É interessante observar como
o Feminino encanta Gustav Klimt, o qual, por sua vez, encanta-nos. Os textos e
análises semióticas a seguir são inteiramente meus.
Acima, Retrato de Fritza Riedler. Uma parte do vestido de Fritza parece
ser feita de olhos, como se o Universo estivesse a observar a dama pintada.
Suas mãos são recatadas e delicadas, repousando sobre o colo. Os olhos do
vestido são como mariscos à beira-mar, alimentando-se e lutando pela Vida. São
os olhos do Mundo, observando Klimt, do modo como qualquer Arte precisa ser
observada; do contrário, morre. Os olhos são como bocas de uma ninhada,
querendo ser alimentadas, numa incessante fome que um artista tem por fazer
Arte, por produzir, por contribuir para o Mundo, por exercer um papel digno e
específico, por desejar, simplesmente, marcar época – este é o poder da Arte.
Os olhos são como poros na pele, sempre respirando, sempre lutando para
sobreviver, no sentido de que todos temos que virar páginas, sejam estas doces
ou amargas. Os olhos são como peixes num bando numeroso, onde uns protegem os
outros, numa verdadeira irmandade, pois há segurança em numerosidade. A
dama dá um sorriso quase imperceptível, deixando os lábios ligeiramente
entreabertos, como se não quisesse que algo lhe entrasse pela boca,
preservando-se. A dama tem um rosto nem jovem, nem velho, num limiar
interessante de meia idade. Sua pele é clara como seu vestido, e juntos formam
um só organismo, numa Fritza confortável dentro de si mesma, conformada com o
fato de que, na Vida, não se pode ter tudo. É uma dama contentada e muito bem
comportada, com a paciência para posar para um artista. Suas bochechas coradas
contrastam com a pele alva, trazendo um pouco de calor, de informalidade. Seu
vestido é feito de muitos babados, e não é exatamente um vestido clean, nem muito simples. É um traje
complexo que traz um certo peso sobre a modelo, a qual tem que carregar o traje
como se fosse uma sobrecarga existencial – cada um carrega a si mesmo; cada um
tem que se erguer por si mesmo; cada um tem que aprender por si mesmo. Atrás da
cabeça da modelo, vemos formas que parecem ser complexos vitrais de igreja, com
suas cores mágicas entrando no ambiente, encantando com sua pluralidade
cromática e festiva – é a Rosa Mística de Maria. O plano de fundo, em geral,
tem sutis ares de Mondrian, com retângulo e quadrados de linhas retas e tensas,
compondo um cenário altamente assimétrico. O diálogo entre artistas é altamente
natural e inevitável, e uns “bebem do sangue” dos outros, numa rede infinita de
aprimoramento e crescimento, do modo como este é o propósito mor da Vida: o
progresso moral. Na parede rubra, Klimt, em suas riquezas minuciosas, tem um ar
indecifravelmente místico, trazendo algo de religioso para a própria obra, e
esta parede tem pequenos quadrados, que são subconjuntos que foram conjuntos
maiores, numa relação de hierarquia, como numa família, na qual o irmão mais
velho “governa” o mais novo. Mas abaixo no quadro, vemos uma tarja negra,
respaldando algo que parece ser uma tomada elétrica, no poder “elétrico” da
Criação, quando o artista traz uma energia elétrica à obra, energizando as
percepções do espectador. Aos pés do vestido da dama, dois losangos que boiam
no interminável Oceano, como dois olhos que observam o Mundo e Criação Divina,
como Tao, que observa tudo, em infinito poder de Criação. O artista é isso – um
discípulo de Tao, buscando “imitar” o Criador Primordial, aprendendo com este.
Os inúmeros olhos aqui compõem um tesouro, como a caixa-forte do Tio Patinhas,
nadando em seu infindável tesouro, como no tesouro descomunal de um dragão de
Tolkien. Os olhos são células de um só corpo, como os olhos do espectador, os
quais, mesmo depois de tanto tempo, continuam observando as obras de artistas
marcantes e inesquecíveis, pois um artista nada é sem espectadores.
