quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Artistas Populares da Pop Art (Parte 1)




            Desta vez faço algo um pouco diferente do que tenho feito neste blog: falo sobre vários artistas da Pop Art ao invés de falar de um só. As análises semióticas a seguir são minhas e não do livro-base de Osterwold, minha referência bibliográfica.

            Acima, Marilyn Monroe I, de 1962, por James Rosenquist. A célebre estrela de cinema revela exercer fascínio sobre a Pop Art, sendo alvo de inspiração por várias vezes de vários artistas, pois esse movimento artístico ama o que é relacionado ao mercado, à indústria cinematográfica. Até hoje os EUA e o mundo amam tal estrela, em um brilho que a coloca entre o grande panteão da História de Hollywood. Este óleo e pintura à pistola sobre tela de Rosenquist retalha Marilyn e a recompõe como um Frankenstein. Grandes letras de anúncio publicitário trazem partes do nome dela. Sua boca está parte rubra, parte cinzenta, sem vida, pois uma carreira pode ter seus altos e baixos. O preto e branco alude à era sem cores do Cinema, numa arte que se tornou a cara do século XX: a Sétima Arte ganha o mundo, e a Pop Art sabe disso. Vemos apenas um dos olhos da estrela, azul como o mar, convidando a um banho ou uma surfada, com suas correntezas perigosas e traiçoeiras. Sua pele é alva, intocada. A América a ama. Marilyn era tão genial que, até hoje, as pessoas creem que ela era uma tola com sorte, quando, na verdade, Monroe foi um gênio criativo e artístico, num talento que marcou a cultura de massa do século XX. Este quadro pertence ao MoMA, e nele podemos sentir o odor de outro monstro da cultura pop – Madonna, a qual claramente homenageou Monroe nos anos 1980: estrela falando de estrela, numa metalinguagem. Este quadro é truncado, e Marilyn foi retalhada por uma faca fálica, agressiva, desbravadora, do modo como a estrela desbravou possibilidades nunca antes percebidas pelo Cinema; do modo como Freud desbravou a Psicanálise. Produzido há décadas, este quadro permanece impressionantemente atual, fresco, novo. A Pop Art mostra todo o seu poder de fogo, e Marilyn dança com desenvoltura pela peça de Arte. A foto do rosto está de cabeça para baixo porque Marilyn virou o mundo de cabeça para baixo, não só com seu talento, mas com sua morte também. Pessoas faziam filas extensas nos cinemas há décadas para ver a estrela, esta loira “burra” que, ao contrário, era muito, muito esperta, arrebatadora. A América amava ver essa pecadora, essa mulher divertidamente pagã, provocante, ousada, em contraste com um país como os EUA, no qual a cultura protestante e puritana é tão forte. A América ia para a missa todos os domingos para se confessar e confessar os pecados de Marilyn, a qual não tinha problemas em pousar nua – sim, pousar com “u”, pois ela era um avião. O quadro é colorido, e é desordenado como roupas em uma máquina de lavar, com perfume. Marilyn era uma linda agente do caos, desordenando um mundo machista, no qual a mulher é o segundo sexo, uma cópia grosseira do sexo “ideal”, que é o masculino. Marilyn era tão genial que, ao interpretar uma mulher desmiolada e submissa, ao mesmo tempo trazia uma bomba atômica explodindo em cima sociedade patriarcal. Os lábios vermelhos da estrela são um nariz de palhaço, como o showbusiness é uma ramificação do negócio circense, e Marilyn era uma palhaça, uma comediante de mão cheia, insuperável na sua fala aparentemente ingênua ou, como se diz, sonsa: “Sou sexy, mas não sei disso”. Existe algo mais irresistível do que uma mulher gostosa que não sabe que é gostosa? A estrela é de um brilho tão esmagador que sequer seu nome completo precisa ser citado no quadro. A vontade que temos é a de virar o quadro de cabeça para baixo, para vermos a atriz do modo certo. Seus dentes impecáveis são sedutores dentes de vampiro, num sex symbol cuja validade desafia o passar do tempo. Rosenquist desaparece aqui, e tudo o que vemos é Marilyn. Parece que o quadro fez a si mesmo, e que Rosenquist sequer teve algum trabalho para fazê-lo Um grande artista é isso: ele desaparece, do mesmo modo como Marilyn