Nascido no Japão e radicado
no Brasil, Manabu Mabe teve uma infância pobre, trabalhando na lavoura, e, nos
dias de chuva, aproveitando o tempo para pintar, nunca deixando o tempo livre
passar em branco. Mabe
é tido como pioneiro do Abstracionismo Brasileiro. Os textos e análises
semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Peixe, Prato e Chaleira. Os peixes nadam livres pelo oceano da
percepção, livres como o formato de olho de um antigo egípcio, navegando pela
Arte, a qual só existe com Liberdade, como na revolução artística de Aquenáton.
Mortos e aptos para o consumo, os peixes são a mortificação psíquica, a qual é
importante para que o indivíduo não construa idealizações ou ilusões, no modo
como o se livrar de expectativas é a receita para uma vida tranquila, sem
solavancos de decepções ou prostrações. De um certo modo, a alma tem que
“morrer”, mas, por favor, não leve ao pé da letra o que escrevo aqui. De um
elegante e discreto tom de azul marinho, os peixes são a discrição japonesa, um
povo limpo, polido e discreto, numa nação grandiosa, apesar o pequeno
território. O minimalismo japonês é tão limpo, tão atento ao essencial, ao que
importa. Apesar de mortos, os peixes estão vivos em sua beleza majestosa, no
milagre de Jesus na multiplicação dos peixes, num legado espiritual que
ultrapassa barreiras de idioma e nacionalidade. O prato é uma Lua envolta em
brumas azuis, na sensualidade dos ciclos lunares, iluminando de forma tão sutil
e branda, longe da luz agressiva do Sol, para o qual não podemos olhar
diretamente. A Lua é o prazer gastronômico, regendo os frutos do Mar,
alimentando redes de pescadores, numa Iemanjá enigmática, enchendo de beleza
feminina os mares que regem o Ser Humano. Os peixes são como gêmeos univitelinos,
idênticos, com exatamente o mesmo DNA, no modo como todos temos o mesmíssimo
DNA espiritual, filhos da mesma Fonte, no modo como o conceito de Igualdade é
indispensável. São como Yin e Yang complementando um ao outro, fazendo parte de
um mesmo ser, de um mesmo peixe. É como se estivéssemos olhando para as duas
faces de um mesmo peixe. Podemos sentir o delicioso cheiro de peixe fresquinho
e frito, nas delícias na Cultura Popular da Cozinha Baiana, ou nas delícias da
Cozinha Japonesa, a qual conquistou o Mundo com peixe cru, algo, há até pouco
tempo, impensável na Cozinha Ocidental. É um Gollum, comendo peixes crus,
vivos, ainda se debatendo entre os afiados dentes do monstrinho de Tolkien,
numa fome por Arte. A chaleira aqui está quente, pelando, e podemos ouvir o
zunido, o apito da chaleira, avisando que a água está em ponto de fervura, do
modo como um artista atinge seu próprio “ponto de fervura”, conquistando seu
próprio espaço e sendo reconhecido, finalmente reconhecido, na verdadeira luta
que é uma pessoa batalhar por reconhecimento, por respeito – é a Luta da Vida,
num Mabe que tanto laborou na roça, sonhando com uma vida melhor, com uma vida
mais sofisticada, citadina, artística, superando um percalço social. Acima da
chaleira, vemos uma área rubra, como o fogo de Marte, a estrela bélica, na luta
diária de um artista em produzir e ser reconhecido. É a cor de tijolo das
canchas de Tênis, na cor da agressividade que é necessária à prática do
esporte, como um menino pobre que uma vez conheci, um menino de muita garra e
talento para o Tênis. O vapor do bico da chaleira cozinha os peixes, num quadro
em que os elementos conversam entre si. Podemos ouvir o som das ondas à
beiramar, trazendo os frutos das entranhas da Mãe Iemanjá, a Nossa Senhora dos
Navegantes. É o arquétipo de feminilidade, com guerreiros prontos para morrer
pela Virgem, a imortal Elizabeth. A chaleira dá um aviso: não chegue muito
perto sem estar protegido, pois a chaleira está extremamente quente, ou seja,
temos que respeitar a chaleira, nunca chegando perto ao ponto de não
reconhecermos Mabe. É como uma estrela com pontas cortantes: veja à distância;
não chegue muito perto. O peixe tem o charme de escamas brilhantes, nas belezas
da Criação de Tao, o Grande Criador. Abaixo do prato, vemos uma forma que
parece ser uma gaivota, pronta para almoçar abocanhando peixes n’água. É a sede
de viver, de comer, de ter prazer, de se realizar, de se libertar.
