Em um (excelente) filme de comédia
dos anos 80 com Bette Midler, Richard Dreyfuss e Nick Nolte, um cão de raça de
uma mansão de Beverly Hills se chamava “Matisse”. Isto dá uma ideia do sinônimo
de sofisticação que o francês Henri Matisse espalhou pelo Mundo. Os textos e
análises semióticas a seguir são inteiramente meus.
Acima, Dança II. O quadro esbanja movimento, numa ciranda intermitente. É
como num ecossistema, no qual cada agente tem seu papel, num equilíbrio grupal
de harmonia, no qual um sistema funciona perfeitamente. Os corpos nus remetem à
simplicidade de uma colônia de Nudismo, sem qualquer pitada de malícia ou
sexualidade, mas de naturalidade. Porém, como nada é perfeito – ou seja, Tao, o
Uno, é perfeito, pois não é de matéria, mas de pensamento –, há uma pequena
anomalia nesse sistema, no modo como na trilogia Matrix, em que a anomalia de um sistema opressor se manifesta
quando um indivíduo questiona o sistema, produzindo pensamento, ideias. Aqui,
quase todas as mãos estão entrelaçadas, mas há duas mãos que quase se tocam,
mas não se tocam de fato, num momento de ruptura, num indivíduo que põe a
própria cabeça para pensar e produz questionamento, como nos perseguidos
políticos em
ditaduras. Nessa “anomalia”, os dedos estão muito próximos de
se tocar, mas não se tocam, assim como no quase toque entre Deus e Adão na obra
de Michelangelo. É uma frustração, no sentido de que ninguém pode ter tudo na
Vida, nem mesmo artistas célebres como Matisse. Já ouvi dizer de um pensador
que as anormalidades, as falhas, são fundamentais para o funcionamento do
Universo, e que são exatamente as anomalias o que faz um sistema respirar –
Life is not ment to be perfect, ou seja, a Vida não é para ser perfeita, pois,
se fosse perfeita, o que o indivíduo teria para aprender em meio a tanta
monotonia repetitiva? É da anomalia, do defeito, que vem uma lição a ser
aprendida. Por outro lado, o quadro é uma fotografia feliz, num momento em que
os indivíduos vivem em harmonia social, tendo cada um o seu próprio papel nesse
sistema, e os indivíduos transgressores são fundamentais em suas anomalias
sociais, para o desenvolvimento social, como Neo em Matrix – sim , gosto muito
do filme! –, ousando não ser apenas um indiferenciado tijolo numa parede,
revoltando-se contra um sistema opressor, sistema este que faz do indivíduo um
prisioneiro, uma pilha alcalina, num sistema que vai contra o fato divino de
que todos somos únicos e especiais. Deus quer que haja anomalias, como na
Comédia, na irreverência, na qual a azeda dureza do Mundo é transformada em
doce limonada. Aqui, é um dia de céu limpo, num gramado paradisíaco, numa
ilustração de sinergia, onde tudo ajuda tudo, num conjunto que convive
tranquilamente com esta pequena anomalia benéfica. Todos os corpos aqui parecem
femininos, mas há alguns que deixam dúvida, no modo como gênero não é algo
definido aqui, e que as diferenças entre homens e mulheres são irrelevantes, no
sentido de que o espírito não tem sexo, nem sexualidade, numa espécie de
castração, na qual o sensual é absolutamente desprovido de sexual, ou seja, é o
sexy sem ser vulgar, como nos ousados vestidos de Gisele Bündchen. Aqui não há
diferença racial, e os corpos têm a mesma cor, num desejo por igualdade, no
modo como, além da cor da pele, não há muitas diferenças, apesar de ser
necessário ao indivíduo ter identidade própria. É bom ter bons exemplos no
Mundo, como Jesus Cristo, mas isso não é o suficiente, pois cada um precisa
aprender por si mesmo, desenvolvendo uma identidade inequiparável,
diferenciada, própria, como Matisse. É uma contradição cósmica: ser único como
um óvulo (Yin) e ser comum como um espermatozoide (Yang) – ser igual e, ao
mesmo tempo, diferente. Neste quadro há a Grande Família Humana, o grande clã
espiritual ao qual todos pertencemos, todos herdeiros do mesmo Genitor. Aqui,
Matisse traz a dança das estações do ano, sempre renovando, como Tao, sempre
trazendo renovação e frescor, na sensação gloriosa de recém sair de um banho.
