quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Uma Manada de Arte



Nascido no Japão e radicado no Brasil, Manabu Mabe teve uma infância pobre, trabalhando na lavoura, e, nos dias de chuva, aproveitando o tempo para pintar, nunca deixando o tempo livre passar em branco. Mabe é tido como pioneiro do Abstracionismo Brasileiro. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Peixe, Prato e Chaleira. Os peixes nadam livres pelo oceano da percepção, livres como o formato de olho de um antigo egípcio, navegando pela Arte, a qual só existe com Liberdade, como na revolução artística de Aquenáton. Mortos e aptos para o consumo, os peixes são a mortificação psíquica, a qual é importante para que o indivíduo não construa idealizações ou ilusões, no modo como o se livrar de expectativas é a receita para uma vida tranquila, sem solavancos de decepções ou prostrações. De um certo modo, a alma tem que “morrer”, mas, por favor, não leve ao pé da letra o que escrevo aqui. De um elegante e discreto tom de azul marinho, os peixes são a discrição japonesa, um povo limpo, polido e discreto, numa nação grandiosa, apesar o pequeno território. O minimalismo japonês é tão limpo, tão atento ao essencial, ao que importa. Apesar de mortos, os peixes estão vivos em sua beleza majestosa, no milagre de Jesus na multiplicação dos peixes, num legado espiritual que ultrapassa barreiras de idioma e nacionalidade. O prato é uma Lua envolta em brumas azuis, na sensualidade dos ciclos lunares, iluminando de forma tão sutil e branda, longe da luz agressiva do Sol, para o qual não podemos olhar diretamente. A Lua é o prazer gastronômico, regendo os frutos do Mar, alimentando redes de pescadores, numa Iemanjá enigmática, enchendo de beleza feminina os mares que regem o Ser Humano. Os peixes são como gêmeos univitelinos, idênticos, com exatamente o mesmo DNA, no modo como todos temos o mesmíssimo DNA espiritual, filhos da mesma Fonte, no modo como o conceito de Igualdade é indispensável. São como Yin e Yang complementando um ao outro, fazendo parte de um mesmo ser, de um mesmo peixe. É como se estivéssemos olhando para as duas faces de um mesmo peixe. Podemos sentir o delicioso cheiro de peixe fresquinho e frito, nas delícias na Cultura Popular da Cozinha Baiana, ou nas delícias da Cozinha Japonesa, a qual conquistou o Mundo com peixe cru, algo, há até pouco tempo, impensável na Cozinha Ocidental. É um Gollum, comendo peixes crus, vivos, ainda se debatendo entre os afiados dentes do monstrinho de Tolkien, numa fome por Arte. A chaleira aqui está quente, pelando, e podemos ouvir o zunido, o apito da chaleira, avisando que a água está em ponto de fervura, do modo como um artista atinge seu próprio “ponto de fervura”, conquistando seu próprio espaço e sendo reconhecido, finalmente reconhecido, na verdadeira luta que é uma pessoa batalhar por reconhecimento, por respeito – é a Luta da Vida, num Mabe que tanto laborou na roça, sonhando com uma vida melhor, com uma vida mais sofisticada, citadina, artística, superando um percalço social. Acima da chaleira, vemos uma área rubra, como o fogo de Marte, a estrela bélica, na luta diária de um artista em produzir e ser reconhecido. É a cor de tijolo das canchas de Tênis, na cor da agressividade que é necessária à prática do esporte, como um menino pobre que uma vez conheci, um menino de muita garra e talento para o Tênis. O vapor do bico da chaleira cozinha os peixes, num quadro em que os elementos conversam entre si. Podemos ouvir o som das ondas à beiramar, trazendo os frutos das entranhas da Mãe Iemanjá, a Nossa Senhora dos Navegantes. É o arquétipo de feminilidade, com guerreiros prontos para morrer pela Virgem, a imortal Elizabeth. A chaleira dá um aviso: não chegue muito perto sem estar protegido, pois a chaleira está extremamente quente, ou seja, temos que respeitar a chaleira, nunca chegando perto ao ponto de não reconhecermos Mabe. É como uma estrela com pontas cortantes: veja à distância; não chegue muito perto. O peixe tem o charme de escamas brilhantes, nas belezas da Criação de Tao, o Grande Criador. Abaixo do prato, vemos uma forma que parece ser uma gaivota, pronta para almoçar abocanhando peixes n’água. É a sede de viver, de comer, de ter prazer, de se realizar, de se libertar.