Acima, Rosas. Pinceladas vigorosas, quase impressionistas. As flores são
delicadas, perfumadas e belas, em atributos femininos de passividade e
brandura, ao redor de todo o ritualismo na entrada de uma noiva na Igreja, numa
noiva pura e casta, que é entregue das mãos de um homem para as mãos de outro,
numa mulher que nunca assume o controle sobre sua própria vida. É claro que
isto é puro ritual, pois qualquer pessoa tem que ser dona de si, mas não deixa
de ser uma cena bonita no casamento. À Mulher é delegado o poder de representar
o Delicado, mas isso não quer dizer que a Mulher não possa “colocar o pau na
mesa”. Estas flores são alvas, puras como copos de leite, no alimento materno,
do modo como Tao alimenta seus filhos, como numa rainha Vitória da atriz Judy
Dench, numa cena em que a monarca “coloca o pau na mesa” e mostra que não é
palhaça e nem é paga para aguentar o próprio filho conspirando contra a própria
Vitória. Aqui, a toalha da mesa entra em harmonia cromática com as flores, e é
uma página em branco, como é cada nova página da vida de uma pessoa, e esta
pessoa tem que decidir o que escrever, e pobre daquele que nada escreve. Como
diz a grande Meryl Streep, um ator tem que ser uma página em branco sobre a
qual o personagem escreve, do modo como eu já disse: as Artes estão umas dentro
das outras, e quando um artista tem algo a dizer, a Arte encontra um meio,
qualquer meio. Ao fundo, vemos um cenário não tão otimista, com tons que vão de
um duvidoso cinza a um fechado e pesado negro, do modo como Mabe se sentia um
escravo negro trabalhando na lavoura, sonhando em se libertar de tal “senzala”
e fazer Arte; ser reconhecido como artista. É a dúvida cinzenta, debatendo-se
entre um dia claro e uma noite escura, na inevitável dúvida existencial: O que
existe entre a noite e o dia? O fundo escuro traz um certo peso, contrabalanceando
elementos tão alvos e iluminados, como doces rosas em meio a desagradáveis
espinhos, na inevitável dor existencial: Qual é sentido disso tudo? Aqui, a
toalha é como brumas insinuantes, sensuais, envolventes, como no fascinante véu
de uma noiva, encantando a todos no templo, sendo a estrela maior do
acontecimento, dando à sisudez masculinidade um papel meramente coadjuvante,
talvez lidando com o fato de que, num cenário preconceituoso, uma mulher tem
que ser eternamente representada socialmente por um homem, no modo como uma
mulher adota o sobrenome do marido, e nunca ao contrário, no inevitável machismo
patriarcal, no qual é impensável um homem ser sustentado por uma mulher. Puro
preconceito. A toalha é como uma nuvem de gelo seco, num casal recém enlaçado,
dançando em frente aos olhos de todo o corpo social, no modo como a união
heterossexual é aprovada, sendo o oposto, a homossexualidade, reprovado. A
jarra é de um azul alegre, como no Céu de Brigadeiro que brilha enquanto
escrevo esta crônica, na glória de um dia limpo, um dia de Tao, transmitindo a
majestade de uma cena bela como puro cristal, no modo como o Universo é
incrivelmente translúcido. É o invisível tomando conta do que é visível, no
ditado de que, por trás de um grande homem, há sempre uma grande mulher. Aqui,
as flores florescem festivas, cheias de Vida, num respiro de vida, de perfume,
de plenitude, num Mabe apaixonado pelos elementos à sua volta, talvez pintando
as coisas que via quando arava a terra, nos presentes que vêm da terra, como
roseiras, a flor símbolo de Feminilidade e Maternidade. Sequer vemos uma pétala
caída na toalha, num momento de vigor, de Vida, num ser respirando e procurando
viver o máximo possível, na luta pela Vida. As flores são explosões de
supernovas, terríveis e poderosas, na explosão de Vida que toma conta dos
ecossistemas. É a Vida querendo copular e se desenvolver, no modo como às
crianças é dado o exemplo das abelhas nas flores, quando se deseja falar às
crianças sobre Sexo. Discretas folhas verdes adornam as flores, na cor dos gramados
de Futebol, as arenas contemporâneas em que times competem entre si, na dura
realidade de que a alegria de um time é a tristeza de outro, na inevitável
competição social. Com quem Mabe compete? Um artista compete consigo mesmo?
