quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Artistas Populares da Pop Art (Parte 12)




            Falo sobre vários artistas da Pop Art. As análises semióticas a seguir são minhas e não do livro-base de Osterwold, minha referência bibliográfica.

Acima, Artist’s Studio, ou seja, Atelier do Artista, um óleo sobre tela de Patrick Caulfield, de 1964. Há traços que lembram o mestre Miró. A simplicidade das formas traz uma certa placidez, como numa sesta ou siesta, no preguiçoso prazer do descanso à tarde, após o almoço, deixando que o organismo encarregue-se da digestão, da assimilação do alimento, nas demandas orgânicas do corpo humano, pois existe em Portugal um folclore de piadas que colocam o brasileiro como preguiçoso, e dentro do Brasil são contadas piadas de como os nordestinos são preguiçosos. A preguiça é um pecado capital e, ainda assim, deliciosa, no prazer da transgressão, da violação, da rebeldia. Aqui, parecemos estar da Espanha. O intenso amarelo esquenta a cena, só sendo desafiado por uma delgada faixa roxa na parte superior, num quadro com quase três metros de comprimento, longo como uma boa sesta. Um vaso de porcelana está com ricos desenhos vegetais, com galhos, ramos, folhas e flores dançando em um ritmo sedutor de languidez, como na canção Lazy Afternoon, ou seja, Tarde Preguiçosa, cantada pro Barbra Streisand, a qual disse em público que, na maior parte do tempo, deseja ficar sob uma árvore e simplesmente nada fazer, no dolce far niente italiano, ou seja, um doce em nada fazer, na canção de Rita Lee na qual esta chama o amante para um banho de banheira sem nada mais a fazer se não falar bobagem. O vaso é elegante e vazio, assim como o prazer vazio do nada, de Tao. O vaso lembra uma cerâmica antiga grega, no Sol sedutor da Grécia, numa tarde ociosa. Ao lado esquerdo do vaso, três prédios retratados com minimalismo, com ligeiros traços que delineiam seus formatos e suas janelas, pincelados por traços brancos de paz e placidez, com outros ligeiros traços de outras cores, sendo que, abaixo dos prédios, vemos uma rua de paralelepípedos, com algumas de suas pedras sendo mostradas em pinceladinhas retangulares, num artista que diz muito com pouco a mostrar. No lado direito do vaso, um grande círculo vermelho que, com um pequeno “cabo” inferior, mostra o formato de um estômago em chamas, com intensa queimação em suas paredes internas, de quem exagerou na pimenta, ingrediente básico na culinária mexicana, sendo que este quadro todo também lembra o México. O “estômago” arde desesperadamente, como arde o coração de uma pessoa que está fazendo uma bela catarse, limpando-se por dentro e adquirindo paz interna com tamanha limpeza psíquica. A lado do estômago, dois traços pretos ondulares iguais, como nas calçadas à beiramar de Ipanema, como ondas do mar em lindas praias europeias no verão, na sedução mediterrânea de águas azuis, ou nas casas brancas na Grécia, na sensualidade banhada pelo mar Mediterrâneo. Junto às “ondas” negras, vemos três pontos pretos ovalares, no poder da vida que nasce de um ovo, no mistério que o ser humano jamais resolverá, pois Tao é mistério eterno. Os pontos são como trigêmeos, e servem para construir referências, dando noções espaciais em um mapa. São como reticências que foram desmembradas umas das outras, buscando novamente reencontrar-se e restaurar a ordem do universo. Os pontos são como cabeças decapitadas na Revolução Francesa, como cabeças são arremessadas por catapultas no livro O Senhor dos Anéis. Quase toda a cena aqui é cruzada por um retângulo negro de linhas delgadas, restringindo o estômago e estabelecendo limites entre os terrenos de dois cidadãos, no respeito à propriedade privada. No lado direito desta tela, formas retangulares como cartões de juiz de futebol, tendo um “cartão” negro, assinalando o humor fúnebre e o período de luto, tendo dois cartões de tons diferentes de roxo e tendo um pequeno cartão amarelo pastel, da mesma cor do fundo do vaso de cerâmica, na candura discreta dos tons pastéis. No extremo inferior direito da tela, uma linha tênue curvilínea que parece ser uma apressada assinatura, como uma minhoca contorcendo-se abaixo de um tórrido Sol mexicano. Seria a assinatura de Caulfield? Esta “minhoca” é modesta, e ocupa uma pequena parcela da tela. Comedida.