Acima, Rosas. Pinceladas vigorosas, quase impressionistas. As flores são delicadas, perfumadas e belas, em atributos femininos de passividade e brandura, ao redor de todo o ritualismo na entrada de uma noiva na Igreja, numa noiva pura e casta, que é entregue das mãos de um homem para as mãos de outro, numa mulher que nunca assume o controle sobre sua própria vida. É claro que isto é puro ritual, pois qualquer pessoa tem que ser dona de si, mas não deixa de ser uma cena bonita no casamento. À Mulher é delegado o poder de representar o Delicado, mas isso não quer dizer que a Mulher não possa “colocar o pau na mesa”. Estas flores são alvas, puras como copos de leite, no alimento materno, do modo como Tao alimenta seus filhos, como numa rainha Vitória da atriz Judy Dench, numa cena em que a monarca “coloca o pau na mesa” e mostra que não é palhaça e nem é paga para aguentar o próprio filho conspirando contra a própria Vitória. Aqui, a toalha da mesa entra em harmonia cromática com as flores, e é uma página em branco, como é cada nova página da vida de uma pessoa, e esta pessoa tem que decidir o que escrever, e pobre daquele que nada escreve. Como diz a grande Meryl Streep, um ator tem que ser uma página em branco sobre a qual o personagem escreve, do modo como eu já disse: as Artes estão umas dentro das outras, e quando um artista tem algo a dizer, a Arte encontra um meio, qualquer meio. Ao fundo, vemos um cenário não tão otimista, com tons que vão de um duvidoso cinza a um fechado e pesado negro, do modo como Mabe se sentia um escravo negro trabalhando na lavoura, sonhando em se libertar de tal “senzala” e fazer Arte; ser reconhecido como artista. É a dúvida cinzenta, debatendo-se entre um dia claro e uma noite escura, na inevitável dúvida existencial: O que existe entre a noite e o dia? O fundo escuro traz um certo peso, contrabalanceando elementos tão alvos e iluminados, como doces rosas em meio a desagradáveis espinhos, na inevitável dor existencial: Qual é sentido disso tudo? Aqui, a toalha é como brumas insinuantes, sensuais, envolventes, como no fascinante véu de uma noiva, encantando a todos no templo, sendo a estrela maior do acontecimento, dando à sisudez masculinidade um papel meramente coadjuvante, talvez lidando com o fato de que, num cenário preconceituoso, uma mulher tem que ser eternamente representada socialmente por um homem, no modo como uma mulher adota o sobrenome do marido, e nunca ao contrário, no inevitável machismo patriarcal, no qual é impensável um homem ser sustentado por uma mulher. Puro preconceito. A toalha é como uma nuvem de gelo seco, num casal recém enlaçado, dançando em frente aos olhos de todo o corpo social, no modo como a união heterossexual é aprovada, sendo o oposto, a homossexualidade, reprovado. A jarra é de um azul alegre, como no Céu de Brigadeiro que brilha enquanto escrevo esta crônica, na glória de um dia limpo, um dia de Tao, transmitindo a majestade de uma cena bela como puro cristal, no modo como o Universo é incrivelmente translúcido. É o invisível tomando conta do que é visível, no ditado de que, por trás de um grande homem, há sempre uma grande mulher. Aqui, as flores florescem festivas, cheias de Vida, num respiro de vida, de perfume, de plenitude, num Mabe apaixonado pelos elementos à sua volta, talvez pintando as coisas que via quando arava a terra, nos presentes que vêm da terra, como roseiras, a flor símbolo de Feminilidade e Maternidade. Sequer vemos uma pétala caída na toalha, num momento de vigor, de Vida, num ser respirando e procurando viver o máximo possível, na luta pela Vida. As flores são explosões de supernovas, terríveis e poderosas, na explosão de Vida que toma conta dos ecossistemas. É a Vida querendo copular e se desenvolver, no modo como às crianças é dado o exemplo das abelhas nas flores, quando se deseja falar às crianças sobre Sexo. Discretas folhas verdes adornam as flores, na cor dos gramados de Futebol, as arenas contemporâneas em que times competem entre si, na dura realidade de que a alegria de um time é a tristeza de outro, na inevitável competição social. Com quem Mabe compete? Um artista compete consigo mesmo?