Acima, Sem Título (I). O calçadão de Ipanema no Rio, no vaivém das ondas
do Mar, sempre respirando, subindo e descendo, no fascínio de uma orla vaga,
deserta, pronta para receber convidados, no encanto do vazio da beiramar, no
modo como Tao é o vazio, como um copo, pronto para ser preenchido e, assim,
servir ao Mundo. Podemos ouvir “Garota de Ipanema”, no tilintar sofisticado de
Bossa Nova, num gênero musical que se tornou símbolo de sofisticação e bom
gosto, numa derivação muito discreta do samba, um ritmo mais agitado, é claro,
trazendo o modo africano de celebrar a liquidiscência universal, pois o Mundo
traz inúmeros caminhos que levam ao mesmo destino, no sentido de que não pode
haver preconceito em relação a este ou aquele caminho, visto que o Ser Humano é
universal. Aqui, temos uma pele de zebra, em animais que aprenderam com a
Evolução para, com sua estampa, “desaparecer” no ecossistema africano e, assim,
proteger-se de predadores, no modo que só passa adiante os próprios genes os
seres que se tornam espertos, como um camaleão, fazendo metáfora com a
invisibilidade psíquica, com a discrição. São linhas orgânicas, aquáticas, com
uma substância sendo abraçada por outras, como numa pororoca, trazendo o choque
entre água doce e salgada, como no choque entre civilizações na Era das
Navegações, em que a Europa simplesmente dizima os nativos americanos, sejam os
incas, sejam os maias, sejam os índios brasileiros, sejam os índios americanos,
na milenar capacidade do Ser Humano em ser o mais brutal, estúpido e cruel
possível. Este quadro traz as águas que uniram, com naus, dois continentes, num
gigantesco choque térmico, terrível, como a sensação de se colocar o dedo na
tomada, numa sensação desagradável, numa agressividade excessiva, que trata de
se brutalizar e destruir o belo. E não são as guerras comuns no Ser Humano?
Talvez o indivíduo entra em guerra consigo mesmo. Aqui são como peixes de
espécies variadas, numa riqueza biológica, no modo como um Mabe saiu de um
Japão tão discreto para um Brasil tão exuberante, tão rico em Vida, no fascínio
que o Brasil exerce ao redor do Mundo, num país que, apesar da pobreza, é rico
a seu próprio modo, como numa Gisele prestigiando o ecológico Projeto Tamar, na
Bahia. Aqui, são como seres do Mar guiados por Aquaman, uma versão pós moderna
de Poseidon, o deus dos Mares. Os seres ouvem o apelo de seu senhor, e
organizam-se, na tentativa humana de impor ordem e lógica aos mistérios da
Natureza e do Universo, como galáxias, que se dispõem no Cosmos como conchinhas
à beiramar, no continuum que permeia toda a Criação, toda a majestade de Tao, o
Uno. Aqui, há ossos paleontológicos, num quebra cabeça enigmático que desafia
cientistas a remontar a História do Mundo, de tudo. É um quadro que é uma
reação química, como medicamentos sendo injetados num organismo, talvez um
efeito nocivo de drogas maléficas, as quais agrilhoam vidas, destruindo estas.
São como tatuagens, as quais marcam épocas da vida do indivíduo, do modo como a
Arte pode marcar a vida de fãs, como me marcou o álbum de 1998 de um certo
artista. A Arte marca épocas, do modo como o Cinema marcou o Século XX, como o
filme Titanic marcou o fim dos anos 1990.
É um quadro sem qualquer tensão, sem qualquer retilinidade racional, nas linhas
insinuantes de uma serpente sendo esmagada pelos alvos pés de Maria, na
aniquilação da Malícia e da Ambição, a qual tanto atrapalha a vida do Homem na
Terra. É um rio que vai passando, sempre em processo, sempre fluindo, do modo
como o Pensamento Humano também é fluidio, sempre se aprimorando, sempre
evoluindo, sempre compreendendo melhor o Universo, num Ser Humano que encontra
no crescimento a razão para a Vida. E não é o Mundo uma grande escola? Talvez a
maior de todas? E não é um grande anfitrião aquele que acolhe tamanho trânsito?
