O americano John Atherton chegou
a servir na Marinha durante a I Guerra Mundial. Fez curso em uma escola de Arte
em São Francisco,
Califórnia. Fez muitas capas para o periódico The Saturday Evening Post. Tem
obras que estão nas coleções dos museus Met e MoMA, ambos em Nova York. Homônimo
de um bispo anglicano que viveu há séculos, o artista John sofreu clara
influência do Surrealismo. Um bispo da Arte. Os textos e análises semióticas a
seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, A Caverna. As belezas internas de uma caverna, em tesouros
geológicos, como no interior de uma ametista, uma pedra que é feia e subestimada
por fora; linda por dentro, no sentido de que não devemos subestimar as
pessoas, sempre querendo observar o que a pessoa tem dentro, na mente. Aqui, é
como um reino natural, majestoso. Os picos no teto ameaçam cair, matando ou
ferindo os visitantes, na metáfora do termo “ponta de faca” – a faca está ali
quietinha no canto dela, ou seja, tome distância, respeite-a, e não pense em
dar murros... São formas geológicas fálicas, como no Código de Hamurabi, no grande
falo de obelisco que tem a missão de reger um povo e de trazer unidade a um
reino, no desafio que é conquistar a fé do Povo, um povo sempre atento aos
menores deslizes de seu líder, como um monarca recém empossado, com o desafio
de se mostrar respeitoso e clemente, muito longe do frio coração de um ditador,
um ditador que simplesmente faz com que o Povo sofra com fome e miséria, como
em um certo país latinoamericano no momento. São formas que lembram o famoso
“Dedo de Deus” na região serrana do Rio de Janeiro, num dedo rochoso que aponta
para o céu, tal qual uma pirâmide, uma seta que aponta para o sentido de
depuração, de gradual desprendimento material, sempre atento ao psíquico, ao
intelectual, rejeitando as ilusões mundanas como pedras preciosas. São como grandes
formigueiros, repletos de Vida, num sistema social que nunca para, como no
título de “cidade que nunca dorme” para Nova York. É a tentativa humana de compreender
as cidades metafísicas, dimensões onde não há fadiga, mas muito labor e
diversão – existe todo um plano divino para conosco. Esses “formigueiros” são
como ondas revoltas em um mar tenso, como forças d’água que ameaçam virar
barcos pesqueiros, como no romance Moby
Dick, em que o leitor, em certo ponto, começa a sentir como se estivesse
ondulando em um barco! É o desafio de obter Paz em um mundo tão aguerrido, tão
dividido por guerras e conflitos, na eterna tendência humana para a violência,
para a estupidez das ganâncias. As rochas pontiagudas no teto parecem gotejar
aos poucos, formando-se mineralmente num processo de muitos milênios, na calma
que a Natureza tem para se desdobrar, como galáxias que levam muito, muito
tempo para se formar, num Universo vasto ao ponto de ser imenso, imprevisível,
muitíssimo além de qualquer cogitação humana, pois o Ser Humano é uma singela
formiguinha em um formigueiro incomensurável. Esses picos são como cortinas em
uma sala suntuosa, num lugar que precisa ser iluminado artificialmente, no modo
humano de trazer luz e esclarecimento aos mistérios naturais, como um
telescópio Hubble, mirando nos confins do Universo, encontrando cada vez mais
galáxias, que se espalham pelo Cosmos como conchinhas à beiramar – é o hálito
marinho da Grande Mãe, Iemanjá. Nesta cena, há três pessoas pequeninas,
ínfimas, quase imperceptíveis. Essas pessoas expressam a pequenez do Ser Humano,
num ser em meio a um ambiente tão amplo, fazendo das Ciências meras tentativas
de obter esclarecimento, como me disse certa vez um professor: Fazer Ciência é
adivinhar como um relógio funciona sem poder abrir este. Aqui é como o interior
do Corpo Humano, cheio de veias e órgãos, na tentativa científica de explorar
sempre, sempre no desafio de se fazerem descobertas, numa intermitente sede por
Conhecimento. Nessas três pessoinhas, duas são um casal, representando a união
dos opostos que geram a Vida. A pessoinha sozinha é o sentimento de solidão, de
estar perdido, sentindo-se tão ínfimo e desimportante em um Mundo tão vasto e
desafiador. Aqui, temos uma certa claustrofobia, pois não estamos ao ar livre,
talvez num John catarseando um sentimento de opressão.
Acima, Formas Envelhecidas. Podemos observar uma semelhança entre Atherton
e Dalí, na forma inevitável como os artistas inspiram uns aos outros, como
comidas diferentes sendo assimiladas pelo mesmo estômago, ao mesmo tempo. Temos
aqui um lugar ermo, deserto, sem uma viva alma, talvez num artista catarseando
um sentimento de abandono e solidão. Podemos ouvir o barulho do Mar, das ondas
requebrando, na forma como a orla é uma página em branco, esperando para ser
preenchida, na sedução da passividade, do princípio feminino que seduz em sua
inércia, como água caindo para o nível mais baixo, na forma como o grande artista
é como uma força gravitacional, sempre puxando o espectador, sempre apimentando
as percepções deste. As canoas na areia parecem estar abandonadas, danificadas,
não mais prestando para pescar. É um cenário de abandono, como um amante opta
por chutar o outro, relegando este a um sentimento amargo de rejeição, fazendo
com que lágrimas sejam vertidas, na dança imprevisível dos sentimentos, das
paixões, talvez num John farto disso tudo, decidindo fazer da Arte um band-aid
que cure tais feridas sentimentais. A areia está intocada, virgem, sem qualquer
sinal de pegadas humanas, numa praia esquecida, ignorada, como perguntaram
certa vez à atriz Marília Pêra o que a entristecia, e a diva disse: “Um teatro
com plateia vazia”. Neste cenário de abandono, ninguém se importa com a praia
ou com as canoas, num céu de tons incertos, num dia de incerteza, como na
excruciante dúvida existencial de uma pessoa deprimida que simplesmente não
sabe o que fazer nem para onde ir. É um desnorteamento. Em primeiro plano no
quadro, um maquinário estranho, obsoleto e abandonado, com elementos incertos,
pois não sabemos ao certo para que servem. É como uma pessoa que não sabe qual
é o seu próprio lugar no Mundo, com peças enigmáticas, danificadas pela
passagem do tempo e pela maresia inevitável da orla. É algo sem qualquer
manutenção, sem qualquer cuidado, com uma vida que foi abandonada, só restando
vestígios incertos de inutilidade, como um ator se frustrando na carreira
cênica, optando por mudar de carreira e se tornar, por exemplo, advogado. É o
amargo sabor da frustração, mas um remédio amargo que acaba fazendo muito bem
ao amargurado. Vivemos num mundo em que o indivíduo vive obcecado em obter
sucesso, e a autoestima da pessoa desaba quando esta falha e fracassa. Vemos
aqui toras de madeira fincadas na areia, como os pregos que crucificaram Jesus,
atravessando a carne e tratando de fazer com que o indivíduo sinta na carne
toda a estupidez das violências humanas. Este maquinário incógnito tem prazo de
validade, e ficará ainda mais deteriorado, chegando a um ponto em que será
tragado pelo vendo e pelo solo, sendo apenas uma questão de tempo até que essas
formas sejam tragadas e eliminadas, com a força da Natureza se impondo, como
num dia chuvoso, em que o indivíduo tem que aceitar a água e sair de cada com
um guardachuva. São as vicissitudes da Matéria. Vemos aqui alguns fios
retorcidos, como tubos intestinais, como serpentes agonizando em uma situação
tão degradante, tão difícil. Vemos aqui um governo em franco colapso, caduco,
não mais sendo confiado pelo povo, num líder prestes a ser deposto e
substituído, na forma como a força do Povo acaba se impondo aos Poderes, pois
nunca ouvimos dizer que todo poder emana do Povo e em nome deste deve ser
exercido? Aqui, é como um motor de carro, que outrora funcionou e teve uma
função digna, um papel a desempenhar, tornando-se importante, útil. Temos aqui
um cenário de inutilidade, de obsolência. A luz do Sol aqui não á acalentadora,
mas desoladora, como uma pessoa exposta ao Sol sem usar protetor solar.
Exposição. Isto aqui já foi um corpo social vibrante, em que cada indivíduo
vivia feliz, tendo certeza de ter para si um papel importante, uma dignidade,
sentindo-se um agente da Vida e Sociedade. E não é um grande desafio para um
artista descobrir a sua própria função social?
Acima, Madona de uma Loja de Departamento. Esta recatada Madona está com
partes do rosto deterioradas, como uma imagem de altar que não resistiu à
passagem do Tempo, como uma peça sem serviço de restauro ou manutenção. Seu véu
lhe cobre a cabeça, num adereço indispensável à Virgem Santíssima, uma pessoa
que nunca em vida fez sexo, na crueldade da Sociedade Patriarcal, sociedade
esta que simplesmente tolha o prazer sexual da mulher. Aqui, a Madona tem um
olhar doce, cândido, olhando para fora do quadro, para o horizonte, talvez
vislumbrando o futuro do filho da Imaculada Conceição. As sobrancelhas da
Madona são impecavelmente depiladas, numa mulher vaidosa que frequenta o salão
de beleza, no essencial exercício da autoestima, na forma como cada pessoa tem
que gostar de si mesma, sem narcisismos. Não vemos aqui o filho desta Madona, e
o filho deve estar brincando no quintal enquanto a mãe prepara o almoço, no
machismo que prega que o lugar certo para uma mulher não é no mercado de
trabalho, mas pilotando um fogão e um tanque de lavar roupa. Esta Madona tem um
rosto jovem, na obsessão feminina em busca da juventude eterna, sendo proibido
que a mulher dê sinais de passagem do tempo, numa mulher à qual não é permitido
ter uma carreira, uma história, uma trajetória, ao contrário do homem, ao qual
é cobrado o desenvolvimento de uma trajetória. Então, a mulher fica relegada ao
mero papel insípido como água. São as ritualizações humanas em torno de gênero.
O cabelo da Madona não tem qualquer fio branco, no modo como a sociedade
estipula que, no homem, cabelo branco significa sabedoria; na mulher, desleixo.
Então, a indústria de cosméticos lança seus tentáculos na promessa da juventude
eterna, uma promessa que busca fazer harmonia com o fato de que, na Dimensão
Metafísica, somos todos jovens para sempre; na Dimensão Física, nem tanto.
Atrás da Madona, um manequim de vitrine, na sedução de lojas bem arrumadas,
sempre querendo exercer uma força gravitacional sobre os desejos humanos,
sempre querendo vender algo que, de fato, não pode ser vendido, como Felicidade
ou Preenchimento Existencial. Este manequim traz as formas dos padrões de
beleza, que exigem magreza da mulher, fabricando legiões de anoréxicas
bulímicas, escravas de tais padrões. Este manequim deteriorado é a decadência
moral da Sociedade de Consumo, uma sociedade que faz promessas as quais jamais
poderão ser cumpridas. Este manequim está capenga, incompleto, carecendo de
lógica, de pertinência. Está desconexo, e não faz sentido por si só. É a
sensação de pobreza e nudez, de vazio, pois quanto mais consumimos, mais vazios
nos sentimos... É uma virtude saber quando se tem o suficiente. A paisagem ao
fundo é encoberta e triste, num horizonte turvo, cujo futuro não podemos prever
– a Sociedade de Consumo não pode te dizer quem és. Podemos ouvir um som de um
gélido vento cortante, desolador, num terreno deserto. Esta Madona é como o
famoso busto de Nefertiti sendo descoberto, numa imagem que resiste à passagem
do Tempo, com algum dano mínimo. Apesar desta Madona não estar claramente
sorrindo, ela tem um rosto feliz, satisfeito, como um artista que se descobre
feliz no que faz. Seus olhos trazem um sorriso de Monalisa, e é uma imagem de
contentamento, como se a Madona soubesse que sofre os refutáveis assédios das
interpelações do consumo. A Virgem rejeita o mundano, o material, e olha mais
longe no horizonte, buscando um tipo de satisfação que não pode (e nunca
poderá) ser vendida. Este manequim parece estar empalado por uma lança, por um
princípio agressivo, como a retilinidade do pensamento racional, fazendo
atalhos e indo logo ao que interessa, que é a intelectualização – a produção de
ideias e pensamentos. O manequim é como uma múmia, desafiando a passagem
cronológica. Esta Madona está decapitada, alienada do resto do corpo, alienada
do desejo sexual ou gastronômico, no modo como só a mente é o que sobrevive ao
Desencarne.
Acima, No Resort de Esqui – capa do The Saturday Evening Post. A sedução
das terras altas nevadas, como Bariloche, na Argentina. A neve seduz por sua
pureza, sua limpeza, como certa vez com uma professora que tive, a qual mal
podia dar aula porque estava “hipnotizada” pela neve que caía lá fora. Aqui, as
luvas têm desenhos geométricos típicos da arte gráfica dos indígenas
americanos, num Estados Unidos que mesclou muitas etnias para formar sua
identidade cultural nacional, como nas tapeçarias indígenas do hotel assombrado
de O Iluminado. Os instrumentos de
esqui são Yang, ágeis, racionais, e têm uma utilidade, não se importando muito
com beleza ou graciosidade – aqui, a beleza fica por conta da paisagem nevada,
com seus pinheiros pontiagudos, como se quisessem furar o céu com sua
agressividade, no modo como os esportes existem para que se desenvolva a
agressividade, num contexto competitivo, em que muitos espermatozoides competem
pelo mesmo óvulo. Os picos apontam para um céu infinito, na magia das regiões
serranas, montanhosas, fazendo formidável metáfora com as cidades metafísicas,
que gravitam acima de nós, em uma dimensão imaterial. Esses equipamentos estão
dispostos ao lado de uma construção típica americana, com casas construídas com
toras, cortadas pela viril força dos lenhadores, no perfume de pino que é
exalado com o corte das árvores aqui, no frescor de uma natureza sempre
provendo algo aos humanos que habitam tal ecossistema. Aqui, o céu está limpo,
limpíssimo, numa cor rosada, num entardecer ou num alvorecer, como no
espetacular Sol poente no Lago Guaíba, em Porto Alegre. É uma
luminosidade cândida, delicada, cheirando a talco de bebê. A neve se acumula
nas toras de madeira, e por dentro deve haver uma formidável lareira,
esquentando um cômodo e eliminando a umidade do interior da casa, na sedução de
uma lareira acesa em um dia frio, recebendo família e amigos em torno do fogo,
na guinada na História da Humanidade que foi a descoberta do controle do fogo.
Podemos ouvir um vento com um sutil uivo, e a paisagem ao ar livre nos inspira
a sair de casa e aproveitar o formidável dia, como na nevada de 1994 em Caxias
do Sul, quando a cidade amanheceu branca. Os esquis retilíneos são a
agressividade do esquiador, sempre cortando a neve e desvirginando a paisagem,
como na lança de São Jorge, perfurando o mostro e libertando a Beleza das
garras da Malícia. Aqui, a paisagem é uma virgem santíssima, convidando-nos a
desbravar tais terrenos, como desbravadores europeus desembarcando em terras
americanas. Aqui, a bolsa é o útero, e está protegida do frio, no instinto de
uma mãe em prover conforto aos filhos, como vi hoje mesmo, em uma calçada de
Caxias do Sul, uma miserável mãe indígena aleitando o filho pequeno, sem ela se
importar se os passantes viam o seio desnudo. A bolsa está fechada, reservada,
e talvez não é o momento do filho sair de casa. A bolsa protege do frio, e é o
aconchego do Lar, da referência, da raiz, no modo como as referências de
família são importantes, importantes ao ponto de sobreviver ao Desencarne.
Aqui, os esquis cruzam agressivamente o quadro de ponta a ponta, impondo-se com
ímpeto, na vontade do guerreiro de lutar, de trabalhar para obter as coisas, ao
contrário da miséria existencial de uma pessoa que simplesmente parou de lutar
pela Vida. Os esquis dividem o quadro entre antes e depois, no poder da
passagem de Jesus Cristo pela Terra. Aqui, as luvas de lã estão empaladas por
um mastro, como peixes capturados pelas lanças de índios amazônicos, na
inevitável tarefa de ganhar o dia, no modo como há miséria na vida de uma
pessoa que passa o dia a nada produzir. Aqui, os objetos são úteis, dignos,
pois prestam ao Mundo. É o espírito olímpico, sempre com ânimo para concorrer
por um pódio. John Atherton nos proporciona uma janela para vermos esta cena,
convidando-nos a pegar esses objetos e desfrutar de um pouco de diversão. São
objetos que têm dignidade, utilidade, sempre servindo ao Mundo, colocando a
inteligência a serviço deste.
Acima, Tesouros de um Jovem Menino. No primeiro momento em que me deparei
com esta obra, vi um grande olho de peixe, num olho terrível, frio, onisciente,
como um olho de terapeuta, “fincando” fundo no paciente e observando do que
este precisa. Só depois vi que se tratava de um capacete. O capacete é o
resguardo, a proteção, a preservação, numa pessoa discreta, que quer evitar
desgastes ou exposições desnecessárias. Vemos uma grande luva, densa, forte,
reforçada, capaz de poupar a pessoa de se queimar com uma panela muito quente.
Há três dardos fincados na parede, e eles são, é claro, a agressividade lúdica,
num artista que, como ilustrador de capas, encontrou um modo de se relacionar
com o Mundo ao seu redor, num John feliz em ilustrar capas de periódicos. Os
dardos são as Três Marias do Cinturão de Órion, dançando pelo céu noturno,
sempre unidas, sempre alinhadas, como as três grandes pirâmides, nos enigmas de
civilizações perdidas. Acima dos dardos, um papel em branco, uma lacuna, uma
orla vazia esperando para ser preenchida, talvez num John desejoso de Paz,
querendo produzir em seu atelier quietinho, reservado, retirado, no modo como a
importância da discrição se mostra como a proteção que este capacete provê. O
capacete é a mente, o labor psíquico, num labor que exige o máximo de
criatividade, num John competitivo, que sabia que, para prosperar na profissão,
teria que ser competente a habilidoso. Vemos várias pérolas dissociadas de um colar,
e elas estavam desejosas de se libertar e ir para o Mundo, como numa família em
que crianças se tornam adultos e saem de casa, como minha avó me disse que,
quando minha mãe casou e saiu de casa, minha avó ficou com a sensação de que
arrancaram desta um braço, tal a sensação de vazio... As pérolas são a análise,
a desconstrução, talvez num artista meticuloso, pronto para ser analisado, por
exemplo, pelo presente blog. Vemos uma bola de baseball, maior do que as
pérolas, numa espécie de nave mãe, responsável pela ninhada de bolinhas. A bola
é o objetivo, o espírito olímpico, o tesão de entrar numa quadra e competir
para ganhar, no inevitável modo como os artistas competem entre si, como na
competitiva Florença renascentista, num espectro em que todos querem brilhar
mais do que todos. Vemos um periódico, uma revista em quadrinhos, num John
apaixonado pelo mundo editorial, pela cultura de massa, sabendo que as capas de
John sofrerão uma monstruosa multiplicação, parando ante os olhos de muitos
leitores e bancas. Vemos uma pequena cômoda, com várias gavetas. É a
organização, a ordem dentro de uma mente, como numa casa arrumada, em que tudo
tem um lugar específico. Uma das gavetas diz “Cai fora!”, ou seja, é a reserva,
uma gaveta que jamais poderá ser trazida a público, numa gaveta muito íntima,
muito pessoal, inadequada para o domínio público. É o resguardo dos
sentimentos, contidos entre as paredes do Lar, no modo como não é interessante
escancarar a própria vida íntima. Outra gaveta tem anzóis, prontos para fisgar
a atenção do espectador, no desafio que é “bombardear” as percepções de outrem,
causando comoções, como um blockbuster, com uma bilheteria monstruosa. Outra
gaveta guarda pedras preciosas, na preciosidade que são as grandes amizades, as
pessoas que nos conhecem profunda e intimamente, havendo na perenidade das
pedras metáfora com o fato de que grandes amigos jamais somem de nossas vidas.
Vemos também uma grande espingarda, num John um tanto agressivo, digno de um
homem que já foi marinheiro, desbravando os mares e arriscando a própria vida
para proteger a América e os aliados desta, numa experiência belicosa que
jamais abandonou a mente de Atherton. Vemos um cordão com várias caixinhas de
fósforo, que são a iluminação, a inspiração, a luz numa mente criativa, o calor
criativo. Vemos algumas placas pregadas na parede, e uma delas nos diz para tomarmos
cuidado com o cão, num Atherton impondo respeito, impondo uma clara linha
divisória entre íntimo e público, podendo se tornar feroz como um pitbull! Haveria
aqui um Atherton debruçado sobre a própria infância?
Referências bibliográficas:
John Atherton. Disponível em <www.askart.com>.
Acesso 4 abr. 2019.
John Atherton. Disponível em <www.illustrationhistory.org>.
Acesso 4 abr. 2019.
John Atherton. Disponível em <www.moma.org>.
Acesso 4 abr. 2019.
John Atherton. Disponível em <www.saturdayeveningpost.com>.
Acesso 4 abr. 2019.
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