Não sei quanto a vocês, mas fico
extremamente entretido ao ver os outros cozinhar. Esses programas são um
deleite, mas confesso que não sou um ás na cozinha. Faço uma massa, um guisado,
um pastel, uma pizza, um sanduíche, uma torrada e era isso! Minha falecida avó
materna era um talento na cozinha, e foi pela vó que conheci o bife de peito de
frango, o qual apelidei carinhosamente de Bife
da Vó. Minha mãe também cozinha muito bem, e faz delícias as quais não sei
fazer, como risoto, frango à xadrez, estrogonofe, pastelão de frango e muitos outros pratos, nas
lembranças de minha irmã e eu chegando ao meio-dia do colégio, famintos, e
esbaldávamos em pratos simples e deliciosos, como um bom feijão preto muito bem
feito, bolo de carne, milho refogado e um arroz soltinho muito competente. É
uma lembrança de minha infância minha mãe martelando os bifes para amaciá-los,
e dos bifes à milanesa sendo passados no ovo antes de serem passados na farinha.
Cresci também acostumado com os churrascos que meu pai assava e de como minha
mãe gostava de assar uma cebola no espeto. Cresci acostumado com a comida da
minha mãe, e ela nunca usava alho, portanto, até hoje eu não curto alho, mas
sou fã de cebola.
Certa vez, o poderoso Boni da Rede Globo foi entrevistado,
e a ele perguntaram o que o mesmo considerava comida boa. Ao vermos uma pessoa
rica como Boni, imaginamos que ele diga que comida
boa é no restaurante X carésimo de Paris. E não. Boni disse que comida boa é comida simples, só que bem
feita. Achei o Boni de uma simplicidade incrível. Por exemplo: salmão. O
salmão eu até gosto cru, no famoso sashimi japonês. Mas quem cozinha o salmão
tem que saber o ponto certo, até o peixe ficar cozidinho, mas ainda tenro, pois
o salmão cozido demais fica insuportável: duro, borrachudo e sem gosto.
Nem tudo são flores, e os erros são
inevitáveis. Esses chefs de TV, por exemplo, testam a receita antes de
trazê-las ao programa. Há chefs que até chegam a testar a receita de duas a
três vezes, tal a preocupação em não errar. Nunca ouvimos falar que é errando
que se aprende? Eu fui fritar um arroz antes de cozinhá-lo, só que o fiz em uma
panela de fundo fininho, e acabou não dando certo. Hoje aprendi que arroz tem
que fritar em panelas de fundo mais grosso. Em outra ocasião, há décadas, eu
estava na casa de minhas queridas amigas Deneia e Denise, e estávamos fazendo
pão-de-queijo. A mim foi delegada a tarefa de salgar a massa, só que pus sal demais,
e a receita acabou arruinada. Esses tempos, quando encontrei Deneia na rua, ela
brincou e disse-me que eu estava devendo para ela um pão-de-queijo! Em outra
ocasião, fui fazer um negrinho de panela na cozinha de minha mãe, e peguei a
primeira colher de pau que encontrei na gaveta. Só que eu, na minha ignorância,
não sabia que a colher de refogar cebola era apenas para refogar cebola. Então,
fiz o negrinho com a colher de cebola e o negrinho acabou saindo com sabor de
cebola! Ficou horrível! Ainda falando em cozinha, certa vez meus vizinhos
esqueceram a panela de pressão ligada, e é claro que ela estourou, numa
explosão tão forte que a mesa de inox do fogão ficou achatada! Também dei uma mancada
ao fazer um risoto de aspargos, pois eu não sabia que a água do aspargo em
conserva tem que ser usada no preparo dos pratos. Portanto, meu risoto ficou
sem gosto! Uma pessoa de minha família, em sua infância, botou para ferver uma
lata de leite condensado para fazer doce-de-leite, só que esqueceu a lata no
fogo, e a lata explodiu e espalhou doce de leite pela cozinha inteira! Outra
“tragédia” foi quando eu estava em um restaurante em Porto Alegre com um
querido amigo meu, num buffet a quilo. Eu estava com o prato cheio na bandeja e
um copo cheio de Sukita. Então, esse meu amigo, acidentalmente, esbarrou em mim
e derrubou toda a Sukita sobre meu prato, e acabei almoçando uma comida sabor
Sukita. Em outra ocasião, num buffet com uma bela travessa de camarões, vi uma
menininha de cerca de oito anos de idade espirrando bem em cima dos camarões –
ainda bem que eu vi antes de me servir. Outra passagem foi quando uma pessoa de
minha família, distraidamente, adicionou pequenas uvas passas pretas ao feijão
preto, e o feijão saiu sabor uva passa. Ainda falando de tragédias na cozinha,
no filme O Diário de Bridget Jones, a
personagem central está preparando um jantar para amigos, e tem que amarrar
certos ingredientes com um barbante, só que o barbante em questão era azul, e a
coloração acabou tomando conta de toda a receita.
