quarta-feira, 10 de abril de 2019

Pelos Mares da Arte



O americano John Atherton chegou a servir na Marinha durante a I Guerra Mundial. Fez curso em uma escola de Arte em São Francisco, Califórnia. Fez muitas capas para o periódico The Saturday Evening Post. Tem obras que estão nas coleções dos museus Met e MoMA, ambos em Nova York. Homônimo de um bispo anglicano que viveu há séculos, o artista John sofreu clara influência do Surrealismo. Um bispo da Arte. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, A Caverna. As belezas internas de uma caverna, em tesouros geológicos, como no interior de uma ametista, uma pedra que é feia e subestimada por fora; linda por dentro, no sentido de que não devemos subestimar as pessoas, sempre querendo observar o que a pessoa tem dentro, na mente. Aqui, é como um reino natural, majestoso. Os picos no teto ameaçam cair, matando ou ferindo os visitantes, na metáfora do termo “ponta de faca” – a faca está ali quietinha no canto dela, ou seja, tome distância, respeite-a, e não pense em dar murros... São formas geológicas fálicas, como no Código de Hamurabi, no grande falo de obelisco que tem a missão de reger um povo e de trazer unidade a um reino, no desafio que é conquistar a fé do Povo, um povo sempre atento aos menores deslizes de seu líder, como um monarca recém empossado, com o desafio de se mostrar respeitoso e clemente, muito longe do frio coração de um ditador, um ditador que simplesmente faz com que o Povo sofra com fome e miséria, como em um certo país latinoamericano no momento. São formas que lembram o famoso “Dedo de Deus” na região serrana do Rio de Janeiro, num dedo rochoso que aponta para o céu, tal qual uma pirâmide, uma seta que aponta para o sentido de depuração, de gradual desprendimento material, sempre atento ao psíquico, ao intelectual, rejeitando as ilusões mundanas como pedras preciosas. São como grandes formigueiros, repletos de Vida, num sistema social que nunca para, como no título de “cidade que nunca dorme” para Nova York. É a tentativa humana de compreender as cidades metafísicas, dimensões onde não há fadiga, mas muito labor e diversão – existe todo um plano divino para conosco. Esses “formigueiros” são como ondas revoltas em um mar tenso, como forças d’água que ameaçam virar barcos pesqueiros, como no romance Moby Dick, em que o leitor, em certo ponto, começa a sentir como se estivesse ondulando em um barco! É o desafio de obter Paz em um mundo tão aguerrido, tão dividido por guerras e conflitos, na eterna tendência humana para a violência, para a estupidez das ganâncias. As rochas pontiagudas no teto parecem gotejar aos poucos, formando-se mineralmente num processo de muitos milênios, na calma que a Natureza tem para se desdobrar, como galáxias que levam muito, muito tempo para se formar, num Universo vasto ao ponto de ser imenso, imprevisível, muitíssimo além de qualquer cogitação humana, pois o Ser Humano é uma singela formiguinha em um formigueiro incomensurável. Esses picos são como cortinas em uma sala suntuosa, num lugar que precisa ser iluminado artificialmente, no modo humano de trazer luz e esclarecimento aos mistérios naturais, como um telescópio Hubble, mirando nos confins do Universo, encontrando cada vez mais galáxias, que se espalham pelo Cosmos como conchinhas à beiramar – é o hálito marinho da Grande Mãe, Iemanjá. Nesta cena, há três pessoas pequeninas, ínfimas, quase imperceptíveis. Essas pessoas expressam a pequenez do Ser Humano, num ser em meio a um ambiente tão amplo, fazendo das Ciências meras tentativas de obter esclarecimento, como me disse certa vez um professor: Fazer Ciência é adivinhar como um relógio funciona sem poder abrir este. Aqui é como o interior do Corpo Humano, cheio de veias e órgãos, na tentativa científica de explorar sempre, sempre no desafio de se fazerem descobertas, numa intermitente sede por Conhecimento. Nessas três pessoinhas, duas são um casal, representando a união dos opostos que geram a Vida. A pessoinha sozinha é o sentimento de solidão, de estar perdido, sentindo-se tão ínfimo e desimportante em um Mundo tão vasto e desafiador. Aqui, temos uma certa claustrofobia, pois não estamos ao ar livre, talvez num John catarseando um sentimento de opressão.


