Ivan Albright teve a maior
retrospectiva de sua obra ocorrendo no Met de Nova York em 1997, centenário do
nascimento do artista. Competitivo pintor detalhista mundialmente famoso, Ivan teve
como irmão gêmeo um escultor e como pai um conhecido pintor (!). Inicialmente
arquiteto, Ivan evocava gênios como Albert Einstein para se expressar. Os
textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Autorretrato n 16. 1982. Temos aqui um Ivan amante do
Impressionismo, certamente. Sua calvície mostra experiência e sabedoria, com
seus cabelos brancos que deixam muito claro, a Ivan, como é o Mundo. Seu olhar
não se dirige diretamente ao espectador, mas para outra direção, talvez
compreendendo que estava idoso e que o Desencarne estaria perto, como se
adivinhasse a data do seu próprio dia de morrer. É um homem um tanto tristonho,
um pouco decepcionado com a dureza e as vicissitudes mundanas, talvez um homem
que, apesar de velho, é ainda repleto de sonhos, sendo uma vida pouco tempo
para este desenrolar, num Ivan achando a Vida breve demais, num processo que se
desenrola na velocidade da Luz. Os tons de azul predominam no quadro, no azul
celeste das colônias espirituais, em cidades apolíneas onde o céu é de um azul
vibrante, intenso, sem qualquer sinal de nuvens que possam deixar o tempo
encoberto, numa luminosidade divina que, apesar de intensa, não ofusca os
olhos, num Sol que não exige o uso de protetor solar. A gola de sua camisa o
deixa elegante, e a gola lembra o formato de uma ave voando livre, na Liberdade
que precisa existir em um sistema para que seus artistas prosperem e produzam
fartamente. É o desejo de Liberdade que o Desencarne satisfaz. Este Ivan
pintado lembra um pouco o escritor Luis Fernando Veríssimo, num homem que,
apesar das dificuldades naturais da existência, consegue obter uma forma de se
comunicar claramente com o Mundo, fazendo do limão uma limonada, convertendo,
ao seu favor, um patinho feio que se torna cisne. Os seus olhos não são
simétricos, mas tortos, como se olhassem para direções diferentes, como de um
camaleão, numa discordância, num conflito, talvez catarseando uma sensação de
guerra interna, com um olho progressista e, o outro olho, conservador. Podemos
ouvir um sutil respirar, num homem ainda com vida, na natural dúvida
existencial, como nas fascinantes inseguranças do personagem Charlie Brown, um
menino cheio de vulnerabilidades, sempre se sentindo um tanto “fora” do Mundo,
nunca se sentindo absolutamente normal, como num episódio em que Charlie diz, a um
amigo, que na época de Natal ele, Charlie, não conseguia se sentir tão animado
como ficam animadas as crianças em geral nesta época. Aqui, Ivan tem um nariz
redondo, quase como o de um palhaço, no aspecto circense que domina as Artes,
havendo no Circo a magia de entretenimento que faz com que as pessoas esqueçam,
brevemente, do duro Mundo que as cerca, havendo na figura do palhaço o modo
humano de produzir Humor e Sátira. É a beleza da Arte. Aqui, a careca de Ivan é
um espaço vazio, aberto, como uma folha em branco, prestes a ser preenchida,
como a beiramar, na sensualidade do Vazio, do vago, na dignidade de um copo, o
qual, ao ser usado para se beber algo, consegue encontrar um sentido para a
Vida, e feliz do artista que se sente útil ao Mundo, num Mundo duro, tão
enigmático na hora do indivíduo perguntar a si mesmo qual o lugar desse mesmo
artista no Mundo, como num Van Gogh, que se suicidou, tal o vazio existencial,
num artista que só foi reconhecido postumamente. Ao fundo na cena, pinceladas
vigorosas que parecem ser folhas outonais caindo, no estágio final da vida de
Ivan, com os galhos nus se mostrando de forma nua e crua, numa carreira que
tanto legou à Arte nos EUA. É o galgar do relógio, marcando impiedosamente o
Tempo, dando a nós na Terra algum tempo, alguma chance, no desafio do
autoencontro. Na parte bem inferior do quadro, um botão da camisa. O botão é o
Mundo, desafiador, amedrontador, um Mundo conquistado por um artista tão
inconfundível.
Acima, Hail to the Pure. 1976.