Acima, Retrato de Adele Bloch-Bauer II. Adele está elegante, retilínea e
ereta, numa espécie de “mulher falo”, como num obelisco, que é símbolo da
verdade e do nascer de um novo dia, trazendo renovação. Seu chapéu negro é
descomunal, enorme, e é uma janela para uma noite escura, num quarto escuro, numa
boa noite de sono, num momento bem dormido. Adele usa uma extensa echarpe, que
vai de seus ombros até seus pés, como uma anaconda voraz, devorando qualquer
ser vivo que lhe apareça. É o curso do Rio Amazonas, sinuoso como uma serpente
líquida, caminhando sensualmente pelos ritmos aquosos da existência, nos
inevitáveis altos e baixos das ondas da Vida. Não há qualquer sorriso no rosto
de Adele, mas um rosto bem sério, um tanto prostrado e triste, talvez
depressivo, numa pessoa que passou por uma grande desilusão existencial,
mergulhando num mar de dor e tristeza, sem poder se comunicar com o Mundo ao
seu redor. Os olhos de Adele estão “puxados” para baixo, lacrimosos, e a modelo
aqui é consideravelmente simétrica, com exceção da posição das mãos, que
quebram um tanto desta simetria. Suas mãos parecem procurar algo, procurar um
propósito na Vida, um norte, um sentido, no sentido de que todos precisam se
encontrar por si mesmos, na grande escola da Vida. Este chapelão é a fértil
mente de Klimt, explodindo de tantas ideias, de tanta imaginação, ameaçando
explodir num orgasmo de genialidade. O traje de Adele tem cores discretas, na
discrição da própria modelo, como se esta soubesse que é interessante (e necessário)
ser um “camaleão” e ser discreto e “invisível”. No busto de Adele vemos três
botões, que são o Cinturão de Órion, num céu estrelado que fascina a Humanidade,
nos mistérios dos mares cósmicos, na sopa primordial que trouxe a Vida ao
planeta: o que são Deus e o Universo que Ele criou? Por que Ele o criou? Qual o
sentido de estarmos aqui? Já, o pano de fundo deste quadro é mais colorido e
festivo, enquanto Adele não é muito feminina, mas séria e reverente. Na porção
superior do fundo, vemos cavalos correndo, portando paladinos cavaleiros, na
aventura que é a Vida, o trote do Tempo, que avança rápido e traz o inevitável
Desencarne, a Redenção. Os cavalos são atléticos, olímpicos e graciosos, na
elegância de um dos bichos mais graciosos da Natureza. Na porção mediana do
fundo, uma base verde campestre, no perfume da Vida ao ar livre, na fertilidade
floral de uma estação agradável. Aqui, as flores trazem a feminilidade que
tanto falta faz a Adele. Aos pés de Adele, um tapete que traz formas fluidias,
com linhas retorcidas, numa espécie de apelo oriental, no modo como o Ser
Humano, de forma universal, toma as flores como símbolos de beleza e
feminilidade. Este fundo, mais uma vez, como eu já disse nesta mesma postagem,
traz um pouco de Mondrian, com sua valsa entre retângulos e quadrados
assimétricos. Na esquerda superior do quadro, uma estrutura que parece ser uma
casa, no modo como a referência de Lar é capital à Humanidade, no modo como a
Dimensão Metafísica é o lar primordial, de onde viemos e para onde voltaremos.
E isso é universal. A casa representa o conforto, o bem estar, o ser bem
recebido e compreendido, do modo como a Humanidade demorou séculos para se dar
conta da importância de Jesus Cristo e compreender o legado deste homem. As
flores trazem o perfume, do modo como as especiarias orientais encantaram a
Europa, com o aroma irresistível de cravo e canela, num jogo de sedução entre
tradicional e exótico. E Adele permanece incólume, intocada. É uma torre forte,
que jamais vai se curvar como a Torre de Pisa. Aqui, o Feminino busca o
Masculino, e Adele luta para ter, dentro de si, ambas as forças opostas que
regem o Universo, no modo como um cantor, por exemplo, tem que ser tanto homem
de negócios e homem artista, sendo um negociador, no completo controle da
própria carreira, quanto um artista, uma pessoa sensível, que precisa conservar
sua própria integridade artística, buscando ser sensível e original – duas
faces para uma moeda só, que é Tao.
