quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Legado



O francês Fernand Léger sofreu influência de uma grande amizade – o cubista espanhol Pablo Picasso. É comum e normal artistas influenciar uns aos outros, pois isso tem a ver com a busca de referências que cada artista faz. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, A Grande Julie. A flor dourada é o tesouro da realização, no modo de uma pessoa se sentir orgulhosa de sua própria vida, de seus feitos. A flor é um Sol em si, emanando sua majestade por todo o sistema solar, alimentando seus filhos com luz e calor, na capacidade dos grandes líderes – a capacidade de distribuir. Um dos seios de Julie está claramente delineado, nos encantos da feminilidade, na capacidade da mulher de alimentar com leite o seu bebê, no ritual delicioso que é beber de uma caixinha de leite condensado, num momento de puro prazer, em que o indivíduo está totalmente confortável e livre, numa sensação de prazer libertador, no conforto de um lar. Os traços de Léger são simples, quase infantis, como um Basquiat, procurando se comunicar da forma mais clara possível, deixando para trás pretensões ou afetações vaidosas, abraçando o simples, como no claro e didático bestseller Sapiens, na capacidade do grande escritor em conversar com as mentes leitoras. Por trás de Julie há um fundo de negror profundo, como numa agência bancária fechada, à noite, às escuras, guardando o dinheiro, fazendo este estar seguro, como se fosse um banco espiritual, no qual o que há dentro do cofre é Amor Incondicional, sendo o dinheiro uma tentativa humana em conceber o metafísico, o pleno. Ao lado, uma grande cruz embasada por um fundo dourado de Klimt, na riqueza psíquica de Jesus, o Uno, aquele que crê que o Universo é um só, sob um só Pai, do qual tudo emana. A cruz é o peso existencial, o fardo, a vida material que o espírito tem que carregar até o momento do Desencarne, da libertação, da volta ao Mundo do Pensamento, onde a Matéria nada significa. À frente da cruz vemos uma bicicleta branca, no modo como um artista tem que praticar muito e trabalhar muito para atingir níveis de excelência, a qual é um autoaprendizado, nunca podendo ser ensinada por livros ou instituições de Ensino – é o desafio existencial. A bicicleta é o galgar do Tempo, e a passagem deste faz de nós seres melhores e mais depurados, trazendo a sabedoria, a qual é atenta ao minimalismo, ou seja, fazer só o que é necessário. Essa estrutura de bicicleta é um complexo intestinal, processando o alimento, alimentando a Vida em Sociedade, a qual não pode prescindir da Arte, nem da Liberdade de Expressão, pois a Arte só é possível na Liberdade; do contrário, é Pseudoarte, é uma piada. Vemos duas borboletas que formam uma bipolarização entre luz e escuro, no modo como a Vida tem que ser encarada nos bons e nos maus momentos. As borboletas são a fertilidade da Natureza, que faz com que lindos seres brotem de casulos feios e subestimados, na “transformação” do patinho feio em cisne. E o artista renasce a cada obra feita, sempre deixando para trás a pele antiga, como uma serpente trocando de pele, renovando-se. Esta Julie é forte e corpulenta, e parece que nada é capaz de atingi-la. Ela parece que usa uma armadura, como uma Mulher Maravilha, rechaçando projéteis do inimigo, protegendo a si mesma e protegendo aqueles que são indefesos, encontrando um propósito na Vida. Sua pele é cinzenta, na sobriedade dos tons de cinza, no charme das fotos em preto e branco, na simplicidade binária entre zero e um, fazendo com que uma linda estrela de Cinema se pareça com um espírito depuradíssimo, o qual habita a Dimensão Metafísica, reinando lá em tempos de prosperidade e Paz. Julie tem um cabelo rubro, como um fogo ardente, ou copo de vinho tinto, no prazer de não se encontrar culpa em um momento de recreação, de pausa, de descanso. Julie usa um apertado cinto espartano, que é a disciplina, num trabalhador que encara o trabalho a ser feito. E ela usa um colar de pérolas, as esferas filhas que giram em torno da mesma Mãe provedora. Julie tem semblante sério, observando o Mundo com realismo, sem maquiagens idealizadoras.


