Ela é mais do que estrela; ela é
monstro, daqueles que carregam tudo e todos consigo, como um tsunami. Segundo
Tao, aquele que é subestimado, vence. Gisele está no topo do topo e ninguém
percebe, considerando-a apenas uma modelo. No Brasil, ela é a top do mundo; já,
no mundo, ela é UMA das tops, como disse esses dias o entrevistador e ator
Jimmy Fallon no talk show deste. Uma bomba de carisma, Gisele é soda, tão
carismática quanto o ex-namorado Leonardo. Mas é claro que ninguém é perfeito –
há rumores de que Gisele até fez teste de câmera para interpretar Mulher
Maravilha nas telonas, mas dizem que a voz da top foi um empecilho. Mesmo
assim, isso não impede Gisele de ser poderosa. Concordo plenamente com a capa
da revista Veja no ano 2000, em que a modelo é equiparada a Senna e Pelé. Mas o
status estelar transcende, e, quando vemos Gisele, estamos diante de uma
presença esmagadora, e não apenas diante de alguém que tem que trabalhar para
ganhar a vida. Enquanto umas trabalham e são dignas de respeito, outras reinam.
Meus caros, ouçam o que vou dizer:
todas as mulheres, do Oiapoque ao Chuí, de Los Angeles a Tóquio, da Europa à
África, gordas e magras, velhas e jovens, negras e brancas: TODAS imitam o
cabelo de Gisele, que é de um ondulado, entre liso e crespo. É uma tendência
capilar fortíssima, intransponível. TODAS as mulheres imitam Gisele, mesmo vertiginosas
estrelas sodonas como Julia Roberts, Charlize Theron, Madonna e lá vai uma
lista interminável. O cabelo de Gisele está em seu ápice estilístico,
derrubando por terra a ditadura dos lisos. O cabelo de Gisele é natural: ela
não faz força para ser assim. Uma psicóloga já me disse: admiração e raiva
andam juntas. Portanto, a nível inconsciente, as mulheres têm inveja e raiva de
Gisele, e querem “arrancar” da estrela o que esta tem de tão quente e
maravilhoso – daí nasceu esta tendência capilar. As mulheres querem ter a beleza,
o carisma, o talento e o dinheiro de Gisele. Nada mais natural, então, do que
imitar o cabelo da top.
É claro que não é para qualquer um. Trata-se de um dom – ou
você tem, ou não tem. Quando a pessoa tem um dom, uma vocação, um talento, tudo
o que esta pessoa precisa é de persistência. Reza a lenda que o reinado de
Gisele começou quando esta fez fotos para o baile de debutantes de sua cidade
natal, a minúscula Horizontina, tal qual o Super-Homem, que viveu como criança
em uma cidadezinha também. Nessa foto de debutante, vemos uma juveníssima Gisele
esfomeada, faminta para devorar o mundo, ambiciosa, devorando impiedosamente a
lente do fotógrafo, o qual percebeu o potencial da menina e a encaminhou para
fazer um book – álbum de fotos dos modelos que servem para a agência
“vendê-los” – em uma agência de Porto Alegre, e este foi o primeiro duro passo
de Gisele longe de casa. Gisele firmou uma relação de amor com POA, tendo anos
depois, já famosona, ter sido clicada por um anônimo portoalegrense no Parcão,
com o detalhe que Gisele no clique estava disfarçada, com chapéu, óculos
escuros e peruca crespa morena, no prazer anônimo de uma pessoa comum que quer
curtir a vida e não só trabalhar. Na agência de modelos em POA, as pessoas, os
agentes de moda, perceberam o potencial da moça, e não demorou até Gisele ir
para a cidade mais influente da América Latina – São Paulo. Numa vida dura de
modelo em Sampa, Gisele declarou anos depois que quando pensava em desistir,
podia quase ouvir uma voz dizendo-lhe: Não
desista. Na metrópole paulista, berço da MTV Brasil, Gisele gravou um
programa do canal, o MTV Al Dente, que mostrava modelos sensuais apresentando
clipes. Só que, na ocasião, pouca gente deu bola, e Gisele passou quase
despercebida, e é esta invisibilidade que permite que as pessoas invisíveis
surpreendam. Então, o maior passo da vida de Gisele foi ir para os braços de
Tio Sam, para Nova York, um dos poucos grandes megapólos de moda do mundo, e
isso quando tinha 15 aninhos, ou seja, uma criança que aprendeu rápido a ser
adulta, numa fibra incrível. Inclusive, às vésperas de se tornar uma Brazilian Bombshell, ou seja, Uma Granada Brasileira, Gisele foi
entrevistada por Paulo Francis na Big Apple, e Francis ficou impressionado que
aquela menininha de 15 anos parecia ter 20. Paulo anunciou: Tem avião novo na praça, pressentindo o
estouro. Em NY, Gisele passou a mostrar ao mundo um inconfundível porte na
passarela, como um elegante cavalo nobre, e dona de uma fotogenia misteriosa e
inegável, visto que a fotogenia é um mistério: o que faz uma pessoa clicar
deslumbrantemente frente às frias lentes? Recentemente, Gisele aposentou-se das
passarelas, e seu derradeiro desfile custou-lhe lágrimas. Foi o fim de uma era.