Acima, As Três Idades da Mulher. Por que a senhora idosa está tão
envergonhada? Seria por causa da nudez? Ela tapa o próprio rosto com a mão e
com os cabelos. E por que a idosa está num nível acima da mulher jovem? Essa
elevação é a sabedoria e a ponderação que a idade traz, no sentido de que a
idade, aos poucos, vai libertando a pessoa, trazendo um ponto de vista mais
abrangente ao indivíduo. É uma troca: o corpo envelhece e a mente se fortalece.
O seio da idosa está caído, mostrando uma vida de trabalho e dedicação, como
uma antepassada me disse antes de morrer, mostrando as próprias mãos e dizendo:
“Estas mãos foram úteis ao Mundo, pois, com elas, lavei, limpei, passei, cozinhei
e costurei”. E a Vida é isso – ser útil ao Mundo ao redor. O ventre da idosa
parece estar grávido, numa silhueta marcante. Seus ombros estão cansados e suas
mãos denunciam a idade, ao contrário dos pés, que não apresentam muitos sinais
de idade. E por que tanta vergonha, minha senhora? O envelhecimento é natural
na Natureza; os ciclos são naturais, como uma Lua, que cresce, envelhece e
morre, renascendo depois, do modo como o Renascimento espera por esta idosa, no
milagre do Desencarne, quando a pessoa não só rejuvenesce, como também vive
para sempre jovem. Talvez seja este o sentido deste quadro de Klimt: a idosa morre
e renasce como o bebê aqui. O bebê está em um sono profundo e indestrutível,
como acontece em casos de espíritos que desencarnam e dormem por muitos dias,
até o despertar na Dimensão Metafísica. O bebê é o retorno ao útero, à Casa
Primordial, aos braços da Virgem Santíssima, ou, para o egípcio antigo, aos
braços de Ísis, a Mãe Iluminada. A mulher jovem, aqui, abraça profundamente o
bebê, em puro ato de amor. Ela repousa sua bochecha sobre a cabecinha da filha,
e ambas parecem estar dormentes, descansando, num ser humano que aceita seus
próprios limites, nunca querendo obter da Vida aquilo que não pode obter, pois,
já ouvi dizer, aquele que aceita que não se pode ter tudo, tem Paz. Aqui, a
nudez é orgânica, natural, sem vestígios de sensualidade, num bebê nu em pleno
conforto da barriga primordial. Um dos seios da mulher está à mostra, lactante,
abundante como uma mãe gata que amamenta uma ninhada inteira, dando tudo de si
para os filhos, para o Mundo, e esta mãe de Klimt cria a filha para o Mundo. No
pano de fundo superior, uma grande tarja negra, num negror noturno intenso,
imprevisível, no sentido de que temos fé no Desencarne mas, ao mesmo tempo, não
temos provas frias e científicas sobre a dimensão acima, num grande desafio de
fé. Há também ao fundo muitos tons terrosos, no modo como a Terra gera seus
filhos na água e no ar, sempre gerando como uma mãe generosa. Também vemos, em
muitas partes do quadro, muitos círculos, que são o formato orgânico da Vida,
num Tao desprovido de arestas, num Tao perfeito em tudo o que faz, no modo como
que, como Deus faz, o Homem não faz tão bem feito, numa relação de hierarquia
universal: os mais morais regem os menos morais, e o sentido existencial reside
no aprimoramento moral. Um véu muito fino envolve a mulher e o bebê, e é um véu
transparente, leve, como a Verdade, que revela tudo em sua nudez autêntica. Aos
pés da mãe vemos também muitos triângulos, que fazem menção às três fases da
Vida aqui retratadas: Nascimento, Plenitude e Morte, no modo como esta idosa
morrerá e renascerá como o próprio bebê no quadro, nos ciclos da Vida e do Meio
Ambiente. Há uma sinergia entre as três figuras humanas aqui retratadas, e, na
verdade, essas três são uma pessoa só, numa mensagem de autoamor e
autorrespeito, pois, aquele que se ama, se preserva. Flores parecem adornar o
cabelo desta Mãe, que é a Mãe Natureza, sempre respirando, sempre nutrindo, no
modo como, às vezes, tudo do que uma pessoa precisa é de ar nos próprios
pulmões, podendo apreciar a Vida de modo simples e contentado, no sentido de
que, aquele que não se contenta, sofre.