Os dedos que quase se tocam são a Imaculada Conceição, sem um pingo de
materialidade. A ciranda gira em torno do vazio, de Tao.
Acima, Nu Azul – Memória de Briska. Os seios estão à vontade, um pendendo
para cada lado, como olhos de camaleão, cada um olhando para um lado, dando uma
visão total do campo, na função da Arte em revelar todos os ângulos do Ser
Humano, debruçando-se sobre este. O bom artista é um camaleão, sempre se
reinventando, como uma certa pessoa, cujo nome não mencionarei. A discrição do
camaleão é poderosa, pois ele fica invisível, sempre subestimado, pronto para
dar o bote e “dar nos dedos” de todos que o subestimava. É uma espécie de
vingança, mas uma vingança do Bem, sem malícia nem rancores. A mulher está
ajeitando o cabelo, aprumando-se para Matisse, e ela não olha diretamente ao
espectador, mas olha para o vazio. Seu cabelo é bem negro, fechado, como numa
noite de Lua Nova, com estrelas brilhando intensamente, provocando a imaginação
humana: O que é uma estrela? O que faz de uma pessoa um ser coruscante? É a
ambição humana – brilhar como um ser metafísico. O corpo da modelo é delineado
por traços fortes, definidos, e os seios atiçam a imaginação, como duas pessoas
que se amam, no vínculo entre artista e modelo, estando um exaltando o outro. É
uma simbiose, e os seios vivem em harmonia um com o outro. O umbigo é definido,
na cicatriz primordial do útero, uma cicatriz inevitável ao encarnado, sendo
que o espírito, o ser metafísico, não possui essa cicatriz, pois o espírito é
fruto de uma concepção de pensamento, e não de carne. A vegetação ao redor da
modelo é exuberante, tropical, cheia de Vida, e é essa Vida que Matisse quer
demonstrar aqui, num atelier vibrante, onde Arte é feita e onde Vida pulsa, na
alegria de produzir coisas artísticas, as quais são provas definitivas da
Inteligência Emocional, arma fundamental de qualquer pessoa que se diga
artista. O sexo da modelo está oculto pela própria perna, numa espécie de
recato, de envergonhamento, num Matisse que respeita a privacidade da modelo, apesar
desta estar completamente nua. Suas mãos são delicadas, suaves, cariciosas,
mãos de uma dama, de uma mulher bem cuidada. A modelo não sorri, mas tem
semblante plácido, sereno, tendo muita paciência para ficar horas posando para
Matisse – para puxar um aparte, vi na Disneyworld uma imagem divertida, na qual
Monalisa posa para da Vinci, mas, nesse caso, Monalisa está aborrecida e
irritada, batendo impacientemente o pé no chão! Os seios são como olhos de
vagalume, olhando para o espectador, seduzindo este, querendo ser tocados,
acariciados, desvirginados. A modelo se funde com a Natureza ao redor, e
podemos ouvir o vento farfalhando nas folhas, num sedutor jardim tropical à
noite, num ecossistema onde os agentes entram em harmonia sinérgica, como na
sinergia que existe em Gramado, cidade onde tudo combina com tudo, seduzindo
turistas. E esta é a sedução da modelo aqui, convidando-nos a estar com ela,
deitar-se com ela, entrar nela, como numa luxuosa sala de estar, com lustres
majestosos de cristal, entrando no corpo santo de uma Evita embalsamada. A
modelo aqui é uma espécie de anfitriã, convidando-nos, como uma exímia
socialite, mestre em receber com luxo. No quadro, das entranhas da terra vem a
nutrição para as plantas, e estas são as entranhas da modelo, o útero
primordial. O corpo cruza a tela de ponta a ponta, desdobrando-se em sua glória
pálida, como se banhado de luar, na sedução da luz da Lua, o espelho feminino
que reflete o agente masculino, que é o agressivo Sol. A modelo aqui remete à
abertura da telenovela Tieta, da Rede
Globo, na qual a sensual Isadora Ribeiro, com efeitos especiais de computador,
mescla-se, nua, com as paisagens tropicais da Bahia, que é, já ouvi dizer, um
país à parte. Desse modo, é inevitável não vir à cabeça a música tema da
novela, cantada por Luiz Caldas: “Tieta é fogo ardente, queimando coração. Seu
amor mata a gente mais que o solo do sertão”.