Tenho que narrar outro desastre
gastronômico, relatado a mim por um amigo meu de Porto Alegre. Há muitos anos,
quando a garrafa de Coca-Cola era de vidro, um amigo de meu amigo convidou este
e outras pessoas para um bobó de camarão, o qual foi servido em uma finíssima
sopeira de porcelana da bisavó do anfitrião – uma relíquia da família. Então, o
anfitrião chegou todo solene com a sopeira com o bobó, e colocou a peça no
centro da mesa. O jantar iniciou. Em um dado momento, um que estava do lado de
lá da sopeira pediu a Coca-Cola ao que estava do lado de cá da sopeira. Só que
o de cá largou a garrafa de refri um pouco antes do de lá pegá-la, e ainda por
cima a garrafa estava “suada” por fora. Resultado: a garrafa, em uma fração de
segundo, espatifou a preciosa sopeira em vários pedaços, e foi camarão para
todos os lados sobre a mesa. Este meu amigo disse que teve que se trancar no
banheiro para rir, pois não conseguia parar de rir!
Jamie Oliver elevou o patamar da
Cozinha Inglesa, a qual não chega aos pés de outras, como a Italiana e a
Francesa. Baterista nas horas vagas, Jamie tem muita atitude e carisma, e abriu
uma rede de restaurantes chamada de Fifteen, ou seja, Quinze, pelo motivo de
ter cozinhando quinze estagiários, aos quais o generoso Jamie dá uma chance para
que esses estudantes aprendam e aprimorem-se na cozinha. Jamie começou jovem na
Televisão, com o show The Naked Chef,
ou seja, O Chef Pelado, assim chamado
porque a intenção do programa era “desnudar” os segredos da cozinha e
esclarecer mistérios e mitos. Logo após, chegou o meu momento preferido na
carreira de Jamie, o programa Oliver’s
Twist, ou seja, Truques de Oliver,
ou A Reviravolta de Oliver, ou ainda O Gingado de Oliver, no qual Jamie
recebia convidados diferentes, revelando sua paixão para cozinhar para amigos e
família, preparando pratos inusitados e exóticos, esforçando-se ao máximo, até
aventurando-se em fazer uma feijoada e uma caipirinha, na qual adicionou
gengibre e hortelã, além dos ingredientes tradicionais do drinque brasileiro.
Certa vez entrevistado, Jamie revelou-se incansável, pois declarara que, nos
dias de folga em casa com a família, Jamie também cozinha. Jamie é um homem
laborioso, e um infame tabloide inglês disse que Jamie trabalha tanto que mal
tem tempo para ver os próprios filhos. Mentira, é claro. Jamie adora crianças e
já cozinhou por várias vezes com infantes, inclusive os próprios filhos. Outro
grande programa do chef foi o Jamie At
Home, ou seja, Jamie em Casa, no
qual, em seu sítio nos arredores de Londres, Jamie cultiva uma vistosa horta, e
dela colhe os ingredientes, revelando-se preocupado com a saúde alimentar, até
tendo erguido bandeira em nome de alimentação saudável para crianças nas
escolas inglesas. Nesse mesmo programa, recebeu vários membros da família, até
sua avó, uma senhora cheia de energia. Jamie também gosta de receitas da época
de Natal. Mais recentemente, Jamie teve programa que ensinavam a fazer belas
refeições em apenas quinze ou trinta minutos. Jamie já esteve no Brasil e
cozinhou com a chef brazuca Bela Gil, e fizeram uma moqueca vegana, e Jamie
gostou muito, elogiando o toque de exótico leite de coco.
Ainda na Inglaterra, temos a
charmosa Nigella Lawson, a qual, já foi dito, transforma o ato de comer em uma
experiência sensual. Nigella já declarou que seu lar gastronômico é a Itália,
tendo já morando na nação da bota. Mãe atarefada, Nigella traz o telespectador
para o mundo dela, na correria do dia-a-dia de uma casa cheia de comida gostosa
e caseira. Feminina, Nigella conversa com a câmera graciosamente, e é mais dona
de casa do que chef, podendo-se observar o detalhe de que ela não tem a técnica
de chef de cortar ingredientes com a faca. A dispensa de Nigella é um deleite,
com produtos de todas as partes do mundo, numa cidade como Londres, que recebe
em seus mercados produtos do mundo inteiro, sendo a manga brasileira, por
exemplo, muito apreciada pelos ingleses.