Acima, Dama com Leque. Este quadro exala perfume, Primavera, o Renascer da
Vida. O leque é o frescor de um dia ameno e agradável. A dama é sexy, e seu
ombro está exposto numa provocação, num requinte de uma mulher que sabe ser
sexy sem ser vulgar. No plano de fundo, a Natureza em sua beleza exuberante, e
podemos ouvir o canto dos pássaros e ouvir o farfalhar que o vento causa sobre
a vegetação ondulante, exuberante em suas flores desabrochando, clamando por
Vida. O fundo amarelo é a preciosidade dourada da Vida, e os elementos deste
quadro são verdadeiros tesouros, culminando com a joia maior, que é a dama,
como uma dama de baralho, com seu emblemático Q, de “rainha” em inglês, num
frágil pescoço de Nefertiti, sustentando um rosto altivo e um cabelo que sugere
elevação mental, inteligência. Sim, temos aqui uma Nefertiti pós moderna,
relida, refeita em vestes que se juntam ao plano de fundo, fazendo com que tudo
vibre na mesma direção, no mesmo prazer de viver, na festa da Vida que é a
estação das flores, como azaleias que rompem em cor, anunciando o fim do
Inverno, o fim da reclusão, chamando todos os seres vivos para a prazerosa
reprodução, tanto vegetais quanto animais, como disse certa vez Dercy Gonçalves:
Deus coloca o “tesão” nos seres vivos porque, sem o tesão, ninguém faria
filhos, a as flores não exalariam o pólen reprodutivo, e a Vida acabaria, no
sentido de que Deus não pode ter vergonha de algo que Ele próprio inventou. A
dama tem o exato sorriso da célebre rainha egípcia, numa alegria contida,
discreta, mas numa feição de satisfação, de ponderação e equilíbrio mental, num
quadro de “sisudez alegre”. Seus olhos estão fixos no horizonte, como se
tivesse uma visão de lince, enxergando muitos e muitos quilômetros adiante,
guiando o seu próprio povo na luz de Tao, que é a visão eterna que tudo
abrange. Mas, ao contrário da consorte antiga, esta dama tem bochechas bem
róseas, entrando em harmonia cromática com os seus lábios, num rubor que traz o
calor de um animal em pleno cio, querendo sair para o Mundo para se reproduzir,
no instinto de perpetuação da espécie. E a Primavera é isto: preservação das
espécies. Esta Nefertiti de Klimt traz um penteado que, em seu volume, dá a
impressão da dama ter um cérebro descomunal, assim como é o efeito da coroa
imperial sobre a cabeça da egípcia: uma extensão do cérebro, conotando
superioridade intelectual, do modo como o célebre mestre Tatata Pimentel chamava
de elite os alunos cuja inteligência respeitava. Esta dama é uma mulher de
elite, exalando classe, e não tem um pingo mínimo de vulgaridade ou
indiscrição, apesar de exibir tão provocantemente a própria pele. Os seres vivos
ao fundo são nobres, no modo como Tao coloca sobre os seres um pouco da classe
que o mesmo Tao tem, como numa rainha da Festa da Uva, a qual, antes de
qualquer atributo, tem que ter classe. Os pássaros aqui parecem ser pavões,
exibindo orgulhosamente suas penas coloridas, na dança exuberante em que machos
se exibem para conquistar as fêmeas, no objetivo de gerar prole. Aqui, podemos
ver o leque se movimentar, abanando suavemente, juntando-se à brisa natural no
ar, unindo os seres vivos na necessidade comum de água e oxigênio. O leque
conota charme aristocrático, polido. Cachos de cabelos caem sobre o rosto como
uma cascata, ou como uma trepadeira, na insinuação da Natureza, a qual vem
chegando discretamente e, no fim das contas, acaba conquistando tudo e todos ao
seu redor. O decote desta dama é atrevido, numa mulher “louca” para se libertar
desta função tão decorativa, encontrando no decote ousado uma válvula de escape
para arrebatar tudo e todos, assim como o fez Nefertiti, que era a mais
importante das esposas dentro do harém do faraó, numa dama que quer tudo na
base do “tudo ou nada”: ou ela é a maioral, ou prefere nada ser. Este decote
remete ao ousado (porém classudo) vestido de Gisele Bündchen no mais recente
Met Gala, numa peça que esconde e revela, num jogo entre certo e errado, numa
pura provocação feita por quem sabe o que faz.