Acima, Nu Reclinado. As voluptuosas paisagens do Rio de Janeiro, com seus
montes rochosos e florestas exuberantes, na celebração da Beleza e da Vida. A
mulher flutua numa deliciosa piscina, em um dia de verão. Um Sol disforme
aparece, como se estivesse derretendo no próprio calor, numa ironia, da obra de
alguém voltando às mãos deste alguém, como me disse uma professora de Educação
Artística no Ensino Médio: Por mais que possa ser vendida, a obra de Arte
sempre pertencerá a seu artista conceptor. Abaixo do Sol disforme, uma fruta
que entra em harmonia cromática com a cor da pele da mulher, a qual é suculenta
e deliciosa como uma boa fruta madura, doce, irresistível, na riqueza de frutas
tropicais de uma feira livre no Rio de Janeiro, como mangas maduras em pés de
mangueiras em Salvador, no continuum
de prazer entre sexo e gula, no modo como ter fome é tão natural como fazer
sexo, e o Ser Humano não pode negar sua própria natureza. Acima do Sol
disforme, um biscoito do tipo orelha de macaco, com símios furtivos pulando
entre galhos em um jardim botânico tropical, com os pequenos símios
alimentando-se de pequenos frutos. Essa “orelha” remete ao cabelo de Gary
Oldman em Drácula de Bram Stoker, só
que cabelos brancos, na avidez de um vampiro que está louco para vampirizar a
saudável e deliciosa mulher aqui, no poder de sedução dos vampiros, ou seja,
dos psicopatas, que seduzem vítimas e fazem com que as vidas dessas vítimas
girem em torno da vida do vampiro: se eu estou bem, o vampiro fica mal; se eu
estou mal, o vampiro fica bem, numa ausência total de compaixão ou empatia por
parte do psicopata. Neste quadro, vemos estampas em xadrez, que, em sua
retilinidade, opõem-se às curvas femininas. Esta mulher é tão gigantesca que
sequer cabe inteira no quadro, como num Woody Allen, que se considera fragilmente
menor do que as mulheres pelas quais se apaixona. Atrás do Sol disforme, uma
viga rubra, que traz dureza e sustentação, como num falo ereto, o qual se curva
perante às majestosas curvas de uma terra virgem, uma terra esperando para ser
desbravada e ser cheia de nomes – nomes de rios, de montanhas, de florestas, de
cascatas etc. É a tendência humana para tentar impor ordem ao caos, dando nomes
às coisas, aos vegetais, aos animais, aos lugares, às galáxias. Os seios da
mulher são o Pão de Açúcar, com seu bondinho viajando de um lado para o outro,
trazendo turistas para o coração de uma mata exótica, cheia de Vida. Esta
mulher parece ser feita de argila, como argila nas mãos de um artesão, no
talento plástico de transformar elementos, produzindo algo novo. Os azulejos
azuis desta piscina lutam para não se render às curvas do Feminino, como numa
sensual rede de Internet, interligando seres na agradável piscina primordial
uterina, a casa da qual viemos e para a qual voltaremos, no caixão que se torna
útero, e viceversa: Quando Joãozinho nasceu, este chorou e o Mundo riu; quando
Joãozinho morreu, este riu e o Mundo chorou. Podemos ouvir o delicioso ruído de
água fluindo. A modelo repousa confortavelmente, sem tensão, deixando-se
“fotografar” livremente. Os traços simples do seu rosto trazem beleza, pois
simplicidade, limpeza e beleza andam juntas. A mulher parece estar nadando de
costas, numa saudável atividade física, cruzando oceanos de ponta a ponta,
remando nos mares primordiais, dos quais veio a Vida. Temos um Matisse que se
rende completamente ao próprio trabalho, encontrando prazer, pois o que é feito
com prazer, é apreciado com prazer. Matisse aqui “faz amor” com a modelo, num
nu sem sexualidade, mas com limpeza, numa parede intocada que, cedo ou tarde,
tornar-se-á vítima de um vândalo pichador, de um “estuprador”. A mulher aqui
inspira ser vigiada e protegida, para chegar ao altar da igreja pura e casta,
jogada das mãos deu homem para outro homem, sempre fraca e dependente.