No Rio Grande do Sul, temos o Anonymus Gourmet, do chef José Antônio
Pinheiro Machado, que hoje está no SBT RS, e já troquei uma ideia com ele sobre
receitas com pinhão. A bandeira de Anonymus é comida simples e deliciosa, sem
frescuras. Uma de suas frases emblemáticas é Carne de segunda, sabor de primeira, no sentido de que não se pode
ter preconceito em relação a uma carne só porque esta não é filé mignon. Ainda
no RS, temos o caxiense Rodrigo Werner, que apresenta o Truques de Cozinha na Band RS, um chef que nos inspira a cozinhar
para os amigos.
Em âmbito nacional, temos a adorável Palmirinha, uma doce
senhora que faz comida caseira e recebe convidados para comer. Temos ainda a
Rita Lobo no Cozinha Prática, numa
cozinheira cujo objetivo é trazer o telespectador para a cozinha, a peça da
casa que Nigella diz ser o coração de um lar. Temos também Rodrigo Hilbert no Tempero de Família, que viaja pelo
Brasil para fazer receitas inusitadas, muitas vezes típicas de cada região. A
vegetariana Bela Gil tem a preocupação em fazer alimentos ultra-saudáveis,
sempre destacando as propriedades nutricionais e benéficas de cada ingrediente
usado nas receitas. E temos o Perto do
Fogo, com Felipe Bronze, com receitas feitas estritamente no calor das
brasas de uma grelha, em receitas que destacam o sabor defumado e que mostram
as novas texturas de sabor que um alimento pode ter na brasa.
Há tempos passava no canal GNT o
programa de Annabelle, uma neozelandesa que fazia receitas que levavam
ingredientes orgânicos e fresquinhos, e com ela aprendi a lição de que não se
pode armazenar tomate na geladeira, pois na geladeira o tomate perde a sua
doçura natural.
Às vezes, fico com um incontrolável
desejo de consumir junk food, aquela
comida microbiótica bem pouco saudável e muito calórica, cheia de frituras.
Prefiro o Burguer King por duas razões: a primeira é que se você pedir um xis
picanha, você sabe que o que você está comendo é picanha; a segunda é que o refrigerante
é liberado. Só vou em outras lanchonetes quando não tenho por perto um Burguer
King, pois há muitas lanchonetes nas quais não sabemos que tipo de corte bovino
faz parte daquele hambúrguer. Outra comida que curto é a japonesa, só que temos
que ter certeza de que o estabelecimento é de confiança e que o peixe cru servido
é fresquinho, bem fresquinho. Já aconteceu duas vezes de eu passar mal depois
de comer sushi estragadinho. Outra vez também passei mal ao comer um cachorro
quente, só que de uma lanchonete bem famosa, bonita e limpinha. Eu tive um
colega da faculdade que abriu um restaurante de sushi em Porto Alegre, e era
um estabelecimento de confiança. Este mesmo colega disse-me que, em outro restaurante
da cidade, viu um sushiman preparando a comida com um band-aid no dedo! Bah!
Falando em bah, tem em
Porto Alegre o restaurante fino Bah, que serve uma farinha de
erva mate, algo que nunca vi antes.
Gosto de morar em Caxias do Sul, e a
cidade tem restaurantes emblemáticos. O irresistível galeto é de comer de
joelhos na tradicional galeteria Alvorada e na sofisticada Casa di Paolo, com
um galeto temperado com sálvia e uma impecável sopa de agnoloni al dente, sem
esquecer das polentas frita e brustolada, esta sendo feita na chapa. Outro ás
da culinária caxiense é o Andrea, ultra tradicional, com um tortéi com um
tempero inigualável, uma carne macia e suculenta, um espaguete al dente
irresistível, uma polenta mole com queijo derretido e uma batata frita muito
bem preparada, evocando aqui novamente Boni, que disse que comida boa é comida
simples, só que bem feita.
A minha querida amiga Beatriz
concorda comigo: bom mesmo é vino i pasta!
Cozinhar e comer nos faz humanos. Bon apetit!
Pasta senza vino è come un bacio senza amore.
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