desaparecia diante de si própria. É o invisível Tao, o charme, o hálito comportamental. Vemos um pouco de suas unhas vermelhas, como garras sedutoras de uma Mulher Gato. Marilyn tinha em suas mãos um chicote, com o qual domou o mundo e, principalmente, domou os inflexíveis patriarcas bíblicos. É claro que jamais veremos outra Monroe entre nós. Vendo o quadro de cabeça para baixo, conseguimos ver melhor parte do rosto da diva, num sorriso descontraído e espontâneo, sua marca registrada – Marilyn era assim naturalmente, e nenhum livro ou faculdade a ensinou a ter o talento que tinha, pois o espírito nasce assim, com um dom divino. A morte prematura de MM foi uma comoção mundial como a morte de Lady Diana o foi, e a atriz sofria muito com o desequilíbrio emocional, complicando-se com drogas para dormir e ficar acordada. O peso esmagador de Monroe revelou-se quando ela, “inocentemente” em uma entrevista, disse que tudo o que usava para dormir eram gotas de Chanel número 5 e, depois disso, até hoje, a fragrância francesa é sinônimo de feminilidade, sensualidade e sedução, nas cinco pontas de uma estrela do mar. No ano de 1992, quando eu estava no primeiro ano do Ensino Médio, fiz uma redação na qual tirei nota dez, onde fiz um paralelo entre Marilyn e Madonna, sendo que ambas fazem escola, sendo amadas em sua atitude transgressora, pois, já ouvi dizer, a evolução de uma sociedade acontece por meio da transgressão de alguns de seus indivíduos. E a Pop Art, de um certo modo, transgrediu e fez a Arte evoluir enormemente, libertando a mente do artista e sempre buscando o novo, do mesmo modo como o Impressionismo, por exemplo, transgrediu também em sua época.

            Acima, The Twenty-Five Marilyns, ou seja, As Vinte e Cinco Marilyns, uma serigrafia sobre acrílico sobre tela de Andy Warhol, de 1962. Cá estamos novamente com MM e com o gosto do ultracélebre Warhol pela repetição do clichê industrial. A atriz parece estar em um santinho de propaganda política, tentando vender-se ao eleitor e ao espectador – vote em mim! É uma mulher madura mas, ainda, jovem. Há uma candura de apelo infantil, inocente, como na famosa foto de Marilyn ainda muito jovem, antes de virar estrela, nua tendo ao fundo uma base cor de carne, como num anúncio de bordel, e suas transgressões faziam a América amá-la ainda mais. A crueza do preto e branco revela-se charmosa, simplificadora. Os caracóis dos cabelos de Marilyn eram deliciosamente caóticos, como numa escultura grega de algum deus. Catapultada ao status de deusa, Marilyn exerceu fascínio sobre a Pop Art, um fascínio absolutamente coberto de mistério. O que a fazia tudo aquilo? O que ela tinha de tão peculiar? Qual a razão de tanto carisma e sucesso? As marilyns são repetidas como nas cópias de um mesmo filme, distribuídas pela América e pelo mundo – é a indústria cultural. Monroe tinha em torno de si toda uma estrutura industrial, um respaldo econômico. É conveniente para Hollywood a construção de ídolos, os quais venderão tickets nas bilheterias. E Marilyn vendeu muitos, muito ingressos. Nesse poderoso arquétipo de feminilidade, MM rende até hoje lendas como a de que, por exemplo, era amante de JFK. Mais do que estrela, MM foi monstro, como Gisele Bündchen, cujo cabelo é, há anos, imitado pelas mulheres em todos os cantos do mundo. Quem imaginou que uma menininha de Horizontina, RS, ganharia o mundo? E as mulheres ao redor do mundo têm (inconscientemente) raiva de Gisele, e querem “arrancar” o cabelo desta e tê-lo em suas próprias cabeças. Do mesmo modo, Marilyn conquistou o imaginário popular. MM tinha olhar de puta velha – desculpe-me pelo termo chulo, mas não sou um santo; não sou São Gonçalo. Era um olhar experiente, debochado, descontraído, humorístico, tentador, lúdico. Marilyn está por todos os lados da cultura de massa: filme, jornal, revista, TV. No quadro, algumas marilyns estão meio apagadas, prejudicadas pelo preconceito, na imperfeição de um mundo que não nasceu para ser perfeito. O ídolo significa legiões de fãs ensandecidos, fãs que esvaziam suas carteiras para adquirir algo no mercado de troca: ingresso de cinema, por