quarta-feira, 30 de maio de 2018

Fritando na Arte



É interessante observar que nos autorretratos de Frida, ela nunca aparece sorrindo, sem esboçar o menor sorriso, mostrando como era séria em relação à própria carreira, catarseando uma falta de alegria e um sentimento de privação – é o poder terapêutico da Arte, tanto para artista quanto para espectador. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus.


Acima, Eu e Meus Papagaios. Os papagaios são a fertilidade da mente de Frida, animais que representam, por outro lado, a fertilidade da própria Mãe Natureza, numa criatividade infindável. Os papagaios cercam Frida com afeição, fazendo-lhe companhia, expulsando o sentimento de solidão e isolamento, no modo como é benéfica a relação do Ser Humano com bichinhos de estimação. Aqui, Frida fuma discretamente, deixando o cigarro repousar em uma das mãos. São os pequenos prazeres da Vida, como tomar um cálice de vinho observando o pôr do sol. Sua camisa branca clama por Paz, e quer Paz para produzir, para trabalhar, no modo como um artista se encontra dentro de si mesmo, e nunca fora. Aliás, este é o problema do Ser Humano – querer se encontrar fora de si, e não dentro. Frida era feliz porque era produtiva, amando trabalhar. Frida fita o espectador, num olhar “monalisístico”, enigmático, e não podemos ver o que ela pensa. A “monocelha” é o sentimento de continuidade, sem abismos interruptórios, sem pontes destruídas, mas construídas, unindo o indivíduo dentro de si mesmo e colocando este mesmo indivíduo a serviço do Mundo. O cigarro queima lentamente, no ritmo de Frida, em um atelier no qual o tempo cronológico é nada, e o tempo psíquico é tudo, na capacidade das grandes mentes em se esquecer do dia-a-dia e ater-se ao essencial atemporal, como num Albert Einstein, que tinha que perguntar aos outros qual dia da semana era. Temos uma Frida amorosa, e ela nunca chega a se apoderar dos papagaios, deixando-os livres para ir e vir, no poder libertador do Amor, do afeto desapegado, nunca obsessivo. Frida tem alguns anéis, que são a carga do corpo encarnatório, pois, como diz o ditado: “Vão-se os anéis; ficam os dedos”. Frida sabe que cedo ou tarde deixará a Terra, e tem que decidir, sem muita demora, o que quer fazer da Vida, ou como quer contribuir para o Mundo ao redor. O buço de Frida é o desapego às vaidades mundanas, importando somente o que reina na mente da pessoa. O buço, imitando o bigode, é o lado masculino de Frita, seu Yang, sua força produtiva que vem agressiva e acaba se impondo ao Mundo, pois, como se diz na gíria vulgar, é o “botando o pau na mesa”. Uma artista que mostrou a que veio. Aqui, seu pescoço é rijo e elegante, jovem e belo, e é um pilar forte, que sustenta uma cabeça de intelecto descomunal, numa artista que soube se expressar da forma como podia, como acreditava ser válido. Frida ostenta um penteado, arrumado com disciplina, sem um fio de cabelo fora do lugar. O penteado é a disciplina e o garbo de Frida, que colocava em sua arte o que acreditava ser pertinente, encontrando estilo próprio. O penteado é o cérebro, a mente, a caixola da qual saíram todos esses papagaios férteis, ricos, coloridos. Este quadro é uma celebração da Vida, da graciosidade dos seres inventados por Tao, a força una que dotou Frida de um talento tão emblemático, mostrando até onde pode ir uma simples mulher de um país pobre e subdesenvolvido. As penas dos papagaios são roupas maravilhosas, majestosas como as roupas de árvores em uma floresta, com vida pulsando por seiva e sangue, na liquidiscência de dota de vida os seres. As aves aqui têm seus bicos agressivos, competitivos, na inevitável concorrência entre artistas, mas, em contrapartida, no modo como cada um tem que aprender a ter estilo próprio. A orelha de Frida ouve as aves, e podemos ouvir os papagaios falando, repetindo suas falas decoradas, como se estivessem debochando do espectador, num Frida irreverente e divertida, apesar de tão séria e disciplinada, do modo como Leonardo da Vinci soube se manter jovial e bem-humorado até o leito de Morte.