Acima, Flag on Orange Field, ou seja, Bandeira em Campo Laranja, uma encáustica sobre tela de Jasper Johns, de 1957. Johns ama trabalhar com a bandeira americana, e este trabalho é um dos muitos do autor com esta bandeira, num chauvinismo catarteado. O field citado parece uma plantação de trigo que, com um suave vento, balança sensualmente em suspiros e murmúrios indecifráveis, porém, agradáveis, como nas plantações que amanhecem com misteriosas marcas geométricas entranhadas nos vegetais, atiçando a imaginação dos que creem em alienígenas, como no seriado Arquivo X. O campo parece uma superfície de madeira que sofreu muitas lesões e danos, como cicatrizes, revelando uma história e uma trajetória, como dizem que um homem com barriga proeminente é um homem com história, com uma carreira. Teria um OVNI pousado no campo e entalhado, como deboche, a bandeira dos EUA? Vasto, o país estadounidense é uma colcha de retalhos cultural, e cada canto do país tem sua própria cultura popular, sotaque e características, como ocorre em um país de medidas continentais como o Brasil. Os campos de Jaspion, digo, Jasper são majestosamente dourados, como cabelos loiros de uma rainha na colheita, na fartura de um país de terras tão fartas como os EUA. O campo plácido convida a darmos um cochilo em suas confortáveis fibras, e, assim, desligamo-nos do mundo ao redor e mergulhamos nas agradáveis garras do cochilo, anestesiando-nos, varrendo a dor e o stress para longe. Aqui, a bandeira tem elementos em branco, o que dá um aspecto limpo, como há pessoas que creem que uma pessoa vestida de branco é o melhor aspecto que pode existir, numa cor que simboliza a saúde, os médicos, os enfermeiros, como plácidas nuvens de algodão desfilando lentamente pelo céu. As listras são como pistas de corrida, na competitividade que permeia o mundo capitalista, no pensamento liberal, no qual o homem pertence a si mesmo e não a um estado. Nestas raias de piscina de natação, os concorrentes mergulham n’água exatamente no mesmo momento e, no desenrolar da prova, podemos ver com clareza que é o melhor, numa evidência em um mundo que premia os campeões, dando-lhes metais nobres como prêmio. As listras vermelhas são o sangue de americanos que se tornaram heróis de guerra, num país bélico, no qual é prioridade a construção e manutenção de um exército forte, agressivo e temível, na arrogância das grandes potências, que jogam pesado no jogo global em busca de controle sobre o globo, como no popular jogo de tabuleiro War, ou seja, Guerra, no qual os participantes competem por pontos de controle em um mapa mundi, na ilusão de que o mundo pode ser possuído pela força e pelas pontas de facas. Aqui, o mapa está traçado sem se preocupar com exatidão de linhas e formas, e a bandeira é hesitante e incerta, num momento de insegurança, e o fundo azul sob as estrelas tem pinceladas apressadas, dando um charme ao conjunto, como calças jeans desbotadas e rasgadas – quem diria que roupas com aspecto usado seriam moda? As estrelas estão praticamente iguais umas às outras, e sua ordenação dá a ilusão de ordem em meio ao caos do mundo e da existência – o ser humano gosta de ter a sensação de ordem, algo levado a cabo por regimes ditatoriais, nos quais a paz e a quietude são obtidas por meios artificiais, como opressão e terror, com terroristas que querem simplesmente amedrontar o globo inteiro, na inevitável inesquecibilidade do Onze de Setembro. A bandeira aqui parece que foi lavada com um bom sabão em pó, transmitindo a sensação de limpeza e perfume, no prazer de se vestir uma roupa limpinha ou de se deitar em uma cama com lençóis suavemente perfumados, como no início do livro espírita Violetas na Janela, no qual a protagonista Patrícia desperta desencarnada em um confortável cama, uma cama convidando ao sono e ao sossego. As estrelas ordenadinhas são a esperança dos astrônomos de um dia poderem catalogar, registrar e batizar todas as inúmeras galáxias ao redor do universo, as quais, por suas vezes, possuem inúmeras estrelas compondo essas galáxias. Afinal, como diz o Espiritismo, Deus é o infinito.