exemplo. Marilyn é uma grande vendedora, e sua agilidade mercadológica é uma prova disso. É claro que existe uma diferença entre a MM pública e a MM privada, mas o público, apesar de dizer querer ver a intimidade da estrela, na verdade quer ver a face pública desta. Os caracóis capilares são como serpentes na cabeça de Medusa, numa contradição: há amor e ódio; inquietude. Marilyn é objeto de raiva: o que ela tem que o restante das mulheres não tem? Ao mesmo tempo em que parecia se curvar perante a sociedade patriarcal, Monroe debochava de tudo e todos, formidável, suculenta, sem ser esquálida como uma supermodelo. E por que loira? Qual o fascínio das loiras? Como no filme Legalmente Loira, as mulheres loiras são objeto de desejo mas, no contraponto, há as morenas, simbolizadas por Jackie O. – uma era amante; a outra, esposa. Então o machismo constrói dois tipos de mulheres: as santas e a devassas, quando que, na verdade, a mulher é uma só, nem céu, nem inferno. No quadro de Warhol, Marilyn está decapitada por Perseu, e não podemos ver o resto do corpo do monstro midiático MM, a qual é um troféu, uma Helena de Tróia que, com sua beleza, provoca guerras, tendo homens competindo por ela. Uma inebriante e feminina bagunça. Estrela.
           


Acima, Marilyn Monroe’s Lips, ou seja, Os Lábios de Marilyn Monroe, uma serigrafia sobre acrílico sobre tela de Andy Warhol, de 1962. E, mais uma vez, MM. O sorriso é como o hilariante bandido Coringa, arquinimigo de Batman. Aqui há uma parede divisória entre cor e ausência de cor. À esquerda, um delicioso perfume tutti frutti, cor de carne, de pecado, de gula e volúpia; à direita, a sisudez da produção industrial. “Gostaria de ser uma máquina”, disse Andy certa vez. Claro, uma máquina de fabricar coisas, algo que permeia a obra de AW, uma máquina que não sente dor ou sofrimento, na evolução técnica do espírito, em busca de apuro moral. O sorriso está à disposição do beijo quente, acolhedor. Os alvos dentes vendem creme dental; os lábios, batom. São como inúmeras vaginas à disposição no mercado da prostituição, ilegal nos EUA. A América ama flertar com as próprias contradições. São como mariscos à beira mar, no cheiro inebriante da orla vaginal, a fonte de tudo. São como quibes industrializados, na esteira da fábrica, prontos para embalagem e venda, aquecendo a Economia dos EUA, o país mais intimidante do mundo. São como exemplares de jornal sendo impressos, tornando comuns às pessoas as informações jornalísticas – tudo na América conspira a favor da escala industrial, globalizada, com muita, muita coisa sendo feita na China, por exemplo. São como a produção de fragrâncias: à esquerda, um perfume doce e feminino; à direita, uma marcante fragrância masculina. É como a polarização entre democratas e republicanos, entre Ocidente e Oriente, na obsessão humana em dividir e categorizar, separando Yin de Yang, que, na verdade, se complementam, sendo caminhos diferentes que levam ao mesmo destino, que é Tao. Este quadro é como uma folha dobrada ao meio, e um lado contaminou o outro mas, na real, cada um é autônomo, funcionando juntos mas nunca atrapalhando um ao outro. É como a ritualização em torno do casal heterossexual. O formato dos lábios é como um coração, na mensagem de que o mundo só pode ser ganho com amor, do mesmo modo como Marilyn amava o que fazia, pois, disse-me uma grade amiga, o amor é o segredo da vida. Os lábios são como biscoitos sendo tostados na esteira da fábrica, numa deliciosa explosão de baunilha, como nos biscoitos feitos pelo Oráculo em Matrix, uma ditadura. Os lábios são os cidadãos rotulados e reduzidos a indistintos números num campo de concentração, num sistema totalitário e esmagadoramente cruel – só é cidadão quem consome. A boca de Marilyn sorri enigmática, numa Monalisa pós-moderna. O sorriso do ser humano é universal, e nada mais natural do que a mesma deusa ser adorada nos quatro cantos do mundo. Os lábios são meias luas, no ciclo feminino lunar de menstruação. O pulsar da vida, do qual MM era agente, uma professora para Madonna. MM faz escola, e os próprios artistas da Pop Art são discípulos.