Acima, Sem Título (II). A forma negra é um feto, no eterno retorno, quando
o indivíduo retornar ao Lar, ao tão desejado Lar, deixando para trás todos os
espinhos dolorosos existenciais. É também uma prisão, num indivíduo que já
nasce escravo de um sistema, como em Matrix,
quando o indivíduo, por meio do intelecto, dá-se conta de tamanho
aprisionamento, no modo como a Filosofia é essencial, apesar desta não mudar o
Mundo – o que muda é a percepção do indivíduo sobre este Mundo, e esta
percepção, sim, pode e deve mudar, sempre evoluindo, como me disse uma grande
amiga portoalegrense: Porto Alegre continua tudo a mesma merda, com o perdão do
palavrão. Este feto é como um coração arrancado de um peito apaixonado, nas
desilusões que assombram o indivíduo que sonha demais, que idealiza demais. O
coração arrancado é a mortificação, quando a pessoa está cansada de tanto vagar
sem rumo, adquirindo um Norte, por menor e mais modesto que este seja. E não é
feliz aquele que se encontra, em meio a um Mundo que continua tudo a mesma
merda? O fundo aqui é de um amarelo dourado, como na foto da cantora Shakira,
pintada de ouro para anunciar a turnê El
Dorado, num recado: ela vale ouro, logo, vale a pena o valor do ingresso. E
o artista é feliz quando finalmente conquista o respeito das pessoas, dando a
volta por cima e encontrando alguma lógica em um Mundo tão caótico e
confuso, como peças de quebra cabeça embaralhadas, perdidas, desnorteadas, como
na Diáspora. O ouro é o sucesso, o êxito, num pesadelo recorrente que tenho:
estou dentro de um lugar e não sei como sair dele, num verdadeiro labirinto,
trancado em um enigma, em uma boate escura e fedorenta, numa verdadeira prisão
para a mente, do modo como Matrix é
uma grande mentira social, uma mentira coletiva. Do lado esquerdo aqui, uma
folha branca, que é a Paz, o ponto de autorreconciliamento, num momento em que
a pessoa faz as pazes com o Mundo, parando de culpar este pelos problemas dessa
mesma pessoa. Vemos duas formas ovais que parecem dois testículos, na
fertilidade da mente artística, na concepção de um novo ser, de uma nova vida,
num artista sempre atento à originalidade, sempre querendo trazer algo
criativo, nunca repetitivo ou monótono, nunca óbvio. As linhas retas aqui nesta
folha são linhas de um caderno escolar, como nos cadernos de caligrafia que
preenchi no Ensino Fundamental, na tentativa educacional de preparar o
indivíduo para o Mundo, buscando na caligrafia um símbolo de elegância, beleza
e disciplina, na eterna cobrança sobre o aluno, para que este tire notas altas,
no fato de que há certos professores que vão além da tarefa fria de ensinar e
se tornam amigos de certos alunos. Ao lado das linhas, vemos borrões azulados,
como uma caneta esferográfica que se quebrou e vazou, manchando de trauma o
momento de uma pessoa, marcando, de forma trágica, um passo, um momento. E
todos temos momentos de borrões em nossas vidas, e Mabe se deparou com o
desafio de derrotar a Pobreza e engatar numa carreira artística de fato. A Vida
é um desafio, e só obtém êxito quem tem espírito de aventureiro, como o diretor
Fábio Barreto, que entrou em várias aventuras para fazer filmes. O “feto” está
ligado à página branca por finos fios negros, numa ligação mínima, essencial e
indispensável, no modo como o líder sábio sabe que, na hora de se tomar uma
atitude, apenas o mínimo tem que ser feito. Dentro do “feto” há gotas de
branco, que são a esperança em meio a um dia fechado de chuva. O interessante
do Abstracionismo é que o espectador vê o que quiser ver, rendendo inúmeras
interpretações, como em testagens em consultórios de Psicologia, em que o
terapeuta mostra ao paciente imagens, e o paciente tem que dizer o que vê,
possibilitando que, assim, o terapeuta chegue ao fundo das questões
existenciais do paciente, fazendo um diagnóstico preciso, matemático, frio,
científico, mortificado e sem ilusões tolinhas.