Acima, Formas Envelhecidas. Podemos observar uma semelhança entre Atherton e Dalí, na forma inevitável como os artistas inspiram uns aos outros, como comidas diferentes sendo assimiladas pelo mesmo estômago, ao mesmo tempo. Temos aqui um lugar ermo, deserto, sem uma viva alma, talvez num artista catarseando um sentimento de abandono e solidão. Podemos ouvir o barulho do Mar, das ondas requebrando, na forma como a orla é uma página em branco, esperando para ser preenchida, na sedução da passividade, do princípio feminino que seduz em sua inércia, como água caindo para o nível mais baixo, na forma como o grande artista é como uma força gravitacional, sempre puxando o espectador, sempre apimentando as percepções deste. As canoas na areia parecem estar abandonadas, danificadas, não mais prestando para pescar. É um cenário de abandono, como um amante opta por chutar o outro, relegando este a um sentimento amargo de rejeição, fazendo com que lágrimas sejam vertidas, na dança imprevisível dos sentimentos, das paixões, talvez num John farto disso tudo, decidindo fazer da Arte um band-aid que cure tais feridas sentimentais. A areia está intocada, virgem, sem qualquer sinal de pegadas humanas, numa praia esquecida, ignorada, como perguntaram certa vez à atriz Marília Pêra o que a entristecia, e a diva disse: “Um teatro com plateia vazia”. Neste cenário de abandono, ninguém se importa com a praia ou com as canoas, num céu de tons incertos, num dia de incerteza, como na excruciante dúvida existencial de uma pessoa deprimida que simplesmente não sabe o que fazer nem para onde ir. É um desnorteamento. Em primeiro plano no quadro, um maquinário estranho, obsoleto e abandonado, com elementos incertos, pois não sabemos ao certo para que servem. É como uma pessoa que não sabe qual é o seu próprio lugar no Mundo, com peças enigmáticas, danificadas pela passagem do tempo e pela maresia inevitável da orla. É algo sem qualquer manutenção, sem qualquer cuidado, com uma vida que foi abandonada, só restando vestígios incertos de inutilidade, como um ator se frustrando na carreira cênica, optando por mudar de carreira e se tornar, por exemplo, advogado. É o amargo sabor da frustração, mas um remédio amargo que acaba fazendo muito bem ao amargurado. Vivemos num mundo em que o indivíduo vive obcecado em obter sucesso, e a autoestima da pessoa desaba quando esta falha e fracassa. Vemos aqui toras de madeira fincadas na areia, como os pregos que crucificaram Jesus, atravessando a carne e tratando de fazer com que o indivíduo sinta na carne toda a estupidez das violências humanas. Este maquinário incógnito tem prazo de validade, e ficará ainda mais deteriorado, chegando a um ponto em que será tragado pelo vendo e pelo solo, sendo apenas uma questão de tempo até que essas formas sejam tragadas e eliminadas, com a força da Natureza se impondo, como num dia chuvoso, em que o indivíduo tem que aceitar a água e sair de cada com um guardachuva. São as vicissitudes da Matéria. Vemos aqui alguns fios retorcidos, como tubos intestinais, como serpentes agonizando em uma situação tão degradante, tão difícil. Vemos aqui um governo em franco colapso, caduco, não mais sendo confiado pelo povo, num líder prestes a ser deposto e substituído, na forma como a força do Povo acaba se impondo aos Poderes, pois nunca ouvimos dizer que todo poder emana do Povo e em nome deste deve ser exercido? Aqui, é como um motor de carro, que outrora funcionou e teve uma função digna, um papel a desempenhar, tornando-se importante, útil. Temos aqui um cenário de inutilidade, de obsolência. A luz do Sol aqui não á acalentadora, mas desoladora, como uma pessoa exposta ao Sol sem usar protetor solar. Exposição. Isto aqui já foi um corpo social vibrante, em que cada indivíduo vivia feliz, tendo certeza de ter para si um papel importante, uma dignidade, sentindo-se um agente da Vida e Sociedade. E não é um grande desafio para um artista descobrir a sua própria função social?


