Eu devo ter sido japonês em outra encarnação,
pois adoro tudo relativo ao país do Sol nascente: Folclore, Arquitetura,
Cultura, Gastronomia, Arte. Esbaldei-me na seção japonesa do Metropolitan, de
Nova York. Existe na cultura japonesa uma simplicidade, um minimalismo elegante
e impecável, uma limpeza de formas, num povo discreto, num país onde o
analfabetismo é zero. Há no senso comum japonês um espaço para a meditação, a
ponderação. Os japoneses são polidos. Quando eu estava no Ensino Médio, em
Caxias do Sul, veio estudar no meu colégio, na minha sala de aula, uma menina
adolescente japonesa. Inteligente, ela escrevia em Português muito bem, e numa
de suas redações citou que gostou muito do vinagre de vinho tinto, algo que
provavelmente não deve ser muito comum no Japão, apesar deste país estar
começando a aflorar como pólo de vitivinicultura, algo que me dá curiosidade
para, quem sabe um dia, provar os vinhos japoneses – eis que o Japão não produz
só saquê. Esta adolescente disse que, em seu país de origem, o professor dá a
aula no mais completo silêncio, e que, ao fim da aula, cada aluno que tiver
dúvidas vai falar individualmente com o professor. O Japão sabe que a base de
uma nação próspera é a produção de cultura erudita, a qual inicia-se nos bancos
escolares.
O Japão é um gigante econômico, mas um anão político, e
nunca se mete nos assuntos de outros países. De passado xintoísta, religião
pagã, o Japão hoje é budista, pois existe toda uma vertente filosófica oriental
que é esquecida pelo Ocidente, como o Taoísmo, por exemplo. Exótico para nós da
América, o Japão exerce fascínio, como no filme A Época da Inocência, no qual o personagem Newland quer se desligar
da insuportável vida burguesa novaiorquina e aventurar-se nas longínquas terras
japonesas. Infelizmente, o Japão sofre com terremotos, e um dos grandes abalos
sísmicos recentes provocou um desastre atômico em Fukushima. Mas o
Japão sempre acaba reerguendo-se, resiliente.
A História do Japão é a da Fênix,
que ressuscitou das cinzas. A humilhante derrota na II Guerra Mundial, com duas
bombas atômicas no país, depois do infame ataque japonês a Pearl Harbor, nos
EUA, fez parecer com que o Japão jamais se reerguer-se-ia. No divertido filme De Volta para o Futuro, em uma cena
ocorrida nos EUA dos anos 1950, mostra que, na época, a tecnologia japonesa era
uma piada, digna de incredulidade e indigna de respeito, mas o mundo dá voltas.
Uma pessoa de minha família, alguém que já viajou por muitos lugares do mundo,
já esteve no Japão, e eu, na minha curiosidade sobre este país, perguntei-lhe
como eram as coisas lá, e essa pessoa me disse que fica-se embasbacado com a
riqueza do Japão. Por exemplo, há em Tóquio uma avenida do porte de uma Avenida
Paulista, só que apenas de lojas de eletrônicos. Então imagine uma avenida tão
vasta como a Paulista, inteira de eletrônicos. É muita riqueza. País da flor
nacional que é a sakura, a primavera no Japão é exuberante, e a sakura segue
como símbolo dessa beleza, como no lobby do hotel Matsubara de São Paulo, numa
pintura de uma grande árvore de sakura florida, tendo no mesmo hall uma
armadura de samurai, remetendo ao interessante filme O Último Samurai, com Tom Cruise, película que mostra os costumes
de um tradicional Japão prestes a entrar na Modernidade, pois tive uma
professora que dizia que o Cinema é uma ótima forma de se narrar costumes de
comunidades e países distantes.