Acima, Sem Título (I). O calçadão de Ipanema no Rio, no vaivém das ondas do Mar, sempre respirando, subindo e descendo, no fascínio de uma orla vaga, deserta, pronta para receber convidados, no encanto do vazio da beiramar, no modo como Tao é o vazio, como um copo, pronto para ser preenchido e, assim, servir ao Mundo. Podemos ouvir “Garota de Ipanema”, no tilintar sofisticado de Bossa Nova, num gênero musical que se tornou símbolo de sofisticação e bom gosto, numa derivação muito discreta do samba, um ritmo mais agitado, é claro, trazendo o modo africano de celebrar a liquidiscência universal, pois o Mundo traz inúmeros caminhos que levam ao mesmo destino, no sentido de que não pode haver preconceito em relação a este ou aquele caminho, visto que o Ser Humano é universal. Aqui, temos uma pele de zebra, em animais que aprenderam com a Evolução para, com sua estampa, “desaparecer” no ecossistema africano e, assim, proteger-se de predadores, no modo que só passa adiante os próprios genes os seres que se tornam espertos, como um camaleão, fazendo metáfora com a invisibilidade psíquica, com a discrição. São linhas orgânicas, aquáticas, com uma substância sendo abraçada por outras, como numa pororoca, trazendo o choque entre água doce e salgada, como no choque entre civilizações na Era das Navegações, em que a Europa simplesmente dizima os nativos americanos, sejam os incas, sejam os maias, sejam os índios brasileiros, sejam os índios americanos, na milenar capacidade do Ser Humano em ser o mais brutal, estúpido e cruel possível. Este quadro traz as águas que uniram, com naus, dois continentes, num gigantesco choque térmico, terrível, como a sensação de se colocar o dedo na tomada, numa sensação desagradável, numa agressividade excessiva, que trata de se brutalizar e destruir o belo. E não são as guerras comuns no Ser Humano? Talvez o indivíduo entra em guerra consigo mesmo. Aqui são como peixes de espécies variadas, numa riqueza biológica, no modo como um Mabe saiu de um Japão tão discreto para um Brasil tão exuberante, tão rico em Vida, no fascínio que o Brasil exerce ao redor do Mundo, num país que, apesar da pobreza, é rico a seu próprio modo, como numa Gisele prestigiando o ecológico Projeto Tamar, na Bahia. Aqui, são como seres do Mar guiados por Aquaman, uma versão pós moderna de Poseidon, o deus dos Mares. Os seres ouvem o apelo de seu senhor, e organizam-se, na tentativa humana de impor ordem e lógica aos mistérios da Natureza e do Universo, como galáxias, que se dispõem no Cosmos como conchinhas à beiramar, no continuum que permeia toda a Criação, toda a majestade de Tao, o Uno. Aqui, há ossos paleontológicos, num quebra cabeça enigmático que desafia cientistas a remontar a História do Mundo, de tudo. É um quadro que é uma reação química, como medicamentos sendo injetados num organismo, talvez um efeito nocivo de drogas maléficas, as quais agrilhoam vidas, destruindo estas. São como tatuagens, as quais marcam épocas da vida do indivíduo, do modo como a Arte pode marcar a vida de fãs, como me marcou o álbum de 1998 de um certo artista. A Arte marca épocas, do modo como o Cinema marcou o Século XX, como o filme Titanic marcou o fim dos anos 1990. É um quadro sem qualquer tensão, sem qualquer retilinidade racional, nas linhas insinuantes de uma serpente sendo esmagada pelos alvos pés de Maria, na aniquilação da Malícia e da Ambição, a qual tanto atrapalha a vida do Homem na Terra. É um rio que vai passando, sempre em processo, sempre fluindo, do modo como o Pensamento Humano também é fluidio, sempre se aprimorando, sempre evoluindo, sempre compreendendo melhor o Universo, num Ser Humano que encontra no crescimento a razão para a Vida. E não é o Mundo uma grande escola? Talvez a maior de todas? E não é um grande anfitrião aquele que acolhe tamanho trânsito?


