Falo sobre vários artistas da Pop
Art. As análises semióticas a seguir são minhas e não do livro base de
Osterwold, minha referência bibliográfica.
Acima, Double Isometric Self-Portrait (Serape), ou seja, Duplo Autorretrato Isométrico (Robe de
Quarto), um óleo, madeira e metal sobre tela de Jim Dine, de 1964. Intensa alegria
e diversidade cromática, como num arcoíris festivo. O robe é o conforto, o
prazer de estar à vontade em casa, em um momento de recolhimento, degustando um
vinho ou uma cerveja, assistindo a algo interessante na TV. É o conforto do
Yin, o princípio feminino de passividade, de maciez, de sutileza. O robe é a
privacidade, o momento de introspecção, e, aqui, Jim Dine nos traz o prazer do
sono, do relaxamento, da ausência de tensão ou de agressividade. É um porto
seguro, uma bandeira branca da paz. E por que dois? Seriam marido e mulher, em
um momento de convívio no conforto do lar? O ser humano tem a necessidade
ritualística de impor ordem ao caos, e os arquétipos Rei e Rainha tomam forma
como uma maneira, uma forma de se colocar tudo em seu devido lugar. Aqui, temos
uma dança das cores, numa candura quase infantil. O cinto do robe é uma sensual
serpente que desliza por entre a selva, buscando comida e sexo. O sexo faz
parte dos prazeres da vida privada, e o casal aqui está feliz e cômodo. O amarelo
parece como o gostoso Sol da manhã, anunciando um novo dia, no qual, após o
desjejum, o pai sai para ganhar a vida e a mãe fica para colocar ordem no lar.
É uma sociedade. O vermelho brota vibrante, como uma bela pimenta vermelha, que
traz graça aos pratos, aos partos e às refeições. O verde é o gramado impecável
do jardim desta casa, como na charmosa cidade de Gramado. O vazio do branco
traz respiros, na paz de um lar harmonioso e acolhedor. Tons mais escuros, como
o marrom, são a terra, a base, a referência imóvel, garantida pelo direito à
propriedade privada. De igual tamanho, os robes trazem o sonho de igualdade
entre homem e mulher, um ponto sensível na sociedade patriarcal, na qual o
homem envolve a mulher e sustenta-a. Aqui, temos um casal no qual cada cônjuge
tem sua autonomia, sua independência, trazendo um relacionamento saudável e
produtivo, como na divisão das tarefas do lar, pois, já ouvi dizer, casais que repartem
as funções são mais felizes. A cor preta é usada para delinear limites, dando
forma a figuras geométricas que nos insinuam que trata-se de um robe. E por que
autorretrato? Será a forma do artista de retratar seus próprios lados feminino
e masculino, harmonizando-se dentro de si mesmo? Em ambos os painéis, há uma
corrente metálica sustentando um pedaço fálico de madeira, transmitindo
fragilidade, com tudo por um fio, como é frágil a harmonia em um casal, quando
qualquer discordância pode se transformar em um grande problema e uma épica
discussão de briga. É como um pêndulo de relógio, marcando o tempo nos anos de
casados, quando o dia a dia revela-se em toda a sua praticidade, testando o
amor de um cônjuge para com o outro. O pedaço de madeira diz que todo mundo tem
que ter uma certa agressividade, e não apenas os homens devem ter esta, pois,
nos preconceitos sociais, é exigido de um homem o desenvolvimento da
agressividade; da mulher, não é exigido, e esta só vai desenvolver se quiser.
Mas, na verdade, todos têm que ter Yang, o princípio masculino da figura
paterna, na luta sangrenta pela vida. O ser humano adora ritualizar os sexos,
como Marte e Vênus. A frágil corrente é o vínculo com a saúde, com a harmonia,
como uma serpente esguia, muito fina, capaz de meter-se nas fendas mais
fechadas e inacessíveis, pois o fino sobressai-se sobre o grosso. O traço acinturado
dos robes revela tensão, pressão, obrigação que deve ser feita com disciplina.
As mangas estão posicionadas como se as mãos estivessem sobre a cintura,
revelando independência e autonomia – neste casal, cada um tem suas atividades,
seu brilho próprio, nunca tendo um colocando-se completamente nas mãos do
outro. O decote revela a elegância de quem parte em busca de seus próprios sonhos,
nunca colocando a faca e o queijo nas mãos de outra pessoa, ou seja, do cônjuge.