Uma poderosa figura feminina, com sorriso
enigmático de Monalisa, um tanto olhando para o espectador, um pouco olhando
para o nada. Ela está cercada de coisas, de tesouros, e seu cabelo é rebelde,
parecendo espaguete, no modo como o artista se alimenta do próprio labor, pois
trabalhar é, realmente, indispensável. Ela usa uma flor de adorno, como uma
Billie Holiday. A flor é a fertilidade, a inspiração fértil, no novo desafio
para um artista quando este se depara com uma tela em branco, pronta para ser
pintada, num labor que não tem como cair na mesmice. A mulher veste uma gola
exuberante, digna de rainha, e usa um broche em forma de um homem idoso, um
velho patriarca, na imagem que temos de Deus como um patriarca, como Zeus, o
rei dos deuses gregos. Este velho senhor está dormindo, talvez morto, e é
carregado pelo útero de carinho da mulher, uma estrela que se destaca como
Whitney Houston na capa do álbum de O
Guardacostas, com um Kevin Costner coadjuvante, sutil. É o Yang gravitando
em torno do Yin, como uma pessoa que faz do labor um norte existencial. A
mulher usa uma maquiagem pesada ao redor dos olhos, numa pessoa vaidosa, que se
apruma e se gosta. A mulher está pronta para um baile. Ao lado da flor no
cabelo, a figura de uma menininha, talvez o passado da mulher, na doce
infância, uma fase da Vida, fase marcada pela simplicidade, pela inocência, nas
amizades construídas por puro carinho, sem os interesses do mundo dos adultos.
Neste quadro, os tons de cinza fazem uma dança harmoniosa, numa força gráfica
digna dos cliques do fotógrafo famoso Sebastião Salgado, num Ivan que não
precisa de cores para constituir uma imagem forte. Esta mulher está cercada de
roupas finas e privilégios, e parece estar confortável em meio a tantos
privilégios, na sensação suprema de acolhimento ao recém desencarnado, recebido
de volta ao Lar Psíquico, cercado de muito carinho por seus irmãos, no modo
como, não me canso de dizer, somos todos príncipes filhos do mesmo Rei. O
problema do Ser Humano é que esta irmandade psíquica é totalmente esquecida
aqui, na Terra, e os abismos sociais e as guerras tratam de mostrar de forma
nua e crua as grosserias humanas. Ivan tem um trabalho absolutamente minucioso,
feito com infindável paciência, fazendo metáfora com a Paciência Divina, sendo
esta inesgotável, pois a obra de Tao é eterna, e imaginar que jamais morreremos
é uma ideia descomunalmente poderosa – jamais morreremos! Ao lado da menininha
vemos uma forma que parece ser uma roda, como a Roda do Tempo, no modo como a
invenção da Roda revolucionou a História do Ser Humano, no desenrolar da
história, no desenrolar do trajeto existencial, numa Elis Regina sendo ouvida
na estrada, no tocafitas, nas mesas de centro feitas de uma roda de carroça,
numa roda onde há o prazer de uma boa conversa, como numa sessão de
psicoterapia, nas suntuosas salas de estar metafísicas, no prazer de conversas
que podem durar muito tempo, sem causar fadiga. Esta mulher está vestida de
modo recatadíssimo, e é como as vestes majestosas de uma mata virgem, na beleza
das roupas maravilhosas usadas pela paisagens ao ar livre, na dificuldade
humana em parar um pouco para contemplar essas roupas maravilhosas das
florestas, um indício do bom gosto majestoso de Tao, o Grande Arquiteto. Os
cabelos da mulher são como várias minhocas revoltas, numa colônia, numa
sociedade, numa família, e cada minhoca se sente em casa, confortável, na
gloriosa sensação de se estar num lugar para chamar de “Lar”. É uma mulher
jovem, sem rugas, como toda uma vida ainda por vir, no modo como um artista,
por mais velho que se seja, sempre se sente jovem demais para morrer, no fato
de que o Tempo passa rápido. Suas sobrancelhas são como duas lagartas, prontas
para serem reveladas ao Mundo na forma de lindas borboletas, no mito de Cinderela,
a “vingança” para com os que subestimam esta ou aquela pessoa.