Acima, Hobby Roxo e Anêmonas. O hobby é o conforto do Lar, numa pessoa que,
em casa, não precisa se preocupar, ao sair para a Rua, com o que veste, o como
está o cabelo. Certa vez vi uma mulher que, ao morar na quadra da padaria da
esquina, ia no fim de tarde, de pantufa e hobby, comprar pão e leite, parando
no trajeto para conversar com as comadres da vizinhança, no sentido que nenhum
bom líder deve interferir no desejo de um cidadão que está confortável na
própria vizinhança. As flores são os galanteios que o Professor Girafalez faz
para a Dona Florinda, no sentido de que as flores são as genitálias de um
vegetal, na intenção oculta que cada um dos pombinhos tem: fazer coito juntos.
As flores aqui são diversas e coloridas, numa mulher devidamente presenteada
por um pretendente. Este hobby roxo é fluidio, como num plácido córrego
silencioso, que alimenta vales e plantações. É o Lar líquido, delicioso, numa
pessoa que, ao chegar em casa, deixa para trás o Mundo lá fora, no sentido de
que cada pessoa tem que ser mais Yin dentro de si mesma, mais feminina, mais no
prazer do aconchego, de um par de pantufas. Quase tudo neste quadro flui
tortuosamente, como no vaso, que parece girar, hidratando as flores, que
representam a diversidade, a riqueza de um Mundo no qual as diferenças têm que
ser respeitadas, pois, do contrário, não há Vida em Sociedade. Aos pés
do vaso vemos três frutos ou pães, no alimento existencial que é direcionado
àquele que encontra a si mesmo, decidindo levar a Vida de modo pacato,
reservado, confortável, no modo como o célebre espírito Patrícia, ao
desencarnar, acordou em uma cama com lençóis levemente perfumados. Aqui, tudo
se rende ao perfume das flores, ao Feminino, e a mulher é adorada, mimada,
presenteada. Estes frutos são a fartura, como esferas num sistema solar,
integrando-se ao colar de pérolas negras da mulher, talvez também um presente
de um pretendente. Esta mulher é reverenciada, como sonha qualquer socialite. A
mesa sob o vaso tem traços aristocráticos, sofisticados, integrando-se ao
grande ritmo liquidiscente do quadro. Um dos poucos elementos não fuidios é a
parede listrada, a qual luta para não se render completamente ao Yin, no fato
de que nunca é possível baixar a guarda completamente, numa existência que pode
guardar uma surpresa em cada esquina. A face da mulher tem traços incertos, com
se levemente desfigurados por um cristal tortuoso, como na teoria da Matéria
Escura, que seria o cimento invisível que une o Universo. Os cabelos da mulher
também fluem, e são crespos, tortuosos como uma sedutora serpente, no modo como
em algumas culturas a serpente é símbolo de sensualidade, e não de horror. E o
hobby flui majestoso, como um Rio Nilo, um Amazonas, sempre nutrindo, sempre em
processo de fluidez, num interrompendo-se, do modo como Tao está sempre
criando. É a Grande Via da Vida, o único caminho que une irmãos em torno do
mesmo Rei. A mulher está à vontade, repousando a cabeça sobre uma das mãos,
mostrando ser inteligente, interessante, irônica, divertida. Uma musa de
Matisse.