Aqui, ambos os cônjuges têm um pau – será um casal gay? Esta obra está no
Whitney Museum de Nova York, o qual infelizmente não visitei em minha viagem à
Big Apple em 1998. Quem sabe em outra ocasião, esperando o dólar baixar,
hehehehehe!!! Dine lembra a palavra dinner,
ou seja, jantar, num artista
delicioso, comestível. E Marte adormece com o encanto de Vênus, saindo esta do
banho perfumada, envolta em um robe.
Acima, Art, ou seja, Arte, um
óleo sobre tela de Roy Lichtenstein, de 1962. Metalinguagem, pois é arte
falando de arte. As letras garrafais, enormes, são o apelo publicitário,
tentando, a todo custo, chamar a atenção do consumidor e interpelar este. São
letras simples, sem serifa, pois, quanto mais simples e clara for a mensagem,
maior será o poder de comunicação. Aqui, excesso é sujeira, e esta tem que ser
varrida e descartada. Quanto mais “suja” for uma mensagem, pior. E o mercado
publicitário está cheio de mensagens carregadas, complicadas, confusas. Menos é
mais, diz Tao. O fundo em um belo amarelo irradia calor, num majestoso Sol que
rege o Sistema Solar, do mesmo modo como Lichtenstein foi um rei, um regente da
Pop Art, saindo-se vitorioso sobre todos aqueles que um dia duvidaram do
trabalho e da excelência de Roy, cujo nome é rei em francês.
O quadro em si tem proporções modestas como a da Monalisa, e não
passa de um metro de altura, pertencendo a uma coleção particular. A popstar
Madonna, por exemplo, é grande compradora de obras de Arte, sabendo que são um
ótimo investimento. Aqui, o formato retangular é como de uma tarja preta em um
vídeo de striptease, provocando a imaginação do telespectador, atiçando desejos
e taras. Arte é provocação – Madonna o sabe. As letras são claramente
delineadas por uma linha fina preta, sem muito espaço para curvas femininas
sensuais. É uma mensagem simples, sem frescura, marca registrada dos grandes
pensadores. O formato retangular é uma tela de cinema ou de televisão,
seduzindo os olhos e a audição do espectador, trazendo este para um mundo
fantástico, onde a imaginação artística reina. As letras têm uma sombra
vermelha, como uma sirene de ambulância, polícia ou bombeiro, gritando
estrondosamente, enchendo a cidade de coisas acontecendo, alertando para os
perigos. Nas placas de trânsito têm a cor vermelha para chamar a atenção – há
algo mais simples e claro do que uma placa de trânsito? As letras estão em
branco, cor da neutralidade, da limpeza, do princípio limpo e virgem, na cor da
noiva no altar, na cor de majestosas azaleias alvas no início da primavera.
Aqui, o preto tem um papel sutil, na função de estabelecer limites e
discernimentos, discreto em seu papel coadjuvante e, ainda assim, essencial –
papéis coadjuvantes, ao serem subestimados, definem uma trama de filme. A letra
A é o princípio, o começo, a origem, trazendo a renovação, voltando ao começo
do alfabeto, zerando dores e trazendo novos tempos; a letra R é a inicial do
artista, também significando road, ou
seja, estrada, no caminho trilhado
por um artista, caminho às vezes solitário e repleto de percalços, no sentido
de que as portas fechadas, ou percalços, são positivos, pois acabam ajudando a
pessoa e guiando esta em direção ao pensamento puro, essencial, limpo, perfumado,
positivamente exemplar, pois, diz Tao, cada pessoa tem que aprender por si a
viver com simplicidade – este é o sentido da vida; a letra T é de total, de
tudo, de transmitir mensagens artísticas, no formato de um martelo, o qual é
usado inúmeras vezes e nunca se deforma pelo tempo de uso, e assim são as
grandes obras de arte, com prazo de validade ilimitado, em direção à vida eterna.