Acima, Memórias do Passado. 1927. Temos aqui uma técnica que lembra muito
a Renascença, na técnica de grandes mestres daquela época, talvez num Ivan
amando tal período. É uma mulher já de meia idade, cabisbaixa e pensadora, meio
triste, olhando para o nada, talvez pensando sobre escolhas mal feitas durante
a Vida. Ela parece estar se despindo, talvez tímida perante Ivan. Ela tem um
recato sensual, como uma virgem sendo abduzida por um tarado. Seus seios são
macios como almofadas, numa sala de estar confortável, num sofá que faz com que
percamos as defesas e abramos nossos corações em uma boa conversa. Coloridas
flores, em um quadro um tanto esmaecido de cores, adornam o cabelo da modelo,
na beleza de uma Primavera Renascentista, um período que trouxe irresistível
frescor a uma Europa que ainda respirava ranços medievais – são as novas ondas,
sempre vindo avassaladoramente, na forma fértil do cio primaveril, havendo no
artista alguém disposto a colocar na Arte toda essa força implacável. As flores
são alegres, mas numa alegria que é dominada por um quadro que é, de forma
geral, triste e desanimado. A modelo simplesmente não consegue sorrir, e olha
constrangida para baixo, talvez se arrependendo de certos momentos da Vida, no fato
de que não há como retroceder no Tempo e reparar os erros, cabendo à pessoa,
simplesmente, crescer e aprender a viver melhor. Ela reluta em mostrar os seios,
e seus dedos brincam com os cadarços do que parece ser um espartilho. Os
espartilhos são o símbolo da opressão patriarcal, reprimindo a mulher,
reduzindo-a, humilhando-a, condenando-a a um eterno papel coadjuvante, sendo
raras exceções as mulheres que transcendem tal condenação patriarcal, mas
mulheres que, ainda assim, estão fadadas ao papel de mera fêmea, sempre num
nível abaixo ao do homem. Um tanto acima do peso, a mulher lembra a antiga
estética que via na mulher obesa algo belo e sensual, no modo como os
arquétipos de beleza variam de época para época, havendo hoje a estética
semianoréxica, em mulheres condenadas ao papel de frágil moça, sempre
precisando de um Batman para salvá-las. O pescoço da mulher mostra uma mulher
que não mais é uma mocinha, e seu rosto já traz alguns sinais de idade. Mas,
apesar disso, ainda é bela, mesmo em meio a tantos percalços existenciais. Seu
cabelo tem um aspecto natural, e não parece ter recém saído do salão de beleza,
num cabelo espontâneo, sem muitas afetações ou pretensões. Esse espartilho e o
fundo do quadro são escuros, incertos, numa pessoa com muita dificuldade em
vislumbrar alguma coisa do futuro, num futuro que pode reservar muitas, muitas
surpresas, cabendo à pessoa só prever alguma coisa, mas nunca muita coisa – são
as peças pregadas pela Vida! Seus dedos são delicados, talvez de uma mulher que
nunca exerceu um duro labor na roça, sem calos. Os cadarços são como cobras num
antro, num ambiente de malícia, de fofocas, de mentiras, num mundinho a parte,
num submundo em que as mentiras prosperam e correm soltas, numa vidinha tóxica
e viciosa. Esses cadarços são os grilhões da sociedade patriarcal, no pesadelo
encarnatório que nos divide entre homens e mulheres, resultando numa sociedade
excludente. Aqui, a luz é suave, e não se trata de um belo dia de Sol, num
parque cheio de árvores verdejantes e águas límpidas. O título do quadro mostra
uma pessoa imersa em lembranças, muito imersa, numa pessoa se arrependendo dos
próprios erros, lamentando por ter tido feito esta ou aquela escolha, pois
quando há o arrependimento, há o crescimento, e o sentido da Vida é
exclusivamente o crescimento, a depuração, o fazer de nós mesmos pessoas
melhores, fazendo com que a pessoa não queira voltar para momentos imaturos da
Vida. Este é o lado belo da velhice – a sabedoria. Talvez, a mulher aqui deva
estar se dando conta de que magoou alguém, crescendo aqui o sentimento de
reparação, de desculpas, numa pessoa que se liberta de futilidades e começa a
observar o Mundo do jeitinho que este é, pois na Vida não há controle remoto,
de modo que não é possível voltar ao passado. A moça aqui está com um tanto de
amargura, num remédio amargo que faz bem.
