermelho que lembram colunas de algum suntuoso templo antigo, sendo egípcio, grego ou algo que o valha. A roda na parte inferior tem o formato de estrela, com cinco pontas, como uma estrela do mar, fascinando biólogos. A estrela é Paolozzi, que brilha como um dos grandes da Pop Art. A pessoa brilhante fascina o mundo, e é tida como fenômeno, pois, diz o Espiritismo, quando menos ambições e pretensões uma pessoa tiver, mais a mesma pessoa vai brilhar. É o enigma da existência, o qual cada pessoa tem que desvendar por si mesma. O ídolo aqui aludido é a magia do totem cultuado pelos indígenas, cultuando as forças da natureza. E ele é o último, como os indígenas foram dizimados.

            Acima, A-Z a Contributive Picture, ou seja, A-Z um Quadro Composto, uma construção em madeira pintada de Joe Tilson, de 1963. É como numa pré-escola, onde as crianças familiarizam-se com as letras do alfabeto. Tilson dá uma de marceneiro, e pega martelo e madeira para trazer essa espécie de prateleira cheia de objetos e memórias. Na parte de cima da obra, as letras garrafais que delineiam os extremos do alfabeto, em uma bipolaridade, numa latência, mostrando o melhor e o pior, trazendo um titânico contraste. As duas letras estão envoltas em uma forma que parece ser uma explosão, como na explosão ilustrativa das embalagens do sabão em pó Omo, numa mãe atenciosa que deixa tudo impecável dentro de casa, deixando a roupa limpa e perfumada, como na atenciosa professora de pré-escola, a qual lança mão de muita paciência para despertar nos alunos o interesse pela alfabetização. As letras A e Z explodem furtivamente, dando às crianças a noção de que há o bom e de que há o não tão bom, estimulando o senso crítico e o discernimento entre certo e errado. As prateleiras lembram o estilo inconfundível do célebre mestre Piet Mondrian, e a simetria aqui é descartada, pois há desalinho entre prateleiras grandes e pequenas; quadradas e retangulares. As letras das prateleiras foram cuidadosamente esculpidas, fazendo com que o espectador volte à própria infância e sinta novamente o gosto de ser uma inocente criança, recém começando a aprender as lições da escola e da vida, pois a criança é muito espontânea. Como em várias obras de arte da Pop Art, aqui há uma certa estranheza, e nem tudo podemos ver explicitamente, em mistérios herméticos, num artista que se permite ousar na estranheza. Acima da letra P, um picolé de laranja mordido, irresistível em um dia de verão; acima da letra Q, um ponto de interrogação, na questão sendo perguntada, não havendo aqui uma resposta; acima da letra S, uma forma que parece ser um tubo, um cano, como um túnel que liga extremidades; as letras N e O estão praticamente desaparecidas, envoltas em profundo negror, como num luto profundo ou numa depressão inescapável; acima da letra Z, uma pirâmide multicolorida, com cores divertidas, parecendo peças montadas por uma criança, numa noção de hierarquia piramidal egípcia, onde uns estão abaixo e outros estão acima, como na hierarquia militar; acima da letra D, uma mulher de perfil, com cabelos vermelhos e azuis e seio das mesmas cores, estando imóvel e envolta por traços que formam um semicírculo, talvez como em horas em um relógio, marcando o tempo na linha da existência; acima da letra T, um enorme T vermelho, como num entroncamento entre grandes avenidas, na demanda frenética de uma grande cidade; acima das letras G, U e V, nada, apenas espaços em branco, algo muito bom e pertinente em uma obra tão complexa e cheia de detalhes, fazendo das alvas lacunas um intervalo, um alívio, uma minimalização, entrando em harmonia com a cor clara das letras A e Z na parte superior da obra; acima da letra E, uma roda de carroça, na grande invenção revolucionária da Humanidade que foi a roda, quando o ser humano parou de sofrer tanto para locomover cargas; acima da letra L, algo que parece ser uma banana podre, imprópria para o consumo, trazendo feiura, morte e pestilência, virando uma espécie de patinho feio em meio às outras letras; a letra J é privilegiada, pois tem acima de si quatro quadros, sendo que dois deles trazem enforcadoras e sufocantes gravatas envoltas em pescoços tensos, um terceiro quadro traz pintas vermelhas em meio ao amarelo, como numa doença como sarampo ou como pintas numa onça, e o quarto quadro traz forma estranhas, que parecem ser peças de marceneiro; a letra X está bem discreta acima do Y, e a letra W também está “camuflada”, tendo acima de si misteriosos quadros negros; acima da letra H, o verso de uma tela de pintura, mostrando os bastidores, o que acontece por trás das cortinas, revelando a feiura e lembrando uma ratoeira aberta, esperando pacienciosamente por um rato que caia na armadilha, como um ator quer “capturar” o público. Esta obra de Tilson convida a uma apreciação longa e demorada, sempre revelando algo novo.

Referência bibliográfica:
OSTERWOLD, Tilman. Pop Art. Köln: Taschen, 2007

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