Aqui, as palavras são como bondes de trem, passeando pelos trilhos da
existência e chegando ao seu destino, que é a realização. Cada letra garrafal é
uma porrada nos sentidos, trazendo toda a força de alguém que sabe que a
simplicidade vence as questões da vida. A letra A tem o formato de flecha, de
direção fálica, com sua forma pontiaguda agressiva, cortante como um topo de
pirâmide. A letra A é um aviso – não chegue muito perto se você não quiser se
ferir. Respeite.
Acima, Duckleswan, um acrílico sobre tela de Nicholas Krushenick, de 1966.
Parece um DNA, codificando características em um ser vivo. Os círculos são
diversos, como em um borbulhante espumante, divertido, delicioso. O registro em
azul é como o céu sendo visto de uma janela gradeada, revelando a majestade de
um dia de céu bem límpido. Aqui, temos cores vibrantes e quentes, em contraste
com o frio azul. A Pop Art explora as cores, num apelo meio claustrofóbico,
sufocante, tocando no interior da Psicologia humana. Há um ponto de sufocamento
no meio deste DNA, como em um espartilho doloroso e opressor, condenando uma
mulher aos padrões machistas de sensualidade. O acinturamento dá espaço ao
fundo quente, revelando um carvão em brasa, aquecendo e acolhendo em uma
aconchegante lareira, seduzindo combinada com um vinho em uma noite fria de
inverno. As formas retilíneas e retangulares são as barras de uma prisão, pois
o espírito é categórico quando é perguntado se o espírito gosta de 4star
encarnado, sendo que, assim, a doutrina diz: pergunte a um prisioneiro se este gosta da prisão. Uau! Mas este
cárcere de Nicholas é uma prisão boa, prazerosa, e os círculos escondem-se uns
atrás dos outros, como várias fotos que mostram a trajetória da mesma bola. A
cor preta surge aqui delineando as formas, num papel muito importante, mas a
Pop Art em geral não dá muita ênfase ao preto, pois os anos 60 e 70 foram bem
coloridos, e foi só a partir dos anos 90 que o preto tornou-se a cor da moda,
sendo usado largamente até hoje. É claro que os movimentos artísticos são ondas
e que os artistas surfam nela, mas cada um tem que ter uma identidade própria,
sem mediocridades. Os círculos são como poros na pele, respirando, dando vida
ao tecido epitelial. São como laranjas no pé de laranjeira, doces e ácidas,
calóricas, com um sabor irresistível. São como hambúrgueres na chapa, no clássico
da culinária norteamericana, com um pão circular em cada lado. A forma circular
é extremamente sensual, no charme das esferas que formam estrelas, planetas e
satélites. Aqui, temos uma reação química, com uma droga começando a fazer
efeito em um organismo. Os retângulos são enormes arranhacéus, desafiando os
limites da engenharia e erguendo-se arrogantes, eretos, machistas, impávidos,
austeros, causando perplexidade e alavancando o desenvolvimento, o futuro, as
cidades terrenas, sempre querendo imitar a engenharia das cidades da dimensão
espiritual, para onde todos nós vamos quando desencarnamos – é claro que as
pessoas sem apuro moral não vão para o Céu, bem pelo contrário; vão para uma
dimensão de sofrimento, arrogantes em sua atitude de não aceitar ajuda. A
humildade é um valor universal. Esta obra de Krushenick tem movimento, num
vaivém sexual, numa som de água escorrendo. Temos vibração, e esta tela parece
nova a cada momento. O que isso exatamente é, ninguém sabe, numa estranheza
muito bem vinda, visto que Tao não condena pessoas estranhas, imprevisíveis,
com inteligência emocional, instinto. Os retângulos são troncos de esguias
palmeiras, elegante flora das sedutoras das ruas de Los Angeles, num lugar onde
glamour e privação combinam-se no melhor e no pior da América. Na sucessão de
retângulos, o que vemos? As grades laranjas dão vazão ao céu azul ou as grades
azuis dão vazão ao céu laranja? Os grandes artistas são enigmas, inspirando
constantes e infinitas interpretações.