Acima, Retrato de Dorian Gray. 1943. Este quadro foi pintado
exclusivamente para o filme homônimo, dirigido por Albert Lewin. A história
conta que um homem, Dorian Gray, faz um pacto com o Diabo, pedindo a este para
ser jovem e belo para sempre. Em troca, um retrato mostraria toda a decadência
física e moral de Dorian. Esta pintura fez de Ivan um artista famoso, num
quadro que traz a marca registrada de Ivan – o detalhismo, mostrando a
decrepitude humana, como na visão sombria que Tolkien tem do Ser Humano, colocando
este como fraco perante as tentações mundanas, como dinheiro e poder. Nesta
obra, podemos sentir o cheiro de podridão, como uma insalubre casa de
acumulador compulsivo, num mundo caótico, num deprimente apego às coisas, ao
material, ao físico, no apego próprio de espíritos sem muita depuração moral.
Então, o Diabo entra na história, e este retrato é o próprio retrato do Umbral,
a dimensão de sofrimento onde vagam espíritos que simplesmente não aceitam o
seu próprio Desencarne. Claro, é um quadro horroroso, e maravilhoso. Dorian
aqui está bem calvo, e sua face é cadavérica, praticamente uma caveira, no modo
como as ambições carcomem o caráter o homem. É como uma pessoa enterrada viva,
presenciando cada passo de sua decomposição, vagando intermitentemente por
vales escuros de temperaturas insuportáveis, como um mendigo absolutamente
maltrapilho, decadente, podre, como um leproso sem tratamento médico,
testemunhando sua própria decadência. O cenário em torno é excessivo,
decadente, sujo e desnecessário, num apego muito grande pelas coisas, pelos
produtos de supermercado, numa Sociedade de Consumo que “empurra” produtos
inúteis, sempre visando arrancar dinheiro do consumidor. É uma verdadeira
obsessão. Em cima de uma mesa, um gato negro, como na elegância do Egito
Antigo, havendo no gato uma personificação de sofisticação, elegância e um
tanto de agressividade. O gato é a vaidade, o egocentrismo, numa pessoa
narcisista – ou seja, um psicopata –, que se acha, simplesmente, Deus, o centro
do Universo. Então, o psicopata, em seu irremediável apego material,
simplesmente não aceita a morte do seu próprio corpo físico, uma morte que tem
data para chegar, como num despertador: acabou o tempo! As roupas de Dorian são
imundas, sujas, horrorosas, como na roupa de um cadáver em um caixão. Suas mãos
estão ensanguentadas, como se tivesse matado alguma pessoa ou animal, como um
animal carnívoro, devorando avidamente uma presa, na competitividade da Vida em
Sociedade, no machismo que tolhe o homem que não quer ser homem e tolhe a
mulher que não quer ser mulher. O cenário aqui é cheio de demônios e de
pesadelos, que assombram Dorian, atormentando-o, desprovendo-o de Paz, de
consolo, de alegria. É uma dimensão em que não há contentamento, numa ambição
que faz com que a pessoa sempre queria mais e mais, e, como diz Tao, se o que
você tem, você acha que não é o suficiente, então você nunca vai ter o
suficiente. Então, o acumulador vai se enterrando vivo em meio de objetos
inúteis, num lugar fétido, cheio de fezes de ratos e de teias de aranha, num
verdadeiro cenário de filme de terror, ou numa mansão mal assombrada, num lugar
horrível, muito distante da depurada arquitetura da Dimensão Metafísica. O
Umbral é um lugar onde não há pensamento – só há coisas. Novamente evocando
Tao, pensamento é tudo; matéria é nada. Tudo o que Dorian tem que fazer, aqui,
neste momento de degradação extrema, é rezar, pedindo ajuda para que um anjo
amigo o retire de tal lugar decrépito. Só que a oração tem que ser feita com
sinceridade, e não apenas da boca para fora. Um anjo estende a mão para Dorian,
sugerindo a este que se livre da ambição material. Mas Dorian só poderá ser
ajudado se ajudar a si mesmo. Quando o espírito tem dificuldade no exercício do
desapego, não há anjo capaz de retirar este espírito do Umbral. Esta cena
pintada por Ivan traz um vazio existencial enorme, num empobrecimento moral
gigantesco. E, se assim continuar, a degradação só aumentará.