Acima, Sem Título (II). A forma negra é um feto, no eterno retorno, quando o indivíduo retornar ao Lar, ao tão desejado Lar, deixando para trás todos os espinhos dolorosos existenciais. É também uma prisão, num indivíduo que já nasce escravo de um sistema, como em Matrix, quando o indivíduo, por meio do intelecto, dá-se conta de tamanho aprisionamento, no modo como a Filosofia é essencial, apesar desta não mudar o Mundo – o que muda é a percepção do indivíduo sobre este Mundo, e esta percepção, sim, pode e deve mudar, sempre evoluindo, como me disse uma grande amiga portoalegrense: Porto Alegre continua tudo a mesma merda, com o perdão do palavrão. Este feto é como um coração arrancado de um peito apaixonado, nas desilusões que assombram o indivíduo que sonha demais, que idealiza demais. O coração arrancado é a mortificação, quando a pessoa está cansada de tanto vagar sem rumo, adquirindo um Norte, por menor e mais modesto que este seja. E não é feliz aquele que se encontra, em meio a um Mundo que continua tudo a mesma merda? O fundo aqui é de um amarelo dourado, como na foto da cantora Shakira, pintada de ouro para anunciar a turnê El Dorado, num recado: ela vale ouro, logo, vale a pena o valor do ingresso. E o artista é feliz quando finalmente conquista o respeito das pessoas, dando a volta por cima e encontrando alguma lógica em um Mundo tão caótico e confuso, como peças de quebra cabeça embaralhadas, perdidas, desnorteadas, como na Diáspora. O ouro é o sucesso, o êxito, num pesadelo recorrente que tenho: estou dentro de um lugar e não sei como sair dele, num verdadeiro labirinto, trancado em um enigma, em uma boate escura e fedorenta, numa verdadeira prisão para a mente, do modo como Matrix é uma grande mentira social, uma mentira coletiva. Do lado esquerdo aqui, uma folha branca, que é a Paz, o ponto de autorreconciliamento, num momento em que a pessoa faz as pazes com o Mundo, parando de culpar este pelos problemas dessa mesma pessoa. Vemos duas formas ovais que parecem dois testículos, na fertilidade da mente artística, na concepção de um novo ser, de uma nova vida, num artista sempre atento à originalidade, sempre querendo trazer algo criativo, nunca repetitivo ou monótono, nunca óbvio. As linhas retas aqui nesta folha são linhas de um caderno escolar, como nos cadernos de caligrafia que preenchi no Ensino Fundamental, na tentativa educacional de preparar o indivíduo para o Mundo, buscando na caligrafia um símbolo de elegância, beleza e disciplina, na eterna cobrança sobre o aluno, para que este tire notas altas, no fato de que há certos professores que vão além da tarefa fria de ensinar e se tornam amigos de certos alunos. Ao lado das linhas, vemos borrões azulados, como uma caneta esferográfica que se quebrou e vazou, manchando de trauma o momento de uma pessoa, marcando, de forma trágica, um passo, um momento. E todos temos momentos de borrões em nossas vidas, e Mabe se deparou com o desafio de derrotar a Pobreza e engatar numa carreira artística de fato. A Vida é um desafio, e só obtém êxito quem tem espírito de aventureiro, como o diretor Fábio Barreto, que entrou em várias aventuras para fazer filmes. O “feto” está ligado à página branca por finos fios negros, numa ligação mínima, essencial e indispensável, no modo como o líder sábio sabe que, na hora de se tomar uma atitude, apenas o mínimo tem que ser feito. Dentro do “feto” há gotas de branco, que são a esperança em meio a um dia fechado de chuva. O interessante do Abstracionismo é que o espectador vê o que quiser ver, rendendo inúmeras interpretações, como em testagens em consultórios de Psicologia, em que o terapeuta mostra ao paciente imagens, e o paciente tem que dizer o que vê, possibilitando que, assim, o terapeuta chegue ao fundo das questões existenciais do paciente, fazendo um diagnóstico preciso, matemático, frio, científico, mortificado e sem ilusões tolinhas.


Acima, Sem Título (III). O fato de Mabe ter tantas obras sem título se deve ao aspecto de livre interpretação das formas abstratas, de modo que o que Joãozinho vê não é o mesmo o que Luizinho vê. Aqui, a forma preta é um cadeirante caindo em queda livre, aprisionado a um aparelho, fazendo metáfora com o fato de que todos somos cadeirantes, mas cadeirantes psíquicos. A Sociedade surge em solidariedade aos que enfrentam dificuldades, e há vagas em estacionamentos para certas necessidades de cidadãos, como paraplegia ou até mesmo idade, sem falar em gestantes. Certa vez vi um programa de televisão no qual um cadeirante estava com dificuldade para embarcar em um ônibus, e dentro deste, uma mulher, muito deselegante, disse “Vamos logo que eu tenho que trabalhar”, e o cadeirante olhou para ela e disse “Eu também tenho que trabalhar”. Ou seja, todos temos nossas dificuldades de embarque. A forma negra é uma formiga esmagada, mortificada, talvez servindo de pesquisa para um biólogo, no fato que, o que Tao faz, o Homem não faz igual, nem mesmo uma pequenina formiga. O quadro tem uma grande moldura branca, como uma janela com vista para um vale nevado, perfeito, alvo, numa neve imaculada esperando para ser deflorada pelos passos de descobridores e colonizadores, como nas terras devolutas do Continente Americano. Os quadros são janelas pelas quais podemos ver a alma do artista, e a este se entregam, revelam-se, esperando ser compreendidas e valorizadas, na busca de um artista pelo seu próprio fãclube, pelo seu público fiel. O fundo do quadro mescla branco com bege, entrando em harmonia cromática com a moldura em volta, numa terra muito bonita, onde a Paz tem um perfume delicado e fino, nas metáforas por trás dos perfumes: o comportamento minimalista é limpo, puro e perfumado, sem quaisquer excessos deselegantes e desnecessários, pois o excesso é sujeira, e a sujeira está fadada para ir privada abaixo, como uma mãe zelosa trocando as fraldas de seu bebê. A Vida é ter que trocar as fraldas de tempos em tempos, sempre se renovando, limpando-se, purificando-se, e a cor branca traz um peso metafórico grande, como na cor das vestes de médicos, enfermeiros, espíritas e umbandistas. E o Mercado traz às gôndolas sabões de roupas que prometem restaurar o branco original das roupas, havendo na máquina de lavar roupas uma metáfora, pois Tao é a grande lavanderia. E quem se lava, toma novo fôlego para seguir lutando pela Vida. Acima do cadeirante, um grande ovo, como no filme Alien, em que um ser extraterrestre altamente agressivo espalha terror, naquela pitadinha de agressividade que uma pessoa tem que ter para enfrentar a luta pela Vida, adquirindo espírito de jogador de futebol, sempre em busca do gol. Este grande ovo primordial concebeu o cadeirante, na relação entre criador criatura, no modo como um artista se sente pai e dono da própria obra, desenvolvendo uma relação de carinho e apego por certos trabalhos, na sensação de vazio que um artista tem quando uma obra sua é vendida, como um pai que vê o filho sair de casa para este estudar fora ou se casar. O cadeirante segura um trompete, e os anjos do Céu anunciam a Nova Era, mostrando que tudo na encarnação gira em torno da dimensão acima, a esta é o grande ovo gerador, a misteriosa fonte vazia da qual tudo veio. Mistério é imaginar o infinito, e este, se não existisse, não traria sentido, pois qual é o sentido de não haver Vida Eterna? Mabe traz um perfume no ar, um vento de renovação, trazendo o novo para a Arte Brasileira. Aqui, temos dois elementos que têm relação um com o outro, como um casal, que, na vida de casados, divide as tarefas, sendo bem sucedido o casamento entre pessoas que olham para o mesmo lado. São os opostos nas pilhas de energia, e, numa sinergia, geram as coisas. O grande ovo é uma Lua em eclipse, e um grande dragão engole o satélite, fascinando tribos indígenas na cor de sangue eclipsante. O ovo é uma grande nuvem negra, carregada de água, pronta para desabar e irrigar vales e rios. E o cadeirante espera por essa tormenta, esperando se purificar com as lágrimas da dor da Vida.

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