Acima, Yellow and Green Brushstrokes, ou seja, Pinceladas em Amarelo e Verde, um óleo e magna sobre tela de Roy
Lichtenstein, de 1966. Ondas revoltas em um mar de ressaca, com instabilidades
e incertezas. As pinceladas lutam umas contra as outras, cada uma querendo
expressar algo. O verde não é chamativo, mas em um discreto tom de musgo. Não
há retilinidade aqui, mas formas orgânicas, arredondadas, revoltadas contra um
sistema opressor. São as amorais forças da natureza, sempre pegando o ser
humano de surpresa, numa imprevisibilidade deliciosa, cômica. O amarelo traz o
ouro a este pódio, iluminando a sisudez fria do verde escuro. É um casamento
cromático, do modo como o verde e amarelo, cores nacionais brasileiras, casam
muito bem, pois o verde, é claro, carrega em si o amarelo implícito, combinado
com o azul, no tom azulado cinzento do fundo desta tela. Lichtenstein adorava
formas claras, distintas, e estas pinceladas foram cuidadosamente desenhadas,
premeditadas pela mente do autor. Em alguns pontos deste trabalho vemos gotas
circulares que aprecem que caíram acidentalmente sobre a tela, como gotas de
uma chuva imprevista, que apareceu sem ser convidada. Aqui, Roy transforma o
espontâneo em
premeditado. As pinceladas dão a impressão de que tudo foi
feito casualmente, mas não; foi feito com intenções específicas. O amarelo
sobrepõe-se ao verde, dominado este, como uma mulher domina o marido em um
casamento. Aqui, temos um matrimônio, um engajamento, e as pinceladas afoitas
estão repousando sobre um fundo liso, fundo este sem estampas, mas uma textura extremamente
simples e discreta. O fundo não quer fazer parte deste duelo entre as
pinceladas, mas ter um papel neutro. São como um tecido volátil, extremamente
fino e esvoaçante, e qualquer movimento revela essa sensualidade esfumaçada,
num tecido incrivelmente macio e leve, como tecido debaixo d’água, na quietude
de um peixe nadando por águas tranquilas, plácidas, sem tensão ou vicissitude.
As pinceladas parecem querer expressão palavras, e estas não podem ser
reveladas pela insinuação geométrica das curvas pinceladas. Apesar de haver
harmonia entre o verde e o amarelo, há contraste contraditório, e uma cor
contrasta muito com a outra. O amarelo é berrante e sobressai-se, exibindo-se
orgulhosamente; já, o verde é meio invisível, modesto em um plano secundário,
porém, dando o tom da tela. As pinceladas são como assinaturas indecifráveis,
como letras de médico, em uma escrita com muita pressa e inquietude, do modo
como a assinatura de uma pessoa traz a identidade, e assinar um documento dá a
certeza de que este é legal e confiável. E Roy assina suas obras com essa letra
apressada, com muita atitude, personalidade e estilo. Cada artista tem sua
própria assinatura, e nesta tela temos metalinguagem, pois é assinatura falando
de assinatura. E o preto é essencial, delineando tanto as pinceladas verdes
quanto as amarelas, num papel essencial de nitidez às pinceladas premeditadas
de RL. Os dois formatos ovais das pinceladas verdes são como seios ou
testículos, como um casal de mãos dadas, engajados em um relacionamento. É como
o bustiê da Mulher Maravilha, revelando a águia, animal símbolo da liberdade da
América e das expressões artísticas desta. É como um cálido beijo de namorados,
um entrando na vida do outro, construindo uma relação de afeto e confiança. As
extremidades das pinceladas são irregulares, pouco interessadas em trazer
perfeição. Aqui, o artista não quer ser perfeito e premeditado, bem pelo
contrário; quer ser um vulto selvagem de catarse, de atitude, de saudável
ímpeto transgressor. Nenhum artista quer se ver preso, e a liberdade de
expressão é essencial numa nação que pretende produzir e incentivar arte,
fazendo-nos imaginar como foi ruim para os artistas brasileiros e repressão
ideológica de estado. Nesta tela, apenas algumas gotículas são em branco,
pedindo paz e harmonia e um mundo tão competitivo e aguerrido. Um artista não
quer competir; quer ser ele mesmo; quer ser único e inconfundível, na busca do
ser humano por identidade e individualidade. As gotas brancas são como manchas
de alvejante, abrasivas, agressivas, desafinado o registro cromático,
transgredindo, como uma falha em um sistema tido como infalível. As anomalias
são saudáveis, pois o normal é ser anormal. Aqui, o verde quer trazer amizade
entre o amarelo e o fundo azulado.
