quarta-feira, 23 de maio de 2018

Gostando de Gustav



É interessante observar como o Feminino encanta Gustav Klimt, o qual, por sua vez, encanta-nos. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus.


Acima, Retrato de Fritza Riedler. Uma parte do vestido de Fritza parece ser feita de olhos, como se o Universo estivesse a observar a dama pintada. Suas mãos são recatadas e delicadas, repousando sobre o colo. Os olhos do vestido são como mariscos à beira-mar, alimentando-se e lutando pela Vida. São os olhos do Mundo, observando Klimt, do modo como qualquer Arte precisa ser observada; do contrário, morre. Os olhos são como bocas de uma ninhada, querendo ser alimentadas, numa incessante fome que um artista tem por fazer Arte, por produzir, por contribuir para o Mundo, por exercer um papel digno e específico, por desejar, simplesmente, marcar época – este é o poder da Arte. Os olhos são como poros na pele, sempre respirando, sempre lutando para sobreviver, no sentido de que todos temos que virar páginas, sejam estas doces ou amargas. Os olhos são como peixes num bando numeroso, onde uns protegem os outros, numa verdadeira irmandade, pois há segurança em numerosidade. A dama dá um sorriso quase imperceptível, deixando os lábios ligeiramente entreabertos, como se não quisesse que algo lhe entrasse pela boca, preservando-se. A dama tem um rosto nem jovem, nem velho, num limiar interessante de meia idade. Sua pele é clara como seu vestido, e juntos formam um só organismo, numa Fritza confortável dentro de si mesma, conformada com o fato de que, na Vida, não se pode ter tudo. É uma dama contentada e muito bem comportada, com a paciência para posar para um artista. Suas bochechas coradas contrastam com a pele alva, trazendo um pouco de calor, de informalidade. Seu vestido é feito de muitos babados, e não é exatamente um vestido clean, nem muito simples. É um traje complexo que traz um certo peso sobre a modelo, a qual tem que carregar o traje como se fosse uma sobrecarga existencial – cada um carrega a si mesmo; cada um tem que se erguer por si mesmo; cada um tem que aprender por si mesmo. Atrás da cabeça da modelo, vemos formas que parecem ser complexos vitrais de igreja, com suas cores mágicas entrando no ambiente, encantando com sua pluralidade cromática e festiva – é a Rosa Mística de Maria. O plano de fundo, em geral, tem sutis ares de Mondrian, com retângulo e quadrados de linhas retas e tensas, compondo um cenário altamente assimétrico. O diálogo entre artistas é altamente natural e inevitável, e uns “bebem do sangue” dos outros, numa rede infinita de aprimoramento e crescimento, do modo como este é o propósito mor da Vida: o progresso moral. Na parede rubra, Klimt, em suas riquezas minuciosas, tem um ar indecifravelmente místico, trazendo algo de religioso para a própria obra, e esta parede tem pequenos quadrados, que são subconjuntos que foram conjuntos maiores, numa relação de hierarquia, como numa família, na qual o irmão mais velho “governa” o mais novo. Mas abaixo no quadro, vemos uma tarja negra, respaldando algo que parece ser uma tomada elétrica, no poder “elétrico” da Criação, quando o artista traz uma energia elétrica à obra, energizando as percepções do espectador. Aos pés do vestido da dama, dois losangos que boiam no interminável Oceano, como dois olhos que observam o Mundo e Criação Divina, como Tao, que observa tudo, em infinito poder de Criação. O artista é isso – um discípulo de Tao, buscando “imitar” o Criador Primordial, aprendendo com este. Os inúmeros olhos aqui compõem um tesouro, como a caixa-forte do Tio Patinhas, nadando em seu infindável tesouro, como no tesouro descomunal de um dragão de Tolkien. Os olhos são células de um só corpo, como os olhos do espectador, os quais, mesmo depois de tanto tempo, continuam observando as obras de artistas marcantes e inesquecíveis, pois um artista nada é sem espectadores.