Acima, Sem Título (III). O fato de Mabe ter tantas obras sem título se
deve ao aspecto de livre interpretação das formas abstratas, de modo que o que
Joãozinho vê não é o mesmo o que Luizinho vê. Aqui, a forma preta é um
cadeirante caindo em queda livre, aprisionado a um aparelho, fazendo metáfora
com o fato de que todos somos cadeirantes, mas cadeirantes psíquicos. A
Sociedade surge em solidariedade aos que enfrentam dificuldades, e há vagas em
estacionamentos para certas necessidades de cidadãos, como paraplegia ou até
mesmo idade, sem falar em
gestantes. Certa vez vi um programa de televisão no qual um
cadeirante estava com dificuldade para embarcar em um ônibus, e dentro deste,
uma mulher, muito deselegante, disse “Vamos logo que eu tenho que trabalhar”, e
o cadeirante olhou para ela e disse “Eu também tenho que trabalhar”. Ou seja,
todos temos nossas dificuldades de embarque. A forma negra é uma formiga
esmagada, mortificada, talvez servindo de pesquisa para um biólogo, no fato
que, o que Tao faz, o Homem não faz igual, nem mesmo uma pequenina formiga. O
quadro tem uma grande moldura branca, como uma janela com vista para um vale
nevado, perfeito, alvo, numa neve imaculada esperando para ser deflorada pelos
passos de descobridores e colonizadores, como nas terras devolutas do
Continente Americano. Os quadros são janelas pelas quais podemos ver a alma do
artista, e a este se entregam, revelam-se, esperando ser compreendidas e
valorizadas, na busca de um artista pelo seu próprio fãclube, pelo seu público
fiel. O fundo do quadro mescla branco com bege, entrando em harmonia cromática
com a moldura em volta, numa terra muito bonita, onde a Paz tem um perfume
delicado e fino, nas metáforas por trás dos perfumes: o comportamento
minimalista é limpo, puro e perfumado, sem quaisquer excessos deselegantes e
desnecessários, pois o excesso é sujeira, e a sujeira está fadada para ir
privada abaixo, como uma mãe zelosa trocando as fraldas de seu bebê. A Vida é
ter que trocar as fraldas de tempos em tempos, sempre se renovando,
limpando-se, purificando-se, e a cor branca traz um peso metafórico grande,
como na cor das vestes de médicos, enfermeiros, espíritas e umbandistas. E o
Mercado traz às gôndolas sabões de roupas que prometem restaurar o branco
original das roupas, havendo na máquina de lavar roupas uma metáfora, pois Tao
é a grande lavanderia. E quem se lava, toma novo fôlego para seguir lutando
pela Vida. Acima do cadeirante, um grande ovo, como no filme Alien, em que um ser extraterrestre
altamente agressivo espalha terror, naquela pitadinha de agressividade que uma
pessoa tem que ter para enfrentar a luta pela Vida, adquirindo espírito de
jogador de futebol, sempre em busca do gol. Este grande ovo primordial concebeu
o cadeirante, na relação entre criador criatura, no modo como um artista se
sente pai e dono da própria obra, desenvolvendo uma relação de carinho e apego
por certos trabalhos, na sensação de vazio que um artista tem quando uma obra
sua é vendida, como um pai que vê o filho sair de casa para este estudar fora
ou se casar. O cadeirante segura um trompete, e os anjos do Céu anunciam a Nova
Era, mostrando que tudo na encarnação gira em torno da dimensão acima, a esta é
o grande ovo gerador, a misteriosa fonte vazia da qual tudo veio. Mistério é
imaginar o infinito, e este, se não existisse, não traria sentido, pois qual é
o sentido de não haver Vida Eterna? Mabe traz um perfume no ar, um vento de
renovação, trazendo o novo para a Arte Brasileira. Aqui, temos dois elementos
que têm relação um com o outro, como um casal, que, na vida de casados, divide
as tarefas, sendo bem sucedido o casamento entre pessoas que olham para o mesmo
lado. São os opostos nas pilhas de energia, e, numa sinergia, geram as coisas.
O grande ovo é uma Lua em eclipse, e um grande dragão engole o satélite,
fascinando tribos indígenas na cor de sangue eclipsante. O ovo é uma grande
nuvem negra, carregada de água, pronta para desabar e irrigar vales e rios. E o
cadeirante espera por essa tormenta, esperando se purificar com as lágrimas da
dor da Vida.
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