Acima, Retrato de Mary Block. 1957. Temos aqui um retrato digno de rainha,
como Elizabeth II. A senhora está altiva e comportada, como se soubesse que
inúmeros olhos a olham. Um de seus braços está nu, revelando afiadas unhas
rubras, como um tubarão esfomeado, trazendo terror aos mares, num tubarão que
fareja de longe o cheiro de comida. Esta mão está adornada com joias, e os
dedos são como uma aranha furtiva, tecendo pacientemente sua teia, numa posição
passiva, que espera que uma presa desavisada fique colada à ardilosa teia, como
um psicopata constrói ardilosas teias para controlar as vítimas e manipular
estas. O outro braço está recatado, vestido com uma luva negra de luto, num
recuo, um recato, uma reserva, numa pessoa que quer estabelecer um limite claro
entre vida social e vida privativa, deixando o Yang no Mundo lá fora, sendo mais
Yin dentro de casa, como cozinhar macarrão para o namorado e com este
compartilhar uma garrafa de vinho, na simplicidade que deve pontuar a vida
privada, a vida íntima: dinheiro, poder, fama, influência, sucesso – é só
deixar tudo isso no lado de fora de casa, no Mundo. Esta rainha fita
impiedosamente o espectador, como um alfinete. Ela quer obter controle, sabendo
de tudo o que ocorre em seu reino. É o olho onisciente de Sauron, o grande
vilão de Tolkien. O “trono”, o vestido e as cortinas trazem toda a
minuciosidade de Ivan, num realismo que se aproxima de uma foto. A pele desta
rainha tem um lustro, como um móvel tratado com óleo de peroba, numa sala arrumada,
limpa e perfumada com o odor do óleo, numa rainha recebendo convidados em uma
sala bonita, porém simples, pois limpeza, beleza, luz e leveza compõem um
continuum. A face desta rainha já mostra que se trata de uma mulher que já
passou da meia idade, pronta para abraçar a velhice. Mas, mesmo que não seja
mais uma garota, esta rainha está no auge da virilidade, tendo integral
controle sobre a própria vida, numa altivez que faz metáfora com a soberania da
nação por ela regida. Só que são rugas suaves, minimizadas, numa pessoa que se
gosta e se cuida, preparando-se na hora de vir a público, com uma aparência que
faz metáfora com as belezas naturais e arquitetônicas do reino. Suas mãos
repousam sobre o colo, no perfumado e confortável útero da Imaculada Mãe, a
qual é aqui representada por esta mulher de carne e osso. É a figura materna,
no aleitamento, num limpo e confortável berço, como na deliciosa sensação de
liberdade e paz no que os espíritas chamam de Experiência Extracorporal, as
EECs, quando a pessoa tem uma amostra do que a espera após o Desencarne – tenha
esperança! Esta rainha usa um colar com uma roseta, na magia das rosetas em
igrejas, cheias de cores de vitrais, na magia de um domingo de Páscoa, com um
ninho de ovos coloridos e encantadores. A roseta parece girar, como se estivesse
marcando tempo ou trazendo ordem a um universo de caos. Na roseta há a metáfora
com a unidade de um reino, com tudo girando em torno do regente. Para esse
mecanismo funcionar de fato, o regente tem que ser o mais simples e minimalista
possível, aproximando-se, assim, de Tao. E tudo gira em torno de Tao porque
este não é feito de matéria, mas de pensamento, e quando mais fino, espiritual
e materialmente desapegado for o regente, melhor será o trabalho de regência.
Quando o regente é ganancioso, o mecanismo da roseta não funciona, resultando
em sistemas caóticos onde reina a confusão, num regente incompetente e egoísta.
O detalhismo de Ivan é gritante, e podemos observar isso nas estampas do
vestido e das cortinas, fazendo-nos perguntar quanto tempo ele levava para
construir cada quadro. A rainha aqui não está sorrindo como um agradável sol
radiante sobre as terras do reino. A rainha aqui está séria, como num dia
nublado, com a dúvida que resulta do embate entre Luz e Escuridão. Seu brinco
de pérola é elegante e discreto, e é como uma límpida gota de orvalho em um
bosque de Aurora, no alvorecer de um novo dia, quando um anjo mensageiro pega
em nossa mão e nos guia por um túnel de luz, na superioridade angelical, acima
de ser homem ou ser mulher.
Referências bibliográficas:
GRECO, Alessandro. Ivan Albright. Disponível em <www1.folha.uol.com.br>.
Acesso 27 mar. 2019.
Ivan Albright Obras. Disponível em <www.google.com>.
Acesso 27 mar. 2019.
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