Acima, Casas em Unterach no Attersee. Um vilarejo no qual reside a Paz,
num Klimt sedento por Paz e sossego. As casas são coloridas e alegres,
estruturas nas quais moram pessoas que têm intenções modestas em relação à
Vida: viver com tranquilidade. Um límpido rio corre na porção inferior do
quadro, e a água é muito pura, num Klimt puro e desprovido de ambições
mundanas. Podemos ouvir o barulho reconfortante da água fluindo, num córrego
onde não há um sinal de poluição ou sujeira. As casas se fundem com a
vegetação, numa vizinhança arborizada, de jardins bem cuidados e amados. As
janelas estão abertas, num artista aberto para o Mundo, deixando-se influenciar
e, desse modo, influenciando outrem, numa troca de sensibilidades. Aqui, uma
brisa gostosa paira, e podemos ouvir um galo cantando no pátio de uma dessas
residências acolhedoras. É um quadro que clama por Paz Mundial, pela dissolução
da Guerra, a qual só traz fome e destruição. As casas têm chaminés, espalhando
o odor de madeira queimada pela vizinhança em dias de frio e umidade. Esta é a
sensação de estar em Paz: viver num lugar sem pretensões, sem as vaidades que
tanto Mal trazem a qualquer ser humano. A casa mais vermelha é o sangue de
irmãos, que corre em comum pelas veias de todos nós, e não é uma bobagem quando
um padre diz que temos que nos amar como irmãos. A casa vermelha traz calor, e
traz um Klimt que aceita sua própria humanidade, como na cor de carne dos
bordéis, lugares em que o ser humano aceita a sua própria sexualidade, nunca
reprimindo esta. Trata-se de uma colina, com construções e vias que correm de
cima a baixo, e, no fundo de tudo, em último lugar, o rio, que corre pelos
vales, e este rio é Tao, o qual, sempre subestimado, sempre em último lugar,
rege a vida de todos os moradores deste vilarejo, os quais são regidos por esta
força gravitacional, que coloca o mais importante em uma posição aparentemente
desimportante, no sentido de Tao ser invisível, e não podemos dizer como Ele é,
nem como Ele pensa. Neste quadro, a água tem este papel importante, no fluido
primordial de onde surgiu toda a Vida, para depois esta se expandir por seres
vivos que vivem fora d’água. Na beira do rio, uma casinha pequena e modesta, a
mais pobre do vilarejo, a mais subestimada, não tão suntuosa e corpulenta como
as demais residências aqui, e esta casinha modesta é precisamente a qual rege
todo o vilarejo, tendo em Tao a humildade eterna. Aqui, o Ser Humano vive em
harmonia com o Meio Ambiente, e o espectador é tentado e sonhar em viver em um
lugar tão plácido, tão desprovido das vicissitudes das vaidades humanas, pois o
Mundo é de quem NÃO se considera dono deste mesmo Mundo. Klimt se aproxima do
“não querer”, do “não ambicionar”, podendo, assim, produzir em paz e ter um dia
a dia proveitoso e prazeroso, nunca tendo no trabalho um sinônimo de sofrimento
ou privação, mas de propósito. Ao lado do rio vemos uma estradinha cinzenta,
que é o limite necessário para que o respeito guie a Vida em Sociedade, no
limite que existe entre o “eu” e o “outro”, respeitando, aqui, a propriedade
alheia. Aqui, temos uma técnica impecável, num Klimt capaz de reproduzir um rio
espelhado, como num espelho existencial, no qual o Ser Humano se olha e se
julga, podendo observar com clareza a sua própria trajetória existencial, pois
Tao pergunta: O que é mais importante – a sua Imagem ou a sua Alma? Claro que é
a Alma, mas o Ser Humano é eternamente obcecado pela Imagem, obtendo, desse
modo, infelicidade e ambição, num jogo de vaidades que cobra um preço alto, preço
este que é a Alma, a qual é escravizada pela Arrogância.
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