Acima, Criação do Mundo. É claramente um falo. Como é universal o patriarcalismo! Aqui, é um homem falo, impondo leis numa tribo africana. A cosmogonia fazendo metáfora com a Vida em si, no modo como é necessária a fertilidade sexual para que bebês sejam feitos. Pode ser aqui um deus da fertilidade, num princípio masculino de um macho alfa com seu harém, no machismo de que o oposto não é bem visto – uma mulher com vários homens, do modo como as prostitutas sofrem um estigma enorme. São os preconceitos do Mundo. O falo é a imposição de leis e de limites sociais, sendo uma advertência, quase uma ameaça – comporte-se; não ouse desafiar o grande falo, a grande régua reguladora. Por meio das leis, o Ser Humano obtém um certo controle sobre a Vida em Sociedade, buscando parecer-se ao máximo com a Dimensão Metafísica, onde a Ordem e a Paz reinam intensamente, ininterruptamente. É a intenção do Ser Humano de compreender o espiritual, o racional, o mental. Mas nem o Mundo e nem o Ser Humano são perfeitos, e a Ordem, na Dimensão Física, sofre abalos constantes, recorrentes, como na página policial de qualquer jornal; como na avidez de bandidos em roubar caixas eletrônicos. É o Materialismo, a busca pelo mundano, pelo vulgar, pelo perecível, do modo como, no Desencarne, a pessoa deixa um corpo para trás, deixando também para traz tudo de relativo a este mesmo corpo, como gênero – o espírito é assexuado, como na androginia dos anjos, que trazem o pensamento fálico racional, mas também trazem beleza, muita beleza e perfume. Aqui, o homem falo sorri, como numa rainha Elizabeth II, a qual aprendeu que sorrir em público passa aos súditos uma ideia de clemência, moderação, delicadeza, civilidade e graça, longe de soberanos tiranos, que oprimem o próprio povo, pois o líder que não é amigo do próprio povo, não mais é líder. Este falo é como um canhão, na gíria “canhão”, que serve para apontar mulheres feias, muito feias, ou seja, a ausência de beleza, de Yin, sendo puro Yang, na agressividade em campo de batalha, na cor de sangue de Marte, a estrela rubra, da Guerra, do soldado que sangra e perece. É como um cano de revólver ou o formato de uma bala, de um projétil, de um míssil, de um foguete. Como é universal o falo! Como no cacique de uma tribo amazônica, numa espécie de “resposta” ao poder natural que uma mulher tem de gerar filhos, amamentá-los e criá-los. É uma divisão de tarefas entre masculino e feminino, divisão na qual a própria mulher gosta de estar socialmente submetida a um falo regulador. Este homem falo é um obelisco ou uma abrasiva pirâmide, seja no Egito, seja nas Américas, e isso fala sobre a Verdade, o fálico fato, exposto à exaustão, trazendo clareza de intenções, como na graciosa Terra da Estrela da Manhã, onde a beleza reina e onde os males materiais são uma vaga e apagada lembrança. É a magia do Desencarne, uma etapa que espera por absolutamente todos nós, sem qualquer exceção. As pernas deste homem são robustas e fortes, como se tivesse a força para sustentar um corpo social, no modo como a Sociedade exige do Homem o desenvolvimento da força, no fato de que a Vida é feita de luta, muita luta. É um foguete ascendendo e desafiando as leis materiais da Gravidade, desafiando a Matéria, trazendo um sonho do Ser Humano, o sonho de conquistar o Cosmos à sua volta, no mistério que ainda permanece: O que é o Universo? Qual é o propósito disso tudo? O falo é a sensação de segurança, como ouvi de uma amiga falar de Portugal, um lugar onde há qualidade de vida, e não a insegurança dos grandes centros urbanos brasileiros. Aqui, o escuro opõe-se ao branco, como regras claras escritas em papel, como regras de um esporte ou como regras de trânsito, no modo como as regras ou são obedecidas, ou o Caos toma conta do Mundo. É uma convenção, um contrato coletivo, no qual os que não se comportam, sofrem penalidades. É um juiz apitando em um campo de futebol, sem dó nem piedade dos que cometem infrações. É a imagem que se tem de Deus – um patriarca. E o Mundo é criado com toda essa virilidade, no Homem tentando “imitar” a fertilidade da Mulher.