Acima, Quatro Habitantes do México. O esqueleto é a Morte, que nos espera, sempre. É a finitude inevitável; a decadência do corpo carnal, no sentido de que, no final, todos perdemos nossos charmes, numa Frida fatalista, realista, a qual quase desencarnou num grave acidente automobilístico, tendo encarado a Morte de frente. A matriarca obesa é a fartura, uma farta mesa de jantar, nutrindo tudo e todos ao seu redor. É a Mãe Terra feita de argila, de terra, das entranhas das quais a Vida veio e para onde vai no Desencarne, ou seja, no encontro ao esqueleto aqui, numa faculdade de Medicina, como no cadáver de um mendigo, que acaba servindo à Ciência, encontrando dignidade só ao Desencarne. Ao lado da matrona, uma criança sentada, inocente, mal sabendo interpretar o que há ao seu redor, estando sob os cuidados da matriarca, aprendendo as lições do Mundo à sua volta, na sua doce inocência, querendo apenas brincar, no fator infantil de cada ser humano adulto, que conserva uma parte criança, querendo sempre obter prazer ao brincar, no sentido de que todos brincamos de ser espíritos elevados, nossos irmãos que já passaram por muitas experiências psíquicas, espirituais, na hierarquia espiritual: os maiores cuidam dos menores. Na extrema esquerda, um homem de bigode, todo interligado por fios, veias e artérias, na vida em Sociedade, a qual é toda interligada por veios e ruas, ligando os habitantes de uma mesma cidade, de um mesmo organismo, ligando com o sangue, o líquido essencial da Vida, nutrindo cada ator que participa do sistema, na interligação primordial: somos todos atores da mesma peça de teatro. O chão aqui é terroso, simples, básico, no plano orgânico que gerou todos os seres, na Mãe Terra unindo seus filhos, numa salada de diversidade, a qual liga pessoas tão diferentes mas, ainda assim, pessoas irmãs, na questão da individualidade, em que cada pessoa é um caso em especial, no modo como Tao nunca cria um ser idêntico ao outro, respeitando as individualidades. Um pouco mais ao fundo, um homem de palha monta um burrico de palha, no labor artesanal, no modo como as mãos humanas produzem coisas novas, exclusivas, como numa Frida que, através de suas mãos, convida-nos a entrar em sua mente criativa, trazendo-nos às entranhas de sua criação. O conjunto de palha é o talento artesanal, feito por mãos sempre produtivas. Mais ao fundo, uma praça com construções simples, sem afetações pretensiosas, numa praça simples, com portas e janelas, no modo como o Ser Humano é um grande artesão, sempre criando, a modelo de Tao, o Uno, que sempre está imaginando. O céu está nebuloso, imprevisível, misterioso, e não sabemos o que estas nuvens nos reservam. É o imprevisível, no modo como o indivíduo jamais sabe exatamente como as coisas vão acontecer em sua vida, e isso é um propósito, pois, se soubéssemos, não o aconteceria. Bem ao fundo na cena vemos dois picos afiados e agressivos, como nas agulhas de dor que maltrataram Frida em seu acidente, no poder abrasivo de pirâmides, ou como na ponta de um pincel, o máximo instrumento de trabalho desta mulher genial. Aqui, os seios da mulher de barro são generosos, como numa matriarca recebendo seus filhos em casa, servindo o centro da mesa com uma farta travessa de alimento, recebendo todos com prazer e hospitalidade. Estes habitantes mexicanos são diversificados, muitos diferentes uns dos outros, na celebração da diversidade, num painel colorido de diferenças. O esqueleto é o que sobra depois de uma refeição, depois de leões devorarem um búfalo. É o resto, o finito. E a sombra desses personagens neste quadro projetam-se no chão, projetando a sombra da dúvida – o que é a Vida? Qual seu propósito? Por que nascemos e morremos? O ar circula ventilando por esta praça e por essas casas, por seus vãos de janelas e portas, unificando o Universo com essa força invisível, esse Tao, transportando a Vida pelas marés dos tempos, como tempos aqui neste quadro: Nascimento, Plenitude e Morte.