Acima, Sculpture in a Lanscape, ou seja, Escultura em uma
Paisagem, um óleo sobre cartão de Patrick Caulfield, de
1966. Duas vaginas sobrepostas, sendo que cada uma leva a um destino. São como
irmãos gêmeos, e um sustenta o outro, numa hierarquia. Os tons azulados remetem
ao oceano, à mãe da vida na Terra, pulsando em abundante vida, desde peixes
para anfíbios, aves e mamíferos. A vida luta para viver aqui, numa paisagem
inóspita, pedregosa, como nos ermos de Marte, sem água líquida, um planeta
morto. As superfícies de pedra enrugam-se, trazendo marcas de erosão que marcam
a passagem do tempo, contando uma história, uma trajetória. Os dois blocos perfurados
são brancos e limpos, intocados pela poeira deste ambiente árido. Sustentando
os blocos, uma plataforma retangular, forte, com a missão de aturar peso, sob
tortura. Os blocos não estão perfeitamente alinhados, e o de cima ameaça cair,
deslocando-se um pouco à direita. Trata-se de uma estrutura frágil, e qualquer
ventania aqui pode trazer instabilidade, dano e destruição. É uma construção em
estágio inicial, e não sabemos como um bloco parou em cima do outro, nem
sabemos a finalidade da construção. Caulfield traz delgados traços pretos para
delinear as formas, num trabalho muito fino e sofisticado. Não sabemos o que virá
depois, se esta estrutura desenvolver-se-á e tornar-se-á mais complexa; nem
sabemos o porquê dos blocos terem sido perfurados. O furo é útil, como em uma
janela, pois é o vazio desta que tem utilidade, permitindo-nos que olhemos a
paisagem além da janela. É o vazio de Tao, sempre produtivo, sempre útil,
sempre permitindo-nos que olhemos através do vazio da janela. Podemos pegar uma
corda e atar os dois blocos um ao outro, formando um conjunto, como um colar.
Parecem duas caixas de som, trabalhando juntas, em harmonia. Não
sabemos porque elas foram desalinhadas, nem como. Talvez esse seja o charme
deste cartão, numa imperfeição charmosa, humana, irreverente. Praticamente do
mesmo tom da paisagem rochosa, a base retangular aguenta o peso sozinha, sem
reclamar por ter que exercer tanto esforço. A base aqui está coadjuvante,
discreta, e as estrelas são as pedras perfuradas. São como dois anéis
quadrados, ou um par de brincos simples, elegantes e modernos. São vizinhos que
vivem em harmonia na vizinhança. Vemos nos blocos uma relação de similaridade,
e fica difícil estabelecer uma diferenciação, já que eles se parecem tanto. Os
blocos lutam aqui para que adquiram, cada um, sua identidade, e lutam pela
diferenciação, pois nada mais insuportável para um artista do que ser
considerado muito similar a outro artista. Existe um artista, cujo nome não
mencionarei, que plagia amplamente outro artista mais famoso. É medíocre como
uma pessoa que sobre num palco para fazer playback da voz de outrem – não é
arte; é uma piada. Os blocos formam um aspecto de prédio com um design
arquitetônico muito moderno e desconcertante, numa proposta original que
gravita acima da mediocridade. E o ar e os pássaros passam livremente pelos
buracos, que são úteis portais, portas que levam a outros destinos. É como uma
faixa estendida com buracos nela, pois isso impede que o vento derrube a faixa.
Tao é isso: é do vazio que vem a força. Os blocos estão humildes em sua função,
e vivem alegremente sabendo que estão sendo úteis, permitindo a passagem do
vento e garantindo que a estrutura não tombará. São dois seios vistosos e
atraentes, seduzindo em sua passividade, visto que o termo passiva, em espanhol, quer dizer porta, passagem. E são as portas e
janelas que fazem um cômodo ser útil. São dois olhos de camaleão, olhando para
direções diferentes, do modo como a base adquiriu o aspecto do terreno ao
fundo, disfarçando-se para despistar predadores – é o valor da discrição. Este
trabalho de Caulfield é muito sexy em sua amplitude desértica, e os blocos têm formas
simples, portanto, belas.
Referência
bibliográfica:
OSTERWOLD,
Tilman. Pop Art. Köln: Taschen, 2007
Nenhum comentário:
Postar um comentário