Acima, Madona de uma Loja de Departamento. Esta recatada Madona está com partes do rosto deterioradas, como uma imagem de altar que não resistiu à passagem do Tempo, como uma peça sem serviço de restauro ou manutenção. Seu véu lhe cobre a cabeça, num adereço indispensável à Virgem Santíssima, uma pessoa que nunca em vida fez sexo, na crueldade da Sociedade Patriarcal, sociedade esta que simplesmente tolha o prazer sexual da mulher. Aqui, a Madona tem um olhar doce, cândido, olhando para fora do quadro, para o horizonte, talvez vislumbrando o futuro do filho da Imaculada Conceição. As sobrancelhas da Madona são impecavelmente depiladas, numa mulher vaidosa que frequenta o salão de beleza, no essencial exercício da autoestima, na forma como cada pessoa tem que gostar de si mesma, sem narcisismos. Não vemos aqui o filho desta Madona, e o filho deve estar brincando no quintal enquanto a mãe prepara o almoço, no machismo que prega que o lugar certo para uma mulher não é no mercado de trabalho, mas pilotando um fogão e um tanque de lavar roupa. Esta Madona tem um rosto jovem, na obsessão feminina em busca da juventude eterna, sendo proibido que a mulher dê sinais de passagem do tempo, numa mulher à qual não é permitido ter uma carreira, uma história, uma trajetória, ao contrário do homem, ao qual é cobrado o desenvolvimento de uma trajetória. Então, a mulher fica relegada ao mero papel insípido como água. São as ritualizações humanas em torno de gênero. O cabelo da Madona não tem qualquer fio branco, no modo como a sociedade estipula que, no homem, cabelo branco significa sabedoria; na mulher, desleixo. Então, a indústria de cosméticos lança seus tentáculos na promessa da juventude eterna, uma promessa que busca fazer harmonia com o fato de que, na Dimensão Metafísica, somos todos jovens para sempre; na Dimensão Física, nem tanto. Atrás da Madona, um manequim de vitrine, na sedução de lojas bem arrumadas, sempre querendo exercer uma força gravitacional sobre os desejos humanos, sempre querendo vender algo que, de fato, não pode ser vendido, como Felicidade ou Preenchimento Existencial. Este manequim traz as formas dos padrões de beleza, que exigem magreza da mulher, fabricando legiões de anoréxicas bulímicas, escravas de tais padrões. Este manequim deteriorado é a decadência moral da Sociedade de Consumo, uma sociedade que faz promessas as quais jamais poderão ser cumpridas. Este manequim está capenga, incompleto, carecendo de lógica, de pertinência. Está desconexo, e não faz sentido por si só. É a sensação de pobreza e nudez, de vazio, pois quanto mais consumimos, mais vazios nos sentimos... É uma virtude saber quando se tem o suficiente. A paisagem ao fundo é encoberta e triste, num horizonte turvo, cujo futuro não podemos prever – a Sociedade de Consumo não pode te dizer quem és. Podemos ouvir um som de um gélido vento cortante, desolador, num terreno deserto. Esta Madona é como o famoso busto de Nefertiti sendo descoberto, numa imagem que resiste à passagem do Tempo, com algum dano mínimo. Apesar desta Madona não estar claramente sorrindo, ela tem um rosto feliz, satisfeito, como um artista que se descobre feliz no que faz. Seus olhos trazem um sorriso de Monalisa, e é uma imagem de contentamento, como se a Madona soubesse que sofre os refutáveis assédios das interpelações do consumo. A Virgem rejeita o mundano, o material, e olha mais longe no horizonte, buscando um tipo de satisfação que não pode (e nunca poderá) ser vendida. Este manequim parece estar empalado por uma lança, por um princípio agressivo, como a retilinidade do pensamento racional, fazendo atalhos e indo logo ao que interessa, que é a intelectualização – a produção de ideias e pensamentos. O manequim é como uma múmia, desafiando a passagem cronológica. Esta Madona está decapitada, alienada do resto do corpo, alienada do desejo sexual ou gastronômico, no modo como só a mente é o que sobrevive ao Desencarne.


Acima, No Resort de Esqui – capa do The Saturday Evening Post. A sedução das terras altas nevadas, como Bariloche, na Argentina. A neve seduz por sua pureza, sua limpeza, como certa vez com uma professora que tive, a qual mal podia dar aula porque estava “hipnotizada” pela neve que caía lá fora. Aqui, as luvas têm desenhos geométricos típicos da arte gráfica dos indígenas americanos, num Estados Unidos que mesclou muitas etnias para formar sua identidade cultural nacional, como nas tapeçarias indígenas do hotel assombrado de O Iluminado. Os instrumentos de esqui são Yang, ágeis, racionais, e têm uma utilidade, não se importando muito com beleza ou graciosidade – aqui, a beleza fica por conta da paisagem nevada, com seus pinheiros pontiagudos, como se quisessem furar o céu com sua agressividade, no modo como os esportes existem para que se desenvolva a agressividade, num contexto competitivo, em que muitos espermatozoides competem pelo mesmo óvulo. Os picos apontam para um céu infinito, na magia das regiões serranas, montanhosas, fazendo formidável metáfora com as cidades metafísicas, que gravitam acima de nós, em uma dimensão imaterial. Esses equipamentos estão dispostos ao lado de uma construção típica americana, com casas construídas com toras, cortadas pela viril força dos lenhadores, no perfume de pino que é exalado com o corte das árvores aqui, no frescor de uma natureza sempre provendo algo aos humanos que habitam tal ecossistema. Aqui, o céu está limpo, limpíssimo, numa cor rosada, num entardecer ou num alvorecer, como no espetacular Sol poente no Lago Guaíba, em Porto Alegre. É uma luminosidade cândida, delicada, cheirando a talco de bebê. A neve se acumula nas toras de madeira, e por dentro deve haver uma formidável lareira, esquentando um cômodo e eliminando a umidade do interior da casa, na sedução de uma lareira acesa em um dia frio, recebendo família e amigos em torno do fogo, na guinada na História da Humanidade que foi a descoberta do controle do fogo. Podemos ouvir um vento com um sutil uivo, e a paisagem ao ar livre nos inspira a sair de casa e aproveitar o formidável dia, como na nevada de 1994 em Caxias do Sul, quando a cidade amanheceu branca. Os esquis retilíneos são a agressividade do esquiador, sempre cortando a neve e desvirginando a paisagem, como na lança de São Jorge, perfurando o mostro e libertando a Beleza das garras da Malícia. Aqui, a paisagem é uma virgem santíssima, convidando-nos a desbravar tais terrenos, como desbravadores europeus desembarcando em terras americanas. Aqui, a bolsa é o útero, e está protegida do frio, no instinto de uma mãe em prover conforto aos filhos, como vi hoje mesmo, em uma calçada de Caxias do Sul, uma miserável mãe indígena aleitando o filho pequeno, sem ela se importar se os passantes viam o seio desnudo. A bolsa está fechada, reservada, e talvez não é o momento do filho sair de casa. A bolsa protege do frio, e é o aconchego do Lar, da referência, da raiz, no modo como as referências de família são importantes, importantes ao ponto de sobreviver ao Desencarne. Aqui, os esquis cruzam agressivamente o quadro de ponta a ponta, impondo-se com ímpeto, na vontade do guerreiro de lutar, de trabalhar para obter as coisas, ao contrário da miséria existencial de uma pessoa que simplesmente parou de lutar pela Vida. Os esquis dividem o quadro entre antes e depois, no poder da passagem de Jesus Cristo pela Terra. Aqui, as luvas de lã estão empaladas por um mastro, como peixes capturados pelas lanças de índios amazônicos, na inevitável tarefa de ganhar o dia, no modo como há miséria na vida de uma pessoa que passa o dia a nada produzir. Aqui, os objetos são úteis, dignos, pois prestam ao Mundo. É o espírito olímpico, sempre com ânimo para concorrer por um pódio. John Atherton nos proporciona uma janela para vermos esta cena, convidando-nos a pegar esses objetos e desfrutar de um pouco de diversão. São objetos que têm dignidade, utilidade, sempre servindo ao Mundo, colocando a inteligência a serviço deste.


Acima, Tesouros de um Jovem Menino. No primeiro momento em que me deparei com esta obra, vi um grande olho de peixe, num olho terrível, frio, onisciente, como um olho de terapeuta, “fincando” fundo no paciente e observando do que este precisa. Só depois vi que se tratava de um capacete. O capacete é o resguardo, a proteção, a preservação, numa pessoa discreta, que quer evitar desgastes ou exposições desnecessárias. Vemos uma grande luva, densa, forte, reforçada, capaz de poupar a pessoa de se queimar com uma panela muito quente. Há três dardos fincados na parede, e eles são, é claro, a agressividade lúdica, num artista que, como ilustrador de capas, encontrou um modo de se relacionar com o Mundo ao seu redor, num John feliz em ilustrar capas de periódicos. Os dardos são as Três Marias do Cinturão de Órion, dançando pelo céu noturno, sempre unidas, sempre alinhadas, como as três grandes pirâmides, nos enigmas de civilizações perdidas. Acima dos dardos, um papel em branco, uma lacuna, uma orla vazia esperando para ser preenchida, talvez num John desejoso de Paz, querendo produzir em seu atelier quietinho, reservado, retirado, no modo como a importância da discrição se mostra como a proteção que este capacete provê. O capacete é a mente, o labor psíquico, num labor que exige o máximo de criatividade, num John competitivo, que sabia que, para prosperar na profissão, teria que ser competente a habilidoso. Vemos várias pérolas dissociadas de um colar, e elas estavam desejosas de se libertar e ir para o Mundo, como numa família em que crianças se tornam adultos e saem de casa, como minha avó me disse que, quando minha mãe casou e saiu de casa, minha avó ficou com a sensação de que arrancaram desta um braço, tal a sensação de vazio... As pérolas são a análise, a desconstrução, talvez num artista meticuloso, pronto para ser analisado, por exemplo, pelo presente blog. Vemos uma bola de baseball, maior do que as pérolas, numa espécie de nave mãe, responsável pela ninhada de bolinhas. A bola é o objetivo, o espírito olímpico, o tesão de entrar numa quadra e competir para ganhar, no inevitável modo como os artistas competem entre si, como na competitiva Florença renascentista, num espectro em que todos querem brilhar mais do que todos. Vemos um periódico, uma revista em quadrinhos, num John apaixonado pelo mundo editorial, pela cultura de massa, sabendo que as capas de John sofrerão uma monstruosa multiplicação, parando ante os olhos de muitos leitores e bancas. Vemos uma pequena cômoda, com várias gavetas. É a organização, a ordem dentro de uma mente, como numa casa arrumada, em que tudo tem um lugar específico. Uma das gavetas diz “Cai fora!”, ou seja, é a reserva, uma gaveta que jamais poderá ser trazida a público, numa gaveta muito íntima, muito pessoal, inadequada para o domínio público. É o resguardo dos sentimentos, contidos entre as paredes do Lar, no modo como não é interessante escancarar a própria vida íntima. Outra gaveta tem anzóis, prontos para fisgar a atenção do espectador, no desafio que é “bombardear” as percepções de outrem, causando comoções, como um blockbuster, com uma bilheteria monstruosa. Outra gaveta guarda pedras preciosas, na preciosidade que são as grandes amizades, as pessoas que nos conhecem profunda e intimamente, havendo na perenidade das pedras metáfora com o fato de que grandes amigos jamais somem de nossas vidas. Vemos também uma grande espingarda, num John um tanto agressivo, digno de um homem que já foi marinheiro, desbravando os mares e arriscando a própria vida para proteger a América e os aliados desta, numa experiência belicosa que jamais abandonou a mente de Atherton. Vemos um cordão com várias caixinhas de fósforo, que são a iluminação, a inspiração, a luz numa mente criativa, o calor criativo. Vemos algumas placas pregadas na parede, e uma delas nos diz para tomarmos cuidado com o cão, num Atherton impondo respeito, impondo uma clara linha divisória entre íntimo e público, podendo se tornar feroz como um pitbull! Haveria aqui um Atherton debruçado sobre a própria infância?

Referências bibliográficas:

John Atherton. Disponível em <www.askart.com>. Acesso 4 abr. 2019.

John Atherton. Disponível em <www.illustrationhistory.org>. Acesso 4 abr. 2019.

John Atherton. Disponível em <www.moma.org>. Acesso 4 abr. 2019.

John Atherton. Disponível em <www.saturdayeveningpost.com>. Acesso 4 abr. 2019.

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