Acima, Autorretrato com Macaco e Papagaio. A “monocelha” de Frida é o caminho da Vida, a rota existencial, e cada pessoa tem que encontrar seu próprio caminho, tendo que ser autodidata. As cores aqui são vibrantes, tropicais, numa Frida sedenta por alegria, por felicidade, querendo se subtrair de um mundo tão difícil e doloroso, no momento glorioso do reencontro com a Dimensão Metafísica, com o âmbito mental, no qual a única diferença que existe é a personalidade de cada pessoa, precisando haver respeito mútuo – Tao nunca faz um filho idêntico ao outro. Aqui, temos uma Frida enrubescida, quase tímida, como se estivesse tímida em relação aos inúmeros olhares de inúmeros espectadores, num desejo de, por mais que alcance sucesso mundano, preservar a si mesma, no modo como a pessoa precisa entender como é gostoso o conforto de estar em casa, deixando o Mundo ficar lá fora. As tranças desta Frida entremeiam-se como serpentes na cabeça de Medusa, e a serpente é símbolo de liquidiscência e fertilidade, sempre sinuosa, sempre insinuante, no modo como o espectador vira uma estátua deslumbrada com a obra de Frida, e esta olha o espectador, transformando-o em pedra, mostrando o poder da Arte em tocar as pessoas que tenham o mínimo de sensibilidade. Essas tranças são cobras amazônicas entremeadas em pleno coito, na força da Natureza em incentivar o coito, essencial à preservação de uma espécie. Ao fundo, várias folhagens frondosas, sempre brotando, numa imaginação de Frida, sempre criando, revelando-se esforçada em não se repetir, apesar de que sua própria face, em tantos autorretratos, permaneça mais ou menos a mesma, sempre olhando séria para o espectador, variando apenas no penteado e na roupa. É claro que Frida não quer entediar o espectador. Essas folhagens parecem um trigal, alimentando o Universo, como uma mãe zelosa, sempre nutrindo o ninho, os filhotes, na logomarca da Nestlé: uma mãe pássaro alimentando os filhotes no ninho, como no apelo mercadológico do sabão Omo, o qual, em uma pesquisa acadêmica que fiz há anos, apela para o conceito da “supermãe”, daquela mãe absolutamente zelosa, que deixa a casa toda em ordem, lavando com Omo as roupas que seus filhos tanto sujam, zelando pelo bom funcionamento do Lar. O trigal é a fonte de alimento, num Brasil que simplesmente não funciona sem seus caminhoneiros, que transportam as riquezas do Oiapoque ao Chuí, como veias que alimentam de Oxigênio um organismo. As folhagens, aqui, são a fertilidade de um solo, nos mistérios da Vida: o que faz um pulmão respirar? Aqui, o macaco é a base de referência, no sentido de que somos todos símios racionais, e Frida mostra ser racional, sempre dando provas contundentes de inteligência, que é o maior legado que um ser humano pode deixar no Mundo, como Jesus Cristo o fez. O macaco é o afeto, o bichinho de estimação, no modo como os mamíferos nascem tão dependentes das próprias mães, na teta primordial, que nutre uma ninhada, talvez numa fêmea desejando ser mãe. O papagaio é a liberdade alada, libertando a mente de um artista, no prazer da criação, no modo como Tao é feliz, sempre elaborando, sempre pensando, pois pensamento é tudo; matéria, nada. O macaco e o papagaio vivem em harmonia, apesar de serem tão diferentes um do outro, e essa convivência é a chave para a Vida em Sociedade, na qual o limite de cada um tem que ser respeitado e resguardado. Aqui, Frida tem um pescoço forte, numa pessoa que teve que tirar força do fundo da alma para sobreviver, para superar dores e percalços. Frida é forte. A Fauna e a Flora, aqui, abraçam Frida, cercando esta de Vida, de ar respirando, e esses três seres animados formam um triângulo sinérgico, tendo em Frida o agente criativo que coloca elementos claros na tela, sempre expressando com clareza o que quer dizer, e este é o segredo do sucesso de Frida: expressar com clareza, como num Luis Fernando Verissimo, o qual já declarou em entrevista que escrever com destreza é escrever com clareza, com simplicidade. Cada pessoa tem que descobrir sua própria simplicidade, e Frida o soube descobrir.