Acima, Desenho da Pista de Patinação da Cortina da Cena – uma tradução livre que fiz da obra, a qual encontrei em inglês na Internet. Aqui, temos o “caos” de uma festa, de um momento de interação social, no qual damas e cavalheiros se misturam, como frutas em um liquidificador para se fazer um suco. É um quadro colorido, que flerta com o Cubismo, com formas geométricas diversas e cores vibrantes, e podemos ouvir música esfuziante, e ouvir os gritos e cantos dos participantes da celebração, e podemos sentir o cheiro marcante de tabaco, pois nas festas os fumantes se sentem a vontade, sem as crescentes restrições sociais antifumantes. Aqui, os cavalheiros têm polidos bigodes, cuidadosamente delineados, preparando estes homens para o momento de acontecimento social, pois as festas, momentos passageiros de alegria e euforia, fazem metáfora com a alegria inabalável da dimensão acima. Findada a festa, a Vida segue em toda sua seriedade, como diz a canção: Tristeza não tem fim; felicidade, sim. Estar encarnado é isso – encarar uma manchinha negra no Sol, todos os dias. Aqui, vemos calçados masculinos e femininos dançando, arrastando-se pelo salão, na inevitável sujeira dos espaços festivos, pois, depois da festa, vem o momento de varrer o salão, e a pessoa tem que encarar a velha rotina de limpeza e manutenção. É a vicissitude se desdobrando, no ritual inevitável que é o ato de limpeza, um ritual pelo qual a pessoa tenta sondar o mental, o limpo, na limpa razão matemática, onde não há espaço para sofrimento nem sujeira, na frase eterna de um pensador grego: A Lei é a Razão, livre de Paixão, ou seja, livre de sofrimento, muito longe da terrível coroa de espinhos do Salvador. Este é um quadro que traz Música. Os olhos dos participantes estão abertos e atentos, talvez sondando no baile um amor, um caso amoroso, um namoro, na eterna carência afetiva do Ser Humano. Vemos formas arredondadas como confete em um baile de Carnaval, no modo brasileiro de se fazer metáfora com a força vibrante que une e rege o Universo – cada sociedade tem suas formas de representar essa força, na inevitável universalidade plural. Vemos também linhas retas, mas não são linhas agressivas, pois estão submetidas às diagonais, à falta de sisudez no momento da festa, com linhas retas subvertidas, divertindo-se na liquidiscência festiva. Aqui, as pessoas flertam umas com as outras, na magia de um momento de dança, pois, já ouvi dizer, é um bálsamo para a alma ficar molhado de suor de tanto bailar por uma pista de dança, num fato que já delineei aqui no blog: as Artes estão umas dentro das outras: O que seria da Dança sem a Música? O que seria do Cinema sem as Artes Plásticas? O que seria do Teatro sem a Literatura? Léger nos traz um momento de uma explosão, de um orgasmo, num momento breve, eternizado por pincel, tinta e tela. É como uma cadeia alimentar confusa, onde o Ser Humano busca observar lógica e ordem, na imposição de Razão sobre a Loucura, numa peça de Teatro que assisti na adolescência: Razão e Loucura abraçam-se ao final, na eterna lei de que tudo traz em sai própria contradição, um sinal do senso de humor de Tao, de Deus, como no divertido filme Dogma, no qual Deus é uma mulher, interpretada pela roqueira Alanis Morissette, filme no qual Deus é dito ser solitário, porém engraçado, muito bem humorado, o maior piadista de todos. O senso de humor traz o prazer liquidiscente do agradável líquido amniótico, na sensação de conforto e, consequentemente, de liberdade. Quando visitamos alguém, o anfitrião nos diz: Fique a vontade. E ficar a vontade é estar livre para se sentar onde e como quiser. Num momento etílico de uma festa, as pessoas, alcoolizadas, ficam muito mais a vontade do que se não estivessem alcoolizadas. Não estou falando mal do álcool, pois sou grande apreciador de vinhos. A sensação de álcool no sangue é uma imitação (tosca) da plenitude espiritual, uma espécie de orgasmo mental, que nada tem a ver com o orgasmo físico, carnal. Neste quadro, temos um orgasmo eternizado, numa “suruba”, só que mental, e não sexual. A cena teatral é o momento de interação social. A patinação é o prazer em se deslizar suavemente, na sensação de liberdade de voar.


Acima, Natureza Morta com uma Caneca de Cerveja. A caneca é o prazer de um drinque depois de um dia difícil, como na cena de A Rainha, em que esta está sentada e sozinha, bebendo um uisquinho para abrandar a dureza do dia. E não é maravilhoso tomar um drinque assistindo a um por do Sol? A caneca é a simplicidade, a ausência de pretensões, longe de um chá servido com xícara, pires e colher. A simplicidade informal aconchega, acolhe. Uma parte do fundo é em xadrez, como num tabuleiro lúdico, num jogo em que o indivíduo é desafiado ao máximo, tendo que raciocinar intensamente para matar o rei do oponente. E a Vida é um jogo em que cada um tem que aprender a jogar, aprender por si, embora seja bom ter pessoas sábias no Mundo, mas cada um tem que ser sábio por si – a construção de referência de conduta nobre é boa, mas não é o suficiente. A superfície desta mesa traz a intenção cubista de mostrar todos os lados de algo, e a mesa nos revela objetos estranhos, parecendo-se com ovos cinzentos, na cor cinza de um dia duvidoso, em que a dúvida existencial fica dividida: O que é a Vida – é tudo preto ou tudo branco? Ou é ambos? Mais acima no quadro, geometrizações mondriânicas, como um painel de controle intrincado, como numa cabine de aviação, num painel complexo o qual tem que ser completamente conhecido e dominado pelo piloto, no modo como os aviões são falos alados, fazendo metáfora com a liberdade de pensamento, com a plenitude espiritual, a qual não pode ser completamente compreendida na Dimensão Física. A fartura desta mesa é um lar abundante, numa mesa ao redor da qual os membros de uma mesma família compartilham de tal abundância, na metáfora que padres católicos dizem na igreja: Somos todos irmãos. Mas, apesar destes esforços clericais, o Ser Humano está sempre se desviando no caminho fácil, simples, que é Tao. O que é melhor – sujeira ou limpeza? Claro que é limpeza. Mas o Ser Humano é eternamente seduzido por sujeira, confundindo esta com abundância e fina complexidade. Na extrema direita, um pedaço de cortina azul, na cor primordial do Mar que gerou a Vida na Terra, no mistério humano: Pode haver Vida sem água e sem oxigênio? Por que estamos aqui na Terra? O que é a Terra e a galáxia desta? A cortina é de um palco de Teatro, na cena social, na qual todos temos um papel a desempenhar, numa ordem divina muito sutil (e forte), que é a Divina Providência, a qual tece teias perfeitas, regendo as vidas humanas em nome de uma realidade superior, metafísica, a qual corresponde ao “sangue estelar” que todos temos: Somos todos membros de uma família real, a única família que existe, pois o sobrenomes e dinastias mundanos perecem espiritualmente. O fundo aqui chamado de “mondriânico” traz uma riqueza, uma cornucópia em movimento, na demanda urbana de um grande centro citadino, com uma vida cultural intensa, com cinemas, teatros etc. É a sedução de um grande centro urbano como Nova York, fazendo metáfora com a vibração indescritível das cidades mentais, espirituais. É como uma planta artificial: esta pode se parecer ao máximo com uma planta de verdade, mas não é uma planta de fato, no modo como o Homem não imita o que Tao faz, o que Deus trama. Na extrema esquerda inferior, vemos uma forma estelar, na sedução de uma majestosa noite estrelada. Esta estrela é o talento de um artista, o qual brilha ao mostrar sua própria inteligência, pois isto é tudo o que uma pessoa tem que mostrar: Cabeça. A estrela é também uma aranha, caminhando cautelosamente, tecendo teias de perfeição apolínea, depurada, nas teias existenciais que nos envolvem. Podemos ouvir o som da cerveja sendo servida na caneca, e podemos sentir o odor de cevada. É um momento em que a pessoa se permite relaxar e descansar, pois a Vida não é só labor.


Acima, Homem com um Chapéu Azul. As linhas negras regem o quadro, trazendo limites sisudos para uma cena tão colorida e alegre. O homem segura um ramo com flores e folhas, as quais são a Vida em sua implacável força, como a beleza se impondo, assinalando a vitória da Mente sobre a Matéria. O homem habita o centro da cena, e está sério, na seriedade de um artista que labora em seu estúdio, tendo uma vida produtiva, mas não workaholic, pois aprendi que os workaholics não vencem, pois não respeitam a si mesmo e, também, não respeitam outrem, sendo assim o workaholic derrotado. O homem é pálido como uma folha branca de papel, esperando para que algo seja escrito, na folha em branco que é a Vida, esperando para ser preenchida pelas ações e pelas escolhas do indivíduo. O homem usa um chapéu de cor nobre, um azul del Rey, na metáfora do que é o “sangue azul”, sendo este uma referência mundana, pois só seria referência espiritual se não fosse excludente, no modo como um plebeu é excluído e tido como não nobre. A camisa do homem é colorida, trazendo o tom de diversidade, de pluralidade, no modo como as diferenças têm que ser respeitadas, no conceito de Igualdade: cada pessoa é única mas somos todos iguais, numa bela contradição. À esquerda, uma grande jarra, talvez de vinho, contendo o sangue, o líquido essencial da Vida, a seiva que permeia todos os seres vivos, na orquestra que é a Vida orgânica, na qual o humano encarnado está inserido, tendo este que lidar com as vicissitudes materiais, como doenças ou como simples incapacidade de querer enxergar além do Plano Físico, como os psicopatas, que não veem além da Matéria; não veem Tao, sendo este a nobreza eterna. A jarra é a água fertilizando terras, nutrindo sistemas, transparente como a misteriosa Matéria Escura, que une o Cosmos. À direita, formas que parecem ovos, na força da Vida em eclodir e trazer ao Mundo o novo, a Vida renovada, como num ninho de Páscoa, com mágicos ovos coloridos, com o aroma de chocolate delicioso, com o sedutor barulho do plástico da embalagem ser deflorado, havendo no interior oco mais Vida, como bonecas russas abrigando umas às outras, na metáfora do que é uma família, com suas várias gerações. Acima dos ovos, um arco, que é a Humildade, no sentido de que a pessoa tem que ser humilde e deixar de lado as megalomanias do Ego, o qual só atrapalha, pois o egocêntrico não consegue enxergar além do próprio umbigo. Estes ramos de flores parecem se mexer, como serpentes, sempre com Vida abundante e insinuante, como córregos tortuosos que são atraídos pela Força da Gravidade, a qual faz metáfora com o termo “pés no chão” – o Mundo é de quem é realista. Este quadro traz uma candura quase infantil, com formas que esbanjam simplicidade, rechaçando excessos gráficos. Linhas retas e tortuosas, ou seja, racionalidade e organicidade convivem juntas, trazendo opostos da mesma moeda. Essas linhas negras são serpentes que fluem por um ecossistema, respirando, vivendo, na força enigmática: O que é, de fato, a Vida? É um mistério insondável. Aqui, a cor azul tem destaque na cena, da cor do céu, da cor da liberdade como velejar num dia ensolarado, no encanto de um dia Sol ameno, nem muito frio, nem muito quente, no aspecto ideal que é o frescor matemático. As flores brancas clamam por Paz, num Fernand Léger que testemunhou a I Guerra Mundial. A Arte quer Paz, e não Guerra. As guerras desestabilizam sistemas e fazem a Arte se tornar invisível. E do ramo de flores, brota um ramo verde, como um irmão que nasceu diferente numa família, no modo como o ser diferente, na Vida em Sociedade, tende a ser marginalizado. O ramo verde é a esperança de um dia melhor, sem tantas quinas e arestas dolorosas. Este ramo também pode ser um dos braços do homem de chapéu, numa intenção integradora, unindo pessoas que, a princípio, nada têm a ver uma com a outra. É o desafio de um Ser Humano ver outro Ser Humano como igual, nas sofisticações diplomáticas, pois o diplomata tem o dom de ver e saber que o Ser Humano é universal. E o artista é uma espécie de embaixador, representando um Mundo melhor, onde o Pensamento reina.

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