            Acima, For Men Only. MM and BB Starring, ou seja, Apenas para Homens. MM e BB Estrelando, de 1961 por Peter Phillips, um óleo e colagem sobre tela. Vemos uma rivalidade, competição, bipolaridade. As duas estrelas femininas competem pela atenção do público, como num jogo de futebol: a alegria de um é a tristeza de outro. A lebre correndo é a agilidade com a qual a cultura de massa se propaga, e o bicho corre ensandecidamente na competição capitalista, sistema no qual a competitividade é tudo – a agressividade de Wall Street: dinheiro, dinheiro, dinheiro. O brilho solar ao redor da lebre é a glória dourada da vitória e, no pedestal de primeiro lugar, só há espaço para um competidor, e não dois. O fundo branco ao redor da lebre é a paz de uma bandeira que pede trégua nesta guerra louca por dinheiro e sucesso, nessa selva de tubarões carnívoros e canibais – tudo vale na competição. As duas estrelas de cinco pontas são como Yin e Yang, sendo uma a contradição da outra, produzindo contraste, do mesmo modo que deve haver diferenciação entre os uniformes dos dois times que jogam – não há lugar para harmonia aqui. As duas estrelas de cinco pontas são dois seios afiados, impiedosos, impetuosos. A lebre parece estar coberta de medalhas, consagrada, vitoriosa, como tatuagens em um atleta vencedor, contabilizando seus êxitos, exibindo-se machistamente ao público feminino, mostrando o tamanho do pênis, na quantificação fálica: o mundo é dos ricos. Tudo nesse quadro é a visão do homem sobre a mulher, a qual, por sua vez, não quer competir, e sim ter paz. Mas a sociedade patriarcal força papéis machistas. Parece que há uma rivalidade entre Marilyn Monroe e Brigite Bardot, como numa disputa por um Oscar, como na rivalidade entre Bette Davis e Joan Crawford. O showbusiness é altamente competitivo, com muitos pretendentes para um único papel em um filme. Filas quilométricas de candidatos formam-se, e inúmeros testes de câmera são feitos com esses candidatos. Normalmente, as pessoas se ferram, e apenas alguns conseguem papéis promissores. Hollywood é uma selva, com uns querendo devorar as tripas dos outros. Aliás, o mundo é uma selva, e Hollywood é apenas um subconjunto deste mundo, imitando-o, representando-o. Entre as duas mulheres na parte de cima do quadro há uma mão fechada, como se estivesse selando a competição, apitando para dar a largada nesta corrida por sucesso e popularidade, uma corrida que povoa o imaginário popular – talvez MM e BB não se deem conta de que elas mesmas fazem parte desse jogo competitivo. O vermelho uterino no quadro é a sanguinolenta competição mundana, na qual sangue jorra incessantemente, num sacrifício de sonhos e ambições, que normalmente naufragam – são os sonhos despedaçados. Na parte de baixo do quadro, meninas que queriam ser atrizes acabam virando strippers, sendo reduzidas a anônimas semiprostitutas em uma boate qualquer – essas quatro mulheres, que provavelmente são uma só, estão de olhos vedados para não serem identificadas nem reconhecidas, na vergonha de quem não conseguiu ir muito longe. Elas estão absolutamente relegadas a um papel submisso ao mundo masculino misógino, no qual a mulher é cidadão de segunda categoria. Elas parecem estar dançando ao som da boate, talvez sem noção do que de fato fazem. Elas têm que sobreviver e pagar as contas. Suas lingeries negras são a imprevisibilidade do futuro, como na grande mancha negra atrás da estrela de MM: o que este trabalho de stripper causará em suas vidas? Mariyln é uma vitoriosa, que tinha tudo para se tornar uma mera prostituta. Peter Phillips nos traz mulheres que querem a mesma coisa – satisfazer suas próprias ambições. Acima da cabeça de Mariyln, uma mancha clara que parece fumaça, nas nuvens dos sonhos de quem vai para Hollywood em busca de um sonho e acaba frustrado. Despedaçamento. E há inúmeras histórias de frustrações no mundo. O importante é ter a força para se reerguer, e as mulheres strippers de Phillips estão acomodadas em um estilo de vida degradante, sem força para reagir a isso tudo, deixando de lutar pela vida. O conjunto do quadro parece uma mesa de fliperama, na qual a pessoa compete contra uma máquina, contra um sistema.

Acima, My Marilyn (paste-up), ou seja, Minha Mariyln (colagem), fotos e óleo sobre tela de Richard Hamilton, de 1964. Vemos vestígios do grande mestre Piet Mondrian: quadriculações e retangulações com linhas tensas e retilíneas, lembrando o formato de história em quadrinhos – a Pop Art adora HQs, as quais simbolizam a cultura pop, de mercado. Aqui há retângulos variados, contando uma história. Tudo foi baseado em fotos de MM à beiramar, na metáfora entre feminilidade e o mar, no cheiro de peixe, na origem da vida e, Freud explica, na vagina. Simbolizando o sexo feminino, Marilyn está absolutamente desenvolta na beira da praia, brincando, sorrindo e encantando inocentemente. As cores estão subvertidas, pois o azul do céu e do mar simplesmente não dão as caras, e a própria cor original da areia também não aparece. Hamilton brinca com fotos praticamente repetidas do ícone do Cinema – as fotos parecem ser uma só. Certa vez eu tive um pôster vertical de Marilyn gigantesco, com uns dois metros de altura ou mais. Nele, Monroe está também na beiramar, sorrindo desenvolta, com um maiô branco e lábios cor de rubi. Adquiri-o em uma viagem minha à Flórida, EUA. Só que, neste pôster, as cores são reais. Nesta tela de Hamilton, um dos poucos elementos de redação é a palavra good, ou seja, bom ou boa, no hábito de fotógrafos de selecionar os melhores cliques do rolo de filme – estamos na era digital, nos anos 2010, e as novas gerações mal sabem o que era a fotografia em rolo de filme! A palavra de elogio pode ser para a própria Marilyn, uma profissional de excelência e respeito em Hollywood. Em cima das fotos há pinceladas afoitas e incertas, e riscos em forma de x, vetando algumas imagens, no sentido de que nem todos os momentos da vida são doces. Mas Marilyn não se importa com essas censuras, e segue brincando como uma criança a céu aberto, divertindo-se nas ondas que lhe banham os pés, na simplicidade de um momento de prazer, momento no qual tudo o que a pessoa precisa é de ar em seus pulmões. As fotos são como janelas para um mundo bom. Outro elemento textual aqui é o da marca Kodak, a qual, ironicamente, abriu um espetacular teatro em Hollywood muito tempo depois da morte de MM, sendo este um mito que desafia o tempo e a América. Aqui as cores até lutam para aparecer, e vemos tons de marrom, laranja e magenta, mas, no quadro geral, trata-se de uma tela sem grandes sobressaltos cromáticos. As fotos grandes lutam contra as pequenas, numa hierarquia geométrica – os grandes regem os pequenos. São como janelas de vários tamanhos em uma tela de computador, num mundo multimídia do século XXI. A Pop Art foi à frente do seu próprio tempo, num orgasmo vanguardista, uma Vênus nascendo de uma concha no mar.

Referência bibliográfica:
OSTERWOLD, Tilman. Pop Art. Köln: Taschen, 2007

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