Acima, Natureza Morta com Papagaio e Frutas. O pássaro está encantado com tanto alimento, tanta fartura, numa cornucópia, numa imaginação rica, representando um país tão pobre. O pássaro se alimenta, encontrando alento espiritual, como um artista completamente à vontade em seu próprio atelier, pois feliz é aquele que encontra propósito na Vida. Esta tela é uma lição de Natureza Morta, como nas lições típicas de cursos de Belas Artes, nas quais o aluno tem que saber apreender – isso mesmo, com dois “es”. A laranja ao centro está cortada, mostrando toda a sua beleza interior, numa pessoa que, antes de ser cortada, era subestimada, revelando, assim, como é por dentro, como é na Realidade. A laranja sofreu um golpe agressivo de uma faca, do modo como foram as dores de Frida em uma cama. A laranja exibe sementes, que germinam no solo, na Mente Humana, nos mistérios da reprodução, da Vida. Estas cores, tão ricas neste quadro, são a alegria da Diversidade, em um Mundo tão pluralista, em que as diferenças, infelizmente, causam conflitos e guerras, pois erra e é narcisista aquele que acha que todos têm de ser como aquele. São esferas de um mesmo sistema solar, filhos que giram em torno do astro rei, sempre agregando uma família por meio das forças gravitacionais, em vários anéis concêntricos, numa melodia harmônica que rege um mesmo grupo, fazendo este ser coeso, no talento dos grandes líderes em unir um povo. As frutas são células de um mesmo organismo, orquestradas para reger um só corpo, no modo como cada indivíduo tem seu papel nesse grande organismo, que é o Mundo. A melancia cortada é uma lua, sempre girando em torno de uma planeta, sempre influenciando as marés e os ciclos menstruais, sempre enigmática na forma rítmica, nesta dança, como eram divertidas as vinhetas do seriado Third Rock From the Sun, nas quais esferas como planetas e luas dançavam divertidamente. A melancia é um sorriso generoso, na satisfação de um estômago cheio, na sensação de saciez, de estar orgulhoso de algo, no modo como qualquer ser humano tem que se apegar a algo, ficando orgulhoso desse algo – é a necessidade do labor, como dizem os espíritas, segundo os quais, na Dimensão Metafísica, não há desemprego, mas trabalho para todos, e trabalhos bons, que exigem da mente do espírito, como eu conversava certa vez com um amigo: todos têm que colocar a cabeça para funcionar, pois, se não, o indivíduo vira um “burro de carga”, sem sofisticação, sem vida intelectual, sem pensamento. Na melancia, vemos sementes, mas vemos também lacunas, buracos, que são os momentos complicados da vida, momentos duros, que não trazem muitas rosas nem muito perfume, mas que acabam fazendo um bem fenomenal ao indivíduo, e com Frida não foi diferente. O interior da melancia é como um formigueiro, repleto de vida, de labor incessante, com cada formiga tendo sua própria função no organismo maior, no modo como o artista, muitas vezes, tem dificuldade em saber qual é seu papel no Mundo – é um labirinto, e é assim para qualquer um, sendo artista ou não. Temos, aqui, uma fruteira de uma rainha, muito farta e fina, como numa roupa elegante, que traz autoestima a quem a veste. O interior da laranja cortada traz listras, como barras em uma cela de prisão, e cada um tem que decidir o que fazer nessa cela, como em um filme célebre sobre a prisão de Alcatraz, no qual o presidiário fica obcecado em fugir. Mas, na Vida, não há como fugir. Portando, tudo tem que ser encarado.