O que Gisele tem que fazer para
manter-se no topo? Nada, absolutamente nada, só continuar trabalhando e
produzindo, visto que qualquer ser humano tem que se ocupar. Seu reinado global
permanecerá enquanto a própria Gisele manter-se humilde e nunca deixar de ser
produtiva. Gisele, como toda pessoa grande, sabe que, se parar, virará peça de
museu. O ambicioso diretor Fábio Barreto tentou seduzir Gisele a interpretar a
louca Jacobina no filme que, no fim, acabou sendo protagonizado por Letícia
Spiller, ambas “alemoas”. Na apoteótica abertura dos Jogos Olímpicos do Rio,
Gisele cruzou de ponta a ponta, de salto alto e vestido justo, o Maracanã, ao
irresistível som de Garota de Ipanema.
Gisele brilha tanto que sua simples presença preencheu completamente o Maracanã
e as telas TV do mundo inteiro, num momento bem marcante, um orgulho nacional.
É claro que nem tudo são flores.
Gisele teve uma época em sua vida em que ambicionou uma carreira de atriz,
obtendo papel de destaque no filme Táxi.
Na première, Gisele chegou no tapete vermelho em um táxi, numa ironia, e estava
acompanhada dos pais, apoiando a filha em sua empreitada. Na época do
lançamento, uma revista brasileira de cinema colocou Gisele no grande destaque
da capa, enaltecendo grandemente a película e a participação de Gisele.
Interessante observar que a mão que acaricia é a mesma que apedreja. Tempos
depois, na mesma revista, foi feita uma recapitulação dos piores filmes dos
últimos anos, e Táxi estava nesse
infame rol. Nunca ouvimos que na vida não se pode ter tudo?
Vida de modelo não deve ser fácil. Há anos trás, o jornal
Zero Hora fez um ensaio fotográfico com a irmã mais nova da simpática e
talentosa modelo Shirley Mallmann. Então, o jornal entrevistou Shirley e
perguntou se sua irmã seguiria os seus passo no mundo da Moda, e Mallmann foi
contundente, dizendo algo do tipo: Amo
minha irmã. Logo, não desejo vida de modelo para ela. O mundo da Moda é
extremamente concorrido, com muitos corpões e rostos belos concorrendo pela
mesma oportunidade de trabalho. É um trabalho no qual o modelo tem que se
“matar” para manter-se no condicionamento físico exigido pelo mercado. Ainda
por cima, é um mercado volúvel, sempre em busca de novidades e caras novas.
Vencer todas essas vicissitudes é só para os excepcionais.
É claro que não são todas as modelos que se tornam top – as
tops são apenas a pontinha do iceberg. O mundo da Moda está repleto de
frustrações. Gisele teve que morar por um tempo em um apartamento com mais
outras várias meninas modelos, rateando o aluguel. Uma dessas modelos contou,
recentemente, que Gisele é meio pão dura, e que esta exige respeito – é esse
respeito por si mesma que fez Gisele tão grande. Na geladeira do apartamento,
havia um tomate de Gisele, e esta colocou um bilhete ao lado do tomate dizendo:
Este tomate é meu. Por que você está
mexendo nele? Coloque-o de volta. Eu entendo Gisele – ela não quer tomate;
quer respeito, o qual pode ser simbolizado pelo tomate mas não é tomate por si
só. Dá para entender. Mãe coruja, Gisele declarou que sua obrigação é prover um
ambiente seguro para que as crianças floresçam e sejam a luz que são.
Como diz uma pessoa de minha
família, Gisele chegou lá. Gisele está no plano de uma Lady Gaga, e esta também
conquistou o mundo e ninguém percebeu. Tao é o invisível que entra sem ser
percebido, impecável, simples, consistente. A atriz veterana Suzana Vieira já
se declarou publicamente fã de Gisele, e disse que esta é a vitória da cabeça sobre
a bunda. Aliás, observo o volume de fãs mulheres de Gisele na faixa etária
entre meia e terceira idade. Gisele angaria fãs de todas as idades, no poder da
estrela de unir as pessoas, na promessa de um mundo melhor. A estrela é um
sinal de que há um mundo melhor à nossa espera. O que Gisele é? Gisele é forte,
uma Mulher Maravilha de imbatível. Gisele é uma Carmen Miranda, uma vogue, que
avassala. E Gisele aprendeu sozinha a ser Gisele.
Houve um momento em que Gisele ficou no “olho do furacão”, quando, desfilando
em NY, a modelo foi alvo de pessoas que protestavam contra o uso de peles de
animais na Indústria da Moda, e estas pessoas subiram na passarela e, aos
berros, ostentaram cartazes que diziam: Gisele
é a escória das peles. Com nervos de aço, Gisele desfilou normalmente,
ignorando altivamente os trancos e barrancos da vida.
No tapete vermelho do Oscar, no ano em que DiCaprio
concorria dor O Aviador, Gisele
apareceu com um vestido branco, inconscientemente na cor das noivas, e Gisele
estava uma Vênus cristalina ao amanhecer. Tempos depois, a socialite Paris
Hilton, em seu próprio videoclipe, imitou não só o vestido e o cabelo, como
também os trejeitos que fizeram Gisele célebre. Na ironia de que Paris e Gisele
têm proveniências extremamente diferentes uma da outra, e a menina que nasceu
rica e privilegiada não chega aos pés da menina que veio de Horizontina, RS. A
humilde horizontinense já declarou que não é toda aquela deusa que as lentes
captam. E o mundo não é dos humildes?
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