Acima, Os Marroquinos. É um quadro que beira o abstrato, sem formas
extremamente claras e definidas, ou classificáveis. Há estruturas que se
parecem com prédios ou vilas, no retrato de uma aconchegante vizinhança. Teria
Matisse já viajado ao Marrocos? O fundo é preto, imprevisível, numa noite
fechada e misteriosa, onde pouco podemos ver. É a imprevisibilidade natural da
existência, num ser humano que não pode (nem deve) prever tudo, nas surpresas
que a Vida nos prepara, como me disse certa vez uma amiga: “A Vida nos prepara
cada uma...”. É exatamente neste imprevisível que reside a graça de tudo, pois
que sentido teria uma Vida na qual podemos ver tudo antes do tempo das coisas
acontecerem? Na porção inferior esquerda, formas que parecem ser uma mata de
palmeiras, com frutos dourados nos pés. Os frutos são a vitória, o
reconhecimento, a riqueza de uma existência rica em preenchimento psíquico. As
palmeiras balançam ao vento, nessa dança sensual noturna. Os frutos são a
recompensa, o merecimento, no desafio ao artista que é ser digno de
valorização, num gigantesco desafio. Atrás da mata, vemos uma rede de linhas
tensas, retilíneas, na sensualidade da Internet, que conecta e todos em uma só
piscina primordial, na qual há prazer e leveza, numa sensação de Paz enorme,
indescritível. Essas linhas brancas fazem contraste com o fundo negro, como num
quadro negro escolar, em contraste com as informações em branco, no desafio
didático de educar: O que faz de alguém um bom professor? Qual é o segredo para
a Educação? É a simplicidade, a clareza. Só assim há aprendizado. E Matisse
aprende aqui, em sua própria obra, numa combinação entre talento e persistência;
entre sonho e trabalho. Mais acima das palmeiras, uma parte desta vila, com um
parapeito na sacada. O parapeito é o resguardo, o cuidado, para evitar que
alguém caia e morra. E amar a si próprio é isso – resguardar a si mesmo;
poupar-se. O parapeito é o limite entre Razão e Loucura, duas faces da mesma
moeda, no sentido de que tudo traz em si a própria contradição. Nessa sacada,
outra planta, só que com folhas azuis, cruzadas por listras brancas. Um vegetal
estranho, que não existe de fato, mas existe só aqui. É o modo humano de
aprender com Tao, buscando compreender este, pois, já me disse uma grande amiga
psicóloga: “O Amor é o segredo da Vida”. E como poderia existir um artista que
não ama o que ele mesmo faz? Impossível. É do autoamor que vem o sucesso, numa
pessoa que respeita a si mesma. Esta cena parece ser banhada por um sensual
luar, numa brisa marroquina, sedutora, exótica, deliciosamente estranha e
enigmática. Na porção direita do quadro, um prédio róseo, como num delicioso
interior de um filé passado ao ponto médio, nas delícias que existem na Vida,
delícias misturadas, é claro, com desafios ásperos, pois, como diz Tao, o fácil
e o difícil são faces do mesmo trabalho. Vemos aqui uma grande esfera branca,
que pode ser a Lua, o grande espelho feminino que rege os ciclos menstruais, na
dança gravitacional, onde estrelas giram em torno do mesmo centro galáctico,
que é Tao, o vazio. Esta esfera pode ser também uma cabeça humana, sustentada
por um corpo azul, retangular, num Matisse buscando abstrair ao máximo a forma
humana. É um marroquino, vivendo em sua vila, um lugar onde há Paz. Parece sair
deste homem um grande braço, enorme, no poderoso braço de Matisse segurando um
pincel. A vila é como um formigueiro, uma sociedade, um subconjunto com suas
próprias regras e limites, os quais devem ser respeitados por qualquer um que
more nesta vila marroquina. No prédio róseo, um grande buraco negro, que é a
vagina, um túnel que leva ao primórdio uterino, o berço, a origem: há uma luz
no fim do túnel. É o Lar, a casa, o aconchego, do modo como a atelier se torna
a casa do artista, num lugar extremamente adaptado a estes marroquinos do
quadro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário