O francês Fernand Léger
sofreu influência de uma grande amizade – o cubista espanhol Pablo Picasso. É
comum e normal artistas influenciar uns aos outros, pois isso tem a ver com a
busca de referências que cada artista faz. Os textos e análises semióticas a
seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, A Grande Julie. A flor dourada é o tesouro da realização, no modo
de uma pessoa se sentir orgulhosa de sua própria vida, de seus feitos. A flor é
um Sol em si, emanando sua majestade por todo o sistema solar, alimentando seus
filhos com luz e calor, na capacidade dos grandes líderes – a capacidade de
distribuir. Um dos seios de Julie está claramente delineado, nos encantos da
feminilidade, na capacidade da mulher de alimentar com leite o seu bebê, no
ritual delicioso que é beber de uma caixinha de leite condensado, num momento
de puro prazer, em que o indivíduo está totalmente confortável e livre, numa
sensação de prazer libertador, no conforto de um lar. Os traços de Léger são
simples, quase infantis, como um Basquiat, procurando se comunicar da forma
mais clara possível, deixando para trás pretensões ou afetações vaidosas,
abraçando o simples, como no claro e didático bestseller Sapiens, na capacidade do grande escritor em conversar com as
mentes leitoras. Por trás de Julie há um fundo de negror profundo, como numa
agência bancária fechada, à noite, às escuras, guardando o dinheiro, fazendo
este estar seguro, como se fosse um banco espiritual, no qual o que há dentro
do cofre é Amor Incondicional, sendo o dinheiro uma tentativa humana em
conceber o metafísico, o pleno. Ao lado, uma grande cruz embasada por um fundo
dourado de Klimt, na riqueza psíquica de Jesus, o Uno, aquele que crê que o
Universo é um só, sob um só Pai, do qual tudo emana. A cruz é o peso
existencial, o fardo, a vida material que o espírito tem que carregar até o
momento do Desencarne, da libertação, da volta ao Mundo do Pensamento, onde a
Matéria nada significa. À frente da cruz vemos uma bicicleta branca, no modo
como um artista tem que praticar muito e trabalhar muito para atingir níveis de
excelência, a qual é um autoaprendizado, nunca podendo ser ensinada por livros
ou instituições de Ensino – é o desafio existencial. A bicicleta é o galgar do
Tempo, e a passagem deste faz de nós seres melhores e mais depurados, trazendo
a sabedoria, a qual é atenta ao minimalismo, ou seja, fazer só o que é
necessário. Essa estrutura de bicicleta é um complexo intestinal, processando o
alimento, alimentando a Vida em Sociedade, a qual não pode prescindir da Arte,
nem da Liberdade de Expressão, pois a Arte só é possível na Liberdade; do
contrário, é Pseudoarte, é uma piada. Vemos duas borboletas que formam uma
bipolarização entre luz e escuro, no modo como a Vida tem que ser encarada nos
bons e nos maus momentos. As borboletas são a fertilidade da Natureza, que faz
com que lindos seres brotem de casulos feios e subestimados, na “transformação”
do patinho feio em cisne. E
o artista renasce a cada obra feita, sempre deixando para trás a pele antiga, como
uma serpente trocando de pele, renovando-se. Esta Julie é forte e corpulenta, e
parece que nada é capaz de atingi-la. Ela parece que usa uma armadura, como uma
Mulher Maravilha, rechaçando projéteis do inimigo, protegendo a si mesma e
protegendo aqueles que são indefesos, encontrando um propósito na Vida. Sua
pele é cinzenta, na sobriedade dos tons de cinza, no charme das fotos em preto
e branco, na simplicidade binária entre zero e um, fazendo com que uma linda
estrela de Cinema se pareça com um espírito depuradíssimo, o qual habita a
Dimensão Metafísica, reinando lá em tempos de prosperidade e Paz. Julie tem um
cabelo rubro, como um fogo ardente, ou copo de vinho tinto, no prazer de não se
encontrar culpa em um momento de recreação, de pausa, de descanso. Julie usa um
apertado cinto espartano, que é a disciplina, num trabalhador que encara o
trabalho a ser feito. E ela usa um colar de pérolas, as esferas filhas que
giram em torno da mesma Mãe provedora. Julie tem semblante sério, observando o
Mundo com realismo, sem maquiagens idealizadoras.
Acima, Criação do Mundo. É claramente um falo. Como é universal o
patriarcalismo! Aqui, é um homem falo, impondo leis numa tribo africana. A
cosmogonia fazendo metáfora com a Vida em si, no modo como é necessária a fertilidade
sexual para que bebês sejam feitos. Pode ser aqui um deus da fertilidade, num
princípio masculino de um macho alfa com seu harém, no machismo de que o oposto
não é bem visto – uma mulher com vários homens, do modo como as prostitutas
sofrem um estigma enorme. São os preconceitos do Mundo. O falo é a imposição de
leis e de limites sociais, sendo uma advertência, quase uma ameaça –
comporte-se; não ouse desafiar o grande falo, a grande régua reguladora. Por
meio das leis, o Ser Humano obtém um certo controle sobre a Vida em Sociedade,
buscando parecer-se ao máximo com a Dimensão Metafísica, onde a Ordem e a Paz
reinam intensamente, ininterruptamente. É a intenção do Ser Humano de compreender
o espiritual, o racional, o mental. Mas nem o Mundo e nem o Ser Humano são
perfeitos, e a Ordem, na Dimensão Física, sofre abalos constantes, recorrentes,
como na página policial de qualquer jornal; como na avidez de bandidos em
roubar caixas eletrônicos. É o Materialismo, a busca pelo mundano, pelo vulgar,
pelo perecível, do modo como, no Desencarne, a pessoa deixa um corpo para trás,
deixando também para traz tudo de relativo a este mesmo corpo, como gênero – o espírito
é assexuado, como na androginia dos anjos, que trazem o pensamento fálico
racional, mas também trazem beleza, muita beleza e perfume. Aqui, o homem falo
sorri, como numa rainha Elizabeth II, a qual aprendeu que sorrir em público
passa aos súditos uma ideia de clemência, moderação, delicadeza, civilidade e
graça, longe de soberanos tiranos, que oprimem o próprio povo, pois o líder que
não é amigo do próprio povo, não mais é líder. Este falo é como um canhão, na
gíria “canhão”, que serve para apontar mulheres feias, muito feias, ou seja, a
ausência de beleza, de Yin, sendo puro Yang, na agressividade em campo de
batalha, na cor de sangue de Marte, a estrela rubra, da Guerra, do soldado que
sangra e perece. É como um cano de revólver ou o formato de uma bala, de um
projétil, de um míssil, de um foguete. Como é universal o falo! Como no cacique
de uma tribo amazônica, numa espécie de “resposta” ao poder natural que uma
mulher tem de gerar filhos, amamentá-los e criá-los. É uma divisão de tarefas
entre masculino e feminino, divisão na qual a própria mulher gosta de estar
socialmente submetida a um falo regulador. Este homem falo é um obelisco ou uma
abrasiva pirâmide, seja no Egito, seja nas Américas, e isso fala sobre a
Verdade, o fálico fato, exposto à exaustão, trazendo clareza de intenções, como
na graciosa Terra da Estrela da Manhã, onde a beleza reina e onde os males
materiais são uma vaga e apagada lembrança. É a magia do Desencarne, uma etapa
que espera por absolutamente todos nós, sem qualquer exceção. As pernas deste
homem são robustas e fortes, como se tivesse a força para sustentar um corpo
social, no modo como a Sociedade exige do Homem o desenvolvimento da força, no
fato de que a Vida é feita de luta, muita luta. É um foguete ascendendo e
desafiando as leis materiais da Gravidade, desafiando a Matéria, trazendo um
sonho do Ser Humano, o sonho de conquistar o Cosmos à sua volta, no mistério
que ainda permanece: O que é o Universo? Qual é o propósito disso tudo? O falo
é a sensação de segurança, como ouvi de uma amiga falar de Portugal, um lugar
onde há qualidade de vida, e não a insegurança dos grandes centros urbanos
brasileiros. Aqui, o escuro opõe-se ao branco, como regras claras escritas em
papel, como regras de um esporte ou como regras de trânsito, no modo como as
regras ou são obedecidas, ou o Caos toma conta do Mundo. É uma convenção, um contrato
coletivo, no qual os que não se comportam, sofrem penalidades. É um juiz
apitando em um campo de futebol, sem dó nem piedade dos que cometem infrações.
É a imagem que se tem de Deus – um patriarca. E o Mundo é criado com toda essa
virilidade, no Homem tentando “imitar” a fertilidade da Mulher.
Acima, Desenho da Pista de Patinação da Cortina da Cena – uma tradução
livre que fiz da obra, a qual encontrei em inglês na Internet. Aqui, temos o
“caos” de uma festa, de um momento de interação social, no qual damas e
cavalheiros se misturam, como frutas em um liquidificador para se fazer um
suco. É um quadro colorido, que flerta com o Cubismo, com formas geométricas
diversas e cores vibrantes, e podemos ouvir música esfuziante, e ouvir os
gritos e cantos dos participantes da celebração, e podemos sentir o cheiro
marcante de tabaco, pois nas festas os fumantes se sentem a vontade, sem as
crescentes restrições sociais antifumantes. Aqui, os cavalheiros têm polidos
bigodes, cuidadosamente delineados, preparando estes homens para o momento de
acontecimento social, pois as festas, momentos passageiros de alegria e
euforia, fazem metáfora com a alegria inabalável da dimensão acima. Findada a
festa, a Vida segue em toda sua seriedade, como diz a canção: Tristeza não tem
fim; felicidade, sim. Estar encarnado é isso – encarar uma manchinha negra no
Sol, todos os dias. Aqui, vemos calçados masculinos e femininos dançando,
arrastando-se pelo salão, na inevitável sujeira dos espaços festivos, pois, depois
da festa, vem o momento de varrer o salão, e a pessoa tem que encarar a velha
rotina de limpeza e manutenção. É a vicissitude se desdobrando, no ritual
inevitável que é o ato de limpeza, um ritual pelo qual a pessoa tenta sondar o
mental, o limpo, na limpa razão matemática, onde não há espaço para sofrimento
nem sujeira, na frase eterna de um pensador grego: A Lei é a Razão, livre de Paixão, ou seja, livre de sofrimento,
muito longe da terrível coroa de espinhos do Salvador. Este é um quadro que
traz Música. Os olhos dos participantes estão abertos e atentos, talvez
sondando no baile um amor, um caso amoroso, um namoro, na eterna carência
afetiva do Ser Humano. Vemos formas arredondadas como confete em um baile de
Carnaval, no modo brasileiro de se fazer metáfora com a força vibrante que une
e rege o Universo – cada sociedade tem suas formas de representar essa força,
na inevitável universalidade plural. Vemos também linhas retas, mas não são
linhas agressivas, pois estão submetidas às diagonais, à falta de sisudez no
momento da festa, com linhas retas subvertidas, divertindo-se na liquidiscência
festiva. Aqui, as pessoas flertam umas com as outras, na magia de um momento de
dança, pois, já ouvi dizer, é um bálsamo para a alma ficar molhado de suor de
tanto bailar por uma pista de dança, num fato que já delineei aqui no blog: as
Artes estão umas dentro das outras: O que seria da Dança sem a Música? O que
seria do Cinema sem as Artes Plásticas? O que seria do Teatro sem a Literatura?
Léger nos traz um momento de uma explosão, de um orgasmo, num momento breve,
eternizado por pincel, tinta e tela. É como uma cadeia alimentar confusa, onde
o Ser Humano busca observar lógica e ordem, na imposição de Razão sobre a
Loucura, numa peça de Teatro que assisti na adolescência: Razão e Loucura
abraçam-se ao final, na eterna lei de que tudo traz em sai própria contradição,
um sinal do senso de humor de Tao, de Deus, como no divertido filme Dogma, no qual Deus é uma mulher,
interpretada pela roqueira Alanis Morissette, filme no qual Deus é dito ser solitário,
porém engraçado, muito bem humorado, o maior piadista de todos. O senso de
humor traz o prazer liquidiscente do agradável líquido amniótico, na sensação
de conforto e, consequentemente, de liberdade. Quando visitamos alguém, o
anfitrião nos diz: Fique a vontade. E ficar a vontade é estar livre para se
sentar onde e como quiser. Num momento etílico de uma festa, as pessoas,
alcoolizadas, ficam muito mais a vontade do que se não estivessem alcoolizadas.
Não estou falando mal do álcool, pois sou grande apreciador de vinhos. A
sensação de álcool no sangue é uma imitação (tosca) da plenitude espiritual,
uma espécie de orgasmo mental, que nada tem a ver com o orgasmo físico, carnal.
Neste quadro, temos um orgasmo eternizado, numa “suruba”, só que mental, e não
sexual. A cena teatral é o momento de interação social. A patinação é o prazer
em se deslizar suavemente, na sensação de liberdade de voar.
Acima, Natureza Morta com uma Caneca de Cerveja. A caneca é o prazer de um
drinque depois de um dia difícil, como na cena de A Rainha, em que esta está sentada e sozinha, bebendo um uisquinho
para abrandar a dureza do dia. E não é maravilhoso tomar um drinque assistindo
a um por do Sol? A caneca é a simplicidade, a ausência de pretensões, longe de
um chá servido com xícara, pires e colher. A simplicidade informal aconchega,
acolhe. Uma parte do fundo é em xadrez, como num tabuleiro lúdico, num jogo em
que o indivíduo é desafiado ao máximo, tendo que raciocinar intensamente para
matar o rei do oponente. E a Vida é um jogo em que cada um tem que aprender a
jogar, aprender por si, embora seja bom ter pessoas sábias no Mundo, mas cada
um tem que ser sábio por si – a construção de referência de conduta nobre é
boa, mas não é o suficiente. A superfície desta mesa traz a intenção cubista de
mostrar todos os lados de algo, e a mesa nos revela objetos estranhos,
parecendo-se com ovos cinzentos, na cor cinza de um dia duvidoso, em que a
dúvida existencial fica dividida: O que é a Vida – é tudo preto ou tudo branco?
Ou é ambos? Mais acima no quadro, geometrizações mondriânicas, como um painel
de controle intrincado, como numa cabine de aviação, num painel complexo o qual
tem que ser completamente conhecido e dominado pelo piloto, no modo como os
aviões são falos alados, fazendo metáfora com a liberdade de pensamento, com a
plenitude espiritual, a qual não pode ser completamente compreendida na
Dimensão Física. A fartura desta mesa é um lar abundante, numa mesa ao redor da
qual os membros de uma mesma família compartilham de tal abundância, na
metáfora que padres católicos dizem na igreja: Somos todos irmãos. Mas, apesar
destes esforços clericais, o Ser Humano está sempre se desviando no caminho
fácil, simples, que é Tao. O que é melhor – sujeira ou limpeza? Claro que é limpeza.
Mas o Ser Humano é eternamente seduzido por sujeira, confundindo esta com
abundância e fina complexidade. Na extrema direita, um pedaço de cortina azul,
na cor primordial do Mar que gerou a Vida na Terra, no mistério humano: Pode
haver Vida sem água e sem oxigênio? Por que estamos aqui na Terra? O que é a Terra
e a galáxia desta? A cortina é de um palco de Teatro, na cena social, na qual
todos temos um papel a desempenhar, numa ordem divina muito sutil (e forte),
que é a Divina Providência, a qual tece teias perfeitas, regendo as vidas
humanas em nome de uma realidade superior, metafísica, a qual corresponde ao “sangue
estelar” que todos temos: Somos todos membros de uma família real, a única
família que existe, pois o sobrenomes e dinastias mundanos perecem
espiritualmente. O fundo aqui chamado de “mondriânico” traz uma riqueza, uma
cornucópia em movimento, na demanda urbana de um grande centro citadino, com
uma vida cultural intensa, com cinemas, teatros etc. É a sedução de um grande
centro urbano como Nova York, fazendo metáfora com a vibração indescritível das
cidades mentais, espirituais. É como uma planta artificial: esta pode se
parecer ao máximo com uma planta de verdade, mas não é uma planta de fato, no
modo como o Homem não imita o que Tao faz, o que Deus trama. Na extrema
esquerda inferior, vemos uma forma estelar, na sedução de uma majestosa noite
estrelada. Esta estrela é o talento de um artista, o qual brilha ao mostrar sua
própria inteligência, pois isto é tudo o que uma pessoa tem que mostrar: Cabeça.
A estrela é também uma aranha, caminhando cautelosamente, tecendo teias de
perfeição apolínea, depurada, nas teias existenciais que nos envolvem. Podemos
ouvir o som da cerveja sendo servida na caneca, e podemos sentir o odor de
cevada. É um momento em que a pessoa se permite relaxar e descansar, pois a
Vida não é só labor.
Acima, Homem com um Chapéu Azul. As linhas negras regem o quadro, trazendo
limites sisudos para uma cena tão colorida e alegre. O homem segura um ramo com
flores e folhas, as quais são a Vida em sua implacável força, como a beleza se
impondo, assinalando a vitória da Mente sobre a Matéria. O homem habita o
centro da cena, e está sério, na seriedade de um artista que labora em seu
estúdio, tendo uma vida produtiva, mas não workaholic, pois aprendi que os
workaholics não vencem, pois não respeitam a si mesmo e, também, não respeitam
outrem, sendo assim o workaholic derrotado. O homem é pálido como uma folha
branca de papel, esperando para que algo seja escrito, na folha em branco que é
a Vida, esperando para ser preenchida pelas ações e pelas escolhas do
indivíduo. O homem usa um chapéu de cor nobre, um azul del Rey, na metáfora do
que é o “sangue azul”, sendo este uma referência mundana, pois só seria
referência espiritual se não fosse excludente, no modo como um plebeu é
excluído e tido como não nobre. A camisa do homem é colorida, trazendo o tom de
diversidade, de pluralidade, no modo como as diferenças têm que ser
respeitadas, no conceito de Igualdade: cada pessoa é única mas somos todos
iguais, numa bela contradição. À esquerda, uma grande jarra, talvez de vinho,
contendo o sangue, o líquido essencial da Vida, a seiva que permeia todos os
seres vivos, na orquestra que é a Vida orgânica, na qual o humano encarnado
está inserido, tendo este que lidar com as vicissitudes materiais, como doenças
ou como simples incapacidade de querer enxergar além do Plano Físico, como os
psicopatas, que não veem além da Matéria; não veem Tao, sendo este a nobreza
eterna. A jarra é a água fertilizando terras, nutrindo sistemas, transparente
como a misteriosa Matéria Escura, que une o Cosmos. À direita, formas que
parecem ovos, na força da Vida em eclodir e trazer ao Mundo o novo, a Vida
renovada, como num ninho de Páscoa, com mágicos ovos coloridos, com o aroma de
chocolate delicioso, com o sedutor barulho do plástico da embalagem ser
deflorado, havendo no interior oco mais Vida, como bonecas russas abrigando
umas às outras, na metáfora do que é uma família, com suas várias gerações.
Acima dos ovos, um arco, que é a Humildade, no sentido de que a pessoa tem que
ser humilde e deixar de lado as megalomanias do Ego, o qual só atrapalha, pois
o egocêntrico não consegue enxergar além do próprio umbigo. Estes ramos de
flores parecem se mexer, como serpentes, sempre com Vida abundante e
insinuante, como córregos tortuosos que são atraídos pela Força da Gravidade, a
qual faz metáfora com o termo “pés no chão” – o Mundo é de quem é realista.
Este quadro traz uma candura quase infantil, com formas que esbanjam
simplicidade, rechaçando excessos gráficos. Linhas retas e tortuosas, ou seja,
racionalidade e organicidade convivem juntas, trazendo opostos da mesma moeda.
Essas linhas negras são serpentes que fluem por um ecossistema, respirando,
vivendo, na força enigmática: O que é, de fato, a Vida? É um mistério
insondável. Aqui, a cor azul tem destaque na cena, da cor do céu, da cor da
liberdade como velejar num dia ensolarado, no encanto de um dia Sol ameno, nem
muito frio, nem muito quente, no aspecto ideal que é o frescor matemático. As
flores brancas clamam por Paz, num Fernand Léger que testemunhou a I Guerra
Mundial. A Arte quer Paz, e não Guerra. As guerras desestabilizam sistemas e
fazem a Arte se tornar invisível. E do ramo de flores, brota um ramo verde, como
um irmão que nasceu diferente numa família, no modo como o ser diferente, na
Vida em Sociedade, tende a ser marginalizado. O ramo verde é a esperança de um
dia melhor, sem tantas quinas e arestas dolorosas. Este ramo também pode ser um
dos braços do homem de chapéu, numa intenção integradora, unindo pessoas que, a
princípio, nada têm a ver uma com a outra. É o desafio de um Ser Humano ver
outro Ser Humano como igual, nas sofisticações diplomáticas, pois o diplomata
tem o dom de ver e saber que o Ser Humano é universal. E o artista é uma espécie
de embaixador, representando um Mundo melhor, onde o Pensamento reina.
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