Acima, Árvore da Esperança, Permaneça Forte. O quadro é um manifesto, com Frida segurando palavras de estímulo, como ter esperança e ser forte, no modo como a própria artista passou por maus bocados após um acidente. A Frida deitada na cama de hospital está ferida, injuriada, sangrando e sofrendo, e está alheia ao mundo ao seu redor, resignada com a própria cruz que carrega nesta cama branca, da cor da Esperança e da Paz. A Frida de vermelho é a Frida metafísica, zelando pelo corpo carnal que sangra e sofre, e esta Frida é a sobrevivência do espírito à morte do corpo carnal, no modo como se imagina que o Desencarne de Frida foi tranquilo, numa pessoa que cumpriu sua missão na Terra e voltou para o Lar Primordial, para uma bela cidade espiritual. O Sol e a Lua são as forças opostas que regem o universo, e essas duas Fridas são carne e alma, uma sendo parte da outra. A Lua, na noite, é o percalço, o mistério existencial, no túnel negro em que Frida mergulhou ao ter, milagrosamente, sobrevivido a um acidente que poderia tranquilamente ter abreviado a vida da artista. Neste quadro temos o poder terapêutico da Arte, numa Frida que transformou lágrimas em inspiração, no poder catártico, podendo expressar toda a dor que sentiu. A Frida deitada está em um casulo de transformação, pois a Vida não tem sentido se não tiver vicissitudes, pois, se é para não enfrentar desafio algum, é melhor que a pessoa nem encarne. As rodas desta cama são a roda da Vida, nos altos e baixos de uma vida, no enorme desafio que foi para Frida sobreviver a evento tão doloroso e fazer do limão uma limonada, convertendo a dor a seu favor. A Frida desperta é a borboleta, no anjo lindo em que a artista se tornou ao desencarnar. É a Ressurreição de Jesus, na sobrevivência da mente à morte do corpo físico. A Frida vermelha segura aparatos médicos, numa cena de libertação, numa vaga memória de como foi o acidente, no modo como, provavelmente, Jesus sequer se lembra de ter sido crucificado, na doce libertação psíquica. Ao fundo, vemos terrenos irregulares, como abismos, na sensação da pessoa deprimida, que se sente como se estivesse em queda livre em um abismo sem fim. E Frida foi ao Inferno e voltou para contar a história. O Sol e a Lua são os olhos da artista, sempre observando o Universo, olhando para si mesma em uma cama de hospital, entre a Vida e a Morte, tendo que tirar força do fundo da alma, no poder positivo das crises, as quais, sendo naturalmente positivas, assinalam um ponto de renovação da vida da pessoa. O vestido vermelho e o arranjo rubro na cabeça de Frida entram em harmonia cromática com o sangue das profundas feridas de Frida, feridas as quais, finalmente, saram frente ao trabalho desta artista plástica tão marcante e célebre, já tendo tido uma cinebiografia a seu respeito. As duas bolas são como ovários, testículos, e são a totalidade do universo, no modo como a Vida tem noites e dias; tem doce e tem amargo. Os abismos são como rugas ou cicatrizes, que contam uma história, uma trajetória, e são os terrenos irregulares existenciais, numa Frida que teve que tomar muito cuidado para não cair em tais abismos, conservando a mente lúcida e as mãos produtivas, pois pobre daquele que nada faz da Vida. As duas esferas fazem amor entre si, gerando os filhos do Universo, e as bolas, juntas, formam Tao, a fonte inesgotável de Vida e Criação, numa artista que, como tal, teve que “imitar” Tao, produzindo Arte. A Frida sangrando é um Jesus na cruz, perguntando ao Pai por que este o abandonou, num momento áspero. São os momentos que exigem muita força da pessoa, e ter esperança ajuda na fortificação do espírito. Na esquerda, uma Frida sofrida e desarrumada; na direita, uma Frida impecável, no modo como o espírito nada sofre com as feridas na carne, no sentido de sobreviver a uma verdadeira hecatombe nuclear. E sobreviver é tudo, sempre tocando a Vida para frente. Frida viu em seus dias e noites como os percalços exigem força da pessoa, e absolutamente ninguém está acima dessa lei existencial: a vida sem obstáculos seria maçante demais, sem significado. A Vida exigiu de Frida garbo olímpico, vencendo sobre o Mal.

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