O Japão é homenageado pela
Disneyworld na Flórida, EUA, pois nos pavilhões dos países no Epcot Center, há
um impecável arranjo arquitetônico que honra as tradições estéticas japonesas. O
bairro japonês de São Paulo, chamado Liberdade, tem um excelente restaurante de
sushi onde almocei por duas ocasiões com minha família. Na divertida personagem
Dona Xepa, vivida por Marília Pêra, Xepa é levada a um restaurante de sushi e
não entende porque tudo era cru, perguntando: Mas não tem nem uma colher de óleo para fritar esse peixe? Mas nem
tudo são flores, pois o restaurante de sushi tem que ser de confiança, tendo-se
a certeza de que o peixe é fresquinho, pois por duas ocasiões, em restaurantes
japoneses do RS, passei mal depois de comer sushi com peixe passado. Isso é uma
sacanagem para com o cliente. O que ocorreu? Eu nunca mais fui comer nestes
dois restaurantes. Isso se chama Dissonância Cognitiva, que é quando a pessoa
pega nojo de algum produto ou serviço. Ainda falando em sushi, há um divertido
episódio do seriado The Nanny em que
a personagem Fran vai a um restaurante novaiorquino de sushi e, depois de
mastigar um sushi de borracha que era só para exposição, quase “morre” ao
ingerir, inadvertidamente, uma grande quantidade de raiz forte, o condimento
que deixa o sushi extrapicante. O sushi ganhou o mundo, numa comida relacionada
a conceitos de sofisticação e luxo, visto que não é tão simples assim fazer sushi,
e o sushiman, o fazedor do sushi, tem que ser habilidoso, senão o sushi fica
com cara de rocambole. No seriado Sex and
the City, a personagem Samantha prepara uma surpresa de Dia dos Namorados
ao namorado, e o espera deitada nua, apenas coberta de sushis. E por que a
Liberdade chama-se assim? Porque os imigrantes japoneses, ao vir ao Brasil,
foram escravizados, forçados a trabalhar para senhores gananciosos e
inescrupulosos, algo muito bem mostrado em um filme da cineasta Tizuka Yamasake.
Os imigrantes, depois de sofrer, finalmente foram libertados do trabalho
escravo e fincaram-se profundamente na sociedade paulistana. A Liberdade é um
bairro vibrante, com muito comércio e restaurantes.
Monarquia parlamentar, o Japão honra
suas tradições, como por exemplo por meio da Família Imperial do Japão. Há
ainda muita tradição, como nas gueixas, que são arquétipos femininos de
delicadeza, perfume, poesia, beleza, graça e, acima de tudo, sedução. Uma
pessoa de minha família fez certa vez uma exposição de óleos sobre tela, e um
dos quadros era do rosto de uma gueixa, tradicionalmente aprumada, com um olhar
um tanto triste, como se assoberbada pela aprumação e pelo comportamento
esperado de uma gueixa. Esta pessoa, ao ver que gostei do trabalho, deu-o para
mim, e até hoje tenho a tela com muita estima, exposta ao lado de meu
computador, pois, segundo o fengshui, ao lado da mesa de trabalho tem que haver
ou uma janela ou algo que seja quase como uma janela, como uma pintura, por
exemplo. Certa vez vi uma reportagem sobre o Japão, e nas ruas de Tóquio
passeava um tradicional casal, com a mulher trajada tradicionalmente, sendo que
o homem, absolutamente sisudo e sério, caminhava passos à frente da esposa, que
por sua vez era totalmente sorridente e simpática, saudando a câmera de
reportagem. É o arquétipo universal de Razão versus Loucura, sendo um a contradição do outro, como falam as leis
filosóficas da Dialética Grega. O equivalente gaúcho da gueixa é a prenda, a
qual é doce, graciosa e agradável, num contraponto ao gaúcho machão. O universo
das gueixas já seduziu a popstar Madonna, a qual no clipe de uma canção aparece
como uma gueixa pós-moderna, com o cabelo lisíssimo do povo japonês.
A bandeira nacional japonesa é de uma elegância incrível, ao
ponto de me fazer dizer que é a bandeira mais bonita do mundo, mesmo sendo eu
patriota e achando a bandeira brasileira bela também, só que a bandeira do
Brasil é mais complexa, fugindo do minimalismo oriental. A inspiração para a
bandeira do Japão é o místico nascer do Sol de lá, o qual nasce rubro e envolto
de uma névoa alva. Esta bandeira é de uma limpeza primorosa, numa composição
gráfica que sabe que menos é mais.
Em meus tempos de residência em Porto Alegre, eu
morava na quadra da casa do Cônsul do Japão, uma estrutura que posteriormente
foi demolida, transformando-se em prédio residencial. Falando em consulados, o
filme O Império do Sol, com um
infante Christian Bale, mostra o estopim da II Guerra Mundial, narrando a
história de uma família cujo chefe era Embaixador dos EUA no Japão. Só que os
pais, por acidente,
perdem
contato com o filho, vivido por Bale, e o menino vê-se sozinho na casa dos
pais, num ponto em que a penúria causada pelo conflito causou a falta de água
na casa, e o menino passa fome e necessidades. É uma história de um menino que
se tornou homem em poucos anos, finalmente reencontrando os pais ao final da
Guerra, abraçando a mãe e fechando os olhos, como se estivesse acordando de um
longo e penoso pesadelo. Ainda falando em filmes, a película Encontros e Desencontros, com Bill
Murray, mostra a paixão dos japoneses pelo videoquê, e mostra também a
prostituição no país, quando ao personagem de Murray é oferecido o serviço de
uma bela e discreta prostituta.
Um dos sinais de discernimento dos
japoneses é curvar-se para saudar alguém, em consonância com o Taoísmo, que
prega que, para se conquistar, é necessário antes ser humilde e curvar-se
perante a situação, como no polido cumprimento de curvatura entre os oponentes
no Judô, o qual é uma das mais expressivas tradições desportivas japonesas, num
esporte olímpico que ganhou o mundo, inclusive o Brasil. O Judô é sábio, em golpes
que fazem com que o atleta pareça vencível perante o oponente, quando que, na
verdade, são movimentos que mostram que quem é subestimado, vence. Em um
episódio de Mr. Bean, o
personagem-título tem uma aula de Judô, e acaba enrolando o professor (ou sensei) no tatame, o colchonete sobre o
qual o esporte é praticado. Ainda falando em desporto, há o tradicional Sumô, praticado
por homens obrigatoriamente obesos. Ainda falando em curvar-se, há a famosa
imagem de Barack Obama, no início do primeiro mandato, curvando-se humildemente
perante um japonês. E só quem se curva pode vencer, eliminando-se assim a
arrogância e a presunção.
Por fim, não posso deixar de falar
da expressiva Cultura de Massa japonesa, principalmente no que tange à
programação infantojuvenil. Cresci assistindo aos seriados de super-heróis
japoneses, como Spectroman, Ultraman, Jaspion e Changemen. A trama é
basicamente sempre a mesma: seres maléficos do espaço querem conquistar e
destruir a Terra, e os guardiões da Humanidade surgem para enfrentar
gigantescos monstros que querem destruir tudo e todos em seu caminho. Há
personagens inesquecíveis como o monstrinho Ghioday, que é redondo e tem um grande
olho só, e tem o poder de transformar monstros pequenos em titãs do Mal. É
sempre o combate de Bem versus Mal,
no qual o Bem prevalece, pois na cabeça da criança é tudo muito simples: ou
algo é do Bem, ou é do Mal. Os Figurinos e a Direção de Arte são normalmente
loucos nesses seriados japoneses. Um videoclipe da cantora Mariah Carey
satiriza isso tudo, e mostra monstros gigantescos destruindo prédios no Japão enquanto
as pessoas trabalham naturalmente, sem sobressaltos. Outro aspecto de
Entretenimento Infantil é a tradição de desenhos animados japoneses, em muitos
dos quais os personagens tem olhos grandes e redondos, extremamente ocidentais,
contrapondo-se aos olhos orientais puxadinhos. Irônico, não?
Quem sabe um dia vou ao Japão, talvez
encontrando museus que tratem da Arte daquele país.
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