Acima, Quote, ou seja, Citação, um óleo e serigrafia sobre tela de Robert Rauschenberg, de 1964. JFK exercendo eterno fascínio na América. A imagem do político está virada, horizontalizada, sem a hierarquia vertical, e sua gravata negra senta com seus cabelos, e com poucos traços podemos identificar esta pessoa pública, muito pública, uma das pessoas mais notórias da História Contemporânea do Mundo. Ao lado do presidente, um círculo verde, como um sinal que diz siga, na aprovação que os americanos tinham para com Kennedy. O círculo é como um planeta Terra coberto de vegetação, sem oceanos nem desertos, num mundo farto, paradisíaco, perfeito, onde as vicissitudes da vida não entram nem se expressam. É como um tatu que se recolheu no seu formato de bola, na reclusão de que as pessoas públicas necessitam, pois ninguém consegue ser público o tempo todo, necessitando de momentos de privacidade com a família e amigos próximos. Ao lado do ponto verdejante, como um limão esperando para ser cortado ao meio e utilizado em uma receita cítrica, vemos uma nuvem bem negra, fechada, talvez selando o violento destino da morte deste homem público, numa nuvem negra que traz uma tormenta incrível, fortíssima, como nas nuvens negras que fecharam no céu durante a crucificação de Jesus Cristo. A nuvem negra é como uma fumaça de caminhão, numa nuvem de óleo diesel sufocante, poluída, carregada, envenenando quem se atrever a inalá-la. É como o céu negro da horrível terra de Mordor de O Senhor dos Anéis, uma terra que lembra o termo murder, ou seja, assassinato, como na premonição de assassinato em O Iluminado. Vemos dois paraquedistas, gerados pelo mesmo clichê, quiçá xilogravura, saltando de um avião de guerra e pousando em terras inimigas, arriscando-se a virar prisioneiros de guerra. Parecem dois astronautas saídos de uma nave redonda, explorando o espaço na paranoia competitiva da Guerra Fria, quando Capitalismo e Comunismo brincavam de competir pelo poder global – no fundo, ambos os lados gostavam de guerrear, no deleite bélico das personalidades agressivas, das pontas de faca. Os paraquedistas parecem ter nascido de um grande ovo, e são de uma cor bordô, de um vermelho escuro, num embriagante vinho. Entre eles, um desenho cúbico, geométrico, matemático, na frieza metódica com a qual os cientistas fazem avanços, talvez cientistas a serviço de forças governamentais obcecadas em vencer uma guerra, com essas mesmas forças fazendo de tudo para surpreender o inimigo e capturá-lo em uma emboscada. Abaixo do cubo, manchas negras, como sujeira ou petróleo, com forças difíceis de se identificar, parecendo fachadas de prédios ou algo parecido, numa estranheza recorrente em obras da Pop Art, pois as experiências estranhas acabam revelando-se as mais marcantes e interessantes, visto que os artistas odeiam o óbvio. No canto inferior esquerdo, placas de trânsito, e uma delas diz pare, como se fosse um apelo em nome da paz universal dizendo para que a Humanidade pare com tantos horrores, sofrimentos e destruições, pois disse Barrack Obama que um homem é lembrado pelo que construiu; não pelo que destruiu. Outra placa aponta o caminho de um asilo público, no recanto das almas solitárias e paupérrimas, cujas vidas estão cheias de vazio existencial, sem norte, sem sentido, sem vida. As setas dão o sentido, a direção, e ajudam o indivíduo a evitar a depressão e o desânimo. Ainda outra placa aponta uma via pela qual só pode se transitar em um sentido, pois Tao não é o melhor caminho; é o único caminho. Os dizeres one way rechaçam vias ilusórias secundárias, guiando o indivíduo pela grande avenida una da existência, na qual outras vias são mentiras e enganações. Acima das placas, borrões em bordô que mal podem ser identificados ou classificados, obtendo o simples aspecto de borrão randômico, aleatório, como se estivéssemos observando nuvens no céu, e cada pessoa enxerga aquilo que quiser enxergar, na liberdade de pensamento.

Acima, Europe I, ou seja, Europa I, um óleo sobre tela de Larry Rivers, de 1956. Uma tela complexa, cheia de elementos mesclados uns com os outros, com borrões incertos. As pinceladas brancas estão presentes aqui, assim como pinceladas amareladas. Só que fica difícil identificar com exatidão o que são estes desenhos tão enigmáticos. No lado esquerdo, algo parecido com uma TV ou um forno de microondas, ou então um armário, um criadomudo, num elemento que carrega discretamente o título deste trabalho. Um pouco acima, algo parecido com um astronauta com um capacete redondo, coletando informações e enviando-as à Terra por rádio, talvez assediado por uma nave extraterrestre, nos infindáveis mistérios do Cosmos, uma vastidão absolutamente além da compreensão humana. O que nos cerca? Quem somos? Para onde vamos e de onde viemos? Ao lado do astronauta, dois senhores de longas barbas brancas, como um Charles Darwin, coletando inacabáveis informações sobre todas as formas de vida sobre a Terra, e talvez um dia catalogando formas de vida alienígena. Os senhores parecem ser o mesmo, ou gêmeos, lembrando a carismática figura de Papai Noel, com o apelo típico desta época do ano em todo o Mundo Ocidental, quiçá em outras partes. O senhor da esquerda veste um elegante terno marrom, vestido para uma grande ocasião, talvez numa cerimônia de entrega do Prêmio Nobel. Os senhores são como o personagem velhinho do filme Esqueceram de Mim, no qual o idoso estabelece um relacionamento como o protagonista Kevin, lembrando que o Natal é época de paz e (re)conciliação. Uma tarja branca repousa sobre a testa do senhor da direita, como uma bandeira da paz, nos auspícios da virada do ano, na euforia do Feliz Ano Novo. Acima dos senhores está um homem de bigode com uma gravata borboleta, ou algo parecido, e ele está com um olhar tenso e fixo, talvez observando algo que não o agrada. O homem parece estar ofendido, enfurecido, indignado, assim como fica o artista malcompreendido. Acima do astronauta há uma mulher totalmente alva, como uma Virgem Maria intocada pelo mundano, dando a mensagem de esperança de que algo de melhor nos espera após uma encarnação na Terra – um lar nos espera; uma vida sem dor nos espera. A mulher pálida esta olhando para o lado, distraída, interessando-se por algo que não é mostrado na tela. Seu vestido, também branco como o de uma noiva, tem um recatado decote, revelando apenas o pescoço, e a mulher veste sobre os ombros uma pele de animal, na crueldade predatória, tão fora de moda hoje em dia, na era do pensamento ecológico. Mas o animal aqui não parece estar morto, e parece que fareja o astronauta, no salto evolutivo que fez de neandertais seres civilizados, intelectuais, numa sociedade permeada pelo pensamento, pela filosofia civilizatória. Ao lado da mulher vemos uma face apagada, e sua boca é sequer mostrada, com olhos discretos, de alguém que não sabe que está sendo retratado em uma tela da Pop Art. Abaixo dele há uma forma em vermelho, com uma gota de sangue escorrendo, sujando o quadro com os horrores da guerra, da selvageria da Idade da Pedra. Até quando o Ser Humano continuará debatendo-se entre paz e guerra? Na parte inferior da tela, vemos os sapatos do senhor da esquerda ou da direita, num ambiguidade atroz, como se fossem siameses compartilhando do mesmo corpo, num inevitável convívio, pois da vida em sociedade é convívio, como no seriado Chaves, no qual os personagens têm de aturar as presenças uns dos outros, na comédia das falhas que existem na vida em sociedade. O astronauta olha para o céu; já, os senhores olham para fora da tela, analisando o espectador. Aos pés dos senhores, folhas negras caídas de uma árvore no outono, como na famosa canção California Dreaming, na qual o personagem, em um dia invernal com céus cinzentos e folhas escuras, sonha em estar na Califórnia, num lugar ensolarado e agradável. Será que todos os personagens neste trabalho de Larry Rivers querem estar em outro lugar?

Acima, Friendship of America and France (Kennedy and de Gaulle), ou seja, Amizade entre a América e a França (Kennedy e de Gaulle), um óleo sobre tela de Larry Rivers, de 1961-62. Vemos setorizações, como em compartimentos mondriânicos. Na parte superior, os dois políticos mencionados no título desta tela, numa amizade, numa harmonia, numa concordância diplomática, primando pela paz e pelo entendimento entre as partes – dois cavalheiros cordatos, civilizados. Duas grandes nações unidas, mesmo que separadas por um vasto oceano. Por algum motivo desconhecido, este quadro tem a reprodução de várias carteiras de cigarro, de marcas famosas, como Marlboro e Camel, na sólida indústria que é a tabagista, sendo americanos e franceses, unidos pelo vício, dois povos que fumam muito, alimentando um mercado sempre próspero, um mercado que não se importa com os danos à saúde do tabagista, apesar dos EUA serem o país que concebeu as restrições públicas ao consumo de cigarro, como em prédios nos quais é simplesmente proibido fumar, forçando os fumantes a buscar outros lugares para o hábito, no sentido de que, talvez, chegará o dia em que o fumante americano só poderá fumar dentro de sua própria casa, algo contrastante com épocas em que fumar era considerado chique, sexy, interessante, divertido e saudável, como nas estrelas hollywoodianas dos anos 30 e 40. Aqui, as carteiras de cigarro estão dispostas umas ao lado das outras, como numa gôndola de supermercado, facilitando o acesso a uma droga que, apesar de lícita como o álcool, tem lá seus pontos negativos. Mas os fumantes não parecem se importar, mesmo que nas carteiras de cigarro haja hoje advertências cada vez mais incisivas. Em quatro carteiras aqui, o capacete do deus Mercúrio na sua liberdade alada, no sentido de que só fuma quem quer, assumindo para si as consequências, no livre arbítrio espírita. O capacete vende uma ideia enganosa de liberdade, pois fumar é ser um prisioneiro, e todo mundo sabe que o cigarro vicia, tornando-se irresistível ao indivíduo viciado. O capacete dá a ideia de proteção, mas o cigarro não protege, bem pelo contrário, expõe as pessoas a doenças consequentes. O capacete dá a ideia de blindagem, mas o fumante não está blindado, e sim em perigo. O camelo, animal montado e convertido às vontades humanas, dá a falsa sensação de controle, pois o fumante está fora de controle. O camelo está pedindo para ser montado e domado, trazendo um apelo mercadológico marcante, numa das marcas de cigarro mais famosas do mundo. Vemos uma carteira da marca Lucky Strike, título que remete à palavra sortudo, quando na verdade o fumante não está com sorte, bem pelo contrário, está no azar do ciclo vicioso. O aristocrático brasão da marca Marlboro passa a ideia de sofisticação, bom gosto, classe e sangue azul, como se o fumante estivesse entrando para um seleto clube, um clube muito fino e diferenciado, mas na verdade o clube dos fumantes é um grupo de pessoas dependentes. Uma das carteiras de cigarro traz a palavra end, ou seja, fim, na pertinente mensagem de que o cigarro torna-se o fim, a finalidade do fumante e, também, torna-se a finitude, a ruína. Este quadro todo é bem colorido e alegre, no esforço mercadológico para vender cigarro. Seria uma crítica de Larry Rivers à indústria, aos apelos publicitários? O cigarro Camel é inspirado nas tradições turcas, nas quais o tabagismo é milenar, remetendo a um animal do deserto e simbolizando o hábito turco, no qual o cigarro é normal e corriqueiro. Seria aqui o cigarro um elo de união entre duas nações ou entre várias nações? Em uma das carteiras, na extrema esquerda inferior, vemos uma silhueta de mulher de salto alto em meio a tortuosas fumaças, na associação do tabagismo e charme e sedução – não é Charm o nome de uma marca famosa de cigarro? Nesta tela há uma variedade de cigarros à disposição, num mercado desenvolto e abundante, apresentando opções e seduzindo que já está viciado. Acima do rosto do presidente francês, duas estrelas, como as da bandeira americana, e essa dupla pode simbolizar a amizade entre duas estrelas políticas, em duas nações que compreendem o que é Democracia, apesar de não haver liberdade no ato de fumar. Rivers traz-nos um paradoxo.

Referência bibliográfica:
OSTERWOLD, Tilman. Pop Art. Köln: Taschen, 2007

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