Acima, Retrato de Adele Bloch-Bauer II. Adele está elegante, retilínea e ereta, numa espécie de “mulher falo”, como num obelisco, que é símbolo da verdade e do nascer de um novo dia, trazendo renovação. Seu chapéu negro é descomunal, enorme, e é uma janela para uma noite escura, num quarto escuro, numa boa noite de sono, num momento bem dormido. Adele usa uma extensa echarpe, que vai de seus ombros até seus pés, como uma anaconda voraz, devorando qualquer ser vivo que lhe apareça. É o curso do Rio Amazonas, sinuoso como uma serpente líquida, caminhando sensualmente pelos ritmos aquosos da existência, nos inevitáveis altos e baixos das ondas da Vida. Não há qualquer sorriso no rosto de Adele, mas um rosto bem sério, um tanto prostrado e triste, talvez depressivo, numa pessoa que passou por uma grande desilusão existencial, mergulhando num mar de dor e tristeza, sem poder se comunicar com o Mundo ao seu redor. Os olhos de Adele estão “puxados” para baixo, lacrimosos, e a modelo aqui é consideravelmente simétrica, com exceção da posição das mãos, que quebram um tanto desta simetria. Suas mãos parecem procurar algo, procurar um propósito na Vida, um norte, um sentido, no sentido de que todos precisam se encontrar por si mesmos, na grande escola da Vida. Este chapelão é a fértil mente de Klimt, explodindo de tantas ideias, de tanta imaginação, ameaçando explodir num orgasmo de genialidade. O traje de Adele tem cores discretas, na discrição da própria modelo, como se esta soubesse que é interessante (e necessário) ser um “camaleão” e ser discreto e “invisível”. No busto de Adele vemos três botões, que são o Cinturão de Órion, num céu estrelado que fascina a Humanidade, nos mistérios dos mares cósmicos, na sopa primordial que trouxe a Vida ao planeta: o que são Deus e o Universo que Ele criou? Por que Ele o criou? Qual o sentido de estarmos aqui? Já, o pano de fundo deste quadro é mais colorido e festivo, enquanto Adele não é muito feminina, mas séria e reverente. Na porção superior do fundo, vemos cavalos correndo, portando paladinos cavaleiros, na aventura que é a Vida, o trote do Tempo, que avança rápido e traz o inevitável Desencarne, a Redenção. Os cavalos são atléticos, olímpicos e graciosos, na elegância de um dos bichos mais graciosos da Natureza. Na porção mediana do fundo, uma base verde campestre, no perfume da Vida ao ar livre, na fertilidade floral de uma estação agradável. Aqui, as flores trazem a feminilidade que tanto falta faz a Adele. Aos pés de Adele, um tapete que traz formas fluidias, com linhas retorcidas, numa espécie de apelo oriental, no modo como o Ser Humano, de forma universal, toma as flores como símbolos de beleza e feminilidade. Este fundo, mais uma vez, como eu já disse nesta mesma postagem, traz um pouco de Mondrian, com sua valsa entre retângulos e quadrados assimétricos. Na esquerda superior do quadro, uma estrutura que parece ser uma casa, no modo como a referência de Lar é capital à Humanidade, no modo como a Dimensão Metafísica é o lar primordial, de onde viemos e para onde voltaremos. E isso é universal. A casa representa o conforto, o bem estar, o ser bem recebido e compreendido, do modo como a Humanidade demorou séculos para se dar conta da importância de Jesus Cristo e compreender o legado deste homem. As flores trazem o perfume, do modo como as especiarias orientais encantaram a Europa, com o aroma irresistível de cravo e canela, num jogo de sedução entre tradicional e exótico. E Adele permanece incólume, intocada. É uma torre forte, que jamais vai se curvar como a Torre de Pisa. Aqui, o Feminino busca o Masculino, e Adele luta para ter, dentro de si, ambas as forças opostas que regem o Universo, no modo como um cantor, por exemplo, tem que ser tanto homem de negócios e homem artista, sendo um negociador, no completo controle da própria carreira, quanto um artista, uma pessoa sensível, que precisa conservar sua própria integridade artística, buscando ser sensível e original – duas faces para uma moeda só, que é Tao.


Acima, As Três Idades da Mulher. Por que a senhora idosa está tão envergonhada? Seria por causa da nudez? Ela tapa o próprio rosto com a mão e com os cabelos. E por que a idosa está num nível acima da mulher jovem? Essa elevação é a sabedoria e a ponderação que a idade traz, no sentido de que a idade, aos poucos, vai libertando a pessoa, trazendo um ponto de vista mais abrangente ao indivíduo. É uma troca: o corpo envelhece e a mente se fortalece. O seio da idosa está caído, mostrando uma vida de trabalho e dedicação, como uma antepassada me disse antes de morrer, mostrando as próprias mãos e dizendo: “Estas mãos foram úteis ao Mundo, pois, com elas, lavei, limpei, passei, cozinhei e costurei”. E a Vida é isso – ser útil ao Mundo ao redor. O ventre da idosa parece estar grávido, numa silhueta marcante. Seus ombros estão cansados e suas mãos denunciam a idade, ao contrário dos pés, que não apresentam muitos sinais de idade. E por que tanta vergonha, minha senhora? O envelhecimento é natural na Natureza; os ciclos são naturais, como uma Lua, que cresce, envelhece e morre, renascendo depois, do modo como o Renascimento espera por esta idosa, no milagre do Desencarne, quando a pessoa não só rejuvenesce, como também vive para sempre jovem. Talvez seja este o sentido deste quadro de Klimt: a idosa morre e renasce como o bebê aqui. O bebê está em um sono profundo e indestrutível, como acontece em casos de espíritos que desencarnam e dormem por muitos dias, até o despertar na Dimensão Metafísica. O bebê é o retorno ao útero, à Casa Primordial, aos braços da Virgem Santíssima, ou, para o egípcio antigo, aos braços de Ísis, a Mãe Iluminada. A mulher jovem, aqui, abraça profundamente o bebê, em puro ato de amor. Ela repousa sua bochecha sobre a cabecinha da filha, e ambas parecem estar dormentes, descansando, num ser humano que aceita seus próprios limites, nunca querendo obter da Vida aquilo que não pode obter, pois, já ouvi dizer, aquele que aceita que não se pode ter tudo, tem Paz. Aqui, a nudez é orgânica, natural, sem vestígios de sensualidade, num bebê nu em pleno conforto da barriga primordial. Um dos seios da mulher está à mostra, lactante, abundante como uma mãe gata que amamenta uma ninhada inteira, dando tudo de si para os filhos, para o Mundo, e esta mãe de Klimt cria a filha para o Mundo. No pano de fundo superior, uma grande tarja negra, num negror noturno intenso, imprevisível, no sentido de que temos fé no Desencarne mas, ao mesmo tempo, não temos provas frias e científicas sobre a dimensão acima, num grande desafio de fé. Há também ao fundo muitos tons terrosos, no modo como a Terra gera seus filhos na água e no ar, sempre gerando como uma mãe generosa. Também vemos, em muitas partes do quadro, muitos círculos, que são o formato orgânico da Vida, num Tao desprovido de arestas, num Tao perfeito em tudo o que faz, no modo como que, como Deus faz, o Homem não faz tão bem feito, numa relação de hierarquia universal: os mais morais regem os menos morais, e o sentido existencial reside no aprimoramento moral. Um véu muito fino envolve a mulher e o bebê, e é um véu transparente, leve, como a Verdade, que revela tudo em sua nudez autêntica. Aos pés da mãe vemos também muitos triângulos, que fazem menção às três fases da Vida aqui retratadas: Nascimento, Plenitude e Morte, no modo como esta idosa morrerá e renascerá como o próprio bebê no quadro, nos ciclos da Vida e do Meio Ambiente. Há uma sinergia entre as três figuras humanas aqui retratadas, e, na verdade, essas três são uma pessoa só, numa mensagem de autoamor e autorrespeito, pois, aquele que se ama, se preserva. Flores parecem adornar o cabelo desta Mãe, que é a Mãe Natureza, sempre respirando, sempre nutrindo, no modo como, às vezes, tudo do que uma pessoa precisa é de ar nos próprios pulmões, podendo apreciar a Vida de modo simples e contentado, no sentido de que, aquele que não se contenta, sofre.


Acima, Dama com Leque. Este quadro exala perfume, Primavera, o Renascer da Vida. O leque é o frescor de um dia ameno e agradável. A dama é sexy, e seu ombro está exposto numa provocação, num requinte de uma mulher que sabe ser sexy sem ser vulgar. No plano de fundo, a Natureza em sua beleza exuberante, e podemos ouvir o canto dos pássaros e ouvir o farfalhar que o vento causa sobre a vegetação ondulante, exuberante em suas flores desabrochando, clamando por Vida. O fundo amarelo é a preciosidade dourada da Vida, e os elementos deste quadro são verdadeiros tesouros, culminando com a joia maior, que é a dama, como uma dama de baralho, com seu emblemático Q, de “rainha” em inglês, num frágil pescoço de Nefertiti, sustentando um rosto altivo e um cabelo que sugere elevação mental, inteligência. Sim, temos aqui uma Nefertiti pós moderna, relida, refeita em vestes que se juntam ao plano de fundo, fazendo com que tudo vibre na mesma direção, no mesmo prazer de viver, na festa da Vida que é a estação das flores, como azaleias que rompem em cor, anunciando o fim do Inverno, o fim da reclusão, chamando todos os seres vivos para a prazerosa reprodução, tanto vegetais quanto animais, como disse certa vez Dercy Gonçalves: Deus coloca o “tesão” nos seres vivos porque, sem o tesão, ninguém faria filhos, a as flores não exalariam o pólen reprodutivo, e a Vida acabaria, no sentido de que Deus não pode ter vergonha de algo que Ele próprio inventou. A dama tem o exato sorriso da célebre rainha egípcia, numa alegria contida, discreta, mas numa feição de satisfação, de ponderação e equilíbrio mental, num quadro de “sisudez alegre”. Seus olhos estão fixos no horizonte, como se tivesse uma visão de lince, enxergando muitos e muitos quilômetros adiante, guiando o seu próprio povo na luz de Tao, que é a visão eterna que tudo abrange. Mas, ao contrário da consorte antiga, esta dama tem bochechas bem róseas, entrando em harmonia cromática com os seus lábios, num rubor que traz o calor de um animal em pleno cio, querendo sair para o Mundo para se reproduzir, no instinto de perpetuação da espécie. E a Primavera é isto: preservação das espécies. Esta Nefertiti de Klimt traz um penteado que, em seu volume, dá a impressão da dama ter um cérebro descomunal, assim como é o efeito da coroa imperial sobre a cabeça da egípcia: uma extensão do cérebro, conotando superioridade intelectual, do modo como o célebre mestre Tatata Pimentel chamava de elite os alunos cuja inteligência respeitava. Esta dama é uma mulher de elite, exalando classe, e não tem um pingo mínimo de vulgaridade ou indiscrição, apesar de exibir tão provocantemente a própria pele. Os seres vivos ao fundo são nobres, no modo como Tao coloca sobre os seres um pouco da classe que o mesmo Tao tem, como numa rainha da Festa da Uva, a qual, antes de qualquer atributo, tem que ter classe. Os pássaros aqui parecem ser pavões, exibindo orgulhosamente suas penas coloridas, na dança exuberante em que machos se exibem para conquistar as fêmeas, no objetivo de gerar prole. Aqui, podemos ver o leque se movimentar, abanando suavemente, juntando-se à brisa natural no ar, unindo os seres vivos na necessidade comum de água e oxigênio. O leque conota charme aristocrático, polido. Cachos de cabelos caem sobre o rosto como uma cascata, ou como uma trepadeira, na insinuação da Natureza, a qual vem chegando discretamente e, no fim das contas, acaba conquistando tudo e todos ao seu redor. O decote desta dama é atrevido, numa mulher “louca” para se libertar desta função tão decorativa, encontrando no decote ousado uma válvula de escape para arrebatar tudo e todos, assim como o fez Nefertiti, que era a mais importante das esposas dentro do harém do faraó, numa dama que quer tudo na base do “tudo ou nada”: ou ela é a maioral, ou prefere nada ser. Este decote remete ao ousado (porém classudo) vestido de Gisele Bündchen no mais recente Met Gala, numa peça que esconde e revela, num jogo entre certo e errado, numa pura provocação feita por quem sabe o que faz.


Acima, Casas em Unterach no Attersee. Um vilarejo no qual reside a Paz, num Klimt sedento por Paz e sossego. As casas são coloridas e alegres, estruturas nas quais moram pessoas que têm intenções modestas em relação à Vida: viver com tranquilidade. Um límpido rio corre na porção inferior do quadro, e a água é muito pura, num Klimt puro e desprovido de ambições mundanas. Podemos ouvir o barulho reconfortante da água fluindo, num córrego onde não há um sinal de poluição ou sujeira. As casas se fundem com a vegetação, numa vizinhança arborizada, de jardins bem cuidados e amados. As janelas estão abertas, num artista aberto para o Mundo, deixando-se influenciar e, desse modo, influenciando outrem, numa troca de sensibilidades. Aqui, uma brisa gostosa paira, e podemos ouvir um galo cantando no pátio de uma dessas residências acolhedoras. É um quadro que clama por Paz Mundial, pela dissolução da Guerra, a qual só traz fome e destruição. As casas têm chaminés, espalhando o odor de madeira queimada pela vizinhança em dias de frio e umidade. Esta é a sensação de estar em Paz: viver num lugar sem pretensões, sem as vaidades que tanto Mal trazem a qualquer ser humano. A casa mais vermelha é o sangue de irmãos, que corre em comum pelas veias de todos nós, e não é uma bobagem quando um padre diz que temos que nos amar como irmãos. A casa vermelha traz calor, e traz um Klimt que aceita sua própria humanidade, como na cor de carne dos bordéis, lugares em que o ser humano aceita a sua própria sexualidade, nunca reprimindo esta. Trata-se de uma colina, com construções e vias que correm de cima a baixo, e, no fundo de tudo, em último lugar, o rio, que corre pelos vales, e este rio é Tao, o qual, sempre subestimado, sempre em último lugar, rege a vida de todos os moradores deste vilarejo, os quais são regidos por esta força gravitacional, que coloca o mais importante em uma posição aparentemente desimportante, no sentido de Tao ser invisível, e não podemos dizer como Ele é, nem como Ele pensa. Neste quadro, a água tem este papel importante, no fluido primordial de onde surgiu toda a Vida, para depois esta se expandir por seres vivos que vivem fora d’água. Na beira do rio, uma casinha pequena e modesta, a mais pobre do vilarejo, a mais subestimada, não tão suntuosa e corpulenta como as demais residências aqui, e esta casinha modesta é precisamente a qual rege todo o vilarejo, tendo em Tao a humildade eterna. Aqui, o Ser Humano vive em harmonia com o Meio Ambiente, e o espectador é tentado e sonhar em viver em um lugar tão plácido, tão desprovido das vicissitudes das vaidades humanas, pois o Mundo é de quem NÃO se considera dono deste mesmo Mundo. Klimt se aproxima do “não querer”, do “não ambicionar”, podendo, assim, produzir em paz e ter um dia a dia proveitoso e prazeroso, nunca tendo no trabalho um sinônimo de sofrimento ou privação, mas de propósito. Ao lado do rio vemos uma estradinha cinzenta, que é o limite necessário para que o respeito guie a Vida em Sociedade, no limite que existe entre o “eu” e o “outro”, respeitando, aqui, a propriedade alheia. Aqui, temos uma técnica impecável, num Klimt capaz de reproduzir um rio espelhado, como num espelho existencial, no qual o Ser Humano se olha e se julga, podendo observar com clareza a sua própria trajetória existencial, pois Tao pergunta: O que é mais importante – a sua Imagem ou a sua Alma? Claro que é a Alma, mas o Ser Humano é eternamente obcecado pela Imagem, obtendo, desse modo, infelicidade e ambição, num jogo de vaidades que cobra um preço alto, preço este que é a Alma, a qual é escravizada pela Arrogância.

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